5 dicas para escrever contos

Há pouco tempo o escritor americano Philip Athans publicou em seu blog algumas dicas sobre como produzir um conto completo numa única sessão de escrita.

Imaginem quantas histórias uma pessoa que escreve regularmente poderia produzir assim? Bom demais para ser verdade? Talvez, mas é possível. E nem é preciso ser um best-seller como Athans.

5 atitudes ao escrever contos
  1. “Tenha a história quase pronta em sua imaginação antes de começar.”

    Não é preciso montar um roteiro completo, mas imaginar uma parte do todo ajuda bastante. Particularmente, procuro visualizar primeiro personagens (não muitos; de dois a três, às vezes só um) com características e históricos inusitados – costumo ser detalhista neste ponto, o que não é o ideal para narrativas curtas (tenho trabalhado esta questão, mas falo disso outro dia).

    O próximo passo é imaginar o conflito do conto, algo que os personagens queiram e que os coloque em atrito um com os outros ou consigo mesmos. A seguir, eu imagino o momento ou a cena em que o conflito eclodirá (o clímax), explicitamente ou não. Às vezes tento antecipar também o final, mas se não o encontro me contento com o que já tenho.

  2. “Não ligue o computador até que saiba qual será a sua primeira frase.”

    Acrescento: e até que saiba como o conto começará. A página em branco intimida, confunde. Ela tenta te convencer de que sua ideia não é tão boa quanto parece e, por isso, não merece ser escrita. Como ela ousa?! Felizmente, a página em branco tem ponto fraco: uma vez preenchida (quanto mais palavras, melhor), ela perde seu poder. Arme-se antes de desafiá-la.

    Travou? Dê um tempo e tente novamente.

  3. “Não se preocupe com os detalhes. Deixe-os para depois.”

    Não se trata de escrever algo superficial. Detalhes são importantes, dão cor e vida próprias ao texto. Mas a preocupação agora é tirar aqueles fragmentos de informação da cabeça e uni-los para contar uma história. Neste momento não importa o tipo de tecido do vestido daquela mulher sedutora nem o nome do drinque que o psicopata lhe paga.

    Quando não consigo evitar a necessidade de ser específico, faço uma consulta rápida a um dicionário, a uma enciclopédia, a um conhecido ou mesmo ao Google – ainda não consegui me convencer a não escrever com Internet ligada –, mas, se não encontro o que procuro, escrevo algo genérico, destacado em negrito e caixa-alta, e sigo em frente.

  4. “Continue escrevendo, o mais rápido que puder, não importa como.”

    Não pense, apenas escreva. Não se preocupe com os erros de ortografia e gramática, ignore as frases mal construídas e os diálogos patéticos, deixe passar as falhas de continuidade. Não releia o texto, coloque palavra atrás de palavra e prossiga. Escreva, escreva, escreva. E então…

    Entregue-se à escrita.

  5. “Quando achar que chegou a um ponto onde a história deve acabar, pare.”

    Normalmente ele está em algum lugar logo após o clímax do conflito. É mais fácil identificar esse ponto, obviamente, quando se conhece de antemão o desfecho do conto. Por outro lado, também é possível que o final se forme na mente durante a escrita. Mas se nenhum dos dois casos se aplicarem, o melhor é seguir a intuição. De qualquer modo, uma vez exposto o conflito, é importante não se alongar e concluir o conto o quanto antes.

“E atenção: se liga aí que é hora da revisão.”

Com um pouco de prática, é perfeitamente possível escrever um conto numa única sentada, parafraseando Athans. A satisfação de ver sua história narrada do inicio ao fim bem ali, diante de seus olhos, é única – igualável apenas, talvez, pela satisfação de concluir um romance.

Mas calma lá!

O texto está terminado, mas não está pronto para ser apresentado ao mundo, pelo contrário. Esta é apenas a primeira versão e é bem provável que seja horrível – não se podem esquecer os problemas ignorados lá atrás, correto? Antes de enviá-lo para os amigos ou postá-lo no blog será preciso lapidar (e muito) esse diamante bruto.

