Autor: T. K. Pereira (Página 20 de 21)

T. K. Pereira é escritor de coração e analista de sistemas por necessidade. Sob o manto do Escriba Encapuzado, idealizou o projeto 7 coisas que aprendi, foi finalista do concurso literário Brasil em Prosa 2015, e publicou contos em antologias diversas. Vozes (2019) é seu primeiro livro de contos solo.

Foco na escrita com o OmmWritter!

ommwritterConcentração é fundamental para um escritor. Obtê-la e preservá-la, porém, pode ser desafiador, sobretudo para os que utilizam um computador. Sempre em busca de ferramentas que me permitam transpor tal barreira, eu optei por testar um novo editor de textos.

O OmmWritter é um software simples com um propósito bem específico: fornecer um ambiente propício e livre de distrações para o escritor. Este programa está disponível na versão gratuita denominada Dana I, é compatível com PC, Mac e iPad, e funciona no Windows XP SP2 ou superior. É preciso cadastrar-se no site do desenvolvedor para baixar o programa.

Quando o OmmWritter é iniciado, a área de trabalho do computador é substituída por uma tela onde destacam-se árvores em uma espécie de parque coberto de neve; uma melodia suave toca ao fundo. De imediato, os tons de cinza da imagem me agradaram e logo constatei que são muito mais confortáveis aos olhos que o branco do Word ou do bloco de notas.

No centro, tracejados delimitam a área de texto, ladeada por seis ícones. Tudo é bem simples e não é preciso qualquer configuração: basta clicar na área de texto e começar a escrever; após alguns segundos, o tracejado e os ícones desaparecem, deixando o escritor a sós com as palavras.

Estaria ela utilizando o OmmWritter?

Escrevi o rascunho deste texto no programa; a experiência foi bastante agradável e nem mesmo a música de fundo ou os sons personalizados produzidos por cada tecla pressionada me incomodaram – e eu costumo ter problemas em escrever com músicas de fundo.

Qualquer movimento do mouse faz com que os ícones e o contorno da área de texto reapareçam – na parte inferior desta há um pequeno contador de caracteres ou letras digitadas.

Minha Opinião

Embora tenha gostado bastante do OmmWritter, me incomodou o tempo de instalação; o tempo de resposta na exibição do texto digitado também deixou a desejar em alguns momentos – provavelmente, graças ao meu maravilhoso Windows Vista!

O OmmWritter não faz uso de recursos de formatação de fonte (negrito, itálico, etc.), alinhamento, listas e vários outros existentes em editores como Notepad++, Wordpad ou Word. Ele é, praticamente, um bloco de notas construído num ambiente agradável e inspirador.

O programa foi pensado para permitir a escrita livre de distrações e isto ele faz muito bem. É ideal para aqueles momentos onde falta inspiração ou onde tudo que é preciso é um local para despejar as palavras e trabalhar as ideias. Pretendo utilizá-lo por mais algum tempo.

Algumas Configurações

É possível configurar os recursos do OmmWritter para torná-lo ainda mais agradável. O tamanho padrão da área de texto, por exemplo, pode ser alterado; para isto, basta mover o mouse para o contorno tracejado e reajustar a largura ou altura (ou ambos, simultaneamente, pelos cantos). Pode-se, ainda, mudar a localização da área, clicando no tracejado e movendo-o pela tela.

Não é permitido ajustar a área de texto para ocupar toda a tela do programa, e isto faz sentido, já que uma tela repleta de texto pode ser tão agressiva aos olhos quanto uma tela toda branca. Particularmente, eu preferi utilizar apenas a área mais central da tela, mantendo a área acima da linha das árvores.

A maioria dos recursos do OmmWritter está disponível nos seis ícones que surgem ao lado da área de texto e podem ser alterados com poucos cliques. Eis o que pode ser configurado:

ommicon1altera o formato (fonte) do texto; são 4 opções, incluindo Arial e Times New Roman.
ommicon2altera o tamanho do texto; 4 opções.
ommicon3altera a imagem de fundo; 3 opções; recomendo utilizar a padrão, pois o branco cansa as vistas rapidamente e o cinza puro é muito escuro.
ommicon4altera a música de fundo; 3 opções ou desligar; recomendo utilizar a padrão ou a segunda opção.
ommicon5altera os sons do teclar; 3 opções; o padrão é mais suave; considero desnecessário.
ommicon6opções de salvamento (.TXT e .OMM apenas) e abertura de arquivos.

O OmmWritter apresenta os recursos básicos de edição (copiar, recortar, desfazer, etc.) e um menu simples que é exibido ao se arrastar o mouse até o topo da tela. Ali é possível abrir e salvar textos, e também exportá-los no formato .PDF. Caso seja preciso recuperar as configurações visuais padrões basta acessar a opção View no menu.

E você, leitor, o que achou do OmmWritter? Conhece ou usa programa semelhante? Compartilhe nos comentários.

