Como prometido, eis treze microcontos que publiquei em meu perfil no Twitter no passado. O leitor notará que há histórias de todos os tipos: fantasia, terror, ficção científica, contemporâneas. Algumas nasceram de modo inusitado (durante uma ida ao banheiro, por exemplo). Espero que gostem.
1
Saudades mil de minha paixão juvenil. Anda, mulher, não demora, não vê que o nosso filho acordado agora chora?
2
– Usei esta corda para me enforcar – disse a figura arroxeada.
– Bom. Que tal pô-la ao redor do pescoço? Perfeito! Agora diga “xis”!
3
– Nossos pais nunca abençoariam nosso amor. Matá-los e casarmo-nos uniu os reinos sob NOSSO poder e… argh!
– MEU poder, meu rei!.
4
06/2012, 66º tentativa de viajar no tempo: fracasso; portal danificado. Sem efeitos cola-
06/2012, 66º tentativa de viajar no tem…
5
Invejava o amigo e o matou; invejou a comoção da mídia e tramou a própria morte. Dado por desaparecido; foi enterrado como indigente.
6
– Ninguém vive aqui; o mestre é um morto-vivo! Tuas almas concederão vida a ele!
E os olhos deles se fecharam para nunca mais abrir.
7
Adoecido, não foi banido por ser herói da tribo; sobrevivente, não foi devorado pelo inimigo; fugido, morreu diante da vila portuguesa.
8
No banheiro.
– Com mais força, anda! Rápido!
– Se a esposa vê isso…
– Esfrega mais!
A porta se abre.
– Café na blusa de novo?
9
Descontente, demitiu-se, farreou, conheceu e transou com uma bela mulher e sua irmã, saltou de paraquedas e… acordou caindo da cama.
10
– Tua espada este corpo matará, mas em ti eu perdurarei!
Da prisão mental, testemunhou o massacre da vila por suas próprias mãos.
11
O Novo Mundo era a salvação; o bandeirismo a chance de aventura. Encontrou só morte e destruição, e na prisão chafurdou na amargura.
12
A cidade é dos invasores. Os tiros ecoam lá de baixo, os refugiados chegam em levas; no Morro todos estamos salvos, ao menos por ora.
13
– Expulsei os inimigos, defendi o reino, tornei-me campeão de nosso Deus! Eu sou a lei!
Imagine contar uma história em um único parágrafo. Este é um desafio ao qual se lançam os escritores de microcontos, gênero pouco difundido fora do universo digital da Internet.
Topei com a primeira referência a esses há mais de um ano: em entrevista a um jornal, o escritor pernambucano Marcelino Freire almejava publicar mil contos no Twitter – cada um deles com não mais do que os 140 caracteres permitidos.
Um microconto é uma narrativa curta, mas sua essência não é a extensão, é a concisão: deve-se transmitir uma mensagem clara utilizando poucos recursos. A ideia é fascinante, mas não é novidade. O hondurenho Augusto Monterros (1921-2003) escreveu O Dinossauro com apenas sete palavras: “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”. O escritor americano Ernest Hemingway (1889-1961) elaborou uma história em seis palavras: “Vendo: sapatos de bebê, nunca usados” – curiosamente, ele dizia ser esta a sua melhor obra.
Em 2006, a revista Wired homenageou Hemingway com a publicação de várias historietas de seis palavras escritas por personalidades das artes como Alan Moore, Frank Miller, Kevin Smith, William Shatner, Stan Lee. Já no Brasil, Marcelino organizou, em 2004, uma coletânea intitulada Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século, com textos de Millôr Fernandes, Dalton Trevisan – dito precursor do formato no país –, e outros.
Embora desconheça publicações semelhantes, encontrei diversos sites e perfis no Twitter dedicados à escrita de microcontos, o que demonstra que este gênero tem atraído cada vez mais adeptos. Decidi participar da “brincadeira” e publiquei treze microcontos em meu perfil – aproveitando todos os 140 caracteres, obviamente.
Como isto faz tempo, eu os disponibilizarei no blog para a apreciação dos que não tiveram a chance de lê-los. Espero que gostem. A propósito: não tenho ideia se Marcelino alcançou sua meta, mas quem estiver disposto a garimpar suas historietas deve conferir o link de sua conta abaixo.
Microamostras
7 microcontos publicados pela Wired. Leia mais no site da revista.
“Tempo. Inesperadamente, inventei uma máquina do”.
Alan Moore
“Tipo sanguíneo do bebê? Humano, principalmente”.
Orson Scott Card
“Kirby nunca tinha comido dedões antes”.
Kevin Smith
“Bombas-H lançadas; todos nós morremos”.
Howard Waldrop
“Dorothy: – Dane-se, ficarei por aqui.”
Steven Meretzky
“Clones exigem direitos: segunda Proclamação Libertária”.
Paul Di Filippo
“Com mãos sangrentas, eu dou adeus”.
