Escritores profissionais são confrontados com esta pergunta com frequência. É provável que ouçam também as variantes clássicas: como você escreve? Por quê? De onde vêm suas ideias? Qual é o seu processo?
Dentre os que se dispõem a respondê-las, uns são práticos e realistas, outros são subjetivos e enigmáticos. Seja como for, a questão é o que nos provoca tal curiosidade? E em que ela pode ser útil para alguém que sonha tornar-se um escritor?
O Segredo dos Escritores
Quando decidi me dedicar a sério a esse lance de escrever histórias de ficção, minha primeira atitude foi pesquisar os casos de jovens escritores nacionais de sucesso. Eu queria estuda-los, refazer seus caminhos rumo ao reconhecimento, conhecer seus métodos de trabalho, enfim, descobrir seus segredos, aquilo que os tornava especiais.
É natural que escritores em inicio de carreira busquem espelhar-se em autores publicados, sejam eles best-sellers ou pessoas próximas que conquistaram um lugar no mercado editorial. Nós os acompanhamos nas redes sociais, adicionamos seus blogs aos favoritos, lemos (e relemos) seus artigos e obras; tudo na vã expectativa de identificar, ali nas entrelinhas, um quinhão de conhecimento oculto que revele a razão de seu sucesso na carreira literária.
Inspiramo-nos neles. Queremos aprender com seus erros e acertos. Comparamo-nos a eles na tentativa de aplacar nossas inseguranças. Será que estou seguindo o caminho certo? Sou capaz de lidar com as angústias da vida de escritor (elas existem e são muitas)? Tenho perfil profissional? Conseguirei reconhecimento algum dia ou estou fadado ao anonimato?
Um destino, muitos caminhos
Ainda que todas essas reflexões sejam compreensíveis, a verdade, por mais clichê que isso possa parecer, é mesmo esta: seguir os passos de um autor bem-sucedido não garante o seu sucesso. Cada escritor deve refletir sobre sua história, suas qualidades e defeitos, e, então, dar o primeiro passo rumo a uma jornada de autodescoberta.
Devemos trilhar nossos próprios caminhos, construir nossas próprias histórias. Isso não quer dizer, porém, que não seja possível remover algumas pedras do caminho. É exatamente neste aspecto que conhecer as trajetórias de outros autores é útil para os aspirantes a escritor. A experiência deles nos permite aprender como lidar com nossos próprios desafios… e saber que não há dificuldade que seja insuperável.
E você, colega aprendiz, que caminho tem trilhado?
Para saber mais:
- Série 7 coisas que aprendi: página principal do projeto que convida escritores em diversas fases da carreira a compartilharem suas experiências.
- De escritores para escritores: descubra tudo sobre as origens do projeto “7 coisas que aprendi”.
- Quero ser escritor: algumas palavras sobre o sonho de viver de literatura no Brasil.
- Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existêncial.
- Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
Leio isso o tempo todo quando procuro estudar o que os grandes autores passaram.
Como é de se esperar, nenhum deles vem com macetes ou “cortes de caminho”. Ao invés disso, todos eles vêm com palavras de apoio, nos incentivando a seguir em frente.
Quem tem que seguir somos nós mesmos.
Ótimo artigo, como sempre ; )
Valeu, Marco.
Não é à toa que volta e meia vejo alguém reclamar da ausência de técnicas práticas em livros que ensinam a escrever.
Técnicas são importantes? Sem dúvida. Mas elas por si só não fazem boa literatura.
Não se tratam de regras e fórmulas, mas de observação, sensibilidade, vivência. Afinal, um escritor não é um matemático.
Abraço.
Eu concordo com você.
Ao iniciar nesse mundo mágico, não pensava que poderia algum dia seguir nele. Mas depois que se prova do mel.
Adoro ler o que você escreve; é claro, objetivo e não apresenta poções milagrosas.
Escrever é amar as palavras, os erros, os acertos, as dores nas costas, na alma, cada um de um jeito. Não há como caminhar com os pés dos outros. Obrigada.
Puxa, obrigado, Valesca. 🙂
Positivo ou não, todo retorno dos leitores é importante. Afinal, o que é um escritor sem seu público, não é mesmo?
Espero ver mais comentários seus por aqui.
Abraço.
Tenho lido bastante sobre a arte literária em blogs como este e em livros.
Os conselhos dos autores já estabelecidos e publicados sempre são importantes, mas, como disse o Tiago Haubert, o autoconhecimento é fundamental, e por isso é importante conhecer muito bem as diversas facetas da literatura para poder fazer uma autoavaliação de seus pontos fortes e fracos.
Infelizmente livros sobre a arte literária no Brasil são poucos, mas sempre há os cursos e oficinas literárias, e para quem consegue ler em inglês há abundante literatura disponível.
Talento é indispensável, nem que seja um pouquinho. Depois, a disposição de estudar e escrever de maneira constante. Aprender e praticar constantemente pode auxiliar a encontrar seu verdadeiro talento.
Um ponto pouco abordado, seja em oficinas ou em livros, é a ajuda mútua. A maioria daqueles que entram no mundo da escrita são, na verdade, escritores incompletos. Tem seus pontos fortes e seus pontos fracos.
A não ser que seja um desses raros fenômenos da literatura, sempre há alguma coisa que o escritor (incompleto) tem dificuldade, e isso acaba atrapalhando o seu desenvolvimento. Alguns são muito imaginativos, mas simplesmente quase analfabetos.
A preocupação em escrever corretamente, algo que não domina, acaba tolhendo a imaginação e emperrando os resultados. Outros são criativos, escrevem bem, mas não tem noção de estrutura.
