Este é o quinto de 30 artigos sobre construção de mundos escritos por Stephanie Cottrel Bryant e traduzidos por muá, Diogo Ruan Orta. Publicado em 2007 para participantes do NaNoWriMo, este tutorial prático e baseado em livros sobre o tema permanece uma ferramenta útil.
Ontem escrevemos sobre eventos cataclísmicos e as cicatrizes que estes deixam no mundo e em seus habitantes. Hoje vamos tratar daquele que é um dos maiores desafios da grande maioria dos construtores: o mapa do mundo. Pegue seu caderno e um relógio aí e separe alguns minutinhos para a leitura e o exercício do dia.
30 Dias de Construção de Mundo, por Stephanie Cottrell Bryant
Dia 5: O Mapa
Devo avisar você que o exercício de hoje pode tomar mais do que 15 minutos. Até hoje estou colorindo o mapa em larga escala de um mundo que usei há 2 anos, mas o mapa em pequena escala levou só cerca de uma hora. Hoje é o dia em que você pegará seus lápis e papel e começará a desenhar O Mapa.
Com certeza os que não dominam a arte do desenho estão prestes a correr gritando pelas ruas, mas esperem, por favor! Vocês não estão sós! Criar mapas é um trabalho duro. Requer paciência, dedicação, e uma completa incapacidade de traçar linhas retas.
Como é que é? Você está me dizendo que não conseguiria traçar uma linha reta nem que sua vida dependesse disso? Bom, chega mais, porque você pode desenhar um mapa de um mundo inexistente. A natureza tem pouquíssimas linhas retas e ainda menos ângulos retos. Talvez seja por isso que humanos gostem tanto de colocá-las em seus artefatos inaturais. A natureza está repleta de linhas sinuosas e curvas e oscilações.
Por ora, você tem uma ideia geral do que quer em seu planeta ou mundo. Você tem uma lista de climas e algumas grandes características que farão parte do mundo.
Você pode até mesmo ter um mapa geral rascunhado. Costumo começar com algo como: “eu quero uma área desértica aqui, e uma cadeia de ilhas próximas o bastante para permitir, na história, uma viagem do deserto a uma ilha e de volta outra vez”. Eu posso criar um mapa que tenha os quadrantes básicos, talvez até uma coleção superficial dos grupos de povos que estou colocando na história. Se você não tem esse esboço, faça um agora. Desenhe círculos grandes e feios caso tenha que indicar onde algo fica.
Agora, é hora de ser um pouco mais específico, um pouco mais concreto.
Eu utilizo poucos métodos para dar vida aos meus mapas. O primeiro e mais fácil deles é o que eu chamo de método “copiando da Terra”. Enquanto eu cursava geografia na faculdade, um estudante fez um pôster a partir do mapa de uma nação insular e o pendurou na sala de aula. Todos que reparavam na ilha diziam: “uau, esse é um bom mapa de Cuba”. Os que chegavam perto o bastante para ler a legenda logo viam que era, na verdade, um mapa do Japão, mas virado de modo que o Norte não estivesse no topo do mapa.
Americanos estão tão acostumados a ver o norte no topo que você pode girar quase qualquer massa de terra e alterar sua escala que, de repente, torna-se o melhor criador de mapas do mundo. Eu utilizo o Goode’s World Atlas e papel milimetrado. Coloco o milimetrado sobre o provável futuro mapa e decalco a característica que quero copiar. Só copiando desta forma, eu já transformei em continentes alguns lagos situados na América do Sul, mas modificando sua escala, orientação e composição (revertendo a massa de água para uma massa de terra).
Se não dispõe de tempo, você pode trapacear visitando qualquer site de mapas topográficos (o Serviço Geológico dos Estados Unidos, ou USGS, vende dados, mas você pode encontrar mapas desse tipo em outros lugares), imprimir e fazer colagens com os mapas.
Quando os mapas existentes não são boas opções, eu recorro ao restante da natureza. Percebi que traçar o contorno de uma folha em meu mapa e então rabiscar as nervuras da folha me dá algumas fenomenais extensões de montanhas, repletas de rios e riachos (as nervuras). Folhas aciculifoliadas podem dar extensões acidentadas, como colinas, enquanto folhas de bordo dão belas formações “rochosas”. Olhe para a palma de sua própria mão inapta para desenhos. As linhas de sua palma podem se tornar rios, linhas topográficas, ou até mesmo estradas.
