T. K. Pereira é escritor de coração e analista de sistemas por necessidade. Sob o manto do Escriba Encapuzado, idealizou o projeto 7 coisas que aprendi, foi finalista do concurso literário Brasil em Prosa 2015, e publicou contos em antologias diversas. Vozes (2019) é seu primeiro livro de contos solo.
Outro dia, enquanto passeava por uma livraria, eu notei uma conversa entre dois amigos. Um deles tinha em mãos A Guerra dos Tronos, o primeiro volume da série de fantasia de George R. R. Martin. Ele falava sobre a história, o autor, e a série de TV, achando um absurdo que o outro não os conhecesse e decidido a convencê-lo a comprar o livro.
Dentre os muitos argumentos utilizados pelo primeiro, que chamarei apenas de marqueteiro, o mais curioso foi: “se gostou d’O Senhor dos Anéis não tem como não gostar deste. O Martin se inspirou no próprio Tolkien”. A resposta pouco convencida e questionadora do outro foi esta: “e quem disse que gostei de Senhor dos Anéis? Curti demais os filmes, muito massa, mas os livros? Nem passei do primeiro”.
Com aquilo na mente, eu me afastei. Circulando pelo lugar, apanhei alguns livros de gêneros semelhantes, li suas capas e contracapas. Então percebi que o argumento do marqueteiro é mais comum do que parece e que há muita verdade na resposta do questionador – exceto pela crítica “velada” a Tolkien, seu maldito herege!
Comparações deste tipo não têm fundamento, não passam de estratégias comerciais baratas e apelativas. Afirmar que quem gostou da saga de Harry Potter vai adorar os livros de Percy Jackson, por exemplo, não faz mesmo sentido. Um fã de Stephenie Meyer (Crepúsculo) talvez não goste de E. L. James (Fifty Shades of Grey), mesmo esta tendo se inspirado naquela.
Particularmente, conheço quem ache Tolkien moroso e odeie sua obra mais famosa, mas que se apaixonou pelos livros de Martin. Como isso é possível? Ora, é simples: cada autor é único e tem as próprias armas para cativar (ou não) os leitores. Não se pode colocar todos no mesmo pacote apenas porque escrevem o mesmo gênero.
O argumento do marqueteiro rui por completo quando constatamos que não se aplica nem aos trabalhos de um mesmo escritor. Antes de sequer conhecer a existência do O Senhor dos Anéis, li O Hobbit e gostei muito. O apelo do marketing me conduziu para a trilogia, da qual eu esperava nada menos do que a perfeição. Mas não foi bem assim.
Não há como negar que a trama é fantástica. Contudo, eu também não encarei facilmente a primeira metade de A Sociedade do Anel. Minhas impressões melhoraram em As Duas Torres, mas sofreram um abalo em O Retorno do Rei. Contudo, no geral, fiquei satisfeito o bastante para experimentar O Silmarillion, novamente seduzido pelos marqueteiros.
Até hoje não cheguei sequer à metade deste livro – já tentei por três vezes, em momentos distintíssimos da vida, por achar-me ainda imaturo para apreciá-lo. Como explicar? É culpa do filho de Tolkien, responsável por remendar as histórias inacabadas deixadas pelo pai falecido? Talvez, mas para mim esta é uma desculpa esfarrapada.
O Hobbit me conduziu a O Senhor dos Anéis e este a O Silmarillion, e, ao longo do caminho, o nível de encantamento pelo escritor diminuiu. Mas isto está errado, não? Ao gostar dos livros de Tolkien eu não deveria gostar de outros cujos autores se inspiraram neste? Como, então, é possível que eu não goste de outros trabalhos do próprio Tolkien?
Não sei, é um mistério. A questão aqui é não se deixar influenciar por este argumento frágil, nem para o bem nem para o mal. Trata-se de não ler nem deixar de ler algo porque gostou ou não do livro de mesmo gênero de outro (ou do mesmo) escritor.
Não se deve julgar antes de conhecer detalhes sobre a obra, opiniões de outros leitores. Se ainda assim achar que vale ou não a pena arriscar, ótimo. O importante é ser questionador.
Para saber mais:
J.R.R. Tolkien X George R. R. Martin: episódio especial do Literatus Cast, podcast do site Homo Literatus.
