Autor: T. K. Pereira (Página 18 de 21)

T. K. Pereira é escritor de coração e analista de sistemas por necessidade. Sob o manto do Escriba Encapuzado, idealizou o projeto 7 coisas que aprendi, foi finalista do concurso literário Brasil em Prosa 2015, e publicou contos em antologias diversas. Vozes (2019) é seu primeiro livro de contos solo.

5 livros promissores de autores nacionais

“No dia 20 de julho dê livros de autores nacionais de presente.” Com este mote, há um ano, o escritor Ademir Pascale iniciou um projeto pessoal que contou com a participação de mais 60 autores e editoras, todos oferecendo seus livros com descontos atraentes na referida data. No último dia 6 foi anunciada a segunda edição desta campanha, que promete ser ainda maior.

Infelizmente, não é possível comprar tudo, portanto, eu quero compartilhar aqui uma lista de cinco livros que me chamaram a atenção e que podem te interessar também, leitor do blog.

Note-se que esta é minha opinião, baseada exclusivamente nas informações fornecidas pelos autores em seus sites – minhas pesquisas não foram além das sinopses dos livros.

Ademais, é bem provável que a lista de livros disponíveis tenha crescido após a publicação do artigo. De qualquer modo, seja por discordar de minhas sugestões, por simples curiosidade ou até pelo interesse em participar do projeto, eu recomendo uma visita ao site deste (veja o link no final do artigo).

E agora meu TOP 5.

5

Sombras e Sonhos, de Álvaro Domingues: esta obra de estreia reúne uma coletânea de 38 textos, entre contos, microcontos e um poema. Escrito pelo mesmo autor do Blog do Pai Nerd, ao qual acompanho há algum tempo, e recomendado pela fera Roberto de Souza Causo, cujo trabalho eu admiro, o livro traz títulos instigantes, como “À nossa imagem e semelhança”, “Vai ficar melhor quando o vir impresso… e quando colocarem aqueles números”, “Pescadora de Almas”, e “Uma valsa na zona do crepúsculo”. Fiquei curioso.

4

Rumo à Fantasia, com Gian Danton: antologia de fantasia organizada por Roberto de Souza Causo (olha o homem aí de novo!) que reúne 13 contos de autores nacionais e internacionais. Contando com nomes de peso como Orson Scott Card, Ursula K. Le Guin, Bráulio Tavares e Eça de Queiroz – além do próprio Causo –, este livro merece ser conferido.

A editora Devir vende o livro por R$24,50 com frete grátis (numa promoção por tempo limitado); Gian Danton o oferecerá por R$22,00.

3

Passado Imperfeito, da Argonautas Editora: antologia organizada por Ademir Pascale que reúne 8 contos de fantasia envolvendo personalidades da história brasileira como Lampião, Tiradentes, Antônio Conselheiro e outros. Conta com a participação de Tibor Moricz, autor do site É só outro blog, o qual eu acompanho. Despertam o interesse os títulos “Uma cabeça para Lampião” e “O Experimento Canudos”.

A Livraria Estronho vende o livro por R$19,80 com frete grátis; a Argonautas Editora o oferecerá por R$18,00.

2

Encruzilhada, de Ademir Pascale: um padre inescrupuloso, um jovem de dezenove anos e um pugilista em busca de fama veem suas vidas interligadas quando um poderoso demônio é libertado do inferno através de um ritual macabro. Ambientada em São Paulo, esta história de horror foi inspirada na música Me and the Devil Blues, de Robert Johnson.

1

O Vôo de Icarus, de Estevan Lutz: no futuro, a vida do jovem Icarus oscila entre o vício pela realidade virtual e por uma droga alucinógena. Em busca de tratamento, ele é submetido a um experimento de nanotecnologia cujo efeito colateral lhe permite projetar sua consciência no espaço e tempo. Mas será real ou tudo existe apenas na mente de Icarus? Com uma premissa desta, não há como não se interessar pelo livro.

Esta lista foi elaborada em 13 de Junho, quando o último autor listado no site do projeto era Elenilson Nascimento.