Deixe isso para outra oportunidade. Por ora, encoste o texto e esqueça-se dele por uns dias. Fique feliz por ter escrito um conto completo de uma só vez e vá pegar aquele agradinho que prometeu a si mesmo caso conseguisse cumprir mais este desafio.

Aproveite um repouso merecido.

E vocês, leitores? Como costumam escrever seus contos?

Para saber mais:

  1. Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existêncial. :)
  2. O pesadelo das revisões constantes: um desabafo sobre essa dificuldade que, felizmente, tenho conseguido superar.
  3. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  4. Estrutura dramática de um conto: ótimo artigo escrito pela escritora parceira Sara Farinha.
  5. The one-sitting short story: onde Philip Athans fala sobre como escreveu um conto de 6.000 palavras numa única noite. Visite outras seções do blog para saber mais sobre o escritor (em inglês).

21 Comentários

  1. serafimquintinor

    Estou a escrever um conto. Queria saber mais sobre contos. Por isso procurei no Google sites que falam sobre o assunto, e apareceu este. Gostei das dicas. Vão ajudar.

    • T.K. Pereira

      Que ótimo, meu caro. Espero que encontre ajuda em muitos outros artigos do Escriba. Boa escrita pra ti e não hesite em entrar em contato para tirar dúvidas.

      Abraço.

  2. Maduh

    Eu gosto de contos grandes, e tenho o sonho de podê-los lançar como um livro.

    Divido-os em capítulos e vou dando continuidade, sempre finalizando os capítulos com algo interessante e que possa ser concluído num próximo capítulo, até que eu canse.

    Eu criei um blog há pouco tempo e tenho um pouco de medo de publicar o que escrevo. 🙁

    • T.K. Pereira

      Ei, Maduh. Sei bem como é esse medo, mas é preciso vencê-lo, senão ninguém jamais lerá o que você escreve.

      Por outro lado, eu recomendo cautela e paciência. Não saia publicando tudo o que conclui. Muito do que se escreve, às vezes, não está mesmo pronto para ser mostrado ao mundo. Além disso, se você deixar à mostra por aí todos os seus trabalhos, o que restará para despertar o interesse de uma editora?

      Pense nisso. Abraço, coragem e obrigado por comentar. 😉

  3. Matheus Felipe Barth

    Ei, T.K Pereira, qual é seu email?

  4. Naty

    Tenho 16 anos e desde os 13 os livros são meus melhores amigos e amo passar horas escrevendo. Gostei das dicas sobre como escrever um conto; entre outras dicas, estas estão sendo úteis para expandir meus conhecimentos.

    Comentário importado do blog antigo em 17/01/2014

  5. Camila Siqueira

    Olá, eu pus um de meus contos no Recanto das Letras e, infelizmente, não tive comentários. :/ Acho que é porque é o primeiro. Se você quiser, puder, se não for atrapalhar, se gostaria de vê-lo… ^^

    http://www.recantodasletras.com.br/contos/4600088

    Não deve estar muito bom; eu escolhi este porque gosto bastante e consegui escrever em um dia, inspirado em um sonho que tive ano passado. Espero que goste. Obrigada :3

    Comentário importado do blog antigo em 17/01/2014

  6. Camila Siqueira

    Olá.

    Tenho 16 anos e amo ler e escrever. Desde bem pequena tentava escrever um livro até que decidir ir devagar; começando por textos críticos, depois avançando para os mais sentimentais e agora consigo escrever mais naturalmente e sem neuras.

    Avancei pros contos, que mostrei para alguns colegas, os quais gostaram muito. Mas algo me incomoda. Mesmo que meus contos sejam “bons” me sinto meio empacada sobre meus temas.

    Eu gostaria muito que alguém com experiência pudesse ler meus contos e dar uma opinião mais critica para que eu possa crescer; sabe de alguém que possa me ajudar?

    • T.K. Pereira

      Ei, Camila.

      Que bom que esteja se dedicando ao sonho desde cedo.

      A melhor forma de obter um retorno de seus textos sem gastar dinheiro com um leitor crítico é divulgando-os em sites como o Recanto das Letras e o Folhetim Online.