Estradas? Sim, estradas! Enquanto desenha o mapa, procure por lugares onde seus povos se assentariam.
Lembre-se de que ninguém constrói um assentamento longe de água fresca – água é vida, logo, busque rios para seus primeiros assentamentos. Água também é transporte, comércio, e pode servir como defesa. Colinas também são boas estruturas defensivas naturais – uma colina cercada por água é uma das primeiras fortalezas naturais.
Rios costumam fluir por vales e a enchente de um rio é boa fonte de nutrientes para campos agrícolas, portanto, atente para onde a comida de sua civilização será cultivada, e lembre-se de que esses locais são importantíssimos para as grandes forças políticas em sua história. Lembre-se: um exército não marcha de estômago vazio!
Tem uma piada que ouvi de meu professor de geografia na faculdade e que gosto de contar. Uma área começa como um lago, então vira um pantanal, depois um atoleiro, depois um brejo, depois um prado, depois um condomínio. À medida que os sedimentos se acumulam em uma área de água imobilizada, a hidrovia se transforma, gradualmente, em terra sólida, a qual os humanos se apoderam e sobre ela constroem. Dado que o espaço original era uma hidrovia, porém, o que você acha que acontecerá se um evento meteorológico trouxer a água de volta com força?
Exercício de Hoje:
Assim, o exercício de hoje é desenhar os contornos físicos de seu mapa e então identificar ao menos três locais onde seu povo pode viver. Você não precisa de nomes para eles ainda – nos preocuparemos com nomes na semana que vem, quando formos criar um idioma para o nosso povo. Por ora, desenhe um ponto no mapa ou rascunhe o símbolo pequeno de uma “casa” para indicar que pessoas assentaram aquela área.
Comentário de Holly Ingraham:
Meu único sofisma é que você não pode ser arbitrário com desertos. Olhe para nosso primeiro e único exemplo, a Terra. Se simplificarmos bastante as coisas, só em busca de orientação: em grande parte, você encontra desertos nas costas ocidentais, já que as correntes frias começam a se afastar da terra na altura da linha do equador. Incluem-se aqui o Sul da Califórnia/México, a Espanha/Norte da África, a Austrália ocidental, o Peru e o Deserto Thar da Índia. O canto oposto de um continente estará na zona de tempestades tropicais: veja as monções da Índia e do Sudeste da Ásia, os furacões caribenhos.
Outra maneira de se obter desertos naturais é quando a área está no interior, muito longe das correntes de ar que carregadas de chuva, especialmente nas áreas de sombras de chuvas das extensões montanhosas.
Isso é notável nos desertos ocidentais do Estados Unidos, na sombra das Rochosas no oeste e no Gobi da sai; também na África oriental e no Oriente Próximo, os quais estão na região de sombra de chuva das extensões Indianas. A Ásia Central é seca apenas porque está muito longe do mar, fonte da chuva, e carece de muitos rios (pela mesma razão).
Logo, essas suas ilhas próximas ao deserto deveriam estar distantes do canto oeste-equatorial, e quando você constrói um supercontinente gigantesco, com o dobro do tamanho da Eurásia e África juntos, é preciso lembrar que a maior parte dele será como o Uzbequistão, e não como a Irlanda, no que diz respeito ao clima.
Eu sou formada em geologia, geologia histórica, e paleoclimatologia. O clima revelado na flora e na fauna pode lhe dizer algo sobre onde uma massa de terra esteve situada no tempo. O que fazemos é buscar essas orientações.
Amanhã tem mais exercício! Quer compartilhar o seu? Use os comentários. 😉
Para saber mais:
- Dia 4: Eventos Cataclísmicos – 30 Dias de Construção de Mundo: neste segundo exercício da série, você vai avaliar como o clima pode impactar sua história.
Especial NaNoWriMo:
- 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série sobre o evento.
- As críticas e o valor do desafio – saiba porque o evento é visto com desconfiança por escritores e demais profissionais do mercado editorial.
- Como escrevi um livro em 30 dias – onde detalho minha participação no evento em 2012.
- Diário de escrita – onde falo sobre valor de se manter um diário e compartilho o meu próprio.
- Guia de sobrevivência – dicas para aqueles que ousarem aceitar o desafio!
- National Novel Writing Month: página oficial do evento (em inglês).
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