Ônibus na EstradaFoi um dia de atravessar portais. Para a estranheza de quem recebeu a chave oca do teletransporte, é de se esperar a surpresa do impossível. Ao chegar ao ponto de ônibus – local chamado de “na ponte”, que não é ponte – avistei um rico. Quiçá milionário. O que ele fazia na ponte? Tem helicóptero! Por aí, já pressenti: não existia aquele momento. Era ilusão o portal, a abertura, a chave. Minha vida.

Meus poderes xamânicos estavam imundos de pântanos interiores e bem soube: vai fechar! Não se manteria aberto. Mas eis que o desacelerador de partículas comprado usado do CERS chegou imponente.

E como tudo em Itaúna, seguimos sempre parando. Ah, meu Deus! O rico entrou! Fico apreensiva nessas viagens. Suspeito que há uma máfia de entrega de pães de queijo sem notas fiscais em Mateus Leme. Não há paciência nem playlist que suporte tantas desacelerações, entradas e saídas. Juro que descem as mesmas pessoas que sobem. Acabaram de descer e já vem de novo? Claro, são os pães de queijo, arrependeram-se e querem mais!

Não era pela quitanda, mas um homem entrou gritando. Sua mulher também. Foram se desnudando da vida de casa e do quarto. Ele era um chato, devia dinheiro até para as palavras feias. Ela estava “cheia de pedra”, uma louca. Sim, agora entendi o que era louca de pedra. Não era amor. Não era ódio… Ele pagou ambas as passagens. Para a cobradora pagou em dinheiro. Mas sobre a dívida com palavras, insistiu em nos demonstrar planilhas com colunas de mágoas. Chamou-a pelo nome: Lixo.

Coloquei o All Star de Cássia nos ouvidos. Sim, algum silêncio musical para que eu não me envolvesse. Curiosidade entre azul e preto? Tantos segredos voando de sacolinhas… Desliguei.

Barreira da polícia sempre foi o lugar de passar despistado, colocar os cintos. Mas foi onde ele tirou em sonoro “pare”! “Vou deixar essa louca aí”. Pronto. Chave oca errada! Vamos atrasar no B.O. Todos testemunhas! Claro, era o portal se tremendo todo, mal se equilibrando nas energias rosa do amor aos livros. Sei, sei, não vai aguentar.

A doida já não manifestava sobre dívidas e chatices. Sentiu medo, fome, solidão. Seus olhos gritaram e choraram pedras. Senti doer. Eram cálculos auriculares. Expeli-los dói muito. Soluçava. Ele mandou seguir. Sentou três banco mais perto. Se não tivesse exibido tanta contabilidade, talvez a abraçasse. Apenas abriu seu baú de moedas vis pela janela, se endividando até o pescoço, sufocado de vento.

Ufa! A chave oca na mão, numerada 128634 foi guardada. Funcionou, já que de Contagem em diante já era outra dimensão.

Foi só turbulência… Coisas de caminhos tortos. Desci em BH. As interceptações na Afonso Pena ainda me fizeram procurar pela magia. “Per benedictionem clavis beneficus”! Me deixem passar! Ave! Aula de novos poderes, novos feitiços, novas poções. De beber às talagadas. Aconteceu! Nesta taça… Esta que desenho aqui, agora, em rabiscos fonéticos.

Sobre a autora

Aden CamargosAden Camargos é pessoa engolidora de choros, por isso sofre de derrames por extensos quase todas as noites. Os assuntos que ela escreve referem-se ao enorme mundo à volta de seu umbigo. Adora escrever e fazer andanças; sobe morros e picos.

Suspeita que a felicidade seja algo tão difícil de alcançar que deve estar no mais alto ponto do Himalaia. Por isso escala em MG e RJ; vai que existem felicidadezinhas nas montanhas menores? Não suspeita que seja escritora; é uma atrevida mesmo.

Para saber mais:

  1. Aden no Facebook: perfil da cronista na rede social.