Por muito tempo, minhas experiências de escrita mais significativas foram as redações: nas escolares e preparatórias, destacavam-se com frequência; nos concursos, garantiam uns bons pontos.
Eu acreditava, porém, que para ser escritor não bastava familiaridade com palavras, ainda mais sendo formado em ciências exatas.
Pairava sobre mim então aquela que é a dúvida mais natural de todos os que engatinham por essa profissão. Felizmente, essa nuvem sombria e pesada se dissipou. Hoje posso afirmar, sem receio, que cursar Letras ou, digamos, Comunicação Social, não necessariamente fará de você um escritor (de ficção) profissional.
Escritores autodidatas
Não desprezo a necessidade de estudo, note-se. Sim, é importante ler livros sobre escrita, produção literária, memórias de escritores renomados – pode-se aprender bastante com estas também, mesmo que nem sempre tragam informações técnicas objetivas. Em outras palavras, um aprendiz pode se fazer escritor por conta própria.
A história está repleta de grandes autores formados em cursos sem qualquer relação com a escrita (Franz Kafka e Henry Fielding, eram advogados; Guimarães Rosa e Moacyr Scliar eram médicos) ou que sequer cursaram uma faculdade (William Faulkner, H. G. Wells, Machado de Assis, Paulo Coelho).
Cursos universitários podem não ser o ideal para quem quer ser escritor e basta uma espiada nas disciplinas ofertadas para comprovar: normalmente, o foco é a formação de professores, críticos, jornalistas.
Uma faculdade de Escrita já é outra história, mas estas são raras no Brasil – de cabeça, lembro-me da pós-graduação da Escola Superior de Direito Constitucional (ESDC), mas este parece não ter novas turmas desde 2012.
Confira no breve vídeo abaixo o que o mestre Stephen King tem a dizer sobre o assunto:
Cara a tapa
Obviamente, é indispensável pôr o conhecimento à prova, submetê-lo ao crivo de escritores (e leitores, por que não?) profissionais. Daí se tira o valor das oficinas literárias, cada vez mais comuns no país: além de apresentarem certas “regras” de boa escrita, elas permitem troca de experiências, discussões sobre criatividade, avaliações criticas.
Imagino que todo escritor é meio autodidata em algum momento da vida. Para os que estão começando, como eu, sugiro este caminho perfeitamente possível: estude por conta própria, mas seja avaliado por profissionais. Faculdades não são imprescindíveis. Acho que é por aí.
E você? Acha que é preciso cursar faculdade para ser escritor?
“Quem aí quer ser escritor?”
Para saber mais:
Quero ser escritor! – Algumas palavras sobre o sonho de viver de literatura no Brasil.
Como ser escritor? – Qual é o caminho certo que conduz ao sonho de ser um autor reconhecido?
Série 7 coisas que aprendi: página principal do projeto que convida escritores em diversas fases da carreira a compartilharem suas experiências.
No ano passado, o escritor belo-horizontino e mediador de literatura Sérgio Fantini concedeu a este seu discípulo uma entrevista para a coluna Café Literário, do blog Café com Notícias. Nesta terceira e última parte, eis mais considerações inéditas e valiosas sobre a vida de escritor profissional.
Em tempo: no próximo dia 17, segunda-feira, Sérgio Fantini iniciará, em Belo Horizonte, mais uma edição da oficina de contos “Para gostar de escrever” no espaço Letras e Ponto. Recomendadíssimo
11. Como foi sua experiência com outras editoras no início da carreira?
No início fiz muita publicação independente, sempre com luta e na camaradagem. Eu faço um furdunço para cada livro: é um amigo que faz a capa, outro que tira foto, um terceiro que cuida do projeto gráfico, e assim vamos fazendo, resolvendo caso a caso como pagar. É comum a troca também: “eu faço a diagramação para você e você faz a leitura crítica do meu livro de contos”. Sempre foi assim. Depois vieram duas edições lançadas em parceria com editora, que foram os livros Materiaes (Dubolso, 2000) e Coleta Seletiva (Ciência do Acidente, 2002). Mas a maioria foi toda por minha conta.