Para saber mais:

  1. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  2. Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
  3. Pare o mundo que eu quero escrever! texto sobre minha labuta contra as distrações do cotidiano.
  4. Instale e teste o OmmWritter: site oficial do desenvolvedor de onde é possível baixar o programa.
  5. OmmWritter no Twitter: siga este perfil e fique por dentro das novidades ou entre em contato com os desenvolvedores.
  6. OmmWritter no iPad: review sobre a versão para o tablet da Apple publicado no site Túaw em Junho de 2011.

Pare o mundo que eu quero escrever!

Um dos maiores desafios deste aprendiz de escritor é lidar com distrações. Chamem-me de paranoico, mas sempre que decido escrever um novo texto é como se o mundo inteiro conspirasse contra mim.

A televisão exibe aquele filme favorito, um rádio qualquer toca músicas no último volume, o e-mail indica uma oferta relâmpago e/ou atualizações no site favorito, o cachorro começa a latir, familiares e amigos buscam um pouco de atenção. Tudo e todos parecem batalhar por minha atenção!

Concentração é primordial para o escritor, mas como este se concentra é algo muito pessoal. Há quem consiga fazê-lo ao som de uma música suave ou do canto dos pássaros ou mesmo com o televisor ligado ao fundo.

Definitivamente, não é o meu caso. Meu ambiente ideal é aquele onde coexistem o silêncio, as palavras e eu, nada mais. Não há frustração maior do que ver uma repentina inspiração literária ser afugentada por entidades alienígenas.

Utilizo um computador para escrever a maioria de meus textos. Sim, eu faço anotações breves no celular, caderno, bloquinho de post-it e folhas de rascunho quando tenho ideia para um novo texto, frases de efeito ou nomes para personagens. Mas quando se trata de escrever realmente, mesmo que apenas um rascunho inicial, eu recorro ao computador.

Esta ferramenta que tanto flexibiliza a produção de textos, porém, costuma ser também minha maior perdição; é um verdadeiro paraíso de distrações, com ícones aparentemente infinitos de músicas, vídeos, jogos e tantos outros arquivos tentando tirar meu foco do texto – acrescente a isto conexão à Internet e tudo está perdido! Belo paradoxo, não?

“Concentrar você deve!”

Quando penso na quantidade de distrações circulando por aí, eu respiro profunda e pacientemente, e tento convencer-me de que não é o fim do mundo. Distrações fazem parte da vida, logo é preciso saber lidar com estas. Algumas se evita mais facilmente, outras requerem um pouco mais de autodisciplina, estratagemas, conversações.

A Internet, por exemplo, não costuma ser um grande problema para mim: tudo o que tenho a fazer é desconectar o modem, trancá-lo em outra sala e voilá! Liberdade! Permitam-me compartilhar outro exemplo.

Há muito tempo que escrevo meus textos no Word, o velho editor da Microsoft, e percebi que a vasta lista de recursos destes pode ser uma fonte de distração – obviamente que as opções de formatação e revisão são importantes, mas apenas para textos próximos de sua conclusão; de que valem para alguém que se propõe a escrever somente um rascunho, por exemplo? Pode-se contornar tal situação, porém, com alguns ajustes simples nas configurações, ocultando os menus e ícones de modo a manter a tela mais limpa.

Alguns podem questionar por que não utilizo logo o bloco de notas. Explico: por pura aversão; sinto-me estranhamente incomodado ao usá-lo, é algo inexplicável. E como todo incômodo gera distração, eu tratei de afastar-me desta. A propósito, é importante sentir-se o mais confortável possível ao escrever; um ambiente bem organizado e iluminado e uma poltrona aconchegante, por exemplo, beneficiam a produtividade e a saúde.

Cabe aqui uma importante questão: o conforto dos olhos. Visualizar a tela branca do Word por horas a fio pode ser extramente exaustivo, monótono e pouco inspirador, especialmente para quem usa óculos. Para atenuar o cansaço das vistas, eu costumava ajustar as configurações de vídeo do computador, mas logo percebi que era irritante ter que reajustá-las posteriormente para ver um filme ou jogar.

Assim, eu encontrei uma alternativa menos trabalhosa: reduzir o tamanho da janela do Word de modo que eu pudesse visualizar um pouco a área de trabalho por trás. Para evitar distrações, instalei também um programa que oculta os ícones da área de trabalho; e se o papel de parede é muito colorido ou chamativo, altero-o para um fundo preto. Pode parecer bobagem, mas percebi que o desconforto visual tarda muito mais a surgir quando trabalho nestas condições.

Vale tudo para livrar-se das distrações e aumentar a produtividade. Há muitas ferramentas disponíveis para auxiliar o escritor em seu trabalho, mas, às vezes, a solução mais simples é a ideal. É importante contar com o apoio de tais programas, mas deve-se ter em mente que o essencial para se tornar um escritor é escrever, seja no bloco de notas, no Word, num post-it ou num guardanapo.

O mais difícil é convencer o mundo a esquecer-se de você por algumas horas.

Para saber mais:

  1. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  2. Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
  3. Dicas de editores de texto: este artigo lista quatro programas que ajudam a concentrar-se na escrita; publicado no portal IDGNow em maio de 2011.
  4. Dicas para concentrar-se na escrita: este artigo postado no blog Escrevemos.com apresenta 6 boas dicas para manter a concentração ao escrever um texto.
  5. Concentração e Distração: artigo sobre o modo como a Internet prejudica a concentração; publicado em 2010 no portal AdNews.
  6. Concentração e Distração: artigo publicado no site do Estadão em 2010.

