Ano passado, eu abandonei o blog por um mês inteiro para escrever um livro. Unindo-me a outros loucos de todo o mundo, topei o desafio proposto pelo National Novel Writing Month ou NaNoWriMo (Mês Nacional de Escrita de Romances, em tradução livre).

Com a proximidade de mais uma edição, decidi elaborar uma breve série de artigos para compartilhar um pouco dessa inesquecível e enriquecedora experiência.

Iniciado nos Estados Unidos, o NaNoWriMo completa 15 anos em 2013 com mais de 300 mil (número da última edição) inscritos de diversos países, incluindo o Brasil – já passou da hora dos organizadores reverem o nome do evento, não? A participação é livre e não há restrições quanto a gênero, tema, idioma ou estrutura da obra.

Em contrapartida, espera-se que algumas diretrizes sejam seguidas pelos participantes. Mas as únicas regras verdadeiras são essas: o livro deve ser escrito num mês (Novembro) e ter, no mínimo, 50 mil palavras.

Trinta dias de abandono literário

Para alcançar uma meta tão assustadora, é preciso escrever algo em torno de 1.667 palavras por dia. Difícil? Pode apostar que sim. Mas não é impossível, como comprovam os milhares de vencedores das edições passadas.

A chave para a conquista é ter consciência de que o livro não estará pronto para publicação ao final do desafio. Os próprios idealizadores alertam que tal chance é ínfima: o mais provável é que o resultado será horrível. Tudo bem, afinal, o objetivo aqui é outro.

“A primeira versão de qualquer coisa é uma merda.”

O NaNoWriMo é o necessário chute nos fundilhos daqueles que querem ser escritores, mas se deixam desanimar pelo perfeccionismo, pela inércia, e por outras tantas desculpas fajutas. Trata-se de um incentivo à produção de algo concreto, nem que seja um rascunho tosco.

Ao encarar o desafio, é preciso desligar o crítico interno. As revisões, adaptações e reescritas serão necessárias, mas somente mais adiante. Novembro é o mês para transpor ao papel uma história que se deseja contar ou pensamentos que se queira expressar. A única preocupação deve ser escrever, escrever, escrever.

Começando do zero (mas nem tanto)

Pelas diretrizes, trabalhos anteriores não podem ser aproveitados, ou seja, é preciso escrever um livro a partir do nada. Nada impede, porém, que o participante rascunhe um planejamento com certa antecedência. Na verdade, um guia é mais do que aconselhável, é essencial para a vitória.

O NaNoWriMo é uma maratona; é preciso produzir muito no menor tempo possível – e ainda conciliar a escrita com as demandas naturais do dia a dia. Por isso, o ideal é ter claro desde o começo o livro que se pretende escrever para evitar desperdiçar horas tentando encontrar o rumo perdido.

“É tudo parte do plano.”

O planejamento é ainda mais útil ao se produzir uma coletânea de contos, já que esta trará diferentes narrativas, com personagens e situações diversas. Planejar evita bloqueios e ajuda a focar apenas na escrita durante os 30 dias.

Para aprender com os colegas

Para promover a interação entre os participantes, o site do NaNoWriMo dá suporte a vários fóruns. Divididos por regiões, esses pontos de encontro virtuais são moderados por municipal liaisons (algo como referências municipais): a eles cabem, entre outras, a função de divulgar o evento em sua comunidade.

Até 2012 os fóruns brasileiros eram gerenciados pelo paulista Fernando Aires e pela porto-alegrense Luiza Monteiro, ambos participantes (e vencedores) de várias edições anteriores – é preciso ter vencido o NaNoWriMo para se tornar um municipal liaison.

Os encontros presenciais, chamados write ins ou parties (saraus), também são comuns. Neles os participantes confraternizam, celebram o começo ou o fim do evento e, é claro, escrevem – mas nem todos, já que é possível encontrar quem participe apenas como observadores desse grande laboratório.

Uma brincadeira séria

Ao contrário do que parece, o NaNoWriMo não é uma competição. De fato, não há nada de espetacular na premiação reservada àqueles que alcançarem a meta de 50 mil palavras: um certificado, um emblema, artes para camisetas, alguns descontos em programas de parceiros e só.

Recompense-se com um delicioso cappuccino.

O valor do evento está na motivação proporcionada por sua meta e prazo, na chance de ter ao menos uma primeira versão completa do livro tão sonhado, na oportunidade de interagir e aprender com uma comunidade que reúne escritores amadores e profissionais.

Interessado? A próxima edição do NaNoWriMo está chegando. Ainda há tempo para se preparar, então que tal já ir tacando no papel algumas ideias para sua obra? Produza um guia caprichado e vá se aquecendo para um mês inteiro de abandono literário.

As “Regras” do NaNoWriMo

O evento garante liberdade de criação aos participantes, mas estabelece certas orientações para definir quem pode se considerar um vencedor do desafio.

Note-se que nada disso impede a participação, já que a única validação no site do NaNoWriMo se dá sobre a quantidade de palavras; cabe a cada um manter-se em paz com sua consciência.

  1. Escrever um romance de 50.000 mil palavras ou mais durante o mês de novembro.
  2. Começar do zero. Nada impede o participante de fazer planejamentos, pesquisas, rascunhos, mas nenhum material escrito previamente pode ser utilizado na contagem final do desafio. Não é permitido dar continuidade a um trabalho pré-existente.
  3. Aceita-se somente romances. É considerado um romance todo trabalho longo de ficção, incluindo ficções de fãs (FanFics) e coletâneas de contos, desde que tenham um tema em comum. Música, poesias, roteiros, quadrinhos, e obras de não ficção (biografias, memórias, autoajuda) não são romances.
  4. Autoria única. Não são permitidos livros escritos em parceria. Espera-se que o participante escreva mais do que uma única palavra repetida 50 mil vezes.
  5. Enviar o livro ao site para validação de palavras nos últimos dias de novembro.

Para saber mais:

  1. National Novel Writing Month: página oficial do evento. Acesse, informe-se e participe do desafio!
  2. Como consegui escrever um livro em 4 semanas: relato de Diego Schutt, autor do Ficção em Tópicos e participante da edição de 2010 do NaNoWriMo.
  3. NaNoWriMo: O que eu aprendi sobre ser escritor? relato de Bruno Cobbi, autor do Aprendiz de Escritor e editor na Terracota Editora.
  4. NaNoWriMo por Sara Farinha: a escritora lisboeta tem grande experiência e já escreveu vários posts sobre o evento. Confira suas dicas preciosas.