Tag: Desafios de Escritor (Página 9 de 14)

5 fatos sobre escrever primeiras versões

Máquina de Escrever, Papel, Caneta, RascunhosO primeiro esboço de qualquer coisa é uma merda, disse Ernest Hemingway. Poucos adágios são tão reconfortantes para um escritor; sem a obrigação de acertar de prima, este se vê livre dos grilhões do bloqueio criativo. Ele transpõe seus pensamentos para a folha em branco sem ressalvas nem receios.

Escreva bêbado, edite sóbrio é outra pérola do autor de tantos clássicos da literatura norte-americana. Eis aí o melhor modo de produzir: mantenha o editor psicótico que existe em você em uma jaula até que tenha concluído a primeira versão de seu conto, romance, artigo.

Nada disso deveria ser novidade para nós, aprendizes dedicados, certo? Às vezes, porém, nos perdemos na confusão que é o rascunho de um texto. Não há o que temer. Só é preciso saber identificar e lidar com certos fatos relacionados à escrita de primeiras versões.

1 – Primeiras versões não saem como planejado.

Você escreve, escreve, escreve e, ao terminar, percebe que o resultado pouco ou em nada se parece com o que esperava daquela ideia original. O herói se revela um vilão, uma reviravolta invalida acontecimentos anteriores, um conto se transforma numa novela – ou pior, num livro! Isso não é necessariamente ruim. Aceite as mudanças, elas podem resultar em algo melhor.

Cena do Filme "Sem Limites" - Bradley Cooper

“Você acredita que eu só queria escrever um conto?”

2 – A tentação de editar uma primeira versão está sempre presente.

Lembre-se das palavras de Hemingway e resista à vontade de combinar edição e escrita. Faça uma coisa de cada vez, sem pressa. Foque no que interessa e faça seu cérebro entender que o texto poderá ser lapidado mais tarde, com toda a atenção e o carinho que ele merece. E não se esqueça de que é impossível editar uma página em branco.

Dupla Personalidade

“Você só vai tocar neste texto quando eu terminá-lo!” – Fotografia por Luca (deviantArt)

3 – Primeiras versões fluem melhor se houver um roteiro.

Ainda mais se você estiver preparando a primeira versão de um romance. O roteiro é como um guia breve dos principais personagens, acontecimentos e reviravoltas. Com ele será mais fácil trazer a história de volta aos eixos sempre que esta se desviar de suas intenções originais. Você ainda pode tê-lo como referência ao espalhar dicas aos leitores sobre o que a história lhes reserva.

Notebook, Mesa, Roteiro, Livros - Ferramentas de Escritor

Elaborar um roteiro é uma boa forma de evitar o bloqueio criativo.

4 – Você odiará suas primeiras versões.

Atire a primeira bolinha de papel quem nunca encarou um esboço tempos depois e se negou a acreditar que o tivesse escrito. Pensando ser o pior escritor do mundo, você tem vontade de jogar tudo para o alto e estudar para concursos públicos – ou jogar videogame. Não faça nada disso. Lembra-se do editor psicótico? É hora de libertá-lo e vê-lo fatiar versões ao bel prazer.

Michonne - Personagem da Série "The Walking Dead"

Ao editar seu texto, seja como a Michonne: corte sem dó!

5 – Agora é o melhor momento para escrever uma primeira versão.

 Há escritores que preferem dedicar algum tempo à maturação de uma ideia antes de colocá-la no papel. Se você pertence ao time dos preparadores, atenção: preparação demais pode ser uma desculpa para procrastinar. Mesmo que você não se sinta pronto nem motivado, alguma hora terá de pôr a mão à obra ou jamais a escreverá. Então, por que não agora?

Escritor e o Relógio

Não há momento ideal. Comece a escrever agora!

O mais importante ao escrever primeiras versões é sentir a liberdade que elas proporcionam. Não há nada como preencher o branco com ideias, temas, personagens e histórias emergentes das mais puras fontes do inconsciente. Na verdade, há sim: saber que esses diamantes brutos jamais serão submetidos ao crivo dos leitores. E isso é, realmente, reconfortante.

E você, colega escritor, o que sente ao escrever suas primeiras versões?