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Para saber mais:

  1. No dia 20 de Julho dê livros de autores nacionais de presente: veja a lista de autores e editoras participantes do projeto iniciado por Ademir Pascale.
  2. Sombras e Sonhos: mais sobre o livro de Álvaro Domingues, no site Balão Editorial.
  3. Fruto Proibido: este conto é uma amostra do que esperar do livro Sombras e Sonhos, de Álvaro Domingues.
  4. Rumo à Fantasia: mais sobre a antologia no site da Editora Devir, onde também é possível comprar o livro.
  5. Passado Imperfeito: mais sobre a antologia no site da Livraria Estranho, onde também é possível comprar o livro.
  6. Passado Imperfeito – Entrevistas: Ademir Pascale entrevista os autores presentes na antologia.
  7. Encruzilhada: mais sobre o livro de Ademir Pascale em seu site pessoal.
  8. Voo de Icarus: mais sobre o livro de Estevan Lutz em seu site pessoal.
  9. Roberto de Souza Causo: site oficial do escritor de ficção científica, horror e fantasia onde estão listados seus livros e trabalhos publicados, e disponibilizados alguns contos.

Resenha: Fahrenheit 451

PenaPenaPena

Saiba antes de ler: não sou crítico literário nem detentor da verdade absoluta. O texto abaixo relata as impressões que tive após a leitura deste livro e não traz quaisquer revelações quanto ao enredo.

Fahrenheit 451 é aclamado mundialmente como um clássico da literatura de ficção científica. Obra prima do autor americano Ray Douglas Bradbury e publicado originalmente na década de 50, este premiado romance aborda temas desconcertantemente familiares e atualíssimos.

Nesta distopia futura, a sociedade foi subjugada por um governo totalitário onde autoridades invisíveis, mas sempre presentes, criminalizaram a leitura, promovendo uma verdadeira caça às bruxas. Atuando como força repressora, os bombeiros (firemen, no original) são incumbidos de localizar e, ironicamente, incendiar livros.

A mídia televisiva destaca-se ainda mais como o principal meio de alienação e dominação das massas, restringindo-se a apresentar em sua grade programas de entretenimento e simulacros de realidade interativos – a audiência ludibriada mal e mal tem conhecimento dos eventos que ocorrem além de suas salas repletas de telas imensas.

Completamente alheio, a princípio, à extinção gradual da manifestação do pensamento livre, promotor e difusor do conhecimento, vive Guy Montag, um bombeiro a serviço do sistema. Ao conhecer a adolescente Clarisse McClellan, Guy começa a questionar a sociedade em que vive e logo embarca numa cruzada pessoal contra a política estabelecida.

A trama é interessante, ainda que simples; o ritmo da leitura é lento. Há instantes de tensão e ação, mas as reflexões do protagonista dominam a narrativa. Particularmente, muitos destes trechos foram confusos o bastante para me forçar a relê-los duas ou três vezes na tentativa de compreender a mensagem que estava sendo passada.

Bradbury pontua alguns eventos paralelos à trajetória de Montag que reforçam os perigos da alienação e permitem antecipar o final trágico e inevitável – confesso, porém, que duvidei até o último instante que o autor concluiria a obra de forma tão emblemática. Contudo, o melhor momento do livro é aquele no qual o protagonista finalmente percebe ter seguido por um caminho sem volta e, literalmente, incinera o seu passado.

Esta não é uma leitura fácil, mas, por instigar o leitor a pensar sobre os perigos da supressão do conhecimento e de se resignar numa sociedade alienada e consumista, Fahrenheit 451é mais do que recomendado e recebe 3 penas-tinteiro (estrelas).

E esta é a humilde opinião de um escriba.

Em tempo: o título do livro alude à temperatura na qual o papel queima, o que equivale a 233º na escala Celsius. Fahrenheit 451 foi adaptado para o cinema por François Truffaut e lançado em 1966.

Mais sobre o autor:

Há tantas curiosidades sobre Ray Bradbury que é impossível deixar de compartilhá-las. Americano, Bradbury completou o ensino médio durante a Grande Depressão e, não podendo custear a faculdade, trabalhou como jornaleiro.

Cresceu enfurnado em bibliotecas e suas principais influências literárias foram Edgar Allan Poe (Os Assassinatos da Rua Morgue, O Corvo), H.G. Wells (A Guerra dos Mundos), Júlio Verne (Vinte Mil Léguas Submarinas) e Edgar Rice Burroughs (Tarzan, o filho das selvas).

O primeiro conto, Hollerbochen’s Dilemma, foi publicado no fanzine de ficção científica Imagination e suas obras mais celebradas, as Crônicas Marcianas e o próprio Fahrenheit 451 lhe garantiram lugar entre os principais autores do gênero.

Contudo, Bradbury afirmou certa vez não escrever ficção científica e sim fantasia – Fahrenheit 451 é a única exceção, segundo o próprio, mas mesmo este se baseou na realidade.

