Quero crer que todo escritor profissional, em algum momento da vida, sente-se angustiado e abatido, quiçá certo de que jamais escreverá algo digno de ser lido. Tal pensamento conforta este pobre e extremamente exigente aprendiz.
Além disso, recorro sempre a uma listinha com 10 breves dicas motivacionais que elaborei para essas ocasiões não tão raras. Se o capuz também lhe serviu, querido leitor, reserve uns minutinhos para lê-las e, talvez, pregá-las num lugar bem visível.
10 dicas para não perder a motivação
- Pare de sentir pena de si mesmo: e de lamuriar por não nunca ter tempo para escrever, por ser sempre importunado nas raríssimas vezes em que consegue fazê-lo, por ninguém ler os seus textos, por terem “roubado” aquela sua ideia brilhante e única para um livro, por não ser tão reconhecido quanto Cicrano ou Beltrano. Essa atitude não fará de você um escritor – muito pelo contrário.
- Identifique e supere suas limitações: aceite cada dificuldade como um desafio a ser vencido, não como uma barreira intransponível. Avalie os problemas que se apresentam e a si mesmo. Faça o que for possível dentro das atuais condições, sem condicionar-se a atitudes de terceiros ou situações de um futuro muito distante. Se algo não está funcionando, tente fazer de outro modo.
- Seja humilde: não inicie uma luta solitária contra o mundo; peça ajuda quando não for capaz de lidar com suas limitações por conta própria. Ouça o que colegas escritores mais experientes têm a dizer e aprenda com eles. Não amaldiçoe os que te ignorarem, pois isso não os torna maus, apenas pessoas com vidas tão ou mais atribuladas quanto a sua. Saiba aceitar críticas: se construtivas, seja grato e procure melhorar; se não, ignore-as – todos têm direito à opinião.
- Pegue leve consigo: exija de si a disciplina de dedicar ao menos alguns minutos de seu dia à escrita, mas não se frustre se seu texto não apresentar a quantidade ou a qualidade esperada. Encare cada linha, parágrafo, página como uma vitória e alegre-se. Um espaço preenchido com palavras é sempre uma visão mais estimulante do que um em branco – e não se preocupe se elas não forem exatamente as que você procura; lembre-se que escrever é reescrever.
- Confie em sua criatividade: não desista de um projeto somente por ter descoberto que algo semelhante já foi escrito. Acredite em sua capacidade de adicionar aquele toque pessoal a um tema recorrente, enriquecendo-o com novas interpretações, pontos de vista, e situações não imaginadas. Se tal pensamento derrotista imperasse, talvez Drácula de Bram Stoker – ou outro texto ainda mais antigo – fosse até hoje a única história de vampiro conhecida.
- Escreva com convicção: acredite naquilo que escreve e escreva aquilo em que acredita. Não se deixe intimidar pelo medo de expor o que pensa ou pelo que pensarão de você. Atente para o que os outros gostariam de ler, mas na medida certa: não se anule para agradar seu público-alvo. Seja polêmico, filosofe, explore o controverso, instigue à reflexão. Mas sempre respeite as crenças e opiniões alheias, ainda que discordantes. Deste modo, outros também respeitarão suas ideias – pelo menos a maioria civilizada o fará.
- Não seja (muito) ansioso: é natural que escritores iniciantes queiram ter seus textos lidos, comentados, compartilhados e, principalmente, publicados o quanto antes. Não se culpe por desejar reconhecimento imediato, mas procure dominar a ansiedade. Aceite que será preciso escrever, reescrever, revisar, e avaliar seus trabalhos antes de soltá-los no mundo. O resultado pode até não agradar a todos – quem é capaz disso? –, mas ao menos você estará certo de ter se dedicado para oferecer o melhor aos leitores.
- Teime, teime, teime: não duvide de que haverá momentos em que a vida parecerá conspirar para afastá-lo da escrita: agendas estudantis e profissionais, questões financeiras, familiares. Como se não bastasse, você achará sua escrita patética e se questionará se não deveria se ater às listas de compras. Quando isso ocorrer, respire bem fundo, lembre-se de que está nessa por amor às palavras – ninguém está te obrigando a escrever – e persevere. Logo tudo melhorará.