Para saber mais:

  1. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  2. Livros não se escrevem sozinhos: descubra o que escritores de sucesso fazem para concluir seus livros.
  3. O pesadelo das revisões constantes: algumas palavras sobre como identificar e superar este terrível obstáculo.
  4. Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existencial.
  5. 5 dicas para escrever contos: confira 5 conselhos do renomado escritor de fantasia norte-americano Philip Athans.
  6. Série 7 coisas que aprendi: página principal do projeto que convida escritores em diversas fases da carreira a compartilharem suas experiências.

É preciso fazer faculdade para ser escritor?

Por muito tempo, minhas experiências de escrita mais significativas foram as redações: nas escolares e preparatórias, destacavam-se com frequência; nos concursos, garantiam uns bons pontos.

Eu acreditava, porém, que para ser escritor não bastava familiaridade com palavras, ainda mais sendo formado em ciências exatas.

Pairava sobre mim então aquela que é a dúvida mais natural de todos os que engatinham por essa profissão. Felizmente, essa nuvem sombria e pesada se dissipou. Hoje posso afirmar, sem receio, que cursar Letras ou, digamos, Comunicação Social, não necessariamente fará de você um escritor (de ficção) profissional.

Escritores autodidatas

Não desprezo a necessidade de estudo, note-se. Sim, é importante ler livros sobre escrita, produção literária, memórias de escritores renomados – pode-se aprender bastante com estas também, mesmo que nem sempre tragam informações técnicas objetivas. Em outras palavras, um aprendiz pode se fazer escritor por conta própria.

Paulo CoelhoA história está repleta de grandes autores formados em cursos sem qualquer relação com a escrita (Franz Kafka e Henry Fielding, eram advogados; Guimarães Rosa e Moacyr Scliar eram médicos) ou que sequer cursaram uma faculdade (William Faulkner, H. G. Wells, Machado de Assis, Paulo Coelho).

Cursos universitários podem não ser o ideal para quem quer ser escritor e basta uma espiada nas disciplinas ofertadas para comprovar: normalmente, o foco é a formação de professores, críticos, jornalistas.

Uma faculdade de Escrita já é outra história, mas estas são raras no Brasil – de cabeça, lembro-me da pós-graduação da Escola Superior de Direito Constitucional (ESDC), mas este parece não ter novas turmas desde 2012.

Confira no breve vídeo abaixo o que o mestre Stephen King tem a dizer sobre o assunto:

Cara a tapa

Obviamente, é indispensável pôr o conhecimento à prova, submetê-lo ao crivo de escritores (e leitores, por que não?) profissionais. Daí se tira o valor das oficinas literárias, cada vez mais comuns no país: além de apresentarem certas “regras” de boa escrita, elas permitem troca de experiências, discussões sobre criatividade, avaliações criticas.

Imagino que todo escritor é meio autodidata em algum momento da vida. Para os que estão começando, como eu, sugiro este caminho perfeitamente possível: estude por conta própria, mas seja avaliado por profissionais. Faculdades não são imprescindíveis. Acho que é por aí.

E você? Acha que é preciso cursar faculdade para ser escritor?
Cena do Filme "Escritores da Liberdade" - Com Hilary Swank

“Quem aí quer ser escritor?”

Para saber mais:

  1. Quero ser escritor! – Algumas palavras sobre o sonho de viver de literatura no Brasil.
  2. Como ser escritor? – Qual é o caminho certo que conduz ao sonho de ser um autor reconhecido?
  3. Série 7 coisas que aprendi: página principal do projeto que convida escritores em diversas fases da carreira a compartilharem suas experiências.
  4. Serviço: Oficinas Literárias: confira recomendações de oficinas de criação literária espalhadas por todo o país.
  5. Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existencial.
  6. 5 dicas para escrever contos: confira 5 conselhos do renomado escritor de fantasia norte-americano Philip Athans.
  7. Interpretações da Leitura Crítica: se estivessem vivos hoje, o que pensariam os grandes escritores do passado sobre os estudos de suas obras?

Publicação, oficinas literárias e como ser escritor – Entrevista com Sérgio Fantini

Escritor Sérgio FantiniNo ano passado, o escritor belo-horizontino e mediador de literatura Sérgio Fantini concedeu a este seu discípulo uma entrevista para a coluna Café Literário, do blog Café com Notícias. Nesta terceira e última parte, eis mais considerações inéditas e valiosas sobre a vida de escritor profissional.