12. Como se deu seu contato com a editora Jovens Escribas, que publicou seu último livro?
Conheci meu editor, o Carlos Fialho quando este esteve em Belo Horizonte em certa ocasião, e desde então nos tornamos amigos. Tempos depois ele leu A ponto de explodir, que lancei em 2008, e gostou tanto que se ofereceu para publicar uma segunda edição, em 2010. Na época eu disse que estava com outro projeto, que era o Silas, e o Fialho topou lançá-lo pela Jovens Escribas.
Recentemente, ele propôs republicar A ponto de explodir e lhe falei do Novella, mas desta vez ficou decidido que os dois livros seriam publicados. A paixão do Fialho pelo A ponto de explodir é algo tão estranho que acho até que o livro tá me traindo com ele.
13. Há editoras em Belo Horizonte que dão atenção especial a escritores iniciantes?
Não que eu saiba. Mas há algumas que estão entrando no mercado que talvez estejam mais abertas, como a Dom Quixote, a Scriptum. Há aquelas que lançam livros em parceria com o autor, como a Crisálida, a Asa de Papel. Tem outras: a Mazza Edições, a Alis, a Dimensão, a Autêntica, a Editora Lê, mas algumas se dedicam mais a livros infantis ou técnicos.
14. Faz mais de 4 anos que você oferece uma oficina de contos no espaço cultural Letras e Ponto. O que está experiência tem proporcionado? Qual é o perfil dos alunos que procuram a oficina?
É uma troca; na possibilidade de passar o que já sei também aprendo e muitas vezes eu assimilo coisas que não teriam me ocorrido sozinho nem com outros amigos escritores, cujas conversas trazem uma perspectiva distinta.
Na oficina ocorrem casos e diálogos únicos, novos, então eu aproveito para ir acumulando tudo. Por lá já passaram pessoas de várias idades, mas prevalecem os mais velhos, profissionais liberais, que dispõe de tempo para produzir toda a semana e dinheiro, claro, afinal, trata-se de um investimento que nem todo mundo pode ou está disposto a fazer. Também há quem ache que não precisa fazer.
15. Escrever para você é profissão ou lazer? É possível viver de literatura no Brasil?
É uma profissão de fé, algo que está dentro do meu âmbito profissional. Quem escreve literatura no Brasil não vive só de direito autoral: vive de feiras, de prefácios, de antologias, palestras, e outras coisas periféricas. Pessoas do meio já me afirmaram que são poucos, 6 ou 7, no máximo 10, os casos de escritores que vivem só de direito autoral. Todos os outros têm que saber dar suas reboladas.
16. O que você recomendaria a escritores iniciantes? Qual deve ser a principal preocupação deles?
Quem melhor para dar dicas de escrita do que um escritor profissional com mais de 30 anos de estrada? Confira o que mais o Mestre Fantini tem a ensinar nestes trechos inéditos da entrevista concedida à coluna Café Literário, do portal Café com Notícias.
Em tempo: no próximo dia 17, segunda-feira, Sérgio Fantini iniciará, em Belo Horizonte, mais uma edição da oficina de contos “Para gostar de escrever” no espaço Letras e Ponto. Recomendadíssimo
6. Você escreve, principalmente, contos. Já escreveu uma novela, como disse, mas nunca um romance. Por que essa predileção pelas narrativas curtas? Produzir um romance é difícil?
Não é questão de ser mais fácil ou mais difícil. Eu gosto do conto porque é um espaço curto, de experimentação, onde não é preciso contar, necessariamente, uma história. Eu gosto de contar e ouvir histórias também. Mas acho que eu não tenho ainda o fôlego para passar dias, semanas, meses elaborando; é preciso uma dedicação que não casa com minha característica psicológica. Até tentei, duas vezes, mas vi que não ia dar em lugar nenhum, que estava muito ruim, daí parei.
7. Talvez uma boa característica do conto seja essa de permitir escrever histórias distintas em, relativamente, pouco tempo. No caso do romance você fica muito tempo preso a uma mesma narrativa, tema, personagens, época. Não que isso seja algo ruim, mas, às vezes, o escritor que experimentar coisas novas com uma regularidade maior.