Resenha: O Código da Inteligência

Pena

Saiba antes de ler: não sou crítico literário nem detentor da verdade absoluta. O texto abaixo relata as impressões que tive após a leitura deste livro e não traz quaisquer revelações quanto ao enredo.

Augusto Jorge Cury é um escritor brasileiro de renome. Considerado o maior sucesso comercial de 2005 pelo jornal Folha de S. Paulo, o autor foi listado diversas vezes entre os campeões de vendas, tornando-se conhecido mesmo por quem nunca leu um de seus inúmeros livros.

Particularmente, eu nunca me interessei pelos textos de Cury por considerá-los literatura de autoajuda, a qual não me agrada. Contudo, tendo sido presenteado por uma amiga com O Código da Inteligência, optei por deixar o preconceito de lado e dar uma chance ao autor.

Ignorando as informações da capa, típicas de um livro de autoajuda, eu surpreendi-me ao ler no prefácio que o Cury é “psiquiatra, pesquisador de psicologia, autor de uma das teorias mais disseminadas sobre o funcionamento da mente”. Nutri, assim, a expectativa de que a obra apresentaria fundamentos científicos, o que a diferenciaria tremendamente de outras do tipo.

Afora introdução e conclusão, o livro divide-se em três partes: os cinco capítulos iniciais são dedicados à Inteligência ou Psicologia Multifocal, teoria desenvolvida por Cury ao longo de mais de vinte anos “sobre o funcionamento da mente, a construção de pensamentos e o processo de formação de pensadores”; a segunda parte aborda, separadamente, cada uma das 4 armadilhas da mente que impossibilitam decifrar os códigos da inteligência; finalmente, a terceira parte trata dos códigos em si.

A abordagem da Inteligência Multifocal é o que o livro tem de mais interessante. Os conceitos de Registro Automático da Memória (RAM), Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) e outros me pareceram plausíveis (cientificamente) e familiares; senti-me como se já tivesse tido contato com estes antes.

Todavia, as outras partes do livro minguaram meu interesse e intensificaram a sensação de ter em mãos apenas mais um livro de autoajuda. A forma como o texto apresenta tópicos como conformismo e medo do reconhecimento de erros, por exemplo, não se diferencia em nada do modo como estes são abordados em diversos outros autores daquele tipo de literatura. Tudo aqui é lugar-comum, simplório e genérico demais para um pretenso livro de ciência aplicada.

É evidente que Cury se propõe a utilizar uma escrita adequada ao público leigo – recorrendo, inclusive, a múltiplas analogias – para explicar e exemplificar suas teorias. Contudo, não há (ou não fui capaz de identificar) qualquer fundamento científico ali; não há citações, referências a trabalhos de terceiros.

O autor se limita a citar personalidades históricas como Freud ou Jung, muitas vezes utilizando-as como exemplos de suas teorias.

Por outro lado, frases de efeito encontram lugar ao longo do livro, e ainda que se apresentem como construções literárias belas e momentaneamente inspiradoras, estas se revelam demasiadamente vazias ou subjetivas – outro exemplo típico de literatura de autoajuda. Fosse este um livro de ciência aplicada como defende o autor, eu esperaria, no mínimo, técnicas ou exercícios mais práticos, mais objetivos.

Pode-se argumentar que o livro assim se apresenta por ser a psicologia uma ciência humana, não exata. Desconheço qualquer fundamento de psicologia, nada sei sobre suas metodologias ou aplicações no cotidiano, porém, eu sei que, como ciência, esta também requer o mínimo de fundamento em pesquisas científicas – dar-se-á, assim, algum crédito ao assunto proposto. Em outras palavras, deveria haver algum esforço do autor para demonstrar algum rigor científico no texto, sem limitar-se somente a apresentar uma bibliografia após a conclusão.

O modo como o autor se repete em diversos momentos também prejudica a leitura, assim como sua constante autopromoção; Cury parece sugerir que a leitura de seus outros livros é imprescindível para que se compreenda melhor o tema deste – corrijam-me se eu estiver enganado, mas creio que nem todos abordam os mesmos assuntos.

De início, no primeiro capítulo, Cury defende que seus livros “são erroneamente classificados como autoajuda” e que há “gritantes diferenças entre um livro de autoajuda e um livro de ciência aplicada”. Infelizmente, neste caso, isto não corresponde à realidade.

Com um texto e exercícios excessivamente subjetivos, repleto de frases de efeito vazias, e sem fundamentação científica aparente, O Código da Inteligência é, sim, uma obra de autoajuda. Assim, eu concedo somente 1 pena-tinteiro (ou estrela) para O Código da Inteligência.

E esta é a humilde opinão de um escriba.

