Ontem foi o Dia Internacional da Mulher. Como sempre ocorre em datas especiais, inúmeros sites de revistas, jornais e blogs pessoais preparam homenagens.
Falou-se da trajetória de lutas e conquistas, do papel da mulher no nosso século, dos desafios para o futuro, e sobre a mulher ideal.
Eu quis fazer algo diferente, prestigiando o vasto e enigmático universo feminino ao falar de pessoas mais próximas de mim. Assim, eis minha singela (e tardia) homenagem às mulheres da minha vida.
Mulheres Reais
Não falarei sobre a mulher ideal. Não existe mulher ideal. Ideal é o que se forma na ideia, no imaginário; é a manifestação imaterial de aspirações em aspectos diversos, perfeitos, oníricos, que jamais encontrarão correspondência exata na realidade. Por isso não há que se falar dessa figura mítica.
Fazê-lo é exultar a própria mesquinhez, pois o que seria a mulher ideal senão um reflexo do que consideraríamos, como homens, o melhor para saciar o ego? E quantos podem afirmar com plena certeza o que é melhor para si?
Brada-se sobre a busca da mulher perfeita, alardeia-se a glória de tê-la encontrado, mas são poucos os que se dão conta de que o ideal não pode existir em qualquer lugar que não dentro daquela porção individualista tão comum e ignorada de cada um. Não falarei sobre a mulher ideal, pois as mulheres de minha vida estão longe disso, elas são bem reais.
Sou grato a Deus por existirem e estarem sempre ao meu lado, independentemente do meu estado de espírito, das minhas atribulações, carências e esquisitices. Apesar de mim, tão desmerecedor de suas atenções, elas estão ali, a irradiar sua luz em minha vida, a preenchê-la com suas bênçãos e maldições – ah, e quanto poder elas detém!
As mulheres de minha vida não são idealizadas, elas são o que são. Compartilham alegrias e tristezas, altos e baixos; revelam-se sem receios, sem ressalvas, em cada palavra e atitude, sorriso e lágrima, carinho e tapa, no modo de viver cada momento intensamente; são gentis e ásperas, delicadas e guerreiras, carinhosas e insensíveis, firmes e carentes. Com todas as suas qualidades e defeitos, são musas, divas, referências, estrelas-guia, Norte de meus caminhos.
A mulher ideal não te inspira a ser alguém melhor, mas a mulher real sim. Não para satisfazê-la, não para sentir-se um homem a sua altura, mas pelo impulso que vem como uma maneira de expressar e espalhar por todo o mundo a beleza e o amor plenos que sua mera existência proporciona. Tão iluminadas são que suas vidas por si transformam o mundo, naturalmente, e assim seria mesmo se eu jamais fizesse parte delas.
Mulheres reais, virtuosas e pecadoras, seres divinos perfeitos em corpos mortais imperfeitos, dedicadas aos que amam mesmo que nem todos lhes retribuam o sentimento como deveriam. Questiono-me o que fiz para merecer o milagre de conviver com tais maravilhas, mas não encontro resposta.
Percebo o tamanho de minha dívida com Deus e, numa prece silenciosa, comprometo-me a ser a melhor pessoa que puder, não apenas por Seus desígnios, nem só para tornar o mundo um lugar melhor, mas em honra e agradecimento às mulheres da minha vida.
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