A Internet é uma aliada poderosa do escritor em qualquer estágio de sua carreira e um meio excelente de divulgação de suas obras. Como qualquer ferramenta, porém, quando utilizada de forma inadequada, ela pode ser mais prejudicial do que benéfica. Tomemos como exemplo os blogs: estes podem tanto atrair quanto afugentar leitores.
O aspecto negativo não diz respeito às características ou estilo dos textos, às preferências de gênero, etc., afinal, tais questões são subjetivas e comuns – sempre haverá quem goste ou não disto ou daquilo. O problema é outro, bem mais perigoso, pois desacredita o autor sem que seus trabalhos tenham sequer sido conferidos: a desorganização.
É inacreditável a quantidade de blogs que sofrem deste mal. Note-se que estes, geralmente, pertencem a escritores independentes ou publicados sob um selo menor. Contudo, não creio que a questão seja carência de profissionalismo. O que falta mesmo é esmero e consideração pelos visitantes, ou seja, o público-alvo.
Todo escritor é, antes de tudo, um leitor, certo? Então se coloque neste papel e responda: ao visitar um blog cujo autor mal e mal se dispõe a revisar os textos de suas postagens ou, ainda pior, de destacar os próprios trabalhos publicados, qual seria sua impressão? Provavelmente, como eu, no mínimo, você pensaria duas vezes antes de comprar um livro dele.
Você teria paciência para procurar textos neste site?
Por incontáveis vezes passei por tal situação e afirmo com propriedade que é desmotivador e frustrante ter de fuçar páginas e mais páginas para encontrar uma simples sinopse. Se houver uma, note-se, pois há quem se limite a compartilhar excertos e resenhas.
Pode-se dizer que é uma estratégia para prender o visitante, mas, se for, é injusta, apelativa e, perdoem-me, burra. O efeito disto é justamente o contrário, pois o internauta malogrado não hesitará em deixar o blog à procura de algo que lhe atenda melhor.
Mesmo tipos como eu, cuja teimosia permite uma resistência maior que a média, eventualmente se cansam de tentar encontrar uma agulha no palheiro. Ora, o autor não faz questão de alardear o próprio livro, então que se dane!
Como leitor, eu gosto de conhecer uma obra em linhas gerais antes de enveredar por trechos de capítulos desta. Tendo uma ideia de a que se propõe aquele trabalho, eu posso avaliar os excertos e decidir se o escritor será capaz de fisgar ou não a minha atenção por completo. Já com relação às resenhas sou mais cuidadoso.
Atualmente, há uma tendência terrível de se revelar detalhes (os spoilers) do livro resenhado. É preciso ter muito cuidado ao compartilhá-las com o intuito de divulgação, pois o tiro pode sair pela culatra. Sempre tomo cuidado em meus textos para não estragar a experiência do leitor, como muitos também deveriam.
Seu blog deve ser organizado como uma biblioteca.
Assim, eu quero fazer um apelo aos escritores, principalmente nacionais, que mantêm blogs pessoais – aqueles dedicados a trabalhos específicos não sofrem destes problemas, por razões óbvias. Ei-lo: tenham mais consideração por seus visitantes. Cuidem melhor de seus espaços digitais, revisem seus textos antes de publicá-los.
Organizem as informações para que estas sejam encontradas mais facilmente; façam uso de recursos simples como categorização, estruturação em seções e subseções, definição de tags e termos recorrentes, buscadores internos, etc.
Façam isso e vejam seus visitantes se tornarem fãs e leitores assíduos de suas obras. A não ser, obviamente, que eles não se identifiquem com seu estilo ou gênero literário. Mas isto já não é seu problema, certo?
É, colega, ninguém disse que a vida de escritor era fácil.
Caminhava pela estrada da solidão. Seguia sem destino, pé ante pé, cabisbaixo, enclausurado num aperto acolhedor de braços envolventes. Não notaria coisa alguma, ainda que houvesse o que notar. Por toda parte, silêncio e sombras, como numa noite sem luar, sem estrelas. Por um tempo indefinido, imperceptível, era ele em seu caminho.
Uma faísca de consciência deteve seus passos. Percebeu as trevas e um turbilhão arrasou-lhe o peito. Dúvidas brotaram em sua mente. Falou, gritou, mas não havia som. Em volta, nada que oferecesse respostas. Foi ao chão, trêmulo, recolhido na frágil proteção de um abraço. Era um homem em meio à imensidão do vazio.