Frank Miller
Para saber mais:
Microcontos na era do Twitter: artigo publicado pela revista Carta Capital. Recomendadíssimo, principalmente por abordar as características do gênero.
Histórias muito curtas: artigo da revista Wired que reúne histórias de seis palavras escritas por diversas personalidades em homenagem a Ernest Hemingway (em inglês).
Adiante estava a deusa de meus delírios mais pervertidos. O corpo voluptuoso fulgurava como que envolto em chamas, o vestido a cair sobre sandálias que deixavam entrever pés delicados de unhas tingidas em sangue. Um rasgo generoso subia ao baixo ventre, revelando uma coxa farta e torneada, envolta numa segunda pele igualmente flamejante.
Adereços discretos de linhas intrincadas partiam da cintura e traçavam um caminho de curvas acentuadas que conduziam os homens à loucura. A perdição derradeira, porém, estava pouco acima, no decote farto. Além de onde se escondia, maliciosamente, o próprio mistério divino, revelava-se um único ombro desnudo. Preso por uma alça, o vestido era como uma zombaria: parecia querer romper-se e deslizar pela pele suave para desvelar a beleza absoluta.
Sob cílios longos e sombreados, olhos ávidos me desafiavam. Dentes alvos se faziam notar na boca entreaberta, os lábios como morangos maduros. Cabelos negros selvagens emolduravam a face sedutora. Com o intuito de tirar-me da inércia contemplativa, ela caminhou em minha direção, movendo os quadris numa dança suave e hipnótica.
Um aroma inebriante emanou de seu corpo e, súbito, vi-me perdido em pensamentos de pura luxúria. O perfume era um afrodisíaco: entorpecia os sentidos, afugentava a razão, lançava-me às raias da devassidão. De tão intoxicado, mal notei quando suas mãos tocaram as minhas, fazendo-as deslizar suavemente por seu corpo. O vestido era tão fino que me sentia a acariciar a própria pele nua.
Meus dedos viajavam por estradas curvilíneas. Seus lábios quentes iam por caminhos próprios e deliciosos em volta de meu pescoço. Fechando os olhos, entreguei-me ao pecado, à tentação em forma de mulher, saboreando cada sensação provocada pela colisão dos corpos ardentes. Mesmo nos momentos em que me percebia imerso numa escuridão extasiante, eu a podia ver, reluzindo à meia luz das velas, incandescente com as próprias chamas que nos cercavam.
Não sei bem como aconteceu, não me lembro. O mundo ao meu redor era lúgubre, cinzento, sinônimo de sofrimento e horror. Um tapete macabro de manchas e destroços estendia-se pela estrada úmida, conduzindo à forma arruinada do caminhão tombado.
O choque e a indignação se revelavam claramente nas faces de todos: moradores da região, motoristas que aguardavam a liberação do trânsito, membros das equipes de resgate. Somente eu tinha a expressão serena.
Próximo aos veículos de emergência, uma figura fitava o vazio com ar apalermado; notei um filete rubro a escorrer do alto de sua cabeça. Alheio à fúria que lhe era dirigida, ele parecia assimilar as consequências de sua imprudência. Testemunha solitária da tragédia, talvez até revivesse em algum lugar da consciência os momentos que a antecederam. Mas isso pouco me importava. A razão de eu ainda estar ali jazia metros abaixo da encosta à beira da rodovia.
O ônibus era uma sucata, um monte de ferro retorcido disforme. Por toda parte no terreno barroso se faziam notar mochilas, cadernos, uniformes. Aquela fora outra de tantas excursões de campo que eu havia promovido. Tinha sido educativa e, principalmente, divertida, como os passeios ecológicos devem ser. Quem imaginaria término tão brutal, a perda de tantas vidas?
A lembrança veio novamente, ligeira, retratando nitidamente a imagem do momento antes do turbilhão e da escuridão absoluta: despreocupadamente, todos dormiam um sono do qual, mal sabiam, jamais iriam despertar. Que infortúnio condenava-me a reviver instante tão triste e negava-me conhecer o milagre pelo qual minha vida fora poupada? Se aquilo era tudo o que a memória tinha a revelar, então o passado não tinha maior valor que o presente.
As horas se alongavam e eu observava o trabalho de resgate, sereno, esperançoso. Parte dos observadores se dispersou, equipes de televisão e rádio chegaram e partiram; o caminhoneiro atormentado foi levado pelas autoridades para a própria proteção. Contudo, eu permaneci, acompanhando a retirada de cada corpinho destruído; e quando o último foi resgatado, eu me aproximei, agarrando-me a um resquício de esperança.
Havia algo incomum – e, no entanto, familiar – naquele corpo. Somente ao reconhecer nele minha própria feição arruinada e inerte é que pude, enfim, compreender.
Nenhum milagre ocorreu naquele dia.