– NOTAS –

  • Augusto Cury é uma figura inusitada e polêmica. Ainda que seja um sucesso indiscutível de vendas, seus livros e teorias são criticados por profissionais e estudiosos de psicologia por apresentarem pouco ou nenhum rigor científico.
  • O autor também é famoso por sua imodéstia (certa vez afirmou que sua teoria revolucionará a humanidade, sendo tão complexa que poucas pessoas conseguem compreendê-la) e por suas declarações infundadas (ele já defendeu que a terapia multifocal é capaz de curar o autismo).
  • Eu recomendo a leitura dos textos indicados a seguir; estes apresentam os pontos de vista de profissionais do ramo sobre a figura de Augusto Cury, bem como algumas polêmicas envolvendo o autor.

Para saber mais:

  1. Augusto Cury: site oficial do autor; saiba mais sobre o mesmo, seus livros, projetos, agenda e deixe um recado para o mesmo.
  2. @Augustocury: siga o autor no Twitter e acompanhe o que ele tem a dizer.
  3. Sucesso comercial: artigo publicado pela Folha de São Paulo em 2005 sobre o autor e seu trabalho.
  4. Mestre da imódestia: artigo polêmico publicado pela revista Veja em 2006 sobre o autor e seu trabalho; várias de suas pérolas são citadas.
  5. Guru renegado: artigo publicado pela revista Veja em 2009 sobre Cury ser o guru de Marina Silva, candidata à presidência na época.
  6. Literatura de autoajuda: texto excelente do psicólogo Adriano Facioli sobre autoajuda e Augusto Cury publicado no portal RedePsi.
  7. As razões da auto-ajuda: outro excelente texto sobre autoajuda publicado no editorial de educação do portal Terra.

Resenha: Infinito em Pó

PenaPenaPena

Saiba antes de ler: não sou crítico literário nem detentor da verdade absoluta. O texto abaixo relata as impressões que tive após a leitura deste livro e não traz quaisquer revelações quanto ao enredo.

Escrito pelo premiado autor mineiro Luís Giffoni, este Infinito em Pó é uma ficção científica cuja proposta difere bastante do que normalmente se encontra em narrativas do gênero. O livro trata da extensa viagem de uma espaçonave gigantesca, capaz de preservar várias gerações de seus tripulantes, rumo ao sistema Alpha Centauri, o mais próximo do nosso sistema solar.

A ideia de reunir a elite intelectual, científica e artística de diversas partes de uma Terra unificada (mas, verdadeiramente, à beira de um colapso) e despachá-la numa missão espacial milenar sem garantias de sucesso é interessante, ainda que pouco inovadora. Contudo, a história é muito bem conduzida pelo autor e o leitor mais afoito que tirar conclusões precipitadas das páginas iniciais certamente se surpreenderá no final.

Pontuada por referências e especulações científicas complexas, a narrativa é de caráter, essencialmente, psicológico; isto é, o autor concentra seus esforços nos personagens, em seus anseios e dramas pessoais, que acabam por moldar suas perspectivas sobre a viagem que empreendem e o meio em que vivem. Outros aspectos predominantes na narrativa incluem o elemento sexual (“Sexo é o combustível desta nave”) e as intrigas políticas.

luisGiffoniA história é desenvolvida através das reflexões e dos pontos de vista de quatro personagens: Shiva Ramanujan, o comandante da missão, e seu filho Nima Prajma; Daedalus O´Curry, o piloto alcoólatra (!); Mira Ceti, a cientista ninfomaníaca; e Aurélia, esposa do comandante, a quem menos páginas são dedicadas.

Há um quinto personagem que está quase sempre presente nas reflexões dos demais e cujas reflexões enriqueceriam ainda mais a história, tendo em vista que o mesmo é uma peça chave para sua conclusão.

Pode-se questionar a necessidade de tal fragmentação da narrativa, mas, particularmente, não consigo imaginar esta história sendo contada de outra maneira. A quase ausência de diálogos, porém, pode incomodar ocasionalmente. E ainda que seja interessante ver os acontecimentos pelos olhos de terceiros, considero ainda mais enriquecedor ver os diferentes pontos de vista colidindo na interação entre os personagens.

Em certos pontos a leitura se desenvolve na terceira pessoa, mas esta transição surge súbita e forçadamente para o leitor, já habituado até ali às impressões da primeira pessoa.

O desfecho, ainda que interessante, deixa a desejar por ocorrer num ritmo muito vertiginoso, diferentemente daquele experimentado ao longo da maior parte do livro. Apesar disto, Infinito em Pó é uma agradável e surpreendente ficção científica, proporcionando uma experiência de entretenimento enriquecedora. Excetuando-se a conclusão apressada e as súbitas mudanças da pessoa narrativa, o livro foi muito bem elaborado e concedo 3 penas-tinteiro (estrelas) para Infinito em Pó.

E esta é a humilde opinião de um escriba.

Nota: enquanto escrevia esta resenha ocorreu-me comparar Infinito em Pó ao popular anime japonês Evangellion, não por quaisquer semelhanças de enredo (longe disso), e sim porque este enfoca, essencialmente, as relações e dramas humanos, mas temperado com boas doses de ficção científica e ação. Fica a dica.