A esperança dourada cortou a escuridão. Tocando-o e deslizando por todo o corpo, o fulgor o acalentou. Sentiu-se flutuar e, sem questionar, entregou-se à luz. Carregado por esta, deleitou-se na agonia do negrume, que se recolhia, afugentado pelo esplendor que lhe tomava o lugar. No inesperado raiar do dia, o beco lhe foi revelado.
Ele distinguiu os detalhes do quadro pintado diante de seus olhos por mãos etéreas. O tapete de pedras era uma fronteira sinuosa entre o antigo e o novo, o morto e o vivo. As construções que o ladeavam reforçavam o contraste entre ruína e prosperidade. O decrépito acinzentado à esquerda e a opulência verdejante à direita pouco lhe importavam.
À altura de uma varanda na qual não se atreveria a pôr os pés estava o foco de sua atenção: uma lâmpada. Dali teria irradiado a luz que atraíra? Como poderia ser, já que estava apagada? Reparou no céu do que deveria ser uma manhã ensolarada, e estranhou sua palidez. O sol não estava em parte alguma, tampouco havia nuvens.
A serenidade perene o incomodou. Olhou ao redor em busca de algo mais, porém, o beco era tudo o que havia. E qualquer direção para a qual se voltasse reservava a mesma paisagem: um mundo autocontido do qual não era capaz de escapar. Trocara uma prisão por outra. Recusou-se a aceitar; queria crer que havia um propósito pra sua presença ali.
Na quina da construção mais afastada, uma estrela resplandeceu, revelando contornos gentis e femininos. A beleza daquela mulher estava além do que meras palavras poderiam descrever. Não estava nua, tampouco vestida. A luz a envolvia e constituía; estava presente na alvura da pele e nos cabelos argênteos. O rosto era um véu branco; apenas se viam os olhos cristalinos.
Contemplou aquela dama saída de contos de fada por uma eternidade. Encarando-a não com lascívia masculina, mas com fascínio infantil, ele compreendeu que sua incandescência a tudo iluminava. Ela o confortara e salvara do escuro. Inconscientemente, deu alguns passos em sua direção, como que seduzido por seu fascínio.
A dama deu-lhe às costas, o rosto misterioso encoberto. Silenciosa como a morte, ela flutuou ao fim do beco e trespassou um portão de ferro negro. O homem deteve o passo, levou a mão ao peito e sentiu o frio familiar subir-lhe pela espinha. Quando a realidade desmoronou ao seu redor, desesperou-se, pois soube que o vazio retornava.
Disparou pelo beco, evitando os escombros e as sombras demolidoras que se lançavam sobre seu corpo. O céu outrora pálido se estilhaçava e por entre suas frestas entrevia-se a escuridão ávida. Clamou pela luz que se afastava, rogando para que o salvasse novamente. Parada numa escada, a dama o observou para depois desaparecer por uma porta.
O mundo estremeceu. Reunindo a força de que dispunha, o homem venceu, num único salto, o portão negro e as escadas. A luz moribunda o tragou antes que a porta pela qual passara a dama se fechasse por completo. Teve a clara impressão de ouvir o urro de fúria e frustração da escuridão que engolfava o beco.
Por toda parte, silêncio e luz.
Tudo era radiante. Não estava só. Adiante, de pé em meio à plenitude branca e azul, estava a dama do beco. Aproximou-se com passos calculados, temendo outra fuga. Mas não havia para onde ir naquela imensidão. Irônico como o vazio também dominava ali. Mas era diferente, pois se sentia sereno e em paz.
A dama estava de costas, mas respondeu ao toque de sua mão – sua pele era como seda. De perto, sua figura era ainda mais exuberante, mesmo com aquele véu. Ela retribuiu-lhe o toque, acariciando-lhe a face esquerda com carinho. Estranhou o toque frio. Onde estava o calor que lhe salvara das trevas? Afastou um passo quando ela levou as mãos ao próprio rosto, pronta a revelar-lhe seu mistério. Mas outro brilho intenso o cegou.
A luz feriu-lhe os olhos. Coçando-os, ainda pôde ouvir o som de cortinas sendo afastadas. Na janela brilhava o sol de uma nova manhã. Não estava só. Aos poucos pôde distinguir a imagem de uma mulher de cabelos escuros presos por uma touca gasta. Reconhecendo a mãe, afundou a cara nos travesseiros.