É preciso mais tempo para dedicar a um romance; deve-se cuidar da sequencia lógica e dos personagens para evitar incoerências. É bem isso mesmo, você tem que ficar muito tempo concentrado, dedicado a uma única história. Acho que ainda não chegou minha hora pra isso.
Planejar e escrever um romance é um verdadeiro desafio. Que tal começar com contos curtos?
8. Sabe-se que um bom escritor é, antes de tudo, um bom leitor. Há escritores que afirmam ler livros do gênero no qual estão trabalhando no momento para ver o que já foi feito e o que eles podem acrescentar. Você faz o mesmo ou lê coisas diferentes para desligar-se da produção e estabelecer um novo paralelo criativo?
Eu leio normalmente, não mudo nada. Até porque talvez o conto não demande tanto.
9. Após finalizada uma obra, qual é o seu processo de revisão? Você contrata um revisor ou leitor crítico?
Eu mesmo reviso, exaustivamente, até achar que posso mostrar pra alguém. Às vezes posso até ficar muito tempo, mas não é um tempo continuo: fiz hoje, não estou satisfeito; leio amanhã e decido mudar algo. Vou lendo e mudando, a cada leitura posso mexer, isso durante muito tempo. Tenho dois, três amigos que sempre fazem uma leitura crítica. Costumo brincar que eles devem ler com um machado na mão. Dependo do retorno, eu mexo mais ou menos no texto.
10. Até que ponto essas opiniões influenciam as mudanças no texto, ou o processo criativo?
Eu estou 100% aberto às críticas embasadas; não é só dizer “o final” tá ruim e ponto. Existe coisa melhor que um retorno crítico de um escritor tão ou mais experiente que você? É ótimo para o processo criativo no sentido de você não repetir erros que já foram apontados, a gente vai se aprimorando de acordo com as críticas e sugestões que recebe. Claro que pode acontecer de eu discordar de algo, talvez por querer que algo fique mesmo de certo jeito, meu jeito; eu tenho clareza quanto a essa opção.
Odeio quando alguém me pede pra ler e depois fica resistente. Como também ofereço serviços de leitura crítica, eu já aviso antes, coloco lá no contrato as condições, para deixar tudo claro.
Ano passado eu entrevistei um cara fantástico chamado Sérgio Fantini. Com mais de 30 anos dedicados à escrita, ele produziu e publicou inúmeros poemas e contos (e uma novela) em coletâneas e em nove livros próprios, a maioria de forma independente.
O bate-papo foi longo e rendeu muitos conselhos valiosos, mas muita coisa (mesmo) acabou ficando de fora da versão final da entrevista publicada na coluna Café Literário, do portal Café com Notícias. Decidi, então, publicar aqui (em três partes) as respostas inéditas do Sérgio, que, como mestre do ofício e mediador de literatura, tem muito a dizer aos aprendizes de escritor.
Quem é Sérgio Fantini?
Sérgio Fantini nasceu em Belo Horizonte, onde reside. Começou a vida literária aos 11 anos e cresceu enfurnado na “biblioteca” da família (um quartinho repleto de livros). A partir de 1976, publicou zines e livros de poemas, além de haver realizado shows, exposições, recitais e performances. Teve textos selecionados para diversas antologias no Brasil e exterior.
Mediador em uma oficina literária de contos, Sérgio não tem o hábito de escrever todos os dias nem por muitas horas e por isso produz muito devagar, mas carrega a escrita na mente e busca estar sempre imerso em literatura. Entre seus trabalhos mais recentes destacam-se Silas (Jovens Escribas, 2008) e Novella (Jovens Escribas, 2013), duas coletâneas de contos – a segunda edição de outra coletânea, A Ponto de Explodir (Jovens Escribas) está prevista para este ano.
Em tempo: no próximo dia 17, segunda-feira, Sérgio Fantini iniciará, em Belo Horizonte, mais uma edição da oficina de contos “Para gostar de escrever” no espaço Letras e Ponto. Recomendadíssimo
1. Você não costuma passar muitas horas escrevendo. Já vi escritores comentando que o ideal é parar enquanto ainda há vontade de continuar, para guardar energia e motivação para o dia seguinte.