O resultado é um escrito confuso, amorfo, que faz o leitor desistir nas primeiras páginas. Outros ainda muito bons em estruturar, porém medíocres na imaginação. E daí por diante, sempre um não-talento natural acaba emperrando tudo e levando à frustração.
Uma solução seria a cooperação, o “dois-em-um”, o “três-em-um”, o clube de escritores, o apoio mútuo. A arte de escrever pode não ser apenas uma atividade individual.
Comentário perfeito e valiosíssimo, José.
Quanto à cooperação, você propõe que dois ou mais escritores trabalhem sobre uma mesma obra, construindo-a coletivamente, como faz James Patterson?
Abraço e obrigado por enriquecer o post.
Se for possível juntar o melhor dos dois, por que não? James Patterson é um exemplo disso. E o sucesso coletivo pode alavancar o sucesso individual.
Um exemplo nacional é a dupla Roberta Spindler e Oriana Comesanha, que juntas estão escrevendo a trilogia “Os contos de Meigan”. O primeiro volume já foi lançado (Os contos de Meigan – Ed. Dracaena – 615pg).
Muitos se arriscam em participar de antologias, escrevendo contos e poesias, e não saem disso. Eu sou um exemplo desse tipo. Escrevi contos para umas quarenta antologias, e só recentemente lancei um livro só meu. (Textos selecionados – Ed. All Print).
Agora tomei coragem e estou trabalhando em dois romances. Mas antes, preciso aprender mais sobre a arte de escrever, com outros escritores, blogs, livros e troca de figurinhas.
Interessante. Confesso que não vejo a coautoria como caminho, ao menos não por ora.
Não conhecia o trabalho de Spindler e Comesanha; vou dar uma conferida.
Sobre a participação em antologias, de fato elas não são o único modo de iniciar uma carreira de escritor, mas são, digamos, boas oportunidades de validação – ter um texto selecionado para uma coletânea série de contos ou poesias é um bom indicativo de que se está no caminho certo.
Para quem está começando, um romance pode ser muito intimidador, creio, mas não há nada errado em querer estrear no mundo literário deste modo. Como escrevi no post, cada escritor trilha seu próprio caminho.
Eita que a discussão está boa, hein? 😉
Abraço.
Observo que escritores de maneira geral são artistas solitários e muitos quebram a cabeça sozinhos antes de acertarem com o caminho das pedras.
No fim, o trabalho solitário possibilita uma satisfação muito maior, porém, bem mais difícil de ser atingida.
Depois de reconhecidos seus talentos e não talentos, a parceria pode abreviar o caminho.
Quem está começando precisa perder a inibição e tentar as várias possibilidades, e assim, quem sabe, encontrar seu cantinho no mundo literário.
Mas é bem assim mesmo, cada um escolhe seu próprio rumo. Minha sugestão é que estejam sempre muito bem preparados para fazer a escolha certa… e se errarem, sempre pode-se tentar de novo.
Abraços.
Não creio que a satisfação pese tanto quanto a liberdade criativa ao se considerar a coautoria.
Escrever em parceria requer sintonia, desprendimento, os envolvidos devem estar dispostos a fazer concessões durante a elaboração do livro.
Nunca escrevi ficção a mais de duas mãos, mas outros tipos de textos sim; se nestes casos já é difícil acordar objetivos, estrutura e diversos outros aspectos da produção, eu imagino o quão trabalhoso, exaustivo e restritivo deve ser escrever um romance, por exemplo.
Acredito que a liberdade criativa não seja totalmente tolhida, mas mantida subordinada a certas regras. Eu nunca escrevi seriamente a duas mãos, a experiência que tenho disto é um romance de FC que estou preparando com meu filho.
Ele escreveu uma página inicial, em cima disto desenvolvi um “mundo” e iniciei um roteiro. Ele discordou de algumas coisas e me deu certos parâmetros. Corrigi os rumos e tive novas ideias.
Assim aos poucos a história está se tornando consistente e com subtextos coerentes.
Algo importante em trabalhos desse tipo é exatamente o que foi citado: sintonia, desprendimento e concessões, que, apesar de em princípio parecer que limita a criatividade, na verdade força a busca de caminhos novos, e, no fim, acaba conduzindo por caminhos nunca imaginados.
Mesmo que no fim haja discordâncias que inviabilizem um projeto, algo positivo pode ser aprendido.
Alguns pontos positivos: disciplina, esquematização do trabalho, divisão de tarefas e exercício da criatividade parametrizada, coisas que fazem parte da competência racional do escritor.
Um ponto negativo: a voz autoral. Sempre ficará mais evidente a voz autoral daquele que efetuar a redação final. Isso pode ser complicado para o ego dos autores.
Mas, isso pode ser facilmente contornado em obras que tenham dois ou mais focos narrativos. Como por exemplo, a saga da Guerra dos Tronos, onde cada capítulo tem foco em uma personagem diferente, e, se tivesse sido escrito a várias mãos, cada um teria espaço para sua voz autoral.
É uma experiência que pode trazer bons frutos, enriquecendo as competências de cada escritor. Um exercício que vale a pena.
No meu caso, enriqueceu minhas relações com meu filho, com o qual eu trocava poucas palavras. Talvez isso tenha acontecido com P.C. Cast e sua filha Kristin, na série A Morada da Noite.
Concordo plenamente!
Estudar os outros é uma grande forma de aprendizado, mas o autoconhecimento é que vai identificar suas qualidades e pontos a melhorar.
Acredito que mesmo que busquemos nos espelhar, cada um trilhará seu caminho, seja ele rumo ao sucesso ou anonimato, devendo filtrar o joio do trigo e buscando sempre o melhor de si.
Ótimo post!