Tendo publicado algo em torno de 600 contos, 30 livros e inúmeros poemas, ensaios e roteiros para TV, não é surpresa que tenha recebido diversas homenagens e prêmios:

  • Foi premiado com o Hugo (tradicional premiação literária norte-americana) em 1954 na categoria melhor romance por Fahrenheit 451, tendo concorrido com ninguém menos que Arthur C. Clarke e Isaac Asimov;
  • Teve o nome atribuído a um asteroide (9766 Bradbury) e a uma categoria de premiação do Nebula Awards (outra tradicional premiação);
  • Uma de suas obras (Dandelion Wine; A Cidade Fantástica no Brasil) inspirou o nome de uma cratera lunar;
  • Ganhou sua própria estrela na Calçada da Fama em Hollywood.
  • No ano passado foi prestigiado pela cantora e comediante Rachel Bloom com o videoclipe intitulado “F— me, Ray Bradbury” (nem preciso traduzir, certo?), que recebeu, vejam só, uma indicação ao Hugo.
  • Suposto descendente direto de Mary Bradbury, julgada, condenada e sentenciada à forca por bruxaria em Salem, Bradbury viveu até os 91 anos – o escritor faleceu esta semana, dia 5 de junho de 2012.

Para saber mais:

  1. Ray Bradbury: site oficial do autor (em inglês).
  2. Ray Bradbury, The Art of Fiction No. 203: entrevista com o autor no Paris Review (em inglês).
  3. Open Library: Ray Bradbury: coletânea dos livros de Ray Bradbury (em inglês).
  4. Biografia: Ray Bradbury: traduzido do site oficial e publicado no InfoEscola.
  5. Top 100 Science-Fiction, Fantasy Books: Fahrenheit 451 foi considerado o 7º romance de ficção científica mais popular entre 100 outras obras (em inglês).
  6. Crítica – Fahrenheit 451 (1966): Rubens Ewald Filho avalia o filme de 1966 baseado na obra de Bradbury.
  7. Fahrenheit 451: Sobre uma distopia incandescente: considerações sobre a obra por Alfredo Suppia, na coluna de Roberto de Souza Causo no Terra Magazine.
  8. Fahrenheit 451: A temperatura de uma adaptação: Alfredo Suppia fala sobre a adptação para o cinema; publicado na coluna de Roberto de Souza Causo no Terra Magazine.

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Crônicas? Hmm…

palacioDasArtesBH“Sabe do que mais sinto falta no seu blog? Crônicas”. De fato, eu nunca tinha considerado a possibilidade de escrever algo do gênero até escutar esta crítica maravilhosa.

Tomado de uma súbita inspiração, estudei suas características, li alguns textos de cronistas brasileiros conceituados e, enfim, sentei-me para escrever. Surpreendi-me com a facilidade com que concluí o texto em apenas dois dias (revisei-o apenas 4 vezes)!

Se este pode ou não ser classificado como uma crônica, deixo para os leitores decidirem.

E o que tem de complicado?

Noite. Caminhando na calçada à frente do parque municipal, penso como são complicados os relacionamentos. A peça de teatro que acabo de ver, pouco inspirada (e ainda menos original), leva-me a uma breve reflexão: como pode a infidelidade ser tema de uma comédia? A traição é um ato de total desrespeito ao companheiro, no mínimo, e não deveria ser banalizada.

Cogitando iniciar um papo cabeça a respeito disto, olho para o lado, mas o semblante sério e o olhar distante desencorajam-me. Descarto o tópico sem demora e tento quebrar o gelo: pipoca? “Não tenho fome”. É, está mesmo um pouco salgada. Um refrigerante, quem sabe? Também não.

Um vento sopra suave pela avenida. Que frio, eu comento, mas ela discorda. “A noite está fresca”. Está mesmo, bem agradável; não é nada espetacular, mas está bonita também. Uma lua em arco, estrelas aqui e acolá por entre nuvens algodoadas. Uma boa noite para estar na melhor das companhias. E, no entanto, sinto frio.

Dois ônibus passam pelo ponto. Estivesse sozinho, qualquer um deles me serviria, mas, muito provavelmente, não teriam chegado tão rápido. Tanto melhor. Não tenho pressa, tampouco me importa o tempo. Minha mente é um turbilhão: busco palavras adequadas, formulo frases com cuidado, mas nada parece adequado o bastante.

Enfim embarcamos, sentamos lado a lado. Apenas falas vazias. De relance, noto a expressão curiosa do cobrador, mas relevo; minha atenção tem exclusividade agora. Desisto de tentar encontrar sentido em minha cabeça. Solto a língua, soprando amenidades. Surge um interesse genuíno, mas o ar contemplativo nunca deixa as feições dela.