Tivera outro sonho, mais um entre tantos. Não entendia porque sonhava com aquelas coisas tão estranhas. E como poderia? Tinha somente cinco anos e mal compreendia o significado do mundo ao seu redor. Ele até falara com os pais na esperança de que lhe explicassem, mas eles nunca o faziam; e pior, ainda o censuravam.
Culpavam os desenhos violentos e irreais na televisão, e também as revistas e livros de temas “estranhos” que tanto adorava. Diziam para não dar atenção às histórias bobas de amiguinhos. Eles faziam de tudo para tranquilizá-lo, sem sucesso, pois ignoravam que os sonhos tinham se intensificado desde o seu aniversário e da posterior morte do avô.
Confiando na família, ele seguia sua vida, apesar de incomodado com as sensações tão reais que experimentava durante o sono, toda noite. Sabia que um dia tudo passaria. Quem sabe até parasse de ler suas revistas por um tempo. Pensando nisto, ele atendeu aos apelos da mãe e foi se arrumar para a escola, pois não poderia se atrasar.
Poucos dias depois, sentado à mesa de café da manhã, o pai da criança abriria um jornal. No caderno policial, ele veria uma matéria sobre o corpo de uma jovem encontrado caído num beco. Não haveria pistas sobre o que lhe acontecera, mas o texto traria a foto de uma moça loura, de pele muito alva, trajando uma camisola longa e branca. Deitada sobre o ventre, não se poderia ver sua face, mas a poça de sangue seria distinguível.
O pai faria uma careta, mas logo não pensaria mais sobre aquilo. Fecharia o jornal ao notar a aproximação do garoto, pois não gostaria de deixá-lo ainda mais impressionado. Sentados em família, todos comeriam antes de seguir para suas atividades, como faziam todo santo dia.
Para saber mais:
Exercício de Criação 1: proposta de escrita do site Gambiarra Literária no qual este conto foi inspirado.
Encontrar tempo e um refúgio para dedicar-se à escrita é um desafio. Por isto, é frustrante ver-se diante da página em branco e perceber que não tem sobre o que escrever. Mas há algo ainda pior: passar a semana inteira com uma ideia na cabeça e vê-la tomar chá de sumiço no momento de desenvolvê-la.
Felizmente, isto é mais comum do que parece – que escritor nunca passou por isto? Algumas atitudes simples ajudam a superar este bloqueio: passear, exercitar-se, ler, assistir um filme, encontrar amigos. Particularmente, porém, vejo um problema aí: tais atividades podem ocupar um tempo que deveria ser destinado à escrita, e nada mais.
Uma caminhada na vizinhança pode renovar o espírito e a criatividade, mas de que adiantará se não houver ocasião para escrever no mesmo dia? Nada garante que o bloqueio não voltará amanhã também. O que fazer, então? Não despregar da cadeira até reencontrar aquela ideia perdida? Vasculhar a Internet por um assunto da moda?
Tudo isto é contraproducente (principalmente a Internet): o tempo voará e a angústia apenas aumentará. Há maneiras mais eficientes de superar tal barreira. Pode-se, por exemplo, manter listas de assuntos de interesse e ideias – tratarei disto em outra oportunidade – ou utilizar uma proposta de escrita.
Escreva! Eu o desafio!
Na aula de redação, o professor pede aos alunos que escrevam um texto sobre a preservação ambiental. Na embalagem do achocolatado, a chamada do concurso promete prêmios para o relato de férias mais criativo. Numa brincadeira, amigos desafiam uns aos outros a criar frases contendo determinadas palavras.
Não é preciso ser um escritor profissional para perceber que há propostas de escrita por toda parte. Trata-se, simplesmente, de um tema sugerido sobre o qual se desenvolverão ideias. Este pode se apresentar como combinações de palavras, uma frase, parágrafo, imagens, manchetes de jornal, perguntas, hipóteses, etc.
Uma proposta de escrita é como um gatilho que, disparado, desbloqueia a mente, estimula a criatividade e impulsiona a escrita. O resultado pode ser uma coleção de notas desencontradas e cruas, uma simples descrição, um conto, ou até mesmo um romance. No entanto, isto pouco importa. O objetivo é fornecer um foco e um ponto de partida ao escritor, que pode ater-se à proposta ou extrapolá-la por completo.