Este conto é o resultado de um tema de redação proposta na sala de aula de um curso preparatório. O texto deveria tratar de alguma emoção intensa e envolver, no mínimo, dois personagens; estas eram as únicas orientações. Obviamente, não pude evitar acrescentar uma pitada de ingrediente fantástico.
Caminhava pela estrada da solidão. Seguia sem destino, pé ante pé, cabisbaixo, enclausurado num aperto acolhedor de braços envolventes. Não notaria coisa alguma, ainda que houvesse o que notar. Por toda parte, silêncio e sombras, como numa noite sem luar, sem estrelas. Por um tempo indefinido, imperceptível, era ele em seu caminho.
Uma faísca de consciência deteve seus passos. Percebeu as trevas e um turbilhão arrasou-lhe o peito. Dúvidas brotaram em sua mente. Falou, gritou, mas não havia som. Em volta, nada que oferecesse respostas. Foi ao chão, trêmulo, recolhido na frágil proteção de um abraço. Era um homem em meio à imensidão do vazio.
A esperança dourada cortou a escuridão. Tocando-o e deslizando por todo o corpo, o fulgor o acalentou. Sentiu-se flutuar e, sem questionar, entregou-se à luz. Carregado por esta, deleitou-se na agonia do negrume, que se recolhia, afugentado pelo esplendor que lhe tomava o lugar. No inesperado raiar do dia, o beco lhe foi revelado.
Ele distinguiu os detalhes do quadro pintado diante de seus olhos por mãos etéreas. O tapete de pedras era uma fronteira sinuosa entre o antigo e o novo, o morto e o vivo. As construções que o ladeavam reforçavam o contraste entre ruína e prosperidade. O decrépito acinzentado à esquerda e a opulência verdejante à direita pouco lhe importavam.
À altura de uma varanda na qual não se atreveria a pôr os pés estava o foco de sua atenção: uma lâmpada. Dali teria irradiado a luz que atraíra? Como poderia ser, já que estava apagada? Reparou no céu do que deveria ser uma manhã ensolarada, e estranhou sua palidez. O sol não estava em parte alguma, tampouco havia nuvens.
A serenidade perene o incomodou. Olhou ao redor em busca de algo mais, porém, o beco era tudo o que havia. E qualquer direção para a qual se voltasse reservava a mesma paisagem: um mundo autocontido do qual não era capaz de escapar. Trocara uma prisão por outra. Recusou-se a aceitar; queria crer que havia um propósito pra sua presença ali.
Na quina da construção mais afastada, uma estrela resplandeceu, revelando contornos gentis e femininos. A beleza daquela mulher estava além do que meras palavras poderiam descrever. Não estava nua, tampouco vestida. A luz a envolvia e constituía; estava presente na alvura da pele e nos cabelos argênteos. O rosto era um véu branco; apenas se viam os olhos cristalinos.
Contemplou aquela dama saída de contos de fada por uma eternidade. Encarando-a não com lascívia masculina, mas com fascínio infantil, ele compreendeu que sua incandescência a tudo iluminava. Ela o confortara e salvara do escuro. Inconscientemente, deu alguns passos em sua direção, como que seduzido por seu fascínio.
A dama deu-lhe às costas, o rosto misterioso encoberto. Silenciosa como a morte, ela flutuou ao fim do beco e trespassou um portão de ferro negro. O homem deteve o passo, levou a mão ao peito e sentiu o frio familiar subir-lhe pela espinha. Quando a realidade desmoronou ao seu redor, desesperou-se, pois soube que o vazio retornava.
Disparou pelo beco, evitando os escombros e as sombras demolidoras que se lançavam sobre seu corpo. O céu outrora pálido se estilhaçava e por entre suas frestas entrevia-se a escuridão ávida. Clamou pela luz que se afastava, rogando para que o salvasse novamente. Parada numa escada, a dama o observou para depois desaparecer por uma porta.
O mundo estremeceu. Reunindo a força de que dispunha, o homem venceu, num único salto, o portão negro e as escadas. A luz moribunda o tragou antes que a porta pela qual passara a dama se fechasse por completo. Teve a clara impressão de ouvir o urro de fúria e frustração da escuridão que engolfava o beco.
Por toda parte, silêncio e luz.
Tudo era radiante. Não estava só. Adiante, de pé em meio à plenitude branca e azul, estava a dama do beco. Aproximou-se com passos calculados, temendo outra fuga. Mas não havia para onde ir naquela imensidão. Irônico como o vazio também dominava ali. Mas era diferente, pois se sentia sereno e em paz.
A dama estava de costas, mas respondeu ao toque de sua mão – sua pele era como seda. De perto, sua figura era ainda mais exuberante, mesmo com aquele véu. Ela retribuiu-lhe o toque, acariciando-lhe a face esquerda com carinho. Estranhou o toque frio. Onde estava o calor que lhe salvara das trevas? Afastou um passo quando ela levou as mãos ao próprio rosto, pronta a revelar-lhe seu mistério. Mas outro brilho intenso o cegou.