De repente, o cobrador salta e corre para o fundo do ônibus, surpreendendo a todos. Então entendo o que chamava sua atenção: um senhor embriagado jogava-se, literalmente, sobre uma moça. Algo estala em minha mente e percebo que conheço o “tarado” de outras viagens – em todas elas, ele sempre fora todo álcool e liberdades com o sexo oposto.

É uma figura recorrente; pobre e inconveniente diabo, tolerado por alguns motoristas para o desespero das damas e o divertimento alheio. Não entendo como os outros não percebem que suas risadas só encorajaram ainda mais o papel patético. O cobrador, porém, não vê graça ali e parece mais interessado em entregar o coitado à polícia.

Convenientemente, há uma blitz da Guarda Municipal no caminho, o que explica o incomum engarrafamento para o horário. Mas nada disso importa. Que o trânsito agarre, o coitado seja entregue a polícia e que resista à prisão, o ônibus quebre, que qualquer coisa faça o tempo se arrastar. Só quero desfrutar da companhia.

A viagem prossegue. O senhor tarado atrai olhares, comentários e chacotas até sua descida. “Eu ajudo o senhor, mas não encoste em mim”, diz uma passageira em certo momento. Mais risadas. Pobre bufão. Meio alheio aos eventos, eu me concentro nas palavras trocadas; talvez a noite ainda possa ser salva.

Chegamos e caminhamos, agora de mãos dadas. Sinto um peso sendo retirado do espírito. Eu caminho de coração aberto, sentimentos à flor da pele. Numa praça nos sentamos, e ali deixo que minha alma fale por mim.

Conversamos por um tempo imensurável, pois não me importa mensurá-lo. Trocamos dúvidas e angústias, possibilidades, revelamo-nos um para o outro, sem grilhões, destemidos. Relacionamentos são complicados. Mas não há complexidade que supere o amor genuíno. Acredito nisto, sempre acreditei, e as sensações provocadas por sua simples presença apenas confirmam esta certeza.

Um abraço, olhos mareados, e, súbito, não sinto mais frio. Olho para o céu e vejo; vejo a lua em arco, estrelas aqui e acolá, nuvens algodoadas. Uma boa noite, a melhor das companhias. Há ainda muito a resolver, mas não penso nisto agora. Neste breve momento, num abraço que diz mais que qualquer palavra, há apenas nós dois… e o amor. E amor, meu caro, é tudo o que é preciso.

Resoluções de Escritor

Cinco meses. Este é um tempo longo demais para estar afastado de uma paixão. Como o amor, a escrita requer diligência e dedicação, qualidades que, se negligenciadas, prejudicam qualquer relacionamento. E como tenho sido negligente!

Minha falta é ainda mais grave, pois não se limita só a falta de atividade neste espaço: nem mesmo meus trabalhos mais íntimos receberam o mínimo da atenção que mereciam. Um hiato improdutivo e triste, muito triste.

Eis que acontece, então: o ano se renova e, repentinamente, dozes meses repletos de potencial se estendem diante dos olhos, todos à disposição para que se exerça a criatividade, transformem-se pensamentos em palavras, compartilhem-se experiências, e histórias. Novos planos são traçados, decisões são tomadas, e uma afirmação positiva e esperançosa retumba na mente: agora tudo será diferente.

Sempre a mesma doce ilusão, ano após ano. E, no entanto, uma vez mais me deixo seduzir. Há quem diga que o maior problema com esta atitude é a falta de comprometimento pessoal – aparentemente, o ser humano se esforça mais no cumprimento de promessas feitas a outrem do que das que toma pra si. Ridiculamente verdadeiro. Ter as resoluções confinadas na mente é outro obstáculo. Mas (ainda) não é o fim do mundo.

Para fazer deste um ano realmente diferente, busco agir de modo diferente. Inspirado por textos de escritores começo, então, materializando meus objetivos, transformando-os em palavras, tornando-os palpáveis. Assumo-os aqui, publicamente, firmando compromissos com o leitor, a quem este espaço e uma parcela de meu tempo são dedicados. Estabeleço metas a cumprir como aprendiz de escritor, cuidando para não ser metódico demais.

Comprometer-se consigo é o principal desafio das resoluções de ano novo.

A escrita não pode ser racionalizada completamente. Planejamento e organização são válidos e, de fato, permitem maior produtividade, mas apenas quando aplicadas no momento propício. Contudo, há aspectos que não se pode precisar, como o surgimento de uma ideia ou o desenvolvimento desta – não há como estabelecer, por exemplo, o prazo de duas semanas para criar as origens de um dado personagem.