Trata-se de um recurso útil que permite escrever sem medo nem inibições. Assim, é estranho que este não seja, aparentemente, tão utilizado por aqui quanto nos países de língua inglesa. E basta uma busca pelas palavras writingprompts para ser direcionado a inúmeras propostas de escrita, em seus diversos formatos. Mas talvez eu apenas não tenha sido feliz na escolha dos termos equivalentes em português.
Atualização (25/03/14): uma tradução mais adequada para writing prompt seria provocação, termo utilizado em algumas oficinas de escrita literária.
Quatro benefícios e um apelo
Em DailyWritingTips, Simon Kewin aponta quatro razões para se utilizar propostas de escrita.
Permitem que a criatividade flua livremente: quando intimidado por uma página em branco, experimente escrever sobre qualquer outro assunto por 10 minutos. Depois retorne ao seu trabalho principal e veja como as palavras surgem naturalmente.
Fornecem material valioso: palavras e ideias podem ser utilizadas num futuro projeto de escrita ou aproveitadas num atual. Não se preocupe se algo parecer cru demais, já que tudo sempre pode ser trabalhado posteriormente.
Desenvolvem o hábito da escrita: encaradas como verdadeiros exercícios, evitam que o escritor seja completamente improdutivo quanto a inspiração faltar.
Promovem a interação em comunidades de escritores: através do compartilhamento das propostas e dos textos resultantes é possível obter avaliações, encorajamento e dicas.
Kewin está absolutamente certo em suas colocações. Tenho comprovado isto no dia-a-dia. As propostas de escrita são um modo eficiente de livrar-se dos bloqueios e devem ser utilizadas. Alguns dos textos que compartilho neste blog nasceram delas, ainda que um ou outro tenha se desviado muito da proposta inicial. Mas o que realmente importa é que desfrutei do tempo reservado à escrita para fazer o que um escritor deve fazer: escrever.
Assim, deixo aqui um apelo aos colegas escritores, aprendizes ou profissionais: façamos mais uso das propostas de escrita. Estimulemos mais nossas mentes com palavras, imagens, música. Vamos desafiar mais uns aos outros, compartilhar e avaliar os resultados, percorrer juntos esta estrada eterna de aprendizado.
E, então, amigo escritor? Topa o desafio de compartilhar suas próprias propostas de escrita?
Para saber mais:
Exercícios de Criação: o site Gambiarra Literária é o que mais se aproxima de um acervo de propostas de escrita em português. Vale a pena conferir.
Duelo de Escritores: a cada 15 dias um tema é proposto aos duelistas, que escrevem e disponibilizam seus textos. O escritor mais bem votado pelo público propõe, então, um novo tema.
Writers Digest, Prompts: propostas de escrita disponibilizadas por uma das revistas sobre escrita mais conceituadas do mundo (em inglês).
Propostas Visuais: propostas acompanhadas de imagens. Site muito bom (em inglês).
Acomodo-me na cadeira. Diante de mim, a tela em branco aguarda. Enfim um pouco de paz e tranquilidade, sem distrações nem preocupações. Desfruto por instantes do silêncio e do sopro fresco que carrega o aroma da manhã pela janela. Tudo perfeito. Convicto, pouso os dedos no teclado, pronto para libertar as palavras aprisionadas há tanto.
Nada. Dedos tamborilam, lábios se contorcem num sorriso escarninho. Inspiro, lanço o olhar ao teto. Espiro, espicho os braços preguiçosamente.
Paciência, meu caro, calma; as palavras estão ali. Estão tímidas, mas ansiosas a serem encorajadas a mostrar-se ao mundo. Precisam apenas de um pouco de atenção e gentileza.
No painel flamejante à parede, eu flagro a fotografia de uma viagem ao Nordeste. Repentina, a memória abre portais que me conduzem a praias imaginárias. Fecho os olhos; a melodia do quebrar das ondas ecoa e contemplo praias de inspiração. Dirijo-me a mais bela, caminhando por um tapete branco cintilante, atraído pela serenidade de águas cristalinas.
Não longe, eu as vejo: maravilhas recolhidas em sua timidez sob o mar. Com os pés, sinto um frio desagradável. Dane-se. Tesouros reluzentes, cuja existência me era tão certa, estão ali, ao meu alcance; só é preciso ir ao fundo para apanhá-los com cuidado. Arrisco-me a entrar e logo estou coberto por inteiro, mergulhando em busca das preciosidades.
