Monótonos, incompreensíveis, afoitos, clichês. A lista de maus começos é longa. Em mais um artigo da série Recursos do Escritor, a lisboeta Sara Farinha enumera 6 inícios que o escritor deve evitar a todo o custo, sob o risco de perder o leitor já nas primeiras linhas.
Descrições extensas do cenário ou dos personagens; o protagonista que acorda de um sonho ou pesadelo (algo que também ocorre muito nos filmes) ou que fica a admirar-se no espelho; tentativas de chocar de cara com uma grande revelação. Todos maus começos, sem dúvida.
Já dois tópicos listados por Sara são polêmicos: começar a história com diálogos ou com outro personagem que não seja o protagonista. Tratemos do primeiro. Para Sara, o diálogo como introdução é ruim, pois os interlocutores, o cenário, o motivo da cena, tudo é desconhecido inicialmente. Discordo em parte.
Embora o escritor precise ter muito mais cuidado, este pode sim contextualizar o leitor utilizando apenas diálogos. Quando bem trabalhado, um começo com diálogos pode até mesmo acrescentar um toque de mistério que fará o leitor querer saber mais sobre aqueles personagens ou mundo em que vivem.
Tal começo pode não ser recomendado para escritores iniciantes, mas com certeza não deve ser considerado ruim. Talvez o maior desafio ao lidar com diálogos seja fornecer informações necessárias à compreensão do texto sem que este se torne expositivo demais.
Quanto ao segundo tópico, eu já disse por aqui que não vejo problemas num início envolvendo outro personagem. Desde que tal escolha faça algum sentido para a história, por que não começar com um misterioso vilão ou um sábio que cruzará o caminho do herói mais adiante?
Confiram os Recursos do Escritor no site da Sara Farinha:
Sobre a autora |
Para saber mais:
Escrevendo primeiros capítulos – Recursos do Escritor: dicas preciosas de Sara Farinha.
Diálogos: Funções e Regras – Recursos do Escritor: confira mais dicas de Sara Farinha.
Escritora Parceira: Sara Farinha – apresentando a parceria com a simpática escritora lisboeta.
7 coisas que aprendi – a valiosa contribuição de Sara para a série.
Concordo com ela sobre os inícios descritivos demais, especialmente quando o escritor se prolonga muito descrevendo o personagem. Geralmente esqueço tudo assim que leio. Paisagens também. No meio até vai, se for importante, mas no início mata.
Diálogos inúteis também são péssimos começos, sim. Como você falou, se o diálogo for bem feito e ajuda a nos situar na história, tudo bem, mas diálogos sem sentido são horríveis para início de história.
Alguns inícios citados no artigo, porém, são meio “coringas”. Alguns dos livros da série best-seller do George Martin, Crônicas de Gelo e Fogo, começam com personagens que simplesmente nunca mais são citados no resto da história.
Kafka, por outro lado, iniciou seu conto mais famoso, A Metamorfose, justamente com uma revelação chocante: que o personagem acordou certo dia de pesadelos e era um inseto.
Eu diria que estes são inícios “difíceis” de serem feitos da forma correta. Existe muita coisa que pode dar errado.
Belo post!
Muito bem lembrado, Marco.
A Metamorfose e os livros das Crônicas são bons exemplos de quebra das “regras” citadas por Sara.
Com relação ao Tio Martin, sim, ele tem mesmo esse mau hábito. Também, com tantos personagens, não é surpresa que ele acabe se esquecendo de alguns.
Nada me tira da cabeça que ele vai criando e abandonando personagens de acordo com a reação dos leitores a estes. Às vezes penso que ele daria um ótimo autor de novelas da Globo.
Abraço.
Hahahaha… não é que é verdade?
Gostei muito de conhecer seu blog, parabéns por ele!
Para quem gosta de escrever a matéria é bem interessante, gostei. Nunca reparei como os autores que eu leio começam seus livros; acredito que a maioria seja explorando o cenário ou os pensamentos do protagonista.
Vou começar a prestar mais atenção nisso!
Beijocas.
Patty Santos
Patty,
Que bom que gostou e decidiu seguir meu trabalho aqui no Escriba Encapuzado.
Também conheci seu blog e gostei muito, principalmente das resenhas.
Já assinei o RSS para ficar por dentro das novidades. 😉
Abraços.
Eu acho a maior parte dos inícios válidos, mas só há um tipo que me irrita: aquele que só serve pra te apresentar o mundo sem relação qualquer com a história “real”.
Eu fico com uma cara de tédio e penso “caramba, cara, tudo isso só pra mostrar que no seu mundo os anões são excelentes fabricantes de armas de fogo e que os elfos desapareceram? Legal, cara, mas e a história?” 😀
Sim, sim, inícios que pecam pelo excesso de informação (infodump) são bem frustrantes.
Alguns autores acham que é preciso explicar de uma só vez ao leitor como tudo naquele mundo funciona e o texto fica maçante. O pior é que às vezes o que é exposto nem é essencial para a história.
O ideal mesmo é ir expondo as características da ambientação aos poucos e desde que seja algo que faça sentido ao que está sendo narrado.
Abraços.