Por muito tempo, minhas experiências de escrita mais significativas foram as redações: nas escolares e preparatórias, destacavam-se com frequência; nos concursos, garantiam uns bons pontos.
Eu acreditava, porém, que para ser escritor não bastava familiaridade com palavras, ainda mais sendo formado em ciências exatas.
Pairava sobre mim então aquela que é a dúvida mais natural de todos os que engatinham por essa profissão. Felizmente, essa nuvem sombria e pesada se dissipou. Hoje posso afirmar, sem receio, que cursar Letras ou, digamos, Comunicação Social, não necessariamente fará de você um escritor (de ficção) profissional.
Escritores autodidatas
Não desprezo a necessidade de estudo, note-se. Sim, é importante ler livros sobre escrita, produção literária, memórias de escritores renomados – pode-se aprender bastante com estas também, mesmo que nem sempre tragam informações técnicas objetivas. Em outras palavras, um aprendiz pode se fazer escritor por conta própria.
A história está repleta de grandes autores formados em cursos sem qualquer relação com a escrita (Franz Kafka e Henry Fielding, eram advogados; Guimarães Rosa e Moacyr Scliar eram médicos) ou que sequer cursaram uma faculdade (William Faulkner, H. G. Wells, Machado de Assis, Paulo Coelho).
Cursos universitários podem não ser o ideal para quem quer ser escritor e basta uma espiada nas disciplinas ofertadas para comprovar: normalmente, o foco é a formação de professores, críticos, jornalistas.
Uma faculdade de Escrita já é outra história, mas estas são raras no Brasil – de cabeça, lembro-me da pós-graduação da Escola Superior de Direito Constitucional (ESDC), mas este parece não ter novas turmas desde 2012.
Confira no breve vídeo abaixo o que o mestre Stephen King tem a dizer sobre o assunto:
Cara a tapa
Obviamente, é indispensável pôr o conhecimento à prova, submetê-lo ao crivo de escritores (e leitores, por que não?) profissionais. Daí se tira o valor das oficinas literárias, cada vez mais comuns no país: além de apresentarem certas “regras” de boa escrita, elas permitem troca de experiências, discussões sobre criatividade, avaliações criticas.
Imagino que todo escritor é meio autodidata em algum momento da vida. Para os que estão começando, como eu, sugiro este caminho perfeitamente possível: estude por conta própria, mas seja avaliado por profissionais. Faculdades não são imprescindíveis. Acho que é por aí.
E você? Acha que é preciso cursar faculdade para ser escritor?
Para saber mais:
- Quero ser escritor! – Algumas palavras sobre o sonho de viver de literatura no Brasil.
- Como ser escritor? – Qual é o caminho certo que conduz ao sonho de ser um autor reconhecido?
- Série 7 coisas que aprendi: página principal do projeto que convida escritores em diversas fases da carreira a compartilharem suas experiências.
- Serviço: Oficinas Literárias: confira recomendações de oficinas de criação literária espalhadas por todo o país.
- Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existencial.
- 5 dicas para escrever contos: confira 5 conselhos do renomado escritor de fantasia norte-americano Philip Athans.
- Interpretações da Leitura Crítica: se estivessem vivos hoje, o que pensariam os grandes escritores do passado sobre os estudos de suas obras?
Sabe. Eu sinto que preciso escrever, sinto que tenho calamidade. O problema é que sempre que começo, algo dá em mim e eu paro tudo e jogo fora, literalmente. Quero escrever um romance, mas não consigo por em pratica pra valer.
Ei, Gleidson.
Identifico-me demais. Por muito tempo isso aconteceu comigo também. Eu não chegava a jogar fora, mas deixava muitos projetos e textos pelo meio do caminho. Ainda não resolvi bem isso dentro de mim, tanto que me dedico hoje mais à escrita de contos do que de romances, para os quais penso ainda não ter fôlego, tampouco estratégias.
Dada minha experiência, o que posso te recomendar é que vá devagar, por partes, comece pequeno, dedique-se a escrever narrativas menores, como contos e novelas. Se ainda assim deixar pelo caminho, trabalhe com biografias curtas de personagens, cenas, ou um misto disso: crie um personagem, envolva-o numa situação breve (e simples), escreva sobre isso, sem se preocupar com o antes ou o depois.
Vá gerando faíscas… quem sabe, no futuro, você não acende uma fogueira?
Abração.