A luz feriu-lhe os olhos. Coçando-os, ainda pôde ouvir o som de cortinas sendo afastadas. Na janela brilhava o sol de uma nova manhã. Não estava só. Aos poucos pôde distinguir a imagem de uma mulher de cabelos escuros presos por uma touca gasta. Reconhecendo a mãe, afundou a cara nos travesseiros.
Tivera outro sonho, mais um entre tantos. Não entendia porque sonhava com aquelas coisas tão estranhas. E como poderia? Tinha somente cinco anos e mal compreendia o significado do mundo ao seu redor. Ele até falara com os pais na esperança de que lhe explicassem, mas eles nunca o faziam; e pior, ainda o censuravam.
Culpavam os desenhos violentos e irreais na televisão, e também as revistas e livros de temas “estranhos” que tanto adorava. Diziam para não dar atenção às histórias bobas de amiguinhos. Eles faziam de tudo para tranquilizá-lo, sem sucesso, pois ignoravam que os sonhos tinham se intensificado desde o seu aniversário e da posterior morte do avô.
Confiando na família, ele seguia sua vida, apesar de incomodado com as sensações tão reais que experimentava durante o sono, toda noite. Sabia que um dia tudo passaria. Quem sabe até parasse de ler suas revistas por um tempo. Pensando nisto, ele atendeu aos apelos da mãe e foi se arrumar para a escola, pois não poderia se atrasar.
Poucos dias depois, sentado à mesa de café da manhã, o pai da criança abriria um jornal. No caderno policial, ele veria uma matéria sobre o corpo de uma jovem encontrado caído num beco. Não haveria pistas sobre o que lhe acontecera, mas o texto traria a foto de uma moça loura, de pele muito alva, trajando uma camisola longa e branca. Deitada sobre o ventre, não se poderia ver sua face, mas a poça de sangue seria distinguível.
O pai faria uma careta, mas logo não pensaria mais sobre aquilo. Fecharia o jornal ao notar a aproximação do garoto, pois não gostaria de deixá-lo ainda mais impressionado. Sentados em família, todos comeriam antes de seguir para suas atividades, como faziam todo santo dia.
Para saber mais:
Exercício de Criação 1: proposta de escrita do site Gambiarra Literária no qual este conto foi inspirado.
Rarnar estava diante do ataúde de pedra. Enxergando claramente através da escuridão absoluta, os olhos amarelados contemplavam um cadáver inacreditavelmente bem conservado, envolvido por uma manta rústica. Reproduzido nesta, o emblema da maça-estrela respigando sangue identificava os restos mortais. Não havia dúvida de que realmente estava na Torre Alta.
A tumba não era tão grandiosa quanto descreviam as histórias de seu povo, nem estava repleta de tesouros, para o aborrecimento de seus subordinados – ambos esperavam ser recompensados pelo menos com alguma quinquilharia de valor.
O pensamento divertiu Rarnar, pois ele sabia mais. As palavras do xamã ecoaram em sua mente: um grande achado te dará o respeito de toda a tribo. O Honorável Chefe da Tribo descendia de uma linhagem de guerreiros poderosos e orgulhosos; ele ficaria tremendamente satisfeito com a descoberta do corpo do Cavaleiro Sombrio, seu antepassado mais celebrado.
Chegar à câmara mortuária não fora fácil. As três portas de pedra não podiam ser abertas nem derrubadas sem as ferramentas adequadas. Um dia inteiro passara até que um caminho alternativo fosse encontrado: um buraco escavado há muito tempo entre as ruínas sobre o outeiro. Utilizando uma corda improvisada, esgueiraram-se por terra adentro. Uma vez dentro da tumba, não tiveram dificuldades em encontrar o lugar.
Rarnar rasgou o emblema e cogitou guardá-lo no bolsão de suprimentos, mas mudou de ideia e escondeu-o sob o corselete. Foi então que notou algo postado ao lado do cadáver, fazendo volume sob a manta. Arrancou-a num gesto violento e viu uma comprida haste de ferro; numa extremidade desta havia uma empunhadura de couro desgastado e na outra uma esfera cravejada de espinhos. Assombrou-se com a descoberta. Aquela era a arma que o Cavaleiro Sombrio utilizara em vida para esmagar seus inimigos e que se tornara seu símbolo de guerra: a maça-estrela.
A maça estava bem conservada e Rarnar imaginou que deveria estar protegida por algum tipo de encanto ou maldição. Recordou-se das inúmeras vezes em que o xamã o advertira sobre as ameaças do mundo sobrenatural e resistiu à tentação de ter a arma para si. Olhou em volta; não havia mais nada naquela câmara – ou nas outras que já tinham explorado – que justificasse perder outro dia ali. Estava ansioso para retornar à tribo e desejava que o tempo os permitisse partir logo. Como odiava aquelas malditas tempestades!
