Este é o quarto de 30 artigos sobre construção de mundos escritos por Stephanie Cottrel Bryant e traduzidos por muá, Diogo Ruan Orta. Publicado em 2007 para participantes do NaNoWriMo, este tutorial prático e baseado em livros sobre o tema permanece uma ferramenta útil.
Ontem tratamos de ambientação, cenário e sensações que desejamos evocar com nossa história. Hoje falaremos um pouco sobre história planetária, ou seja, a formação geológica do nosso mundo. Pegue seu caderno e um relógio aí e separe alguns minutinhos para a leitura e o exercício do dia.
30 Dias de Construção de Mundo, por Stephanie Cottrell Bryant
Dia 4: Eventos Cataclísmicos
Você tem a ambientação. Você tem uma noção do clima que deseja. Caso tenha conferido as referências indicadas, você pode até ter alguma ideia de como obter esse clima.
Agora, vamos tratar de história.
Não, nada de datas e nomes – isso é muito recente. Estamos falando de história planetária. Há quanto tempo seu mundo está por aí? Quão velho ele era quando sua espécie sapiente surgiu (quer por intermédio da evolução quer da descoberta)? Houve alguma espécie dominante anterior, como os dinossauros, e eles deixaram registros fósseis? Ou a evolução humanoide é a primeira grande espécie a deixar algum registro histórico? Se houve alguma espécie sapiente anterior, eles também deixaram artefatos de sua sociedade?
Um registro fóssil pode ser mal interpretado de muitas maneiras criativas. Você pode ter em mãos lendas sobre dragões baseadas em registros de dinossauros – a não ser, claro, que haja dragões reais em seu mundo. Seus seres sapientes atuais podem acreditar em uma raça mais antiga que “construiu” tudo, quando, na verdade, essa raça mais antiga destruiu tudo.
Também procure por registros não biológicos de mudanças físicas. Grande parte da geografia muda lentamente. Você perceberá que extensões de montanhas levam uma eternidade para aflorar, exceto quando não levam: quando mudam repentina e dramaticamente, as pessoas se lembram, e suas atitudes quanto a tais locais muda também.
Lendas mundiais sobre mudanças repentinas podem brotar – quase toda cultura da Terra tem uma história sobre dilúvio. Pode haver um registro histórico aí ou talvez uma alegoria sendo recontada. Mas todas têm a sua e existe, portanto, algum tipo de cicatriz no que os humanos percebem como sendo a história de seu planeta.
Por exemplo, considere os terremotos e vulcões. Qualquer vulcão ativo terá reputação, talvez como um lugar onde registros geográficos possam ser desenterrados rapidamente (no caso de uma mudança tectônica trazer algum fóssil para a superfície), ser destruídos ou enterrados rapidamente (talvez por deslizamentos de terra), ou ser alterados rapidamente (como a partir de uma erupção vulcânica mais violenta que não só enterra, mas realoca detritos por muitos quilômetros, ou um terremoto que causa uma fissura no centro da aldeia).
Numa sociedade avançada cientificamente, as causas sísmicas não serão nenhuma surpresa para seus personagens, a não ser que você queira promover uma questão especulativa sobre cataclismo geológico (como uma causa não terrestre ou algo inesperado exumado). Para seus personagens fantásticos, é claro, uma erupção vulcânica pode ser um grande problema – a ira dos deuses, um dragão despertando ou até uma catástrofe induzida por magia.
Outros cataclismos maiores e ligeiros incluem furacões e enchentes, incêndios (ainda que, na verdade, a recuperação neste caso seja um processo bastante rápido, levando uma questão de anos), terremotos, vulcões e fendas, e meteoritos. As geleiras, eras glaciais e o aquecimento global são menos ligeiros, mas ainda rápidos na escala geológica. Igualmente capaz de alterar a face do planeta, o deslocamento de placas tectônicas é um bom exemplo de um evento mais moroso; essa mudança essencialmente moveu a Índia para dentro da Ásia, dando origem aos Himalaias e provocando uma alteração climática massiva na África que secou o continente e alterou para sempre (ou apenas começou a alterar) o curso da evolução humana.
Mesmo que ainda não estejamos tratando da construção de culturas, comece a pensar desde já sobre que tipos de cicatrizes seu planeta carrega de seus grandes eventos cataclísmicos. Quais extensões montanhosas você quer ou precisa colocar em sua história, quais desfiladeiros profundos, quais planícies marcadas por crateras? Todas as suas cicatrizes são naturais ou algumas delas foram causadas pelo homem por intermédio de forças tecnológicas ou mágicas?
Exercício de Hoje:
Por 15 minutos, registre algumas das Características Terrestres Realmente Importantes que você quer em sua história, depois só pense: “e se isso fosse provocado por…”. Escreva algumas causas para essas características e cicatrizes e anote tudo em seu caderno. Quais cicatrizes são resultado de forças morosas (como as placas tectônicas) e quais são provocadas por forças rápidas (qualquer coisa que leve menos de 10.000 anos é tido como médio-pra-rápido em escala geológica).
Amanhã tem mais exercício! Quer compartilhar o seu? Use os comentários. 😉
Para saber mais:
- Dia 3: O Planeta Físico – 30 Dias de Construção de Mundo: neste terceiro exercício da série, você vai relacionar ambientação e cenário às sensações que deseja evocar com sua história.
Especial NaNoWriMo:
- 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série sobre o evento.
- As críticas e o valor do desafio – saiba porque o evento é visto com desconfiança por escritores e demais profissionais do mercado editorial.
- Como escrevi um livro em 30 dias – onde detalho minha participação no evento em 2012.
- Diário de escrita – onde falo sobre valor de se manter um diário e compartilho o meu próprio.
- Guia de sobrevivência – dicas para aqueles que ousarem aceitar o desafio!
- National Novel Writing Month: página oficial do evento (em inglês).
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