Publicado pela primeira vez na antologia de terror Brinquedos Mortais, da Editora Draco, O Homúnculo é um conto do falecido escritor mineiro Saint-Clair Stockler que mistura ficção científica e terror numa história perturbadora.
Num futuro não tão distante, a evolução da tecnologia de manipulação de genes permite aos seres humanos brincarem de Deus. E nem é preciso ser um cientista para isso. Desembolsando alguns trocados, qualquer cidadão pode adquirir a mais nova sensação da engenharia genética: o homúnculo, um brinquedinho biológico desenvolvido com o único proposito de entreter seus proprietários.
Narrado em primeira pessoa, este conto breve contém um terror sutil: aqui o leitor não teme o monstro que espreita nas sombras, mas aquele que vive em cada um de nós. Mais terrível que esse pensamento é cogitar que quanto mais progredimos como espécie, mais insensíveis e individualistas nos tornamos.
Imersos em mesquinhez e na busca incessante por formas de entretenimento que ofereçam uma fuga da nossa realidade, mal nos damos conta (ou não nos importamos mesmo) que isso se dê à custa da humilhação e do sofrimento alheio. Excelente conto. Não pude evitar imaginar que seria ainda mais aterrador se o protagonista fosse alguém mais jovem.
Dada a qualidade da prosa não é exagero dizer que um verdadeiro talento se perdeu com o falecimento do escritor. A versão Kindle do conto foi disponibilizada de graça pela editora no site da Amazon.
Para saber mais:
- Li e Comento: minhas breves considerações sobre contos, novelas e outras narrativas curtas.
- Brinquedos Mortais: informações sobre a coletânea lançada pela Editora Draco.
- Saint-Clair no Skoob: algumas obras que contam com a participação do escritor.
- Saint-Clair Stockler: site que o escritor costumava manter.
- Sobre Dias Estranhos: no site de Tibor Moricz, um depoimento de Saint-Clair sobre o livro de contos que publicou e que, atualmente, é bem difícil de encontrar.
Saint-Clair tinha uma verve excepcional, dominava técnica literária, era talentoso, mas, infelizmente, pouco profícuo. Faltam mais trabalhos dele. Foi também um maravilhoso professor. Não chego aos pés dele, mas me esforço.
Também senti falta de mais textos de Saint-Clair. Está difícil encontrar uma cópia de “Dias Estranhos” por aí. A Editora Draco bem que poderia lançar uma nova edição.
Abraço.