Ernest Hemingway afirmava que parava enquanto ainda sabia o que escreveria no dia seguinte. Ele dizia até o número de lápis que gastava por dia; acho que seis ou sete. Mas cada um tem seu jeito. No meu caso, eu nunca tive necessidade de passar muito tempo produzindo, talvez por me dedicar a contos. Aliás, eu nunca começo a escrever se houver limite de tempo: se tenho de estar no centro às 9 horas, pegar o ônibus às 08:30 h, tomar banho às 7:30 h, não faz sentindo começar a escrever às 6 horas.
2. Eu sei que bem que o tempo é uma preocupação constante de escritores, ao menos no sentido de tentar encontrar nele um espaço para a escrita.
Quando eu estava escrevendo uma novela, essa do personagem Silas, eu morava com minha família. Dividia um quarto com meu irmão, e tinha uma máquina de escrever eletrônica comprada à meia. Na época alguém me cobrou a novela, eu falei que estava sem tempo para terminar e levei uma traulitada: “se você quisesse ter tempo, você arrumava tempo”. A pessoa tinha razão.
Daí que comecei a acordar de madrugada para escrever na máquina, que era bem silenciosa, ali no quarto mesmo, na cama, com uma luminária para não incomodar meu irmão. Desde então, quando eu quero ou preciso escrever o melhor que eu faço é acordar cedo. Daí rende, é superprodutivo, mais do que eu parar no meio da tarde para produzir. Não tem muito mistério.
3. Você começou escrevendo poesia, depois passou para a prosa, mas não houve uma mudança radical; nota-se que a maioria dos seus textos traz muitos elementos poéticos. Pode-se dizer que você incorporou a poesia à prosa?
Exatamente. Há esses elementos que, ao invés de serem transformados num poema, ou resultam num conto novo ou são incorporados a outro, ou ficam acumulados. O escritor é um acumulador, costumo dizer em minhas oficinas.
Eu vou acumulando coisas, visualmente, auditivamente, olfativamente, coisas inúteis, talvez. Pode ser que eu esqueça algo que ocorreu dois minutos atrás ou pode ser que eu me lembro disso daqui a 10 anos. O importante é você estar aberto para observar e tirar o melhor até de aborrecimentos.
4. E você tem o hábito de manter também anotações físicas, em cadernos? Refiro-me às ideias para trabalhos futuros que surgem inesperadamente, por exemplo.
Nunca se sabe quando uma boa ideia pode pipocar.
Anoto, às vezes, até mais de uma vez, porque a minha memória é um estrago. Agora, nem sempre eu uso o que anotei. Mas é bom anotar porque todo esse material guardado já é combustível para tocar novas coisas. Daí pode ser que daqui a 10 anos eu veja aquilo e pense, “ei que negócio é esse?”.
5. Concordo. Há quem diga que se uma ideia é boa ela acaba voltando no momento certo. Mas se eu for contar com minha memória…
Nossa, senhora, estou perdido, não vai acontecer nada.
Se estivessem vivos hoje, o que pensariam os grandes escritores do passado sobre os inúmeros estudos de seus trabalhos?
Guimarães Rosa questionaria as intrincadas interpretações acadêmicas ou se ocultaria por trás de um sorriso enigmático? Machado de Assis concordaria com essas visões alheias ou arquearia uma sobrancelha furtiva?
E quanto a Franz Kafka, James Joyce, Fiodor Dostoiévski e outros autores renomados? Iriam todos silenciar? Temeriam, talvez, revelar a verdade plausível (e inconveniente?) de que os aspectos tão idolatrados de suas obras surgiram de modo totalmente inconsciente? Que nem mesmo eles atentaram para aquilo até um leitor fortuito os indicar?
Ninguém pode saber ao certo, não é mesmo? Mas se tivesse que arriscar um palpite, eu diria que não, nenhum deles contradiria tais interpretações, por mais descabidas que fossem. Mas suas razões, provavelmente, seriam bem diferentes das minhas.
Em tempo: um artigo publicado no site Literatortura trata justamente das respostas de alguns escritores renomados sobre os aspectos simbólicos de suas obras. O link está mais abaixo.
“Tudo faz parte do plano”.