Escutou passos apressados no corredor e viu um de seus subordinados aproximando-se com uma expressão de espanto no rosto monstruoso.
– Encrenca, encrenca, encrenca! Temos que cair fora! Encrenca demais pra gente!
Urrou ferozmente, exibindo presas poderosas e calando o recém-chegado.
– Diga duma vez qual é o problema!
– Fui checar a fonte dos estrondos, como ordenou. O tremor derrubou as portas, todas elas. Fui checar as novas passagens e ouvi vozes. Não estamos sós. Vi três deles: um anão, um halfling e… o terceiro parecer ser drow!
Rarnar arregalou os olhos. Escutara direito? Se fosse verdade, estavam realmente encrencados. Certa vez lhe disseram que um drow era capaz de derrotar dez dos melhores guerreiros de sua tribo com os olhos vendados! Contudo, algo não cheirava bem. O que ele fazia ao lado de um anão e um halfling? Não podia pensar num trio mais inusitado.
O instinto o aconselhava a fugir enquanto ainda tinha chance, mas a razão o impedia; sabia que a covardia lhe custaria a posição na tribo que tanto cobiçava. Não podia permitir que a tumba e o cadáver do Cavaleiro Sombrio ficassem à mercê de invasores, especialmente sendo um deles quem era. A situação não era tão desesperadora quanto parecia e talvez até pudesse aproveitar-se dela para obter ainda mais prestígio junto aos seus.
– Onde está Grardur?
– Na sala de morte, vigiando o corredor principal.
Um plano nasceu em sua mente.
– Vamos nos juntar a ele. Emboscaremos os invasores na sala de morte.
– Mas e quanto ao drow?
– Mataremos primeiro! Eles não sabem de nós, temos uma boa chance… não vamos desperdiçar!
****
– Espero que estejam satisfeitos! Avisei que perambular por aí seria perigoso!
Rhístel e Meldeau escutavam a bronca com um ar distraído, o primeiro cuidando de limpar uma gosma esverdeada que empesteava seu florete e o segundo lustrando um anel. Os três estavam de volta à câmara das portas.
– Não me lembro do bom anão mencionar cabeças com asas de morcego! – retrucou o halfling.
– Vargouille.
Olhares recaíram sobre o meio-drow, um repleto de desconfiança, o outro de curiosidade.
– Aquela criatura. Vargouilles são seres de outro mundo, muito cruéis e letais. As vítimas de seu beijo se transformam num deles em pouco tempo. Tivemos muita sorte.
– Por Brandobaris, que horror! Aquilo queria me beijar? E eu teria me tornado aquilo? Que nojo! Mas como você sabe disso?
– O mal reconhece seus semelhantes.
Fora Taldor quem alfinetara. Rhístel sustentou o olhar provocador do outro. Mais uma vez coube a Meldeau intervir, apaziguador.
– Ei, estamos vivos, isto é que importa! E graças ao Rhís aqui, a perdição dos vargouilles! Além disso, nossa ousadia foi recompensada! Vejam que lindo anel eu achei!
– Achou? Onde? Não dentro do sarcófago, espero! Não sabe o quanto pode ser perigoso profanar um túmulo? Não tem juízo, baixote?!
Ignorando a censura do outro, o halfling ergueu o anel contra a luz da lamparina, avaliando-o.
– As gravuras são tão bonitas! Será que é mágico?
A carranca de Taldor deu lugar a uma expressão de curiosidade ao ver o anel dançar por entre os dedos do outro. Aquela mudança repentina não passou despercebida pelo meio-drow. As rugas logo retornaram e, sacudindo a cabeça, o anão se afastou na direção da passagem central.
– Bá! Qualquer um vê que não passa de um anel comum! Nem sequer é de um metal valioso!
Meldeau pareceu desapontado, mas guardou o anel consigo assim mesmo. Então a voz poderosa falou novamente:
– Escutem bem, estranhos: as portas estão destruídas e não temos como bloquear estas passagens. A tempestade ainda vai demorar a passar. Não sabemos o que mais tem por aí, então é melhor-
– É melhor explorarmos mais! Sim, vamos descobrir o que há por aí!
Interrompido pelo tom descontraído, Taldor se virou a tempo de ver o pequenino desaparecendo pela segunda passagem lateral. Atônito, ele vociferou:
– Que diabos há de errado com esse halfling?! Ele quase foi transformado num varoile há pouco! Não aprendeu nada?!
Rhístel teria rido da reação se não estivesse preocupado com a atitude sempre inconsequente do amigo. Precisavam ter uma conversa séria. Contudo, por ora, não permitiria que ele vagasse sozinho pela tumba. Era incrível como Meldeau parecia aprender devagar e esquecer rápido o que aprendeu.