- Nunca pare de aprender: o caminho do escritor tem diversos destinos, mas não é finito. Não pense que sua jornada terá chegado ao fim somente por ter dominado técnicas, encontrado a própria voz, ter obras publicadas, reconhecidas. Quando se sentir confortável demais, desafie-se: experimente um novo gênero, brinque com as estruturas literárias, deturpe as regras que tanto se esforçou para conhecer. Sempre há algo novo a aprender, explorar e experimentar.
- Divirta-se: aprecie cada momento dedicado à escrita. Se a experiência estiver sendo penosa, considere afastar-se por um tempo: leia um livro, assista a um filme, encontre uns amigos. Mas se acaso nunca experimentou a satisfação de ver ideias transmutando-se em palavras nem se alegrou com um texto que saiu melhor do que o previsto, então talvez esta jornada não seja pra você.
Eis minhas dicas motivacionais. E vocês, leitores? Como costumam se motivar?
Dica BônusFaça exercícios físicos: alguns escritores podem ser criaturas muito sedentárias, ainda mais aqueles nascidos em certo estado do Nordeste – sou baiano, note-se. 😉 Além de prejudicial à saúde, obviamente, tal estilo de vida não é exatamente uma fonte de inspiração e criatividade. Além disso, as dores resultantes da inatividade excessiva comprometem os momentos de escrita. Como escritores ficam sentados na maior parte do tempo – alguém escreve de pé ou andando? – é importante alongar-se, praticar esportes, enfim, exercitar-se com regularidade. |
Para saber mais:
- How to Find Your Daily Writing Motivation: este artigo sobre motivação para escritores apresenta dicas utéis e as interessantes regras de recompensa. Vale uma conferida; (em inglês).
- Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
- Pare o mundo que eu quero escrever: onde desabafo sobre meu desafio de lidar com as distrações do cotidiano.
- O pesadelo das revisões constantes: algumas palavras sobre como identificar e superar este terrível obstáculo.
O escritor Alexandre Lobão escreveu textos interessantes sobre motivação para escritores no Vida de Escritor. Confira-os a seguir.
Excelentes dicas! Seu blog é muito bom, com informações valiosas sobre motivação e produtividade para escritores.
Por sinal, o Alexandre Lobão, citado neste post, tem um livro de muito valor e qualidade na Amazon, chamado A Bíblia do Escritor. Estou lendo no meu smartphone, e estou adorando!
Fico feliz que o site tenha te ajudado tanto, xará. Conheço o livro do Alexandre, mas ainda não tive o prazer de lê-lo. Tá na minha (sempre crescente) lista.
Abraços.
Ótimo texto, a dica da ansiedade me capturou: “será que não fui eu que escreveu isso?!” Hahaha…
Tudo que você fala é verdade; já eu experimento um tipo diferente de empecilho no momento da escrita. Eu, sempre, sempre fico pegando livro atrás de livro para ler e não consigo parar, aí me consolo falando: “quando eu ler todos os bons eu começo a escrever para valer” – atualmente meu(s) livro(s) consistem em no máximo 30 minutos de leitura, cada; eu tentei publicá-los na internet, porém, não recebi respostas dos sites (#vácuo). Será que só acontece comigo?
Ei, Yunaro. Que bom que se identificou com as dicas.
Já passei pelo momento “ler tudo de bom antes de me atrever a escrever” e te digo: não tem nada a ver. Se você quer escrever, mande ver, escreva. Mas, claro, nunca deixe de ler. Às vezes é difícil equilibrar o tempo de escrita com o de leitura, mas não é impossível.
Sobre publicar seus textos: rejeição é muito normal; não é nada pessoal, são apenas ossos do ofício. Se quer ter retorno no sentido de melhorar, eu recomendo começar com pessoas mais próximas a você (nada de parentes ou amigos que se preocupem em chateá-lo).
Força, meu caro, a vida de escritor não é fácil, mas tem momentos gratificantes.
🙂
Abraço.
Obrigado, T.K.
É isso aí, embora todos estejamos aprendendo, a gratificação que vem da escrita, quando nosso trabalho é apreciado, até mesmo a diversão que vem disto, tenho certeza, é o que motiva todos os escritores que realmente amam fazer isso!