Deus me livre ser avaliado por alguém como ele!
Aconteceu há pouco tempo: ofereci para leitura um conto (inédito); aguardei pela avaliação. Eu estava preparado para quaisquer críticas ao texto, exceto para a visão que meu leitor crítico teve da história: esta não tinha nada a ver com o que eu pensara ao escrevê-la. Minha reação? Lábios cerrados num sorriso tortuoso, um menear de cabeça que dizia “sim, é exatamente isso”. Só que não era!
Na hora não fui capaz de admitir que aquela interpretação sequer passara pela minha mente, que não fora friamente calculada, que era um mero acidente de percurso. Confesso que ainda hoje eu não sei como me sentir – envergonhado? Decepcionado? Uma fraude? – quanto a isso, principalmente em vista da superioridade daquela análise ante a proposta que me levara a escrever o conto em primeiro lugar.
Eu sou uma fraude?!
Meu texto não comunicou ao leitor exatamente o que eu havia planejado, ele passou uma mensagem muito melhor que sequer havia me ocorrido. “Ora, mas isso é bom”, o leitor talvez pense. Será mesmo? Qual é o mérito desse resultado, já que não foi a minha intenção, mas a interpretação do leitor que me revelou uma reflexão superior? Percebe?
Pode isso significar que não me comuniquei bem com as palavras, que não me fiz entender? Talvez eu esteja exagerando, sendo dramático. Afinal, até que ponto isso deve ser considerado uma falha, já que a leitura provocou uma visão que satisfez o leitor? Não dizem que o ideal é deixar lacunas a ser preenchidas por cada leitor com suas próprias experiências e impressões?
“Como eu gostaria de ter pensando nisso antes!”
O que você acha sobre isso, colega leitor e escritor? Algo assim já aconteceu com você?
Um ano novo no Brasil só começa de fato após o carnaval. Janeiro chegou, foi-se e quase me deixei ludibriar por essa máxima terrível. O carnaval é apenas em Março! Já passou da hora de retomar as atividades aqui no Escriba Encapuzado.
Nesta primeira publicação de 2014, venho compartilhar com o leitor os altos e baixos do ano que ficou pra trás.
Um ano frenético
Em 2013, determinado a me profissionalizar, eu assumi seis resoluções audaciosas. Somente metade foi cumprida a contento. Ainda assim, o saldo foi mais positivo que o do ano anterior, principalmente pelas conquistas inesperadas – “quer fazer Deus rir? Conte a Ele seus planos”.
Antes vejamos o que foi ou não cumprido…
Estudar técnicas de estrutura literária
Participei de duas oficinas de escrita. Com o Mestre Sérgio Fantini aprendi muito sobre a produção de contos em cerca de três meses de encontros no espaço Letras e Pontos em Belo Horizonte. Inscrevi-me também na Oficina de Criação Literária, ministrada na íntegra on-line pelo professor Marcelo Spalding.
Cada oficina contribuiu de modo especial para meu desenvolvimento como escritor – Fantini é mais intuitivo, Spalding é mais técnico. Paralelamente, eu continuei seguindo as dicas de sites como Ficção em Tópicos e Writer’s Digest.
Fazer um curso sobre mercado editorial
Tencionava inscrever-me no curso da escritora Thalita Rebouças – com mais de uma década de experiência, quem melhor para tratar do assunto? –, mas as oficinas e os projetos paralelos monopolizaram meu tempo.
Resolução adiada, mas não esquecida – o curso da Thalita é imperdível, como se pode conferir pela grade de módulos (o link para acesso ao site do curso é informado no final deste artigo).
Acompanhar as narrativas digitais e o mercado de e-books
Li matérias sempre que topava com elas, mas eu não me aprofundei nos temas tanto quanto gostaria.
Participar de eventos literários
Mestre Fantini colocou-me a par de eventos culturais e literários locais. Estive presente em alguns lançamentos de escritores profissionais, de ouvidos e olhos sempre abertos para aprender um pouco com sua experiência. Também conheci novas livrarias-cafés. O auge, porém, foi minha participação no Fórum das Letras de Ouro Preto, onde pude conhecer e entrevistar Eduardo Spohr e outros colegas escritores.