Para saber mais:

  1. Luís Giffoni no Facebook: perfil do autor na rede social; acessível somente aos amigos.
  2. Editora Pulsar: selo próprio do autor pelo qual publicou a maioria de seus livros; informações sobre Giffoni e suas obras, contato e pedidos.
  3. O maravilhoso maluco de BH: entrevista em texto e áudio concedida pelo autor à revista digital Dom Total em 2009.
  4. Romance: Infinito em Pó: artigo da Folha de São Paulo publicado à época de lançamento do livro; disponível apenas para assinantes UOL ou Folha.com.

Resenha: Anhangá – A Fúria do Demônio

PenaPena

Saiba antes de ler: não sou crítico literário nem detentor da verdade absoluta. O texto abaixo relata as impressões que tive após a leitura deste livro e não traz quaisquer revelações quanto ao enredo.

Eu nunca tinha ouvido falar de J. Modesto (ou Joaquim Modesto de Oliveira Junior) até deparar, acidentalmente, com uma ocorrência deste livro na rede social de leitores Skoob. A bela arte da capa e as informações presentes ali despertaram meu interesse: tratava-se de um romance ambientado 300 anos antes do descobrimento do Brasil, envolvendo mitos indígenas e seres sobrenaturais.

Embora não fosse uma ideia completamente inovadora – Roberto de Souza Causo fez algo semelhante no excelente A Sombra dos Homens -, eu resolvi pagar para ver (literalmente). Infelizmente, o autor não correspondeu à expectativa, desperdiçando uma ideia que, tivesse sido trabalhada com mais cuidado, poderia ter produzido uma história infinitamente mais cativante.

O primeiro grande problema do livro se destaca logo no início: a escrita está repleta de erros crassos de concordância e ortografia. Nota-se, claramente, a falta de cuidado na revisão e finalização do livro, e o desconforto inicial será uma companhia constante do leitor que for obstinado o bastante para superar as muitas outras falhas da narrativa e chegar ao final desta.

O livro narra a história de como um feiticeiro mouro, um pajé e guerreiros de tribos indígenas se unem para combater um poderoso demônio que veio dar no litoral brasileiro após um naufrágio. Embora o prólogo seja interessante – o leitor é apresentado à figura histórica de José de Anchieta na recém-fundada Vila de São Paulo de Piratininga –, os capítulos seguintes não são bem desenvolvidos e, frequentemente, tornam a leitura monótona.

A história não é empolgante e parece resumir-se a uma sucessão de cenas de ação. Não parece haver muita preocupação com o perfil psicológico dos personagens, o que torna difícil afeiçoar-se a estes ou mesmo preocupar-se com seus destinos – ora, um dos personagens principais sequer tem nome! A ambientação sofre deste mesmo problema, já que os cenários são descritos de modo muito superficial.

Justiça seja feita, o autor parece ter feito um trabalho de pesquisa razoável (sobre os costumes indígenas principalmente), porém, demonstra isso nos momentos mais inapropriados, muitas vezes impondo um ritmo mais lento à leitura – como exemplo, há a conversa entre dois personagens sobre hábitos alimentares indígenas enquanto uma batalha ferrenha e decisiva se desenrola a alguns metros dali.

Os diálogos são outro problema: alguns são chavões tão batidos que beiram o ridículo, outros são tremendamente infantis – especialmente, aqueles proferidos pelos dois principais seres sobrenaturais, dos quais eu esperava um pouco mais de maturidade devido à própria natureza destes.

A história ainda apresenta situações que soam forçadas ou falsas demais, em especial pelo excesso de explicações em momentos bem inoportunos. Eis um exemplo perfeito disto: enquanto uma terrível batalha se desenrola diante de seus olhos, um personagem explica para outro determinados fatos (completamente irrelevantes) que já eram de conhecimento do leitor.

Como se não bastasse, um terceiro personagem insiste (três vezes) para que a explicação seja mais rápida, pois o tempo está contra eles – ora, se é assim, deixasse as explicações para depois, afinal, elas não contribuíam em nada para a batalha que viria.

A propósito, este é o segundo maior problema do livro: o autor parece não confiar no leitor. Em diversos pontos, o texto se torna repetitivo ou explicativo demais, por exemplo: o autor coloca o tal demônio pensando que “poder manipular as águas tem muitas vantagens” para justificar o fato deste ser capaz de andar sobre as águas; ora, a esta altura o leitor já sabe que o demônio pode dobrar o elemento à vontade, logo, não seria surpresa alguma aquele andar sobre a água.

Não me agradou também o modo como o autor aborda um mesmo acontecimento dos diferentes pontos de vista dos personagens e isto pela seguinte razão: aqui, tal estratégia nada agrega para o desenvolvimento ou enriquecimento da narrativa (ou mesmo da personalidade dos personagens).

Em especial, quase todos os trechos referentes ao ponto de vista do tal demônio são enfadonhos, repetitivos e desnecessários: é um tal de “macacos falantes” para cá, “não encontro ninguém a minha altura” para lá, “este lugar é ideal para meu novo reino”. Tudo parece estar lá apenas para deixar o livro com mais páginas. E, ao contrário do que li em outra resenha do livro, a narrativa segundo os pontos de vista de diferentes personagens nada tem de inovador.