Foi a melhor palavra que eu ouvi hoje… muito obrigado!
Disponha. 🙂
Abraço.
Realmente, são de suma importância suas dicas para que possamos ser escritores.
Qual é a idade que precisa para ser um escritor?
Andriele,
Não existe a idade perfeita. Alguns escrevem desde novos (de fato, eu comecei pra valer por volta dos 11 anos), outros só se aventuram muito tempo depois (há quem tenha começado aos 40 anos). Se você escutou o chamado e quer começar a escrever, então não se preocupe com sua idade, apenas comece a escrever.
😉
Abraços.
Tenho uma dúvida! É preciso saber matemática para ser escritor?
Não. 😛
Abraço.
Amo escrever. Por vezes acho que preciso fazer algum curso para isso; estou totalmente perdida. Me ajude!
Ei, Antonieth. Você pode começar dando uma lida neste artigo aqui, ó…
http://escribaencapuzado.com.br/2013/02/08/servico-oficinas-literarias/
Abraços e boas festas.
O que vale é o empenho, criatividade e dar sentimento à obra. Sou iniciante e já entendi um pouco do espírito de ser escritor: não faça pela glória ou pelo dinheiro. Eu faço pelo prazer de contar histórias, pelo menos no papel, quero dizer; pelo menos em notas mentais bem fixadas que vou aprimorando até escrever.
Quanto a fazer uma faculdade para “ser escritor”, uma faculdade não te torna escritor, vai de cada um ter a capacidade de escrever/contar histórias já que um curso de Letras ensina as regras gramaticais (não escrevo mais porque não sou aprofundado no curso), mas opto pela leitura irremediável, evitando, claro, best-sellers, porém, leio um ou outro.
Olá. Adorei seu blog; ele me esclareceu algumas dúvidas e me motivou ainda mais a escrever. Obrigada.
Ei, Simone. Fico feliz em ser útil. Vem muito mais coisa boa por aí. 🙂
Abraço.
Gostei muito da sua postagem, muito mesmo. Tenho grande vontade de ser escritora e é um sonho que me acompanha desde criança. Minha mãe, conhecendo isso, fez como a do S. King: mandou-me arranjar um meio de ganhar dinheiro; faço faculdade de pedagogia para ser professora.
King é meu autor preferido (junto com Chuck Palahniuk) então adorei termos certas semelhanças. 😀
Mas enfim, nunca achei que para ser escritor tivesse que ser formado em uma faculdade. Acho que o mais importante é ter a imaginação necessária e um bom português.
Beijos.
Larissa
Vitamina de Pimenta
PS: sim, sou leitora nova no blog. :3
Ler muito e estudar técnicas literárias também ajuda muito, Larissa. 😉
Espero vê-la mais vezes por aqui.
Abraços e boa sorte em sua jornada de escritora.
Sempre fui meio autodidata, e as graduações que concluí (Matemática e Física) não me deram suporte algum em produção textual. Mas leio muito e tudo que eu escrevo, peço para colegas olharem e corrigirem alguma coisa que tenha passado despercebida por mim; estou me saindo bem mesmo sem ter tido cursos específicos voltados à escrita.
Um curso de dois anos para escritores deveria existir, semelhante aos técnicos. O mundo dos livros é amplo e diversificado.
Escrever não é só sentir, é sentir e trabalhar a palavra até a exaustão, até onde o autor perceba que o texto está pronto para o leitor.
Para isso ele precisará de tempo, técnicas, e isso não se limita única e exclusivamente ao sentir.
Por exemplo: eu escrevi o livro A menina das queimadas, que pode ser comprado neste link. Ele não foi escrito somente na inspiração, mas anotando, pesquisando costumes, crenças, etc. para criar as personagens, o espaço onde viviam, as características físicas e emocionais.
Um curso que trabalhasse técnicas de escrita, metodologia de pesquisa (para não se colher quaisquer informações), noções de direito autoral, gramática e outros seria bacana.
Todo escritor que espiritualiza a escrita, morre antes de nascer. Escrever exige trabalho, dedicação, conhecimento e, dependendo da obra, muita pesquisa. O problema de muita gente por aqui é o hobby e o ato da escrita não é encarado como um trabalho.
Acho que o mais próximo de um curso assim que há no Brasil é a tradicional oficina literária de Assis Brasil, que ocorre regularmente em Porto Alegre há quase 30 anos. Passaram por lá Daniel Galera, Michel Laub, Luisa Geisler, Leonel Caldela, Marcelo Spalding e tantos outros.
