Cinco meses. Este é um tempo longo demais para estar afastado de uma paixão. Como o amor, a escrita requer diligência e dedicação, qualidades que, se negligenciadas, prejudicam qualquer relacionamento. E como tenho sido negligente!
Minha falta é ainda mais grave, pois não se limita só a falta de atividade neste espaço: nem mesmo meus trabalhos mais íntimos receberam o mínimo da atenção que mereciam. Um hiato improdutivo e triste, muito triste.
Eis que acontece, então: o ano se renova e, repentinamente, dozes meses repletos de potencial se estendem diante dos olhos, todos à disposição para que se exerça a criatividade, transformem-se pensamentos em palavras, compartilhem-se experiências, e histórias. Novos planos são traçados, decisões são tomadas, e uma afirmação positiva e esperançosa retumba na mente: agora tudo será diferente.
Sempre a mesma doce ilusão, ano após ano. E, no entanto, uma vez mais me deixo seduzir. Há quem diga que o maior problema com esta atitude é a falta de comprometimento pessoal – aparentemente, o ser humano se esforça mais no cumprimento de promessas feitas a outrem do que das que toma pra si. Ridiculamente verdadeiro. Ter as resoluções confinadas na mente é outro obstáculo. Mas (ainda) não é o fim do mundo.
Para fazer deste um ano realmente diferente, busco agir de modo diferente. Inspirado por textos de escritores começo, então, materializando meus objetivos, transformando-os em palavras, tornando-os palpáveis. Assumo-os aqui, publicamente, firmando compromissos com o leitor, a quem este espaço e uma parcela de meu tempo são dedicados. Estabeleço metas a cumprir como aprendiz de escritor, cuidando para não ser metódico demais.
A escrita não pode ser racionalizada completamente. Planejamento e organização são válidos e, de fato, permitem maior produtividade, mas apenas quando aplicadas no momento propício. Contudo, há aspectos que não se pode precisar, como o surgimento de uma ideia ou o desenvolvimento desta – não há como estabelecer, por exemplo, o prazo de duas semanas para criar as origens de um dado personagem.
Assim, não é adequado comprometer-se a escrever um romance ou conto num dado prazo quando a premissa destes mal foi trabalhada ou sequer é conhecida. Fazê-lo torna o ato de escrever angustiante, cria uma pressão desnecessária e pode resultar em grande frustração caso o objetivo não seja alcançado. William Nascimento abordou bem esta questão num texto valioso, do qual recomendo a leitura (ver link no final desta postagem).
Retomando o assunto, minhas resoluções para este ano são:
- Estudar e aperfeiçoar o uso do tempo: é preciso fazer bom uso deste bem tão escasso, dedicando-o às coisas importantes. Chega de dizer que não há tempo para escrever! Ele está lá, apenas está sendo desperdiçado com irrelevâncias.
- Determinar horário e local para escrever: já está mais do que comprovado que o hábito de escrever num determinado período e local ajuda na produtividade. Obviamente, nada impede que eu também escreva sempre que a disposição e a oportunidade se fizerem presentes.
- Escrever por 21 dias: cientificamente, afirma-se que qualquer hábito pode ser incorporado, desde que praticado por 21 dias ininterruptos (sim, incluindo fins de semana e feriados). Este vai ser um bom desafio. Note-se que não defini o que escrever; somente sentar-me-ei diante do computador e escreverei, sem pressões.
- Experimentar outro gênero: este ano pretendo enveredar por outro gênero literário que não o da literatura fantástica, pelo qual sou fascinado.
- Ser mais social: visito muitos sites e blogs de escritores e sobre literatura, mas interajo muito pouco com seus autores. Contudo, como não é possível estar em todo canto a todo o momento, estabeleci uma lista de autores com quem eu gostaria de manter um contato mais próximo.
- Recrutar leitores pessoais: eles serão responsáveis por comentar criticamente meu trabalho, estilo de escrita, etc. Eles serão avaliadores, editores, musas, puxadores de orelha e caçadores de piolhos mais próximos. Obviamente, os demais leitores são encorajados a sempre compartilhar suas impressões nos comentários e receberão de mim a mesma atenção.
Aí estão: minhas resoluções de ano novo – em tempo, buscarei relaxar mais e manter minha auto-exigência em níveis adequados a uma pessoa sã (quero só ver!). Agora é começar a trabalhar para tornar tudo isso realidade antes que o apocalipse maia caia sobre nós.
Para saber mais:
- Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
- Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
- Pare o mundo que eu quero escrever!: texto sobre minha labuta contra as distrações do cotidiano.
- O pesadelo das revisões constantes: um desabafo sobre este terrível obstáculo no caminho de um aprendiz de escritor.
- Metas para escritores em 2011: compartilhando suas metas no início do ano passado, Alexandre Lobão ofereceu dicas valiosas.
- Quer escrever um livro? Defina suas metas: encerrando o ano de 2011, Alexandre Lobão descreve seu processo de metas.
- Metas para uma nova escrita: Wilian Nascimento defende que é preciso ser cuidadoso ao estabelecer metas de escrita.
- Writer Resolutions: Traci Brimhall escreve sobre suas resoluções e demonstra um ponto de vista muito próximo ao de Wilian Nascimento (em inglês).
- Don’t Break the Chain: artigo que aborda o método utilizado por Jerry Seinfeld (famoso comediante americano) para ser mais produtivo (em inglês). É um texto antigo, mas pode ser útil para aqueles que se propõe a cumprir suas resoluções de ano novo.
- TOP 10 Resolutions for Writers: as 10 resoluções de ano novo mais comuns assumidas por escritores (em inglês).
Hermano Pereira,
Tenho algo que, sei lá, considero um defeito ou algo similar. Primeiro escrevo à lapiseira num caderno para depois passar para o blog, isto é, escrevo duas vezes e isso cansa.
O que me fez meio que desistir um pouco do blog. Tentarei pegar o hábito de escrever no computador.
Tenho a péssima mania também de começar algo e não terminar, mas seus textos têm me dado um empurrãozinho.
Lucas,
Sempre preferi escrever diretamente no computador, pois é mais prático, produtivo. O texto flui naturalmente, não preciso me preocupar com a letra, é possível apagar, reescrever, reestruturar com facilidade – e, claro, posso contar com todas as facilidades de um editor, como a correção ortográfica e gramatical automáticas.
Quando estou longe da máquina e preciso anotar aquela ideia para um texto ou fazer um rascunho pequeno, eu utilizo meu celular. Já faz um tempo que não utilizo papel. De fato, repassar um texto pode ser cansativo, mas veja por outro lado: ao invés de apenas copiá-lo, aproveite a boa oportunidade para você revisá-lo, melhorá-lo.
Já sobre sua mania: você não é o único, acredite. Por muito tempo eu também enfrentei este problema. Acredito que a superação passe por uma imersão em si mesmo, uma análise pessoal do que é realmente importante e digno de dedicação – foi o que fiz e tem funcionado até aqui.
Este é um bom tema para um texto. Hmmm… 🙂
Abraços,
Muito bom, fera. Vou acompanhar essa parada aqui e ver no que que vai dar! Até marquei a opção para me avisar de novos artigos por e-mail!
Oliveira,
Que surpresa boa encontrar o senhor por aqui. Que bom que gostou do blog. Espero ver mais comentários seus por aqui.
Abraços.