Este é o oitavo de 30 artigos sobre construção de mundos escritos por Stephanie Cottrel Bryant e traduzidos por muá, Diogo Ruan Orta. Publicado em 2007 para participantes do NaNoWriMo, este tutorial prático e baseado em livros sobre o tema permanece uma ferramenta útil.
Ontem começamos a rascunhar os últimos 100 anos da história do nosso mundo. Hoje vamos pensar um pouco nos aspectos econômicos e políticos. Pegue seu caderno e um relógio aí e separe alguns minutinhos para a leitura e o exercício do dia.
30 Dias de Construção de Mundo, por Stephanie Cottrell Bryant
Dia 8: Economia e Política
Teorias econômicas e políticas podem ser simplificadas (para fins da história narrada) a certas afirmações MUITO simples: economia é a regra que determina quem tem o que, quem precisa do que, e como eles chegaram a essa condição; se não têm algo de que precisam, as pessoas darão um jeito, seja lá qual, de conseguir aquilo. A política é um tipo de forma avançada de economia na qual grandes jogadores e grupos trabalham para conseguir aquilo que querem ou precisam.
Se você está escrevendo um romance sobre teoria econômica ou se seu objetivo é promover ou exemplificar um ponto de vista político em particular, então é provável que essa explicação simplista não seja lá muito satisfatória.
Mas tudo bem – se você estiver escrevendo esse tipo de livro, é grande a chance de que o exercício de hoje não seja necessário, afinal, os elementos políticos e econômicos de sua história são tão importantes que seria imprudente dedicar só 15 minutos a eles.
Para nós que desejamos manter nossos temas socioeconômicos/políticos nos bastidores, a explicação acima constituí uma base sólida o bastante para tomar algumas decisões. Mas não descarte de cara o exercício de hoje: até mesmo a história de espada e feitiçaria mais focada em ação e violência pode se beneficiar de um pouco de intriga como pano de fundo.
A decisão mais importante é quais tipos de recursos seus povos precisam, obviamente, e onde estão esses recursos. Fazendas são óbvias fontes naturais de recursos das quais a maioria das culturas necessita (embora “fazenda” também possa ser extrapolada para quaisquer “terras onde alimentos cresçam naturalmente” no caso de comunidades, muitas vezes nômades, de caçadores).
Água é outro recurso – não pode haver civilização sem água. Ao se avaliar o cenário político do oeste dos EUA, é possível notar que quase qualquer grande decisão política sobre terras tem a ver com água: quem a tem, quem não tem, e como aqueles que não a tem podem consegui-la.
Contudo, comida e água não são os únicos recursos que importam. Madeira e pedra são bem importantes para abrigos. Sal é vital para a vida.
Certos tipos de minerais são mais valiosos do que outros – diamantes versus granito. Granito é mais útil em construções, mas diamantes são mais preciosos. Alguns minerais não são úceis até que a tecnologia avance a um ponto no qual eles passem a ser úceis – como o boro, elemento que não é de muita utilidade até ser convertido em boráx, o qual é muito usado como solvente e também um pesticida eficiente (ainda que extremamente tóxico para animais de estimação).
Se seu mundo é rico em magia, pode haver recursos não listados aqui que sejam importantes para seu mundo. Na série Valdemar de Mercedes Lackey, as Linhas de Ley especiais de magia fluem pelo mundo, e onde quer que se interliguem a magia é muito mais forte, permitindo feitiços poderosos; a redistribuição do recurso mágico dessas Linhas de Ley é o maior desafio na última serie de livros, Winds of Change.
Particularmente, eu gosto de ter a disputa por um recurso desaparecido como motivação para os personagens (especialmente os vilões). É muito mais satisfatório ter um vilão ambicioso pelo domínio de territórios que deseja governar tudo do que alguém que é mal e sórdido apenas por ser mal. “Porque ele é mal” é uma justificativa boa em alguns livros, mas não resiste bem ao escrutínio do leitor.
Também não subestime o poder da imaginação humana ao desenvolver sua lista de recursos. Jerusalém é uma cidade bem localizada em relação aos recursos em seus arredores, mas há áreas mais ricas em recursos naturais. Ainda assim, civilizações têm lutado pelo domínio dessa cidade em particular há milénios – por quê? Porque é considerada sagrada.
Não pode haver muitos locais desse tipo no seu mundo, porque logo os povos decidirão que os mesmos não compensam a perda de tantas vidas. Mas alguns locais-chave podem, de fato, se tornar “pontos quentes” de um recurso imaginado – algo que pode ou não ter muito valor intrínseco, mas cujo valor sentimental é extremo.
Exercício de Hoje:
Do mesmo modo que você varreu sua linha temporal em busca de eventos e tensões, examine agora seu mapa para encontrar recursos abundantes ou escassos. Por 5 minutos, faça algumas anotações para indicar no mapa os locais que têm mais de um tipo de recurso, e marque qualquer lugar que tenha uma carência precisa de algo. Confira também sua linha temporal; alguns dos seus pontos de tensão conflituosos nos últimos 100 anos pode ter resultado de um inesperado acréscimo ou decréscimo de recursos em uma área ou outra.
Quando terminar com os recursos, dedique mais uns 10 minutos e identifique quais grandes grupos de suas civilizações se preocupa com quais recursos. Essas facções podem aparecer em sua história – eles podem estar se opondo ao(s) herói(s) ou até mesmo auxiliando o vilão, ou eles podem auxiliar o herói ou, ao menos, deixar seu caminho livre, dependendo de como cada facção percebe e responde aos vários personagens na história.
Se estiver trabalhando em uma história política, você irá querer dar vida a isso por intermédio de descrições que retratem como as facções percebem umas as outras, bem como ao herói e ao vilão; elementos-chave dentro das facções e suas táticas ao lidar com terceiros. De novo, sinta-se livre para rotular essas figuras com nomes genéricos por ora; logo mais falaremos sobre linguagem.
Amanhã tem mais exercício! Quer compartilhar o seu? Use os comentários. 😉
Para saber mais:
- Dia 7: Historia Recente – 30 Dias de Construção de Mundo: neste sétimo exercício da série, vamos rascunhar os últimos 100 anos de história do nosso mundo.
Especial NaNoWriMo:
- 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série sobre o evento.
- As críticas e o valor do desafio – saiba porque o evento é visto com desconfiança por escritores e demais profissionais do mercado editorial.
- Como escrevi um livro em 30 dias – onde detalho minha participação no evento em 2012.
- Diário de escrita – onde falo sobre valor de se manter um diário e compartilho o meu próprio.
- Guia de sobrevivência – dicas para aqueles que ousarem aceitar o desafio!
- National Novel Writing Month: página oficial do evento (em inglês).
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