Terminei este livro com muito esforço e o que me levou a fazê-lo não foi a história nem os personagens, mas sim a obstinação de nunca largar um livro pelo metade. Devo confessar, porém, que este quase quebrou minha determinação em diversos momentos. O final não traz nenhuma satisfação e nem mesmo a revelação do Pajé agrega qualquer valor à narrativa, mostrando-se forçada e sem propósito.

Eu não recomendaria este livro nem para aqueles que têm tempo livre de sobra. Quer ler uma boa história ambientada no Brasil, repleta de folclore, fantasia e personagens com alma? Leiam A Sombra dos Homens de Roberto de Souza Causo. Eu concedo apenas 2 penas-tinteiro (ou estrelas) para Anhangá – A Fúria do Demônio.

E esta é a humilde opinião de um escriba.

Nota: J. Modesto é também autor de Trevas, seu primeiro romance, publicado também pela Giz Editorial. Talvez este livro seja melhor acabado, mas depois de Anhangá eu não me arriscaria.

Para saber mais:

  1. J. Modesto Oficial WebSite: blog do autor com informações pessoais e de suas obras (inclusive onde comprá-las). Desatualizado desde Maio de 2010.
  2. Entrevista com Joaquim Modesto: uma entrevista com o autor feita em 2008 por Ademir Pascale, editor do Portal Cranik.
  3. Joaquim Modesto no Skoob: perfil do autor na rede social de leitores.
  4. Mito do Anhangá: interessante texto extraído da obra Geografia dos Mitos Brasileiros sobre o ser do mito índigena.

Resenha: Swords of Eveningstar

PenaPenaPena

 

Saiba antes de ler: não sou crítico literário nem detentor da verdade absoluta. O texto abaixo relata as impressões que tive após a leitura deste livro e não traz quaisquer revelações quanto ao enredo.

Eu não recomendaria este livro para qualquer um e isto por 3 razões. Primeiro, o enredo se desenvolve num mundo criado para jogos de RPG; como tal, o autor Ed Greenwood (que também é o criador do cenário de campanha Forgotten Realms ou Reinos Esquecidos) assume que o leitor esteja familiarizado com muitos aspectos deste mundo e com muitas de suas personalidades.

Segundo, a estrutura da narrativa é fragmentada e, por vezes, confusa demais – num mesmo capítulo acompanhamos as peripécias dos protagonistas numa masmorra, uma conversa entre magos espiões, as maquinações de um boticário, a vigilância de um ser misterioso, etc. É preciso ter paciência e muitas vezes reler alguns capítulos para não perder o fio da meada.

Terceiro, o leitor é massacrado por uma miríade de personagens de nomes esdrúxulos e cenas paralelas que nada acrescentam à trama principal; este excesso acaba por tornar a leitura chata em diversos pontos. Além disso, muitas personalidades dos Reinos Esquecidos parecem estar lá apenas como figurantes de luxo.

O livro se propõe a narrar as primeiras aventuras dos Cavaleiros de Myth Drannor, um grupo de heróis de renome do cenário. Aqueles que jogaram alguma partida de RPG em Forgotten Realms já devem ter trombado com estas figuras e se interessado por suas origens. Tal história, porém, não é das melhores.

Os protagonistas, os tais Espadas de Estrela Vespertina (Swords of Eveningstar), parecem perambular por aí aguardando que os acontecimentos os encontrem. Eles não passam de joguetes nas mãos da nobreza e dos vilões, o que poderia até ser interessante, desde que houvesse uma boa razão para tamanho interesse neles, o que não notei em momento algum. Ora, as motivações dos próprios vilões nunca ficam realmente claras.

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O autor é uma figura curiosa.

A primeira parte do livro é excessivamente focada nos personagens Florin e Narantha, que passam páginas e páginas vagando por uma floresta – até a cento e pouco, se não me engano; isso num livro de 400 páginas!

Quando surgem os outros protagonistas, o livro se torna mais interessante: Seemor Wolftooth tem as melhores tiradas, ao passo que Doust Soulwood está totalmente apagado; a ladra Penae tem uma participação maior até o final, enquanto Florin, pretenso líder do grupo, praticamente desaparece – o que achei interessante, visto que Penae parece ter bem mais experiência que o rapaz. Jessail Silvertree é razoavelmente interessante, mas Islif Lurelake e os outros apenas estão lá.

Os vilões são indivíduos tão misteriosos que nunca fica claro o que eles realmente querem, exceto, talvez, por Horaundoon, um dos primeiros a dar a cara e o que mais me despertou a atenção – infelizmente, ele também praticamente desaparece do meio para o final. Feiticeiros e os Zhentarim, um bando criminoso infiltrado por toda parte, dominam a cena, mas também não despertam qualquer interesse – ou revelam sua intenções.

Só comecei a me interessar mesmo pela história lá pela página 300 e tanto. Contudo, quando eu esperava que a trama engrenasse, ele acabou abruptamente. A conclusão me pareceu forçada; no fim os protagonistas fizeram um bom trabalho, é verdade, mais achei sua recompensa exagerada. Também pouco me importei com o trágico destino de um personagem – que, acredito, poderia ter sido facilmente remediado com uso da magia.