      Abraço.

  7. Dimas Reichert

    Não sei se estou no caminho certo, mas estou me exercitando.
    Te enviei um exemplo do que consegui produzir. O que lhe parece?

    • T.K. Pereira

      A história do conto é interessante e divertida, Dimas. Gostei bastante.

      Recomendo que o envie para sites como o Recanto das Letras e o Folhetim Online; ambos reúnem contos e outros textos de diversos autores e dão uma boa visibilidade.

      Eis algumas considerações deste seu leitor beta. 😉

      1.) Algumas frases estão muito compridas, cheias de vírgulas. Considere quebrá-las em frases menores (é mais agradável de ler).

      2.) A descrição de algumas ações também poderia ser mais sucinta.

      3.) Repete-se muito o fato do burro não ter nome; não chega a ser uma falha, mas me incomodou um pouco.

      4.) Há muitas palavras pouco usuais. Embora algumas possam servir para caracterizar o ambiente da história, outras poderiam ser substituídas por equivalentes mais conhecidos – “frustrado” e “zurrou” funcionam melhor do que “baldado” e “ornejou”, por exemplo.

      5.) A fala do Anastácio me pareceu culta demais para um campônio.

      • Dimas Reichert

        Muito grato pelas considerações e, principalmente, pela dicas. Grande abraço!

  8. Enio Papaiz

    Tudo aqui é ótimo.

    Gostaria de entrar em contato com um escritor fantasma para concluir-reescrever o final de um conto já impresso.

    Nome do conto: “O assassinato no hospital das clínicas e as minhocas”.

    Abraços.

    • T.K. Pereira

      Enio,

      Não sei se meu blog é o melhor lugar para anunciar sua busca. Confesso que não conheço nenhum ghost writer, mas já ouvi falar da Kyanja Lee. Talvez ela possa lhe ser útil.

      Eis o site dela: http://www.kyanjalee.com.br/

      Abraço.

  9. Juju Lancaster

    Infelizmente, tenho muita dificuldade para escrever. Eu leio muuuito antes de escrever qualquer coisa, porém, parece que não adianta. Tenso 🙁

    • T.K. Pereira

      Ler muito é um dos principais requisitos do bom escritor, mas também é preciso colocar a caneta no papel.

      Às vezes leio demais, às vezes escrevo demais. O desafio está em encontrar o equilíbrio aí.

      Abraços.

  10. Laércio Morais

    O texto realmente foi totalmente motivador. Não costumo escrever contos. O último escrito foi para desenvolver um trabalho escolar, mas foi bem prazeroso escrevê-lo.

    Vou seguir as dicas. Queria que você me passasse umas dicas sobre escrever peças teatrais, com o mesmo objetivo do meu ultimo conto, se for possível.

    • T.K. Pereira

      Laércio,

      Bom que tenha gostado das dicas. Infelizmente, eu não sei nada sobre escrever peças teatrais, mas dê uma conferida neste texto do site Dramaturgias Urgentes com 17 tópicos que podem ser de alguma ajuda. 😉

      Abraços e boa sorte.

  11. Piscies

    Muito bom!

    Recentemente resolvi me dedicar à escrita mais do que sempre prometi. Você deve saber como é: prometemos para nós mesmos que um ia seremos escritores, mas nunca cumprimos a promessa.

    Enfim, por causa disso tenho lido muito sobre a escrita de contos. Todos os autores concordam com o que você tirou de Phillip Athans: é possível escrever um conto em uma tacada só.

    Para mim, hoje, isso parece um desafio.

    Mas desafios foram feitos para serem vencidos, não é?
    Ainda vou tentar. 🙂

    • T.K. Pereira

      Marco,

      Sei bem do que está falando, mas acredite quando digo que não é tão difícil escrever um conto de uma sentada, como se diz por aqui.

      Já escrever um conto BOM é outra história, certo? Não é à toa que vários escritores dizem também que escrever é reescrever.

      Encare o desafio, meu caro, e compartilhe sua experiência conosco.
      🙂

      Abraço.

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