Escrever um livro
Ah, como eu gostaria de dizer que finalmente conclui meu primeiro livro. A verdade é que mal o toquei ao longo do ano. Cheguei até mesmo a esboçar um projeto literário, mas o cronograma foi para o espaço – eu contava com uma breve folga para dedicação exclusiva que, infelizmente, não se concretizou.
Consegui trabalhar algumas poucas páginas e ideias conciliando a escrita com trabalho e outros projetos, mas não foi o bastante. Como um artista de circo que tenta quebrar o recorde de pratos equilibrados, deixei alguns caírem. Infelizmente, o livro foi um deles.
Buscar pareceres profissionais de textos autorais Com minha participação na oficina do Mestre Fantini eu obtive excelentes percepções sobre meu processo de escrita (não planejar tanto, deixar a coisa fluir, preocupar mais em escrever) e como trabalhar narrativas breves. Também treinei meu olhar crítico ao ler. Obtive bons retornos também do Spalding em sua oficina.
Fatores aleatórios
Muito aconteceu em 2013 que não foi inicialmente planejado. Abracei várias oportunidades que bateram à porta e, com certeza, isso resultou no descumprimento de algumas resoluções. Ainda assim, não me arrependo de nada, pois algumas de minhas decisões resultaram em algo positivo.
Foi no curso de Blogs e Redes Sociais da Uni-BH que conheci o jornalista e professor Wander Veroni, criador e editor do portal Café com Notícias, com quem firmei a parceria que rendeu 23 textos assinados por mim na coluna Café Literário. Infelizmente, este ano não darei mais as caras por lá por questões de agenda, mas esta foi uma experiência riquíssima.
Inscrevi-me em dois cursos online sobre narrativas de ficção que expandiram minha mente, mesmo eu não tendo interagido tanto com suas comunidades quanto gostaria. Dei início ainda a três projetos para o blog, dos quais dois estão em andamento – o terceiro, a mudança de visual, o leitor já pôde conferir.
“Senhoras e senhores, com vocês o incrível equilibrista da vida!”
Uma única resolução
Sim, o ano de 2013 foi positivo, mas ainda assim começo 2014 frustrado: continuo sendo um escritor que nunca concluiu um livro! E digo concluir no sentido próprio da palavra, isto é, tê-lo finalizado e pronto para encaminhar às editoras à espera de uma oportunidade de publicação – ou tentar a sorte em alguma plataforma de autopublicação digital.
Assim, ao contrário dos anos anteriores, faço aqui uma única resolução de ano novo: concluir meu primeiro livro custe o que custar. Nada mais me distrairá deste propósito. Não pretendo abandonar os leitores do blog, mas peço que não estranhem se ocorrer de eu me ausentar daqui algumas vezes. O foco agora é meu livro. E seja o que Deus quiser!
E vocês, amigos escritores, que metas traçaram para mais este novo ano?
“Lembre-se sempre: seu foco determina sua realidade. Ei, tô falando contigo, garoto!”
Para saber mais:
Resoluções de 2013: publicação onde assumi minhas 6 resoluções para o ano de 2013.
Letras e Ponto: site oficial do espaço onde o escritor mineiro Sérgio Fantini ministra sua oficina de contos.
Oficina de Escrita Criativa com Ênfase em Criação Literária: site oficial do curso online ministrado pelo escritor Marcelo Spalding.
Blogs e redes sociais: jornalismo online empreendedor: site oficial do curso de extensão do professor Wander Veroni.
Writer’s Digest: disponibiliza dicas, livros, arquivos digitais, propostas de escrita, e um vasto acervo de recursos para escritores (em inglês).
Mercado editorial para escritores iniciantes: os bastidores de tudo o que você precisa saber para publicar e divulgar o seu livro. Curso ministrado on-line pela escritora Thalita Rebouças.
Esta semana começa a 15ª edição do National Novel Writing Month (NaNoWriMo), o evento cultural que desafia escritores de todo o mundo a escrever um livro em 30 dias. Para ajudar os bravos que participarão desta insana maratona literária, preparei um guia com dicas práticas e motivacionais.