E por falar em magia, aqui ela é escancarada. Todo jogador de RPG sabe que Forgotten Realms é um mundo de alta magia, isto é, ela faz parte do cotidiano das pessoas. Contudo, eu nunca havia compreendido tal afirmação até ler este livro – todo mundo parece ter no mínimo um item de grande poder, especialmente os nobres. Curiosamente, os heróis não possuem um item sequer, o que é interessante – começo mais humilde é impossível.

Aqueles que estão familiarizados com jogos de RPG verão no livro um relato de campanha e nada mais; ele não se sustenta como um bom romance, a exemplo de títulos como O Inimigo do Mundo (baseado no cenário de RPG Tormenta), de Leonel Caldela. Partindo desta visão e considerando minha estima pelo cenário, além do fato de que os protagonistas foram bem caracterizados, eu concedo 3 penas-tinteiro (ou estrelas) para Swords of Eveningstar.

E esta é a humilde opinião de um escriba.

Nota: eu já tenho os outros dois títulos da série, mas não me sinto tão empolgado para lê-los após minha experiência com o primeiro livro.

Para saber mais:

  1. The Twelve Days of Ed Greenwood: uma interessante entrevista com o autor conduzida pelo editor, amigo e também escritor J. Robert King (em inglês).
  2. ISFDB – Bibliografia de Ed Greenwood: listagem de livros e histórias publicadas pelo autor (em inglês).
  3. Ed Greenwood on Facebook: curiososo sobre o que o autor anda aprontando? Acesse o perfil dele (em inglês)!
  4. d3Store – Compre a trilogia Knights of Myth Drannor: este ótimo e confiável site de compras tem a trilogia completa por um precinho bem camarada.
  5. Os Cavaleiros de Myth Drannor – UDG: saiba mais sobre este grupo de aventureiros neste site nacional especializado em RPG e no cenário de Forgotten Realms (contém spoilers).

Metodologia 5+10

O Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa define metodologia como sendo “o conjunto de métodos, regras e postulados utilizados em determinada disciplina e sua aplicação”.

“Regras” soou restritivo demais para mim, por isso, durante a elaboração da minha metodologia, cuidei para que houvesse somente 5 regras verdadeiras e 10 orientações flexíveis.

Embora a metodologia esteja adequada ao meu perfil, eu espero, sinceramente, que outros escritores iniciantes possam tirar algo de proveitoso dela.

Inspirado pelas dicas de autores famosos publicadas pelo jornal on-line Guardian, eu comecei a planejar uma metodologia de escrita que se adaptasse ao meu atual estilo de vida. Depois de ler e reler o artigo duplo do jornal, eu tinha em mãos 86 dicas (não regras, note-se) com as quais havia me identificado – algumas interessantes, outras inusitadas (veja o quadro no final do post).

Uma lista com 86 itens pode ser um pouco assustadora (ou mesmo desmotivadora), por isso decidir reduzi-la a dez tópicos que cobrissem o fundamental para o escritor iniciante. Logo percebi que estes itens poderiam definir bem minha metodologia, mas não ter qualquer valia para outros aprendizes. Assim, eu adicionei cinco regras de ouro que considero ser o fundamental do fundamental para qualquer pretenso escritor.

Apresento-lhes a Metodologia 5+10.

5 Regras de Ouro

Quanto mais cedo você começar a ler, melhor.

  1. Quer escrever? Então leia: todo escritor é, antes de tudo, um leitor. Ler te ajuda a ampliar ovocabulário, abrir a mente para outrosestilos e formas de narrativa, e a se divertir com outras histórias e mundos. Mas seja criterioso com o que lê, pois, segundo P.D. James (Children of Men), “a má escrita é contagiosa”.
  2. Quer escrever? Então escreva: não fique só na vontade. Escreva sobre o mundo ao seu redor, sobre os seus desejos, opiniões, fantasias, enfim, sobre o que quiser ou sentir necessidade de escrever! “Continue despejando palavras na página”, aconselhou Anne Enright (O Encontro).
  3. Escrever é reescrever: não tenha dó de cortar as palavras que pouco acrescentarem, os trechos com má sonoridade (ver regra 4), enfim, tudo o que lhe parecer ruim. É recomendado deixar o texto descansar por um tempo antes de reescrevê-lo.
  4. Ouça seu texto: ler o que você escreveu em voz alta ajuda a perceber os problemas no ritmo da narrativa.
  5. Tenha disciplina: não fique à mercê da inspiração e sempre termine o que começar, mesmo que o resultado final não seja bom. Defina uma metodologia e a siga. Pretende escrever diariamente? Estabeleça uma meta: escreva uma página ou 500 palavras por dia, por exemplo. Jeanette Winterson (A Guardiã do Farol) afirma que a “disciplina permite a liberdade criativa”.

10 Orientações

  1. Escolha seu espaço e tempo:estabeleça um local e um horário ideais para escrever e não deixe ninguém mais interferir. Tranque a porta, desligue o celular, feche as janelas ecortinas se for preciso (não se esqueça de ligar o ventilador ou ar-condicionado). E desligue a Internet: a grande rede é a pior inimiga da concentração necessária a um escritor.