Aquela câmara era semelhante à outra, mas, ao invés de um sarcófago, havia uma pequena arca, postada no centro. Agachado diante dela, a figura do halfling remexia os bolsos à procura de suas ferramentas. Rhístel e Taldor testemunhavam tudo de pé à porta.
– Que pensa que está fazendo?
– O que o bom anão sugeriu: explorando o lugar! Aposto que há algo valioso aqui!
– Não disse para explorar nada! Temos que ficar de olho nas passagens até a tempestade passar, isso sim! Já disse que não é seguro vagar por tumbas!
O meio-drow avaliou o lugar: as pegadas diminutas no piso empoeirado indicavam que ninguém além do amigo estivera ali. Preocupou-se ao notar estranhas reentrâncias nas paredes.
– O anão tem razão, Mel. Talvez seja melhor se afastar daí.
Pedindo paciência com um gesto rápido de mão, Meldeau puxou um conjunto de peças de ferro intricadas e deitou-se diante da arca. O tilintar que se seguiu indicou que ele ignorara solenemente as advertências. Alguns segundos depois, ele falou, eufórico:
– Está destrancada, mas não posso abrir ainda. Tem uma armadilha aqui.
– Mais uma razão pra deixá-la onde está!
– Relaxe, meu bom anão, eu posso desarmá-la. Entendo do assunto. Ora, em minha terra natal eu costumava caçar grandes feras somente com minhas armadilhas. Na verdade, lembro-me agora da vez em que capturei um korac, a grande fera azul de duas cabeças, usando só algumas cordas, isca e estacas de madeira!
Taldor bufou em descrença, Rhístel riu por dentro.
Um estalido metálico soou.
– Pronto, está desarmada!
O halfling largou as ferramentas de lado e abriu a arca. Somente ao ouvir o som inequívoco de mecanismos de disparos ecoando detrás das paredes é que o meio-drow compreendeu o propósito das reentrâncias. Dardos de madeira saltaram ao mesmo tempo de todos os lados à procura de alvos. O trio mal teve tempo de reagir; cada um buscou proteger-se da melhor maneira que pôde.
Ouviu-se um grito de dor e o som de madeira chocando contra pedra. Depois silêncio.
– Acabou?
Nenhum outro dardo saiu das paredes.
– Excelente trabalho, mestre armadilheiro*!
A voz grave veio acompanhada de um gemido. Arrependido e temendo o pior, Meldeau correu em auxílio do anão. Rhístel manteve-se distante, observando. Então ele riu por dentro ao ver que o ferimento não era prejudicial, exceto, talvez, para o orgulho de seu portador, que fora atingido numa das nádegas.
Aliviado, Meldeau murmurou mil desculpas e ofereceu-se para fazer um curativo.
– Conheço diversos tratamentos. Na minha terra natal existem ervas curativas para muitos males. É uma pena que eu não tenha nenhuma aqui comigo, mas eu posso tentar estan-
Calou-se diante do olhar frio que recebeu. Afastando-se, Taldor murmurou algo sobre sua honra jamais permitir que lhe tocassem o traseiro! Certificando-se de que seu companheiro também estava bem, Meldeau correu em direção à arca novamente e apanhou seu conteúdo.
– Vejam que tesouro! Mais uma vez nossa ousadia nos recompensa!
O halfling exibiu uma bandana de couro, duas contas peroladas e uma sacolinha encardida.
– Nossa ousadia?! Tua inconsequência, baixote, nada mais!
Meldeau abriu a sacolinha. Sorrindo, ele retrucou:
– Ora! Imagino, então, que estas preciosas moedas de ouro devam ser minhas, estou certo?
– Fique com estas moedas malditas! Não quero nenhum tesouro resgatado de uma tumba!
Dando de ombros, o halfling assobiou para o meio-drow e jogou-lhe a bandana, dizendo:
– É muito grande para minha cabeça.
Rhístel notou com curiosidade os rebites de ferro que cravejavam a peça e decidiu guardá-la; ele poderia analisá-la mais tarde. Meldeau colocou as contas e suas ferramentas dentro da sacolinha e guardou esta num de seus bolsos, dizendo para o amigo:
– Podemos repartir o tesouro quando terminarmos a exploração, afinal, o anão não faz nenhuma questão dele.
– Não mesmo! E não haverá mais exploração! Vamos esperar a tempestade passar, já disse!
– Mas…
– Nada de “mas”, Mel. Sua curiosidade já nos atraiu problemas demais por uma noite. Teve o seu momento de explorador de tumbas, até já encontrou seu tesouro. Vigiaremos a passagem central até que o tempo melhore e possamos partir.
O novo protesto morreu nos lábios do halfling ao notar o semblante de Rhístel e o olhar duro do anão. Não entendia o porquê de tanta cautela. O que eles tanto temiam, afinal?
Continua…
* Nota do Autor: não encontrei a palavra armadilheiro no dicionário, mas já a li em alguns contos fantásticos. Por isso, eu tomei a liberdade de utilizá-la aqui para identificar o indivíduo que trabalha com preparação de armadilhas. Entendam como liberdade poética.
