WorldbuildingEste é o nono de 30 artigos sobre construção de mundos escritos por Stephanie Cottrel Bryant e traduzidos por muá, Diogo Ruan Orta. Publicado em 2007 para participantes do NaNoWriMo, este tutorial prático e baseado em livros sobre o tema permanece uma ferramenta útil.

Ontem trabalhamos os aspectos econômicos e políticos do mundo. O assunto de hoje é um dos mais importantes para escritores de fantasia: idioma e nomes. Pegue seu caderno e um relógio aí e separe alguns minutinhos para a leitura e o exercício do dia.

Quer mais dicas? Vá ao perfil WattPad do T. K. Pereira e procure por um livrinho chamado Guia do Construtor de Mundos. Recomendo dar uma conferida, já que os textos de lá complementam os deste tutorial – sim, foram escritos pela mesma autora. Segue o chefe por lá pra ficar por dentro.

30 Dias de Construção de Mundo, por Stephanie Cottrell Bryant
Dia 9: IdiomaJ. R. R. Tolkien - Um Anel - Senhor dos Anéis

O exercício de hoje foi surrupiado lá da página principal do Construtor de Mundos, o qual eu escrevi há algum tempo. Reutilizarei parte do texto, mas você também pode conferir a versão completa lá (N.T.: o texto ainda será publicado no perfil do T. K. Pereira no WattPad).

Muitas pessoas consideram esta a parte mais divertida do processo de construção do mundo. De fato, elas gostam tanto que existe toda uma disciplina intitulada “idiomas construídos” ou conlangs. Se você perceber que lidar com esse aspecto da construção do seu mundo é a parte mais divertida do processo, talvez valha a pena dar uma conferida nos idiomas construídos, ou seja, aquelas criações artificiais que não resultam da evolução orgânica.

Tolkien era um mestre no assunto e criou múltiplos idiomas para seu cenário da Terra-Média. Contudo, Tolkien era medievalista e linguista, e a criação de idiomas era tanto um interesse pessoal quanto profissional.

Se, como eu, você só quer encaixar umas poucas palavras novas porque estas soam ‘certas’, então faça isso. Mas, de qualquer maneira, crie um léxico para os idiomas de seu mundo de fantasia – se o povo do Deserto S’nnari fala com sons líquidos (muitos r’s e l’s), então qualquer palavra com som de “k” deve soar estrangeira para eles, de alguma forma, ou ter um impacto particular quando pronunciada por eles (como um palavrão).

As pessoas costumam dizer que o Alemão não soa muito “legal”, o que é meio verdade – muitos tons duros do idioma alemão o fazem “soar” de modo bem mais “desagradável” em ouvidos romanizados. Os produtores de Jornada nas Estrelas (Star Trek) também não foram estúpidos ao criar as silabas de sonoridade dura dos Kinglons.

Eu não posso sugerir muitos recursos sobre isto, exceto A Poetry Handbook de Mary Oliver, o qual tem um capítulo incrível sobre sonoridade. O livro é todo sobre os sons das palavras – as diferenças entre vogais e diferentes tipos de consoantes, e quais efeitos estas têm na poesia. Use esse livro, ou algo parecido – Oliver, na verdade, baseou a maior parte de sua informação em uma velha cartilha de idioma que ela tinha largada pela casa dela. Aprenda sobre como soa um idioma. Também é preciso acrescentar: todas as regras de sonoridade são completamente dependentes do idioma nativo de seu ouvinte. Se você está escrevendo em outro idioma, suas regras para o que soa “duro” ou “macio” serão completamente diferentes.

Você também pode se sentir justificado ao roubar livremente dos idiomas e mundos da Terra; muitos autores fazem isso com grande sucesso.Klingons - Star Trek - Jornada nas Estrelas

A maior parte do tempo, você escreverá em seu idioma nativo, e então irá automaticamente “traduzir” o que quer que seus personagens estejam fazendo para o idioma no qual escreve. Só é preciso saber como soa o idioma dos seus personagens para aquelas palavras que você quer que agreguem um valor exótico.

No geral, tais palavras se encaixam em três categorias: pessoas, locais e coisas. Verbos, sendo mais abstratos, não deveriam fazer parte do seu idioma fantástico inventado a menos que seja absolutamente necessário. Mesmo se for o caso, tente fazer esses verbos soarem o mais próximo possível com os de seu próprio idioma.

Outro recurso que pode ser valioso na busca por bons nomes: livros de nomes de bebê. Tanto aqueles voltados para pais quanto os mais genéricos voltados para escritores. Eu tenho dois livros de nomes que considero úteis: um deles lista nomes por associação cultural, bem como primeiros/últimos nomes de homens/mulheres; o outro é um livro especialmente direcionado para a nomeação de personagens de fantasia, este publicado pela Writer’s Digest Books.

Exercício de Hoje:

Ouça como sílabas diferentes soam para você. Elas te excitam? Você associa um som particular com uma emoção, local, memória? Escreva certas preferências genéricas para seu idioma – “eu quero que o idioma falado pelos elfos soe como água e que o idioma falado pelos anões soe como pedregulhos em atrito”; então procure ouvir com o que tais sons se parecem. Escreva as sílabas que ouvir quando você abrir a torneira ou se sentar à margem do rio – use esses sons ao criar seus nomes élficos para pessoas, locais e coisas.

Exercício Bônus:

Se você quer que o idioma tenha um papel determinante na ambientação de sua história, visite os exercícios de nomeação do Guia do Construtor de Mundos (N.T.: os capítulos são publicados diariamente no perfil do T. K. Pereira no WattPad), e distribua alguns nomes para seus povos, locais, e coisas. Note que, ao fazer isso, é provável que você desenvolva maior controle sobre o histórico de seus personagens; talvez você precise recuperar seu mapa agora para preencher os nomes de alguns marcos-chave e assentamentos. É provável que isso tudo leve mais uns 15-30 minutos.

Link Recomendado: Langmaker.com

Amanhã tem mais exercício! Quer compartilhar o seu? Use os comentários. 😉


Os exercícios de construção de mundo estão sob uma licença Creative Commons que permite tradução, distribuição para grupos de escrita, venda (com permissão), reimpressão (para uso não comercial) ou cópia exata, todos com os devidos créditos à autora do texto original, Stephanie Cottrell Bryant.

Esta tradução NÃO pode ser distribuída de forma alguma senão em trechos curtos dos textos (até 100 palavras), desde que seja visivelmente dado crédito ao tradutor (Diogo Ruan Orta) e desde que haja um link direcionando para o site Escriba Encapuzado.

Favor respeitar o trabalho árduo de tradução do amigo Diogo.


Para saber mais:

  1. Dia 8: Economia e Política – 30 Dias de Construção de Mundo: neste oitavo exercício da série, vamos pensar um pouco sobre os aspectos econômicos e políticos do nosso mundo.

Especial NaNoWriMo:

  1. 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série sobre o evento.
  2. As críticas e o valor do desafio – saiba porque o evento é visto com desconfiança por escritores e demais profissionais do mercado editorial.
  3. Como escrevi um livro em 30 dias – onde detalho minha participação no evento em 2012.
  4. Diário de escrita – onde falo sobre valor de se manter um diário e compartilho o meu próprio.
  5. Guia de sobrevivência – dicas para aqueles que ousarem aceitar o desafio!
  6. National Novel Writing Month: página oficial do evento (em inglês).