Assim, não é adequado comprometer-se a escrever um romance ou conto num dado prazo quando a premissa destes mal foi trabalhada ou sequer é conhecida. Fazê-lo torna o ato de escrever angustiante, cria uma pressão desnecessária e pode resultar em grande frustração caso o objetivo não seja alcançado. William Nascimento abordou bem esta questão num texto valioso, do qual recomendo a leitura (ver link no final desta postagem).

Retomando o assunto, minhas resoluções para este ano são:

  • Estudar e aperfeiçoar o uso do tempo: é preciso fazer bom uso deste bem tão escasso, dedicando-o às coisas importantes. Chega de dizer que não há tempo para escrever! Ele está lá, apenas está sendo desperdiçado com irrelevâncias.
  • Determinar horário e local para escrever: já está mais do que comprovado que o hábito de escrever num determinado período e local ajuda na produtividade. Obviamente, nada impede que eu também escreva sempre que a disposição e a oportunidade se fizerem presentes.
  • Escrever por 21 dias: cientificamente, afirma-se que qualquer hábito pode ser incorporado, desde que praticado por 21 dias ininterruptos (sim, incluindo fins de semana e feriados). Este vai ser um bom desafio. Note-se que não defini o que escrever; somente sentar-me-ei diante do computador e escreverei, sem pressões.
  • Experimentar outro gênero: este ano pretendo enveredar por outro gênero literário que não o da literatura fantástica, pelo qual sou fascinado.

    Carregue suas resoluções sempre consigo.

  • Ser mais social: visito muitos sites e blogs de escritores e sobre literatura, mas interajo muito pouco com seus autores. Contudo, como não é possível estar em todo canto a todo o momento, estabeleci uma lista de autores com quem eu gostaria de manter um contato mais próximo.
  • Recrutar leitores pessoais: eles serão responsáveis por comentar criticamente meu trabalho, estilo de escrita, etc. Eles serão avaliadores, editores, musas, puxadores de orelha e caçadores de piolhos mais próximos. Obviamente, os demais leitores são encorajados a sempre compartilhar suas impressões nos comentários e receberão de mim a mesma atenção.

Aí estão: minhas resoluções de ano novo – em tempo, buscarei relaxar mais e manter minha auto-exigência em níveis adequados a uma pessoa sã (quero só ver!). Agora é começar a trabalhar para tornar tudo isso realidade antes que o apocalipse maia caia sobre nós.

Confira também: Resoluções Revistas – Balanço de 2012, post onde revejo as resoluções que foram ou não cumpridas.

Para saber mais:

  1. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  2. Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
  3. Pare o mundo que eu quero escrever!: texto sobre minha labuta contra as distrações do cotidiano.
  4. O pesadelo das revisões constantes: um desabafo sobre este terrível obstáculo no caminho de um aprendiz de escritor.
  5. Metas para escritores em 2011: compartilhando suas metas no início do ano passado, Alexandre Lobão ofereceu dicas valiosas.
  6. Quer escrever um livro? Defina suas metas: encerrando o ano de 2011, Alexandre Lobão descreve seu processo de metas.
  7. Metas para uma nova escrita: Wilian Nascimento defende que é preciso ser cuidadoso ao estabelecer metas de escrita.
  8. Writer Resolutions: Traci Brimhall escreve sobre suas resoluções e demonstra um ponto de vista muito próximo ao de Wilian Nascimento (em inglês).
  9. Don’t Break the Chain: artigo que aborda o método utilizado por Jerry Seinfeld (famoso comediante americano) para ser mais produtivo (em inglês). É um texto antigo, mas pode ser útil para aqueles que se propõe a cumprir suas resoluções de ano novo.
  10. TOP 10 Resolutions for Writers: as 10 resoluções de ano novo mais comuns assumidas por escritores (em inglês).

6. Há muito mais a temer… – Reinos de Aventuras

Rarnar estava diante do ataúde de pedra. Enxergando claramente através da escuridão absoluta, os olhos amarelados contemplavam um cadáver inacreditavelmente bem conservado, envolvido por uma manta rústica. Reproduzido nesta, o emblema da maça-estrela respigando sangue identificava os restos mortais. Não havia dúvida de que realmente estava na Torre Alta.

A tumba não era tão grandiosa quanto descreviam as histórias de seu povo, nem estava repleta de tesouros, para o aborrecimento de seus subordinados – ambos esperavam ser recompensados pelo menos com alguma quinquilharia de valor.

