Fahrenheit 451 é aclamado mundialmente como um clássico da literatura de ficção científica. Obra prima do autor americano Ray Douglas Bradbury e publicado originalmente na década de 50, este premiado romance aborda temas desconcertantemente familiares e atualíssimos.
Nesta distopia futura, a sociedade foi subjugada por um governo totalitário onde autoridades invisíveis, mas sempre presentes, criminalizaram a leitura, promovendo uma verdadeira caça às bruxas. Atuando como força repressora, os bombeiros (firemen, no original) são incumbidos de localizar e, ironicamente, incendiar livros.
A mídia televisiva destaca-se ainda mais como o principal meio de alienação e dominação das massas, restringindo-se a apresentar em sua grade programas de entretenimento e simulacros de realidade interativos – a audiência ludibriada mal e mal tem conhecimento dos eventos que ocorrem além de suas salas repletas de telas imensas.
Completamente alheio, a princípio, à extinção gradual da manifestação do pensamento livre, promotor e difusor do conhecimento, vive Guy Montag, um bombeiro a serviço do sistema. Ao conhecer a adolescente Clarisse McClellan, Guy começa a questionar a sociedade em que vive e logo embarca numa cruzada pessoal contra a política estabelecida.
A trama é interessante, ainda que simples; o ritmo da leitura é lento. Há instantes de tensão e ação, mas as reflexões do protagonista dominam a narrativa. Particularmente, muitos destes trechos foram confusos o bastante para me forçar a relê-los duas ou três vezes na tentativa de compreender a mensagem que estava sendo passada.
Bradbury pontua alguns eventos paralelos à trajetória de Montag que reforçam os perigos da alienação e permitem antecipar o final trágico e inevitável – confesso, porém, que duvidei até o último instante que o autor concluiria a obra de forma tão emblemática. Contudo, o melhor momento do livro é aquele no qual o protagonista finalmente percebe ter seguido por um caminho sem volta e, literalmente, incinera o seu passado.
Esta não é uma leitura fácil, mas, por instigar o leitor a pensar sobre os perigos da supressão do conhecimento e de se resignar numa sociedade alienada e consumista, Fahrenheit 451é mais do que recomendado e recebe 3 penas-tinteiro (estrelas).
E esta é a humilde opinião de um escriba.
Mais sobre o autor:
Há tantas curiosidades sobre Ray Bradbury que é impossível deixar de compartilhá-las. Americano, Bradbury completou o ensino médio durante a Grande Depressão e, não podendo custear a faculdade, trabalhou como jornaleiro.
Cresceu enfurnado em bibliotecas e suas principais influências literárias foram Edgar Allan Poe (Os Assassinatos da Rua Morgue, O Corvo), H.G. Wells (A Guerra dos Mundos), Júlio Verne (Vinte Mil Léguas Submarinas) e Edgar Rice Burroughs (Tarzan, o filho das selvas).
O primeiro conto, Hollerbochen’s Dilemma, foi publicado no fanzine de ficção científica Imagination e suas obras mais celebradas, as Crônicas Marcianas e o próprio Fahrenheit 451 lhe garantiram lugar entre os principais autores do gênero.
Contudo, Bradbury afirmou certa vez não escrever ficção científica e sim fantasia – Fahrenheit 451 é a única exceção, segundo o próprio, mas mesmo este se baseou na realidade.
Tendo publicado algo em torno de 600 contos, 30 livros e inúmeros poemas, ensaios e roteiros para TV, não é surpresa que tenha recebido diversas homenagens e prêmios:
- Foi premiado com o Hugo (tradicional premiação literária norte-americana) em 1954 na categoria melhor romance por Fahrenheit 451, tendo concorrido com ninguém menos que Arthur C. Clarke e Isaac Asimov;
- Teve o nome atribuído a um asteroide (9766 Bradbury) e a uma categoria de premiação do Nebula Awards (outra tradicional premiação);
- Uma de suas obras (Dandelion Wine; A Cidade Fantástica no Brasil) inspirou o nome de uma cratera lunar;
- Ganhou sua própria estrela na Calçada da Fama em Hollywood.
- No ano passado foi prestigiado pela cantora e comediante Rachel Bloom com o videoclipe intitulado “F— me, Ray Bradbury” (nem preciso traduzir, certo?), que recebeu, vejam só, uma indicação ao Hugo.
- Suposto descendente direto de Mary Bradbury, julgada, condenada e sentenciada à forca por bruxaria em Salem, Bradbury viveu até os 91 anos – o escritor faleceu esta semana, dia 5 de junho de 2012.
Para saber mais:
- Ray Bradbury: site oficial do autor (em inglês).
- Ray Bradbury, The Art of Fiction No. 203: entrevista com o autor no Paris Review (em inglês).
- Open Library: Ray Bradbury: coletânea dos livros de Ray Bradbury (em inglês).
- Biografia: Ray Bradbury: traduzido do site oficial e publicado no InfoEscola.
- Top 100 Science-Fiction, Fantasy Books: Fahrenheit 451 foi considerado o 7º romance de ficção científica mais popular entre 100 outras obras (em inglês).
- Crítica – Fahrenheit 451 (1966): Rubens Ewald Filho avalia o filme de 1966 baseado na obra de Bradbury.
- Fahrenheit 451: Sobre uma distopia incandescente: considerações sobre a obra por Alfredo Suppia, na coluna de Roberto de Souza Causo no Terra Magazine.
- Fahrenheit 451: A temperatura de uma adaptação: Alfredo Suppia fala sobre a adptação para o cinema; publicado na coluna de Roberto de Souza Causo no Terra Magazine.
As coisas que me acontecem, enternecem meu pobre coração.
Muito obrigado.
Nos anos 8O, eu ganhava prêmio na BIENAL DO LIVRO DE BELO HORIZONTE (que não sei se mudou de nome,…
Disse um dia aqui que escrevi livrinhos bens ruinzinhos, estava elogiando a LIGA. Não sei se graças a isso, tive…
Ei, Rosângela. Sim, o narrador é uma das vítimas. :) Abraço e obrigado pela leitura.