Estes tópicos são frutos de empirismo, intuição e das recomendações de participantes muito mais experientes. Espero que este último artigo da série seja tão útil para outros novatos quanto foi para mim em 2012. Agora, vamos à obra porque em novembro tempo é palavra.
Organize-se
Converse com familiares e amigos: seu estado emocional terá enorme influência na história que escreverá, por isso assegure-se de que novembro seja um mês de serenidade. Explique a todos a sua volta que pelos próximos dias seu foco será o NaNoWriMo e que por esta razão você estará mais antissocial. Prepare-se: todos te acharão esquisito, poucos entenderão.
Controle seu progresso: anote seus totais diários de palavras, seja num bloco de notas, no site do evento ou em uma planilha. Estes dois últimos têm a vantagem de criar gráficos de previsão mais agradáveis e precisos. Nos links mais abaixo disponibilizo uma planilha (NaNoReportCard) criada por um americano que permite acompanhar níveis de moral, número de sessões de escrita e muito mais.
Tenha um caderno sempre à mão: ou um smartphone, tablet, netbook. Sempre tenha algo em que possa anotar ideias inesperadas para uma nova cena, personagem, evento na história. Não apenas isto: aproveite para aumentar o número de palavras enquanto espera na fila do ônibus ou do médico. Tanto melhor se for um caderno eletrônico, pois não terá que redigitar depois.
Não importa se físico ou virtual, o importante é ter um caderno à mão.
Esteja on-line: complementando a dica anterior, utilize ferramentas que te permitam trabalhar pela Internet. Com o Dropbox ou Google Drive pode-se acessar e manipular arquivos de vários tipos; o Evernote é um excelente acervo para notas e imagens rápidas; o Google Docs possibilita a edição de textos e planilhas.
Evite Internet e TV: séries e filmes, redes sociais, blogs, desligue tudo quando sentar-se para escrever. O ideal é evitar as duas vilãs ao menos até que sua meta diária seja atingida. Se tiver disciplina para voltar ao trabalho depois, acesse-as nos intervalos das sessões de escrita. Se estiver trabalhando on-line com as ferramentas acima, será preciso atenção redobrada.
Escreva
Defina metas e sessões: 1.667 palavras por dia é um mínimo aceitável, mas parece muito quando se tenta escrevê-las de uma só vez. Divida esta ou qualquer outra meta – escolha a que lhe for mais adequada, mas seja realista – em dois ou mais períodos de horas ao longo do dia. Evite obrigar-se a escrever tanto em uma única sessão, pois a ansiedade pode te bloquear.
“Ah, por hoje chega.”
Deixe um pouco para depois: aproveite os momentos de inspiração para ultrapassar sua meta diária, mas não esgote sua mente. Pare de escrever enquanto ainda tiver vontade de continuar ou correrá o risco de não aguentar sequer encarar a página no dia seguinte. Lembre-se: são 30 dias de abandono literário. Sempre se poupe para o amanhã.
Esqueça a linearidade: quando sua história parecer empacada, experimente saltar para algum momento futuro. Faça uma anotação sobre o que considera importante na cena problemática e a esqueça por um tempo. Lembre-se de que você pode retornar a ela nos dias seguintes ou até mesmo depois de concluído o NaNoWriMo, quando começam as fases de revisão do livro.
Não se prenda a um personagem: se a história é narrada por vários protagonistas, a exemplo dos livros da série Crônicas de Gelo e Fogo, do tio George R. R. Martin, alterne entre eles ao escrever, seja por não saber como prosseguir ou por estar cansando-se de um deles. Como a dica anterior, porém, isso funciona bem melhor quando se tem a trama toda planejada.
Foque nos diálogos e deixe os detalhes da cena para depois.
Faça os personagens falarem: sentiu que a narrativa está maçante ou o excesso de descrições o está incomodando? Coloque travessões (ou aspas, o que preferir) e faça seus personagens conversarem. Se eles trocarão amenidades ou revelarão segredos da trama depende do ponto em que a história se encontra. Foque no diálogo, deixe as descrições para mais tarde.