O pensamento divertiu Rarnar, pois ele sabia mais. As palavras do xamã ecoaram em sua mente: um grande achado te dará o respeito de toda a tribo. O Honorável Chefe da Tribo descendia de uma linhagem de guerreiros poderosos e orgulhosos; ele ficaria tremendamente satisfeito com a descoberta do corpo do Cavaleiro Sombrio, seu antepassado mais celebrado.

Chegar à câmara mortuária não fora fácil. As três portas de pedra não podiam ser abertas nem derrubadas sem as ferramentas adequadas. Um dia inteiro passara até que um caminho alternativo fosse encontrado: um buraco escavado há muito tempo entre as ruínas sobre o outeiro. Utilizando uma corda improvisada, esgueiraram-se por terra adentro. Uma vez dentro da tumba, não tiveram dificuldades em encontrar o lugar.

Rarnar rasgou o emblema e cogitou guardá-lo no bolsão de suprimentos, mas mudou de ideia e escondeu-o sob o corselete. Foi então que notou algo postado ao lado do cadáver, fazendo volume sob a manta. Arrancou-a num gesto violento e viu uma comprida haste de ferro; numa extremidade desta havia uma empunhadura de couro desgastado e na outra uma esfera cravejada de espinhos. Assombrou-se com a descoberta. Aquela era a arma que o Cavaleiro Sombrio utilizara em vida para esmagar seus inimigos e que se tornara seu símbolo de guerra: a maça-estrela.

A maça estava bem conservada e Rarnar imaginou que deveria estar protegida por algum tipo de encanto ou maldição. Recordou-se das inúmeras vezes em que o xamã o advertira sobre as ameaças do mundo sobrenatural e resistiu à tentação de ter a arma para si. Olhou em volta; não havia mais nada naquela câmara – ou nas outras que já tinham explorado – que justificasse perder outro dia ali. Estava ansioso para retornar à tribo e desejava que o tempo os permitisse partir logo. Como odiava aquelas malditas tempestades!

Escutou passos apressados no corredor e viu um de seus subordinados aproximando-se com uma expressão de espanto no rosto monstruoso.

– Encrenca, encrenca, encrenca! Temos que cair fora! Encrenca demais pra gente!

Urrou ferozmente, exibindo presas poderosas e calando o recém-chegado.

– Diga duma vez qual é o problema!

– Fui checar a fonte dos estrondos, como ordenou. O tremor derrubou as portas, todas elas. Fui checar as novas passagens e ouvi vozes. Não estamos sós. Vi três deles: um anão, um halfling e… o terceiro parecer ser drow!

Rarnar arregalou os olhos. Escutara direito? Se fosse verdade, estavam realmente encrencados. Certa vez lhe disseram que um drow era capaz de derrotar dez dos melhores guerreiros de sua tribo com os olhos vendados! Contudo, algo não cheirava bem. O que ele fazia ao lado de um anão e um halfling? Não podia pensar num trio mais inusitado.

O instinto o aconselhava a fugir enquanto ainda tinha chance, mas a razão o impedia; sabia que a covardia lhe custaria a posição na tribo que tanto cobiçava. Não podia permitir que a tumba e o cadáver do Cavaleiro Sombrio ficassem à mercê de invasores, especialmente sendo um deles quem era. A situação não era tão desesperadora quanto parecia e talvez até pudesse aproveitar-se dela para obter ainda mais prestígio junto aos seus.

– Onde está Grardur?

– Na sala de morte, vigiando o corredor principal.

Um plano nasceu em sua mente.

– Vamos nos juntar a ele. Emboscaremos os invasores na sala de morte.

– Mas e quanto ao drow?

– Mataremos primeiro! Eles não sabem de nós, temos uma boa chance… não vamos desperdiçar!

****

– Espero que estejam satisfeitos! Avisei que perambular por aí seria perigoso!

Rhístel e Meldeau escutavam a bronca com um ar distraído, o primeiro cuidando de limpar uma gosma esverdeada que empesteava seu florete e o segundo lustrando um anel. Os três estavam de volta à câmara das portas.

– Não me lembro do bom anão mencionar cabeças com asas de morcego! – retrucou o halfling.

Vargouille.

Olhares recaíram sobre o meio-drow, um repleto de desconfiança, o outro de curiosidade.

– Aquela criatura. Vargouilles são seres de outro mundo, muito cruéis e letais. As vítimas de seu beijo se transformam num deles em pouco tempo. Tivemos muita sorte.

– Por Brandobaris, que horror! Aquilo queria me beijar? E eu teria me tornado aquilo? Que nojo! Mas como você sabe disso?

– O mal reconhece seus semelhantes.