Era o que eu estava procurando. Adorei todas as dicas, mas a referência a “certo estado do Nordeste” é falsa e desnecessária. É triste saber que ainda existe este clichê preconceituoso com relação a um dos estados mais belos e culturalmente ricos do Brasil.
Helton,
Foi apenas uma brincadeira, pois sou natural da Bahia – acho que vou até deixar isso claro lá. Hmm…
Que bom que as dicas foram úteis. Espero que continue acompanhando o Escriba Encapuzado.
Abraço.
Estou adorando esse blog. Gostaria que indicassem mais sites e blogs ou cursos online de Escrita Criativa.
Ei, Mônica. Fico feliz que tenha gostado.
Dicas de sites sobre escrita? Bom, tem o sempre excelente Ficção em Tópicos, com artigos gratuitos e oficinas virtuais.
Quanto a cursos, há um ministrado de tempos em tempos pelo parceiro Alexandre Lobão, mas este ocorre em Brasília – fique ligada no site Vida de Escritor.
Em Belo Horizonte há a Oficina de Contos Para Gostar de Escrever, do Sérgio Fantini, que ocorre semestralmente.
Há ainda as Oficinas OnLine de Escrita Criativa e de Criação Literária do Marcelo Spalding.
E há muitas outras, basta dar uma conferida neste post publicado aqui mesmo, Serviço: Oficinas Literárias, ou pesquisar no Google.
Por acaso, às vezes, eu até escrevo em pé ou a andar (depois fico a pensar: “que raio é que escrevi aqui?”).
E essa dica extra é mesmo muito importante: se não se fizer exercício físico, chega um ponto em que tudo é chato e nem vontade temos de escrever.
Dicas muito boas, sempre a estimular os cérebros que tanto adoram escrever! 🙂
Exercícios são bons não apenas para o corpo, mas também para a mente. Às vezes, eu preciso me lembrar disso, mas tudo bem… ¬¬’
Abraço.
Bem complicado quando se está desempregado e os cobradores não te deixam sossegado um minuto sequer. No primeiro parágrafo você para e pensa: “Mas eu não deveria estar procurando um trabalho ou alguma forma de pagar as minhas dívidas?” Difícil, mas, apesar de detestar mensagens de autoajuda, os itens 7 e 8 me deixaram bem “UP”. Vamos lá, pelo menos até que desliguem a energia.
Tarcísio,
Quer dois exemplos de superação? Eduardo Spohr e André Vianco começaram suas carreiras após serem demitidos e hoje são autores reconhecidos, sucessos de público e vendas. Não creia que o caminho será fácil, mas creia que é possível trilhá-lo. Como se diz por aí: Foco, Força e Fé – e para quando os obstáculos surgirem no caminho, Foda-se!
Coragem, amigo. 🙂
É verdade!
Às vezes aquela chama de querer escrever vai embora e você pensa que seus escritos são um lixo. Então espero passar um tempo, leio um livro qualquer, aí fico indignado por ter desistido.
Deus é quem dá o dom, o desejo, e me parece tolo não acreditar nele. Aí volto à potência máxima de novo! 🙂
Graças à Deus estou terminando de escrever o primeiro livro, e nossa meu, é bem assim mesmo; é desafio atrás de desafio.
O negocio é se agarrar a um bom pensamento e ir embora. Sempre caminhando, sempre seguindo. Valeu pelas ótimas dicas!
Felipe,
Apesar de ainda não ter me arriscado a escrever um livro, eu sei bem do que está falando.
Que ótimo que as dicas foram úteis para ti. Não deixe de me avisar quando seu livro for lançado – aliás, do que se trata?
Abraços,
Muito obrigado pelo material! Realmente há momentos que precisamos de certo estímulo para continuar.
O amor às palavras deve ser nosso alimento diário a fim de atingirmos nossos objetivos.
Abraço!
Disponha, Wesley.
Experimente colar essas dicas em algum lugar visível. Faz maravilhas. 😉
Abraço.
Excelente post! Realmente inspirador.