Mas há algo errado: as águas escurecem, o brilho empalidece. As maravilhas se afastam mais e mais a cada aproximação, não importa o quão delicado seja meu nado. Então me vejo só em meio ao negrume de águas gélidas. Disposto a persistir, mergulho ainda mais, sinto a pressão sobre os ombros e a angústia que trai a necessidade por ar.
É inútil. As profundezas reservam apenas a inércia do vazio. De um salto, eu emirjo do mar da (in)consciência de volta para meu quarto. Ou ao menos se parece com ele. É estranho como nunca notei o abafadiço deste cubículo. E que zombaria é esta que emana do azul celeste dos quatro cantos? Um maldito céu artificial.
A cor destas paredes transmite uma liberdade ilusória. Qualquer estado ou emoção que o verdadeiro firmamento possa despertar será apenas um espectro neste lugar. Erro pelo inferno azulado, lançando olhares fulminantes ao branco desprezível. Deixo que a irritação se torne indignação.
Onde estão as palavras que fervilhavam e imploravam por liberdade, por sentido à existência? Como é possível que elas fujam de mim agora? Que jogo cruel é este que me impõe? Julgam-me culpado por não tê-las saciado o desejo antes?
Elas bem sabem que minha vontade submete-se aos seus caprichos. Ainda assim, teimam em aceitar que não posso atendê-las a todo instante. Amo-as, mas amo também a outros. Busco-as sempre que o anfêmero vertiginoso permite. Ora, também o que esperam de mim quando não disponho de ferramentas? Que eu as alforrie a unha em qualquer superfície?
Estou aqui agora, mas onde estão? Foram abduzidas por entidades alienígenas? Qual nada! Elas se escondem como as mesquinhas vingativas que são! A indignação se torna ira enquanto contemplo o desfile do tempo. Qual o propósito? Pra quê submeter-me a tal angústia?
Questiono se vale a pena. Não há esperança, então, por que prosseguir? Por que desperdiçar um momento raro e precioso com quem retribui com ingratidão desmedida? A resposta vem e afasta a ira. Impossível compreender relacionamento tão conturbado tanto quanto é explicar o amor. Não há lugar para a razão.
Sento-me. Inspiro, lanço o olhar ao teto. Espiro, espicho os braços decididamente. Desisto de caçar tesouros no fundo do mar, de percorrer sem destino os devaneios da mente. É possível que eu jamais reencontre as palavras que me atormentaram até aqui – talvez sim –, mas não importa. Amo-as e a todas as outras, incondicionalmente.
Por isso, aqui estou, a demonstrar meu afeto. Escrevo ingênua e despretensiosamente, como num desabafo com pitadas de declaração. Escrevo sem racionalização, sem planejamento, sem propósito.
Hoje é dia de comprar livros de autores nacionais com descontos! Há pouco mais de um mês, compartilhei uma lista contendo cinco livros que me pareceram realmente promissores.
Desde então, novos autores e editoras aderiram ao projeto iniciado pelo escritor Ademir Pascale e a quantidade de títulos disponíveis aumentou. Assim, eis uma lista com cinco outros livros que podem interessar ao querido leitor.
Como a primeira lista, esta representa minha opinião e considera apenas as informações fornecidas pelos próprios autores. Recomendo que visitem o site do projeto para conhecer outros trabalhos disponíveis, mas corram, pois os descontos só valem por hoje.
Agora, eis mais um TOP 5:
5
As Bruxas de Oxford, de Larissa Siriani: este primeiro livro da trilogia Coração da Magia narra a história de Malena. Ao mudar-se com sua família para a ancestral Casa Azul, renomada por ter abrigado, séculos atrás, sete bruxas condenadas à fogueira, ela se vê envolvida em estranhos acontecimentos que revelam um passado enigmático.
4
Além do Deserto, de Érica Bombardi: um mundo desértico iluminado por dois sóis é assolado por uma guerra contra as sombras da noite. Enquanto os soberanos da última grande fortaleza buscam a solução para o fim do conflito e a restauração da vida no planeta, a jovem Thera se unirá, involuntariamente, a Mikail, ao felino Oberon e às fadas Lumi e Nadar. Juntos, os quatro traçarão um caminho que os conduzirá a um destino maior que o deserto. Esta intrigante fantasia está disponível em formato impresso ou digital (EPUB) e foi produzida com o apoio do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Estado de São Paulo.