Inspire-se
Abra seus olhos: jamais subestime o poder das imagens. deviantART e InspireFirst são dois exemplos de redes sociais repletas de artes inspiradoras para escritores. O Pinterest também é uma ótima ferramenta: cadastre-se, crie quadros para projetos de livros específicos e adicione imagens que remetam a cenários, a personagens e a outros detalhes da história que escreverá.
Encha seus ouvidos: não é qualquer um que consegue escrever escutando música, mas se você é um destes poucos privilegiados, a seleção correta pode ajudar a entrar no clima de uma cena de suspense, terror, ação, aventura. Vale tudo, desde trilhas de jogos, séries e filmes ao repertório de bandas (famosas ou obscuras) de gêneros diversos.
Inspire-se com o trabalho de outros escritores.
Leia o que puder: livros, revistas, quadrinhos podem ser ótimas fontes de inspiração. Por outro lado, corre-se o risco de que os elementos das histórias dos outros autores se tornem muito evidentes na sua. Além disso, caso suas metas estejam atrasadas, talvez o melhor seja dedicar mais de seu tempo livre à escrita.
Pergunte ao Google: novembro é mês de produzir, não pesquisar. Às vezes, porém, pode ser interessante recorrer ao Senhor dos Sortilégios Digitais para sanar dúvidas breves ou buscar inspirações – por exemplo, para nomes de personagens (o 20.000 Names e o Behind the Name são boas sugestões). Mas se a busca exceder 30 minutos, então desista e siga em frente.
Motive-se
Escreva um diário: útil para ajudar a manter o foco, identificar dificuldades e conhecer melhor os próprios hábitos como escritor. Registre seu progresso, seus problemas, seus pensamentos, suas sensações. Despeje o que vier à cabeça naturalmente, mas seja objetivo. Anote também suas metas para os próximos dias, se isso te servir como motivação.
Escrever um diário durante o NaNoWriMo é como uma boa terapia.
Mime-se: recompense-se sempre que conseguir atingir ou superar a meta diária. Compre um chocolate, assista ao novo episódio de sua série favorita, beba uma taça de vinho, acesse suas redes sociais, vá à praia. Não se puna quando ficar abaixo do esperado ou deixar de escrever (sua consciência culpada já será castigo suficiente), mas lembre-se do que tal deslize te custou.
Acompanhe os colegas: fique de olho no progresso de outros participantes do NaNoWriMo, principalmente dos que já foram vencedores de edições passadas. Notar que mesmo eles, com seus anos de experiências, ainda enfrentam (e superam) dificuldades para escrever seus livros afasta qualquer desculpa esfarrapada para desistir.
Mantenha a bunda na cadeira: antes de sentar-se para escrever, vá ao banheiro, encha uma garrafinha de água, alongue-se, coloque o aviso de não perturbe na porta, desligue a Internet e o celular. Quando iniciar a sessão de escrita, fique ali até que o tempo preestabelecido desta se esgote. Não pense em mais nada além do texto. Deixe todo o resto pra depois.
Prepare tudo o que for precisar e evite tirar a bunda da cadeira.
Fique acordado: o maior desafio de escrever à noite é suportar o sono. Chocolates, xícaras de café ou outras bebidas energéticas (naturais ou não) sempre ajudam. Um ar condicionado ou banho mais frio também mantêm o corpo alerta. Quando o sono atacar no meio da sessão, experimente alongar ou mexer o corpo, escovar os dentes, enxaguar o rosto.
Eis as principais lições tiradas de minha participação no ano passado. Estas dicas são para se aplicar durante o mês de novembro. Nos demais artigos já publicados da série eu falei sobre a preparação nos meses que antecedem (e sucedem) o evento e também detalhei melhor alguns tópicos listados neste artigo.
Espero que meus textos tenham sido de alguma valia para o leitor e que o tenha inspirado. A todos os bravos que aceitaram o desafio eu desejo um ótimo NaNoWriMo 2013. E, por favor, não deixem de compartilhar por aqui como foi.
NaNoReportCard2010: planilha de controle em duas versões do Microsoft Office Excel para uso no NaNoWriMo; infelizmente, perdi a referência da fonte (em inglês).
Escriba no Pinterest: exemplo de como imagens podem ajudar a desenvolver novas ideias para suas histórias.