Fora Taldor quem alfinetara. Rhístel sustentou o olhar provocador do outro. Mais uma vez coube a Meldeau intervir, apaziguador.

– Ei, estamos vivos, isto é que importa! E graças ao Rhís aqui, a perdição dos vargouilles! Além disso, nossa ousadia foi recompensada! Vejam que lindo anel eu achei!

– Achou? Onde? Não dentro do sarcófago, espero! Não sabe o quanto pode ser perigoso profanar um túmulo? Não tem juízo, baixote?!

Ignorando a censura do outro, o halfling ergueu o anel contra a luz da lamparina, avaliando-o.

– As gravuras são tão bonitas! Será que é mágico?

A carranca de Taldor deu lugar a uma expressão de curiosidade ao ver o anel dançar por entre os dedos do outro. Aquela mudança repentina não passou despercebida pelo meio-drow. As rugas logo retornaram e, sacudindo a cabeça, o anão se afastou na direção da passagem central.

– Bá! Qualquer um vê que não passa de um anel comum! Nem sequer é de um metal valioso!

Meldeau pareceu desapontado, mas guardou o anel consigo assim mesmo. Então a voz poderosa falou novamente:

– Escutem bem, estranhos: as portas estão destruídas e não temos como bloquear estas passagens. A tempestade ainda vai demorar a passar. Não sabemos o que mais tem por aí, então é melhor-

– É melhor explorarmos mais! Sim, vamos descobrir o que há por aí!

Interrompido pelo tom descontraído, Taldor se virou a tempo de ver o pequenino desaparecendo pela segunda passagem lateral. Atônito, ele vociferou:

– Que diabos há de errado com esse halfling?! Ele quase foi transformado num varoile há pouco! Não aprendeu nada?!

Rhístel teria rido da reação se não estivesse preocupado com a atitude sempre inconsequente do amigo. Precisavam ter uma conversa séria. Contudo, por ora, não permitiria que ele vagasse sozinho pela tumba. Era incrível como Meldeau parecia aprender devagar e esquecer rápido o que aprendeu.

Aquela câmara era semelhante à outra, mas, ao invés de um sarcófago, havia uma pequena arca, postada no centro. Agachado diante dela, a figura do halfling remexia os bolsos à procura de suas ferramentas. Rhístel e Taldor testemunhavam tudo de pé à porta.

– Que pensa que está fazendo?

– O que o bom anão sugeriu: explorando o lugar! Aposto que há algo valioso aqui!

– Não disse para explorar nada! Temos que ficar de olho nas passagens até a tempestade passar, isso sim! Já disse que não é seguro vagar por tumbas!

O meio-drow avaliou o lugar: as pegadas diminutas no piso empoeirado indicavam que ninguém além do amigo estivera ali. Preocupou-se ao notar estranhas reentrâncias nas paredes.

– O anão tem razão, Mel. Talvez seja melhor se afastar daí.

Pedindo paciência com um gesto rápido de mão, Meldeau puxou um conjunto de peças de ferro intricadas e deitou-se diante da arca. O tilintar que se seguiu indicou que ele ignorara solenemente as advertências. Alguns segundos depois, ele falou, eufórico:

– Está destrancada, mas não posso abrir ainda. Tem uma armadilha aqui.

– Mais uma razão pra deixá-la onde está!

– Relaxe, meu bom anão, eu posso desarmá-la. Entendo do assunto. Ora, em minha terra natal eu costumava caçar grandes feras somente com minhas armadilhas. Na verdade, lembro-me agora da vez em que capturei um korac, a grande fera azul de duas cabeças, usando só algumas cordas, isca e estacas de madeira!

Taldor bufou em descrença, Rhístel riu por dentro.

Um estalido metálico soou.

– Pronto, está desarmada!

O halfling largou as ferramentas de lado e abriu a arca. Somente ao ouvir o som inequívoco de mecanismos de disparos ecoando detrás das paredes é que o meio-drow compreendeu o propósito das reentrâncias. Dardos de madeira saltaram ao mesmo tempo de todos os lados à procura de alvos. O trio mal teve tempo de reagir; cada um buscou proteger-se da melhor maneira que pôde.

Ouviu-se um grito de dor e o som de madeira chocando contra pedra. Depois silêncio.

– Acabou?

Nenhum outro dardo saiu das paredes.

– Excelente trabalho, mestre armadilheiro*!

A voz grave veio acompanhada de um gemido. Arrependido e temendo o pior, Meldeau correu em auxílio do anão. Rhístel manteve-se distante, observando. Então ele riu por dentro ao ver que o ferimento não era prejudicial, exceto, talvez, para o orgulho de seu portador, que fora atingido numa das nádegas.