3
Distúrbio, de Valentina Ferreira Silva: amada e dotada de uma beleza incomum, Rossana é uma criança de família rica que teria tudo para ser feliz. Mas sua vida é uma sucessão de tormentos que a levam a conhecer, cedo demais, mundos que nem os adultos são capazes de enfrentar incolumemente: o sexo sem amor, as drogas, a falta de proteção. Lançado pelo selo Estronho, este é um livro denso que pode incomodar pessoas mais sensíveis.
2
Um Lugar Escuro, de Leonardo Zegur: nesta estreia do autor são abordados temas atuais como bullying e o vício em tecnologia. Baseado em fatos reais, o livro narra a história de um jovem da Zona Norte do Rio de Janeiro que, impelido por uma sociedade discriminatória, se vê transformado em alguém que nunca quis ser, envolvendo-se numa trama de assassinatos que o elevam ao status de personalidade.
1
A Culpa é dos Teus Pais, de Maristela Scheuer Deves: um assassino serial está à solta, mas suas vítimas não parecem ter nada em comum além da mensagem deixada junto aos seus corpos. Intrigada, Guisela, uma repórter em início de carreira (foca), decide investigar os crimes por conta própria e acaba atraindo o interesse do enigmático maníaco. Uma trama policial ambientada no universo do jornalismo.
Esta lista foi elaborada em 15 de Julho, quando o último autor listado no site do projeto era Liana Cupini.
A Internet pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição. Ela democratiza o acesso à informação, porém, não garante a qualidade do que é disponibilizado. Felizmente, disciplina e critério permitem a extração de conteúdos realmente proveitosos.
É importante adotar uma rigorosa dieta de informação, mas isto não basta para evitar que o internauta se veja diante de inúmeras leituras. Passar horas na Internet só para inteirar-se das novidades é um luxo para poucos – é preciso dedicar tempo ao trabalho, estudos, família.
Considerem-se, ainda, a questão do desconforto de se ler numa tela brilhante e as distrações oferecidas por computadores, smartphones, tablets e demais bugigangas tecnológicas.
Então, o que fazer? Como antenar-se às novas sem sacrificar o que é fundamental, como a saúde e o convívio social? Não faço a mínima ideia. De verdade. Se alguém souber pode me dizer. Enquanto isso, eu vou experimentando algumas estratégias.
Revista eletrônica diária
Tenho lido mais e com maior conforto graças a algumas ferramentas. A primeira é o Feedly, um aplicativo web que faz uso da tecnologia RSS, hoje em dia presente na maioria dos sites. Como uma revista eletrônica, ele reúne atualizações de vários sites que acompanho, exibindo título, resumo e conteúdo completo. Não é preciso visitar site por site para ler os artigos.
O diferencial do Feedly para outros aplicativos do tipo está no ambiente personalizável e minimalista (sem distrações), propício à leitura, e na integração como diversas redes sociais com as quais é possível compartilhar os artigos. Ele é sincronizado com o Google Reader, o que significa que a assinatura de um novo site neste é refletida naquele, e vice-versa.
Cabe dizer que a ferramenta não será tão útil sem a adoção de uma dieta de informação. De nada adianta cadastrar no Feedly uma centena de sites de publicação diária – as chances de que tanta informação seja consumida é remotíssima.
Conforto visual e mobilidade
O papel do Feedly é organizar e facilitar a filtragem de conteúdo relevante. Contudo, mesmo com toda a qualidade de seu ambiente, este ainda sujeita o leitor aos desconfortos de uma tela brilhante e à necessidade de estar conectado à Internet.
Que ferramenta poderia resolver esta questão? O Kindle, claro. Para o leitor neófito, trata-se de um dispositivo eletrônico dedicado exclusivamente à leitura ou, simplesmente, um leitor de livros digitais (e-reader). A tecnologia de tinta eletrônica (e-ink) que ele emprega proporciona uma tela que simula a experiência de se ler um livro de papel.
Fiz experimentos na tentativa de usufruir dos recursos do Feedly no Kindle, mas nenhum foi satisfatório. Gerar arquivos para transferência e leitura posterior no e-reader é trabalhoso, envolve conversões para formatos .PDF ou .MOBI e requer conexão a um computador via USB.
Acessar o Feedly pela rede Wi-Fi do Kindle consome rapidamente a bateria e a velocidade de navegação é sofrível. Felizmente, há uma terceira ferramenta que permite integrar as outras duas de forma mais eficiente: Instapaper.