Ser escritor, qualquer um pode ser, mas ser um bom escritor é outra coisa. Exige muito trabalho, estudo e determinação. Não que seja imprescindível, mas um curso de Letras, Filosofia, Direito e etc., ajudaria muito, mas muito mesmo na conquista desse ideal. Se puder fazê-lo, não hesite: faça-o e depois dê sua resposta.
Comentado originalmente no grupo Alunos da Oficina de Escrita Criativa Online de Marcelo Spalding no Facebook.
Tenho formação técnica e superior em Tecnologia da Informação, mas isso pouco tem contribuído para tornar-me um escritor melhor – às vezes, penso que a abordagem excessivamente lógica de tais cursos até atrapalham.
Concordo, porém, que faculdades de Humanas (Filosofia, Psicologia, Sociologia, História, até mesmo Direito) contribuem sim para ampliar os horizontes. Quanto a Letras, eu ainda estou dividido.
Há quem diga, a julgar por sua grade curricular, que o curso engessa o pensamento criativo ao invés de libertá-lo. Eu não saberia dizer, mas é algo a se considerar. Encontrei um texto do escritor Henry Bugalho que aborda bem o que estou querendo dizer.
Eis o link:
http://blogdoescritor.oficinaeditora.com/2013/02/tenho-de-fazer-faculdade-de-letras-para.html
Também tenho formação técnica – Eletrônica em Santa Rita do Sapucaí e Análise de Sistemas pela UFMG – isso não vem ao caso.
Sabemos que um bom médico, um bom advogado ou um bom escritor não saem das salas de aula, dos cursinhos nem das oficinas, mas é lá que são preparados para tal.
Volto a afirmar: para tornar-se um bom escritor – o que não é fácil, aliás, não é nada fácil – é preciso investir muito na carreira, estudar e trabalhar pesado. Certamente um curso superior na área – Filosofia, Letras, Direito e etc. – ajudaria muito, mas muito mesmo a alcançar esse objetivo, se é isso que se almeja: ser um bom escritor.
É claro que ainda existem aqueles inocentes que acham que escrever bem é só pegar uma folha em branco, fazer duas ou três oficinas, ler alguns bons livros, conhecer algumas regras de escrita criativa e sair por aí lançando livros. Para esses, o caminho será a mediocridade, aliás, é o que mais se vê por aí.
Stephen King é formado em Letras e foi professor do ensino básico nos EUA.
Henry Bugalho – Gotham Writer´s Workshop (prefácio e tradução) – atualmente estuda Filosofia.
Com relação ao seu blog, está de parabéns; já o acompanho desde que iniciei, há quatro meses, esta jornada em busca da Literatura: a busca em me tornar um bom escritor.
Comentado originalmente no grupo Alunos da Oficina de Escrita Criativa Online de Marcelo Spalding no Facebook.
Entendo o que quer dizer, Riva, e até concordo contigo em alguns pontos. Mas também não podemos ser radicais e generalistas, pois é fato há que muitos escritores reconhecidos pelo mundo que jamais fizeram faculdade e estão bem longe da mediocridade.
Um exemplo bem recente é o próprio Evandro Affonso Ferreira, vencedor do Prêmio Jabuti por O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam (Record, 2012) citado pela Rosaly Senra mais abaixo.
Fico feliz que meu humilde espaço seja uma referência para ti em sua própria jornada de escritor. Espero ver mais comentários seus por aqui, pois o debate sempre enriquece o aprendizado. 🙂
Procure conhecer a história do grande escritor Evandro Affonso Ferreira… autodidata, livros fantásticos.
Comentado originalmente no grupo Coletivo 21 no Facebook.
Isso me anima; as pessoas perguntam “mas como tu estás escrevendo um livro se não é formada em letras ou pedagogia?”. Ficava constrangida. Agora não fico mais.
Comentado originalmente no grupo Alunos da Oficina de Escrita Criativa Online de Marcelo Spalding no Facebook.
Também já escutei algo parecido algumas vezes, Valesca. Não há do que se constranger. 😀
Nunca mais! Pelo menos, não por esse motivo.
Comentado originalmente no grupo Alunos da Oficina de Escrita Criativa Online de Marcelo Spalding no Facebook.
Escrever não se aprende, se sente!
Comentado originalmente no grupo Liga dos Blogueiros BH no Facebook.