Uma palavra sobre a ambientação desta série: as histórias ocorrem no mundo fantástico de Faerûn, descrito no cenário de campanha de RPG Forgotten Realms (Reinos Esquecidos). Elas também foram inspiradas em diversos módulos de aventuras criados para o jogo Dungeons & Dragons (Masmorras e Dragões). Todos os direitos sobre estas marcas pertencem à editora Wizards of the Coast, não sendo minha intenção violá-los. Estes textos são uma ficção de fã (do inglês, fan fiction ou FanFic) e não objetivam qualquer lucro.
– Já disse que as portas caíram! Não foi minha culpa! Eu só esta-
Guinchos preencheram o ambiente. Atravessando o vazio deixado por uma das portas, uma turba de ratos encharcados surpreendeu a todos e correu freneticamente pelo lugar, metendo-se em frestas e buracos. Meldeau pisou e chutou os que se aproximaram demais.
– Ei, um deles entrou em minha roupa! Sai, Sai!
– Deixe de bobagem, baixo-
Uma ratazana enorme voou de uma das pernas da calça do halfling e chocou-se contra o peito do anão. Atabalhoado, ele tentou martelá-la, mas errou o golpe. Antes que pudesse tentar novamente, os roedores desapareceram tão repentinamente quanto surgiram.
Taldor bufou, ignorando um sorrisinho amarelo de desculpas. Encarou os três novos vãos nas paredes. Como as portas tombaram tão facilmente? Aquela situação não lhe agradava. Com o canto do olho, ele notou que o meio-drow parecia compartilhar de sua preocupação.
– Ei, tive uma ótima ideia! – disse alguém nem um pouco preocupado. – As portas estão abertas, estamos todos acordados… Que tal explorarmos um pouco o lugar? A tempestade não parece perto de acabar e sabe-se lá o que podemos encon-
– Já esqueceu o que te disse, baixote? Os mortos não apreciam profanadores de tumbas!
– Ora, os mortos não apreciam nada!
Meldeau apanhou sua lamparina.
– Eu digo que não há nada a temer deste lugar. Que tal começarmos por…
Uma brisa fria soprou como uma lamúria através do vão central.
– …aquela passagem ali?
Ignorando o arrepio nos pés, ele afastou-se para um dos vãos laterais e o atravessou, sem esperar pelos outros.
****
Meldeau seguiu por um corredor estreito. Parando à entrada de uma câmara, escutou o rumor de chuva, o som da própria respiração e mais nada. A luz indistinta mal iluminava, como se absorvida pela escuridão.
A vida de viajante errante proporcionava experiências interessantes. Exploraria uma tumba pela primeira vez na vida! Aquele pensamento provocou um sorriso. Finalmente, ele poderia descobrir a veracidade de tudo o que já ouvira sobre tais lugares!
Uma corrente de ar estremeceu a chama da lamparina e as sombras assumiram formas estranhas. Repentinamente, as palavras do anão ecoaram em sua mente. Sombras dos mortos. Sentiu seus pés arrepiarem e o sorriso vacilar.
Então veio um sopro à nuca:
– Tolo!
Virou-se instintivamente, certo de que toparia com algum morto ressurreto.
Topou com Rhístel.
– Tumbas podem ser locais perigosos, Mel.
O halfling suspirou aliviado por um instante, e então indagou:
– Perigoso? Mesmo? Você acredita que os mortos podem…
– Há muito mais a temer do que os mortos.
– Como a rabugice de um anão desconfiado?
O meio-drow sorriu.
– Precaução nunca é demais, nisto ele tem razão.
Meldeau não se mostrou convencido. Olhou de esguelha para a câmara próxima e de volta para o amigo, então inclinou ligeiramente a cabeça. O outro sorriu novamente. A curiosidade do pequenino era uma adversária difícil de subjugar.
A lamparina iluminou uma saleta empoeirada. Nada havia ali além de uma sombra que se erguia defronte à entrada. Rhístel pôs-se de lado para avaliar melhor o local, mas seu companheiro afoito foi de encontro à sombra, que se revelou ser um sarcófago de pedra. Entalhada ali havia uma figura encorpada e peluda, com mãos e pés repletos de garras. Algo na cabeça, porém, parecia destoar do restante da escultura: não havia pelos ou presas, mas inúmeros tentáculos. Curioso, o halfling tentou iluminá-la melhor.
Uma sombra se moveu, reagindo à luz. Um guincho funesto ecoou.
Rhístel buscou a origem do som e um brilho de reconhecimento assomou em seus olhos ao notar um par de asas de morcego se alongar e duas chamas vermelhas se acenderem entre elas. Meldeau gritou e tropeçou. Antes de atingir o chão, ele viu a estranha cabeça com tentáculos voando em sua direção!