Para ler depois
O Instapaper é um aplicativo bem interessante e funciona como um depósito de artigos para leitura posterior. Imagine que um internauta tope com um texto longo na Internet e está sem tempo para lê-lo. Ao invés de imprimi-lo, enviar o link por e-mail ou adicioná-lo à lista de sites favoritos, ele salva-o no aplicativo. Depois, ao acessar o Instapaper (na web ou em sua versão móvel), lá está o texto à espera.
A maravilha deste aplicativo é que ele disponibiliza o texto e nada mais. Em outras palavras, adeus vídeos, anúncios, etc. – algumas figuras permanecem, mas só as relacionadas ao artigo. Mais o recurso mais útil, para mim, é a possibilidade de gerar arquivos para leitura no Kindle.
Mas o melhor mesmo é que o Instapaper também envia uma coletânea de até 10 artigos (na versão gratuita do aplicativo) diretamente à conta da Amazon associada ao e-reader. Através da rede Wi-Fi do Kindle é possível, então, baixá-la no formato de um periódico eletrônico.
Processo quase perfeito
Eis como utilizo as três ferramentas ao meu favor. Primeiro, eu acesso as contas de cada uma na Internet. No Feedly estão as novidades dos sites que acompanho; através dos resumos, identifico o que me é relevante – o restante é marcado como “lido” e desaparece da tela.
Em cada artigo aberto, localizo o ícone do Instapaper junto às opções de compartilhamento próximas ao título. Uma nova guia é aberta no navegador, solicitando minha confirmação para adicionar o artigo ao Instapaper – caso não tivesse acessado minha conta previamente, seria solicitado meu nome de usuário e senha antes da confirmação.
A seguir, no Instapaper, confirmo a gravação de todos os artigos compartilhados pelo Feedly. Acessando as configurações da conta, localizo a opção de envio para o Kindle e solicito o envio imediato. Minutos depois aparece na minha conta da Amazon um arquivo para transferência e leitura no e-reader.
No site da Amazon, eu solicito a entrega do arquivo pela rede Wi-Fi. Finalmente, ao ativar a sincronização de itens no Kindle, o arquivo com todos os artigos filtrados no Feedly é entregue, ficando disponível para uma leitura confortável a todo o momento e em qualquer lugar.
Considerações
Pode parecer trabalhoso, mas o processo não dura mais do que 20 minutos. Há certas falhas, claro. No Feedly, por exemplo, é preciso confirmar o envio de cada artigo para o Instapaper – o ideal seria que a integração fosse automática, sem a necessidade de se abrir uma nova guia.
No Instapaper também ocorre um problema pouco frequente, mas irritante. Aparentemente, certas características de sites impedem a captura correta do texto. Isto reflete nos arquivos gerados para o Kindle, onde, às vezes, pode-se notar a ausência de alguns artigos.
A questão mais frustrante para mim, porém, é a solicitação manual de envio para o e-reader. Felizmente, somente os donos do Kindle DX terão de lidar com este problema. Infelizmente, a versão DX é justamente a que possuo. Permitam-me explicar.
O arquivo enviado pelo Instapaper para a Amazon é convertido e passa a ser considerado um tipo de documento pessoal. Em outras palavras, o arquivo não é considerado um livro, revista ou jornal, mas um documento pessoal convertido para o formato do Kindle.
O problema é que a sincronização automática de documentos pessoais só está disponível nas versões mais recentes do e-reader. Ou seja, a menos que você possua um Kindle geração 3 acima (se não me engano), a única maneira de receber seus arquivos pessoais é solicitando o envio manual através do site da Amazon.
Ei, não à toa eu disse acima que o processo era “quase perfeito”. Mas ele tem me atendido bem até hoje.
E você, leitor, quais estratégias utiliza para se manter em dia com as novidades que pipocam a todo instante na Internet?
Instapaper: site oficial do Instapaper (em inglês).
Instapaper no iPad: matéria sobre o aplicativo para o dispositivo da Apple publicado no site da revista Info.
Configure o envio do Instapaper para o Kindle:guia no site do Instapaper para configurar o envio de artigos para o e-reader da Amazon (em inglês; é preciso acessar um conta do serviço).
Kindle na Info: acompanhe as novidades sobre o e-reader no site da revista Info.
The Information Diet:site oficial do livro homônimo lançado por Clay A. Johnson; está na minha lista de leituras. Há um vídeo na página inicial com uma introdução bem explicativa (em inglês).