    Onde George Lucas escreveu a nova trilogia de Star Wars.

  2. Faça uma tempestade de idéias: tente ter uma visão geral, um esboço da história que pretende contar. Leonel Caldela (Trilogia Tormenta) afirmou, recentemente, num podcast que costuma ter toda a trama delineada na cabeça ou em anotações; tendo isso como base, ele esmiúça os acontecimentos em tópicos e detalha a história durante a escrita.

    Sugerida por Michael Moorcok (Elric of Melniboné Saga), a divisão em três partes – a introdução dos personagens e da trama, desenvolvimento dos mesmos, e conclusão, onde os pontos são amarrados e os mistérios resolvidos – talvez seja um facilitador para este processo.

  3. Tenha um caderninho sempre à mão: ou guardanapo, smartphone, netbook, celular, enfim, qualquer coisa que lhe permita fazer anotações rápidas. Nunca se sabe quando uma boa idéia irá surgir e é sempre bom “manter o poço de idéias cheio”, disse Michael Morpurgo (Eu Acredito em Unicórnio).
  4. Pesquisar é preciso: a menos que você domine completamente o assunto sobre o qual escreverá, reserve alguns dias para pesquisar sobre o mesmo. Tome cuidado com suas fontes, especialmente quando utilizar a Internet e nunca, jamais, pesquise enquanto estiver escrevendo.
  5. Encare o bloqueio: sentir-se travado na hora de escrever é comum, mas nem pense em dar uma volta; sente-se, respire fundo e reveja o que escreveu, refazendo todos os passos a fim de descobrir o que deu errado. Se você ainda não escreveu nada, vá escrever outra coisa. Lembre-se sempre das regras de ouro 2 e 3: despeje palavras na página, depois reescreva tudo. Lembre também da regra de ouro 5: disciplina sempre.
  6. Não sobrecarregue a escrita: evite parágrafos longos demais, frases redundantes, adjetivos e advérbios desnecessários. Evite palavras difíceis quando as simples bastam.
  7. Cuidado com as descrições: elas são difíceis e refletem uma opinião sobre as coisas. A descrição do ponto de vista implícito do personagem é sempre mais rica que a do “olho de deus”, como alega Hilary Mantel (Além da Escuridão). Não exagere nas descrições: deixe espaço para o leitor imaginar os personagens, lugares, clima. Muita descrição quebra o ritmo da leitura.
  8. Não olhe para trás: retome a escrita sempre do ponto onde parou e siga em frente. Quando tiver terminado, afaste-se do texto por algum tempo e, somente então, volte ao início e avalie a necessidade de reescrever.
  9. Faça um Test-Read: quando acreditar que seu texto está pronto, peça a duas ou três pessoas para lê-lo. Não escolha parentes nem amigos, a menos que estes tenham senso crítico. Outra alternativa é criar um blog na Internet e disponibilizar seus textos, mas saiba discernir as críticas pertinentes – Neil Gaiman (Sandman) diz que quando as pessoas dizem que “algo está errado ou não funciona para elas, estas estão quase sempre certas.

    Quando te dizem exatamente o que acham que está errado e como consertar, elas estão quase sempre erradas”. Algo importante: antes de disponibilizar trabalhos originais para avaliação alheia, é bom sempre ter o cuidado de protegê-los, registrando-os.

  10. Confie no leitor: não caia na armadilha de tentar esmiuçar tudo. Como Stephen King (Duma Key, série A Torre Negra) recomenda, não enrole o leitor e “vá direto ao ponto ou tente chegar logo ao ponto”. Não gaste tempo demais explicando o pano de fundo da história ou do mundo.

    Sobre isso, Hilary Mantel aconselha a concentrar-se no ponto de mudança da narrativa, já que “as pessoas não reparam no ambiente em que vivem e na sua rotina diária” – quando os personagens vão para outros lugares ou as coisas mudam ao seu redor é que o escritor deve preencher os detalhes do mundo ao redor deles.

Antes de encerrar é importante dizer o seguinte: a metodologia não deve ser algo rígido, ela deve se adequar ao seu perfil. Caso algo não funcione para você, simplesmente mude por algo que funcione!

Menções Honrosas

Algumas dicas publicadas no Guardian são bem inusitadas. Ei-las:

  • “Não beba e escreva ao mesmo tempo.” (Richard Ford)
  • “Nada de álcool, sexo ou drogas enquanto estiver trabalhando.” (Colm Tóibín)
  • “Seja seu próprio editor/crítico. Simpático, mas impiedoso!” (Joyce Carol Oates)
  • “Se tudo mais falhar, há (…) São Francisco de Sales, o santo patrono dos escritores (…)” (Sarah Waters)

Para saber mais:

  1. Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
  2. Laboratório do Dr. Careca: ouça o podcast com dicas para escritores com J.M. Trevisan e Leonel Caldela.
  3. Guardian.co.uk: veja a primeira parte do artigo contendo dicas de autores conceituados (em inglês).
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