Encontrar tempo e um refúgio para dedicar-se à escrita é um desafio. Por isto, é frustrante ver-se diante da página em branco e perceber que não tem sobre o que escrever. Mas há algo ainda pior: passar a semana inteira com uma ideia na cabeça e vê-la tomar chá de sumiço no momento de desenvolvê-la.
Felizmente, isto é mais comum do que parece – que escritor nunca passou por isto? Algumas atitudes simples ajudam a superar este bloqueio: passear, exercitar-se, ler, assistir um filme, encontrar amigos. Particularmente, porém, vejo um problema aí: tais atividades podem ocupar um tempo que deveria ser destinado à escrita, e nada mais.
Uma caminhada na vizinhança pode renovar o espírito e a criatividade, mas de que adiantará se não houver ocasião para escrever no mesmo dia? Nada garante que o bloqueio não voltará amanhã também. O que fazer, então? Não despregar da cadeira até reencontrar aquela ideia perdida? Vasculhar a Internet por um assunto da moda?
Tudo isto é contraproducente (principalmente a Internet): o tempo voará e a angústia apenas aumentará. Há maneiras mais eficientes de superar tal barreira. Pode-se, por exemplo, manter listas de assuntos de interesse e ideias – tratarei disto em outra oportunidade – ou utilizar uma proposta de escrita.
Escreva! Eu o desafio!
Na aula de redação, o professor pede aos alunos que escrevam um texto sobre a preservação ambiental. Na embalagem do achocolatado, a chamada do concurso promete prêmios para o relato de férias mais criativo. Numa brincadeira, amigos desafiam uns aos outros a criar frases contendo determinadas palavras.
Não é preciso ser um escritor profissional para perceber que há propostas de escrita por toda parte. Trata-se, simplesmente, de um tema sugerido sobre o qual se desenvolverão ideias. Este pode se apresentar como combinações de palavras, uma frase, parágrafo, imagens, manchetes de jornal, perguntas, hipóteses, etc.
Uma proposta de escrita é como um gatilho que, disparado, desbloqueia a mente, estimula a criatividade e impulsiona a escrita. O resultado pode ser uma coleção de notas desencontradas e cruas, uma simples descrição, um conto, ou até mesmo um romance. No entanto, isto pouco importa. O objetivo é fornecer um foco e um ponto de partida ao escritor, que pode ater-se à proposta ou extrapolá-la por completo.
Trata-se de um recurso útil que permite escrever sem medo nem inibições. Assim, é estranho que este não seja, aparentemente, tão utilizado por aqui quanto nos países de língua inglesa. E basta uma busca pelas palavras writing prompts para ser direcionado a inúmeras propostas de escrita, em seus diversos formatos. Mas talvez eu apenas não tenha sido feliz na escolha dos termos equivalentes em português.
Quatro benefícios e um apelo
Em DailyWritingTips, Simon Kewin aponta quatro razões para se utilizar propostas de escrita.
Permitem que a criatividade flua livremente: quando intimidado por uma página em branco, experimente escrever sobre qualquer outro assunto por 10 minutos. Depois retorne ao seu trabalho principal e veja como as palavras surgem naturalmente.
Fornecem material valioso: palavras e ideias podem ser utilizadas num futuro projeto de escrita ou aproveitadas num atual. Não se preocupe se algo parecer cru demais, já que tudo sempre pode ser trabalhado posteriormente.
Desenvolvem o hábito da escrita: encaradas como verdadeiros exercícios, evitam que o escritor seja completamente improdutivo quanto a inspiração faltar.
Promovem a interação em comunidades de escritores: através do compartilhamento das propostas e dos textos resultantes é possível obter avaliações, encorajamento e dicas.
Kewin está absolutamente certo em suas colocações. Tenho comprovado isto no dia-a-dia. As propostas de escrita são um modo eficiente de livrar-se dos bloqueios e devem ser utilizadas. Alguns dos textos que compartilho neste blog nasceram delas, ainda que um ou outro tenha se desviado muito da proposta inicial. Mas o que realmente importa é que desfrutei do tempo reservado à escrita para fazer o que um escritor deve fazer: escrever.
Assim, deixo aqui um apelo aos colegas escritores, aprendizes ou profissionais: façamos mais uso das propostas de escrita. Estimulemos mais nossas mentes com palavras, imagens, música. Vamos desafiar mais uns aos outros, compartilhar e avaliar os resultados, percorrer juntos esta estrada eterna de aprendizado.
E, então, amigo escritor? Topa o desafio de compartilhar suas próprias propostas de escrita?
Para saber mais:
- Exercícios de Criação: o site Gambiarra Literária é o que mais se aproxima de um acervo de propostas de escrita em português. Vale a pena conferir.
- Duelo de Escritores: a cada 15 dias um tema é proposto aos duelistas, que escrevem e disponibilizam seus textos. O escritor mais bem votado pelo público propõe, então, um novo tema.
- Writers Digest, Prompts: propostas de escrita disponibilizadas por uma das revistas sobre escrita mais conceituadas do mundo (em inglês).
- Propostas Visuais: propostas acompanhadas de imagens. Site muito bom (em inglês).
- Creative Writing Prompts: grande acervo de propostas de escrita (em inglês).
- Sobre Propostas de Escrita: artigo de Simon Kewin no site Daily Writing Prompts (em inglês).
- Pequenas propostas: o site One Writer Minute disponibiliza propostas para textos rápidos, ideais para o escritor com problemas de agenda (em inglês).
- Propostas no Twitter: uma busca por #writingprompt pode trazer centenas de propostas (em inglês).
Gente, eu adoro escrever e criei um blog onde vou divulgar meus escritos, além de outras variedades.
Deixo o link: http://poesiasdocrepusculo.blogspot.com.br/
Deivesson,
É sempre bom ver colegas escritores dando a cara à tapa no mundo digital. Mas me permite algumas críticas construtivas?
Organize melhor as seções do seu blog, categorizando os posts e acrescentando índices para os textos já publicados, por exemplo. Isto facilita a vida do leitor, que terá uma visão ampla do tipo de conteúdo disponível.
Recomendo ainda que dê maior atenção aos textos. Identifiquei, principalmente, problemas de pontuação (o uso inapropriado e excessivo de reticências, por exemplo) e orações muito longas. Tais preocupações são fundamentais para qualquer escritor.
Não tenha pressa de publicar. Trabalhe o texto com calma, revise-o duas ou três vezes e, quando achar que está bom, revise novamente. Então, respire fundo e publique o texto, ignorando aquela vozinha no inconsciente que lhe diz que ainda não está bom – afinal, se dermos ouvido sempre a ela nunca publicaremos nada.
Abraços,
Gostei das dicas. Estou iniciando e as ideias (que) estão me atormentando são mais rápidas que minhas mãos, mas desafios como esses podem me ajudar a escrever mais rápido e a organizar as ideias.
Disponha, meu caro. Experimente utilizar algumas das propostas dos sites que listei e verá como elas podem ser úteis. Ah, e não deixe de dizer como foi.
Abraço,