Aliviado, Meldeau murmurou mil desculpas e ofereceu-se para fazer um curativo.

– Conheço diversos tratamentos. Na minha terra natal existem ervas curativas para muitos males. É uma pena que eu não tenha nenhuma aqui comigo, mas eu posso tentar estan-

Calou-se diante do olhar frio que recebeu. Afastando-se, Taldor murmurou algo sobre sua honra jamais permitir que lhe tocassem o traseiro! Certificando-se de que seu companheiro também estava bem, Meldeau correu em direção à arca novamente e apanhou seu conteúdo.

– Vejam que tesouro! Mais uma vez nossa ousadia nos recompensa!

O halfling exibiu uma bandana de couro, duas contas peroladas e uma sacolinha encardida.

– Nossa ousadia?! Tua inconsequência, baixote, nada mais!

Meldeau abriu a sacolinha. Sorrindo, ele retrucou:

– Ora! Imagino, então, que estas preciosas moedas de ouro devam ser minhas, estou certo?

– Fique com estas moedas malditas! Não quero nenhum tesouro resgatado de uma tumba!

Dando de ombros, o halfling assobiou para o meio-drow e jogou-lhe a bandana, dizendo:

– É muito grande para minha cabeça.

Rhístel notou com curiosidade os rebites de ferro que cravejavam a peça e decidiu guardá-la; ele poderia analisá-la mais tarde. Meldeau colocou as contas e suas ferramentas dentro da sacolinha e guardou esta num de seus bolsos, dizendo para o amigo:

– Podemos repartir o tesouro quando terminarmos a exploração, afinal, o anão não faz nenhuma questão dele.

– Não mesmo! E não haverá mais exploração! Vamos esperar a tempestade passar, já disse!

– Mas…

– Nada de “mas”, Mel. Sua curiosidade já nos atraiu problemas demais por uma noite. Teve o seu momento de explorador de tumbas, até já encontrou seu tesouro. Vigiaremos a passagem central até que o tempo melhore e possamos partir.

O novo protesto morreu nos lábios do halfling ao notar o semblante de Rhístel e o olhar duro do anão. Não entendia o porquê de tanta cautela. O que eles tanto temiam, afinal?

Continua…

* Nota do Autor: não encontrei a palavra armadilheiro no dicionário, mas já a li em alguns contos fantásticos. Por isso, eu tomei a liberdade de utilizá-la aqui para identificar o indivíduo que trabalha com preparação de armadilhas. Entendam como liberdade poética.

Uma palavra sobre a ambientação desta série: as histórias ocorrem no mundo fantástico de Faerûn, descrito no cenário de campanha de RPG Forgotten Realms (Reinos Esquecidos). Elas também foram inspiradas em diversos módulos de aventuras criados para o jogo Dungeons & Dragons (Masmorras e Dragões). Todos os direitos sobre estas marcas pertencem à editora Wizards of the Coast, não sendo minha intenção violá-los. Estes textos são uma ficção de fã (do inglês, fan fiction ou FanFic) e não objetivam qualquer lucro.

Para saber mais:

  1. Capítulo Anterior – Portas Abertas
  2. Reinos de Aventuras, histórias de fantasia: onde explico o modo como pretendo publicar esta série no blog.

Angústia de Revisão

Um post breve motivado pelo assunto das revisões constantes. Encontrei uma imagem interessante no excelente site Inkygirl.com que revela bastante o que passa na cabeça de muitos escritores durante o processo de revisão de seus textos. Fiz uma livre tradução do texto. Vale a pena conferir e também visitar o site. Ah, e tentem não permitir-se ficar assim… lembrem-se, revisar é preciso!

TRADUÇÃO: “Mas eu AMO este parágrafo. Como posso apagá-lo? É uma das melhores coisas que já escrevi! Tudo bem, talvez ele nem contribua para a história geral, mas passei tanto tempo escrevendo-o! Se um único parágrafo pudesse ganhar o Pulitzer, este ganharia, com certeza. … evisão é superestimada, … já que eu passei tanto tempo… neste parágrafo. Por que eu tenho que me livrar de algo… ? Você não pode me obrigar, eu não o farei. Este parágrafo é tão… eu…”

Para saber mais:
  1. Inkygirl.com: segundo slogan, um verdadeiro “guia ilustrado para escritores, bibliotecários, editoes e bibliófilos“. Boas charges e artigos.
  2. O pesadelo das revisões constantes: um desabafo sobre este terrível obstáculo no caminho de um aprendiz de escritor.
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