Identifiquei-me especialmente com a dica 10 (“Divirta-se: aprecie cada momento dedicado à escrita.”): até agora, tenho conseguido segui-la. A 7 é que ainda me assombra: ansiedade não me falta! 🙂
E, bem, por mais curioso que seja, a verdade é que de certo modo “escrevo” andando.
É uma mania minha: quando a frase ou o parágrafo não saem, dou uma passeada pela casa ruminando comigo mesmo até organizar as ideias. Mas claro que isso não serve de exercício físico, hehe! 😀
Parabéns pelo blog!
É muito bom ver que não sou o único que enfrenta dificuldades para lidar com a ansiedade. Espero que minhas dicas também te ajudem a lidar com esses “pequenos” desafios de escritor.
Ah, sim: qualquer hora eu vou experimentar escrever andando pela casa. Quem sabe dá certo pra mim também? 😛
Abraço e espero ver mais comentários seus por aqui.
Adorei este post. Realmente, é motivador.
Obrigado pelas dicas. É sempre bom aprender mais sobre escrita.
Abraço.
Que bom que gostou, Ben. Se quiser aprender mais, eu recomendo ler os textos da série “7 coisas que aprendi”. Há muita coisa valiosa por lá.
E não deixe de assinar o blog (por e-mail ou RSS) para ficar por dentro das novidades.
Espero ver mais comentários seus por aqui.
Abraço,
Olá. Eu gostei muito das dicas, principalmente a “pegue leve consigo”. Realmente precisamos ter a cabeça no lugar e não surtar; em vários momentos, isso é o que acontece, mas é porque muitos escritores tentam arduamente escrever apenas pensando em reconhecimento.
Ok, isso pode ser um estimulo, mas em doses moderadas. Não em excesso. A escrita passa a ficar maçante, a liberdade de “escrever o que quiser” some. E o escritor passa a pensar na opinião do outro: “o que será que outros acharão?”; (ele) passa a escrever para ver no que dá, e outros ainda não têm nenhuma historia para contar; não tem algo com o que ele possa se “arraigar”, e lutar para que aconteça.
Dessa maneira, a mente do indivíduo muda; a escrita passa a ser não algo interessante, gostoso de e fazer, de descobrir, mas começa a se tornar algo como “fazer por fazer” porque a vontade de escrever pelo reconhecimento ainda impera.
É muito triste quando se vê isso com escritores; a ideia pode ser boa, mas tudo muda com o passar do tempo.
Minha dica é: busquem alguma diversão na sua escrita. Algum prazer. Nem que seja por um momento. Eu sei que há partes que não serão tão legais assim de escrever, mas amem primeiramente suas historias e personagens; a partir daí, vocês farão tudo para escrevê-los da melhor maneira possível.
Não há segredo.
Boa sorte a todos os escritores!
Continuaremos na luta juntos, rumo a vitória!
Amem e amem o que escrevem. O resto das pessoas, não farão nada por você e nem por sua historia. É tudo com você meu amigo…
Jean,
Já ouviu dizer que “um escritor é uma pessoa para quem a escrita é mais difícil do que para qualquer outro” (Thomas Mann)? 🙂
É bem por aí. Mas se você realmente ama as palavras, ama compartilhar histórias, não há dificuldade que seja capaz de tirá-lo do caminho.
Abraços,
A última frase do texto foi o fechamento perfeito.
Sabe, entendi que tinha mesmo virado escritora quando percebi que não podia mais ficar sem isso. Entendi que era esse o meu galho, quando me peguei rindo sozinha com um texto que houvesse escrito, ou com uma ideia que brotasse do nada no meio da tarde de uma quarta-feira qualquer.
Acredito que seja por aí mesmo. Escrever deve ser uma fonte de prazer. Caso contrário, nosso aborrecimento transparece no texto e o leitor percebe.
Amei as dicas. Já enfrentei quase todos os perrengues que você citou. Ainda tenho minhas várias dificuldades, hoje acredito que mais relacionadas à técnica, mas quem pode saber se é isso mesmo? rsrsr…
Um grande abraço,
Fernanda Coelho
Fernanda,
Perrengues com a técnica também me afligem, mas aí o que podemos fazer é estudar e praticar, praticar, praticar.
Espero vê-la mais por aqui. 😉
Abraços,