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Deixado sozinho no escuro, Taldor buscava um modo de bloquear novamente as três passagens. Com o martelo de batalha preso sob o aperto firme de sua mão, ele correu os olhos pelo lugar, mas não encontrou nada que pudesse servir como barricada – as portas de pedra tinham se despedaçado com a queda. Bufou ao perceber que não tinha alternativa a não ser lidar com a situação.
– Gorm me carregue se tiver que me abrigar noutra cova como esta!
Ignorando uma familiar (e incômoda) vibração nos tímpanos, ele se aproximou do vão central e usou sua visão privilegiada, mas tudo o que enxergou foi um corredor comprido. De soslaio, notou as passagens laterais, demorando-se naquela por onde o halfling e seu companheiro seguiram.
O anão estava taciturno. Desconfortava-o saber que se abrigara numa tumba construída por uma raça que desprezava, mas isto não era tudo. Havia algo errado naquele lugar. Algo sobrenatural.
Um silvo terrível ecoou à distância.
Taldor hesitou. Teriam os estranhos encontrado mais do que esperavam ou seria uma armadilha? Ouviu gritos estridentes e o som de metal contra pedra. Sorriu ao pensar que ambos mereciam estar em apuros e cogitou deixá-los à própria sorte. Contudo, se algo acontecesse aos dois, então ele teria de lidar sozinho com os perigosos que aquela tumba tinha a oferecer. Suspirando pesadamente, ele apertou o cabo do martelo e rumou na direção dos sons de batalha.
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Caído próximo ao sarcófago, Meldeau tentava compreender o que acontecera. O que voara em sua direção? Não conseguira ver direito! Sentiu o ar batendo sucessivamente contra seu rosto…
Pairando sobre ele havia uma cabeça de feições distorcidas e demoníacas, de pele amarronzada. As orelhas eram pontiagudas e o nariz miúdo contrastava com a bocarra repleta de dentes. Inúmeros tentáculos pendiam como tranças vivas da testa proeminente, e duas longas asas de morcego batiam freneticamente de cada lado. Um par de olhos vermelhos brilhava como brasa.
O halfling desejou fugir do horror alado, mas estava paralisado. Ao notar que o guincho sombrio ainda retumbava em seus ouvidos, ele soube que estava sob algum efeito sobrenatural. Desesperado, fez a única coisa que podia: gritou e gritou!
Certa de que sua vítima estava indefesa, a criatura voou de encontro ao meio-drow.
Compreendendo de imediato o que acontecera ao companheiro, Rhístel sacou seu florete para se defender. Por sorte, ele resistira ao poder paralisante de alguma forma. Com uma expressão irada, a cabeça o atacou. Por três vezes ele tentou atingi-la, mas esta sempre desviava com um ágil bater de asas. Então ela afastou-se para um ponto além do alcance de sua arma e o encarou com um sorriso maléfico.
Iluminado parcamente pela lamparina caída ao chão, o ser monstruoso abriu a bocarra num urro silencioso; lá de dentro seu hálito emanou como uma névoa fétida e avermelhada. Rhístel sentiu-se atordoado. A visão grotesca lhe drenou qualquer vontade de resistir. Prendendo a respiração, ele concentrou-se nos olhos vermelhos, o suor escorrendo em sua têmpora escura.
A criatura investiu num rasante. Aguardando até o último instante, quando a cabeça estava frente a frente com a sua própria, o meio-drow varou-a de baixo a cima com um movimento ágil e preciso do florete. As chamas demoníacas se extinguiram, asas e tentáculos penderam sem vida. Num ato de puro reflexo e nojo, Rhístel atirou seu florete com a cabeça ainda empalada para o outro lado da sala.
Recostando-se na parede, inspirou profundamente para recuperar o fôlego. Foi então que ouviu o som de passos pesados ecoando pelo corredor próximo e viu a figura atarracada do anão entrando na câmara.
Uma palavra sobre a ambientação desta série: as histórias ocorrem no mundo fantástico de Faerûn, descrito no cenário de campanha de RPG Forgotten Realms (Reinos Esquecidos). Elas também foram inspiradas em diversos módulos de aventuras criados para o jogo Dungeons & Dragons (Masmorras e Dragões). Todos os direitos sobre estas marcas pertencem à editora Wizards of the Coast, não sendo minha intenção violá-los. Estes textos são uma ficção de fã (do inglês, fan fiction ou FanFic) e não objetivam qualquer lucro.
As coisas que me acontecem, enternecem meu pobre coração.
Muito obrigado.
Nos anos 8O, eu ganhava prêmio na BIENAL DO LIVRO DE BELO HORIZONTE (que não sei se mudou de nome,…
Disse um dia aqui que escrevi livrinhos bens ruinzinhos, estava elogiando a LIGA. Não sei se graças a isso, tive…
Ei, Rosângela. Sim, o narrador é uma das vítimas. :) Abraço e obrigado pela leitura.