Não leu os conselhos anteriores? Sem problemas, confira a segunda parte da entrevista com Sérgio Fantini ou veja a entrevista desde a primeira parte.

Em tempo: no próximo dia 17, segunda-feira, Sérgio Fantini iniciará, em Belo Horizonte, mais uma edição da oficina de contos “Para gostar de escrever” no espaço Letras e Ponto. Recomendadíssimo

11. Como foi sua experiência com outras editoras no início da carreira?

  No início fiz muita publicação independente, sempre com luta e na camaradagem. Eu faço um furdunço para cada livro: é um amigo que faz a capa, outro que tira foto, um terceiro que cuida do projeto gráfico, e assim vamos fazendo, resolvendo caso a caso como pagar. É comum a troca também: “eu faço a diagramação para você e você faz a leitura crítica do meu livro de contos”. Sempre foi assim. Depois vieram duas edições lançadas em parceria com editora, que foram os livros Materiaes (Dubolso, 2000) e Coleta Seletiva (Ciência do Acidente, 2002). Mas a maioria foi toda por minha conta.

12. Como se deu seu contato com a editora Jovens Escribas, que publicou seu último livro?

  Conheci meu editor, o Carlos Fialho quando este esteve em Belo Horizonte em certa ocasião, e desde então nos tornamos amigos. Tempos depois ele leu A ponto de explodir, que lancei em 2008, e gostou tanto que se ofereceu para publicar uma segunda edição, em 2010. Na época eu disse que estava com outro projeto, que era o Silas, e o Fialho topou lançá-lo pela Jovens Escribas.

Recentemente, ele propôs republicar A ponto de explodir e lhe falei do Novella, mas desta vez ficou decidido que os dois livros seriam publicados. A paixão do Fialho pelo A ponto de explodir é algo tão estranho que acho até que o livro tá me traindo com ele.

Lançamentos da Jovens Escribas - Sérgio Fantini e Carlos Fialho

13. Há editoras em Belo Horizonte que dão atenção especial a escritores iniciantes?

  Não que eu saiba. Mas há algumas que estão entrando no mercado que talvez estejam mais abertas, como a Dom Quixote, a Scriptum. Há aquelas que lançam livros em parceria com o autor, como a Crisálida, a Asa de Papel. Tem outras: a Mazza Edições, a Alis, a Dimensão, a Autêntica, a Editora Lê, mas algumas se dedicam mais a livros infantis ou técnicos.

14. Faz mais de 4 anos que você oferece uma oficina de contos no espaço cultural Letras e Ponto. O que está experiência tem proporcionado? Qual é o perfil dos alunos que procuram a oficina?

  É uma troca; na possibilidade de passar o que já sei também aprendo e muitas vezes eu assimilo coisas que não teriam me ocorrido sozinho nem com outros amigos escritores, cujas conversas trazem uma perspectiva distinta.

Na oficina ocorrem casos e diálogos únicos, novos, então eu aproveito para ir acumulando tudo. Por lá já passaram pessoas de várias idades, mas prevalecem os mais velhos, profissionais liberais, que dispõe de tempo para produzir toda a semana e dinheiro, claro, afinal, trata-se de um investimento que nem todo mundo pode ou está disposto a fazer. Também há quem ache que não precisa fazer.

15. Escrever para você é profissão ou lazer? É possível viver de literatura no Brasil?

  É uma profissão de fé, algo que está dentro do meu âmbito profissional. Quem escreve literatura no Brasil não vive só de direito autoral: vive de feiras, de prefácios, de antologias, palestras, e outras coisas periféricas. Pessoas do meio já me afirmaram que são poucos, 6 ou 7, no máximo 10, os casos de escritores que vivem só de direito autoral. Todos os outros têm que saber dar suas reboladas.

16. O que você recomendaria a escritores iniciantes? Qual deve ser a principal preocupação deles?

Ler, ler, ler, escrever, ler, ler, ler, escrever.

E aí, leitor? Gostou das dicas do Fantini?

Para saber mais:

  1. Sérgio Fantini – 7 coisas que aprendi: confira a contribuição do mestre Fantini para a série.
  2. 5 dicas para escrever contos: confira 5 conselhos do renomado escritor de fantasia norte-americano Philip Athans.
  3. 5 livros que ensinam a escrever: uma recomendação de lista de livros sobre escrita disponíveis em português.
  4. Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existencial.
  5. Serviço: Circuito Literário Mineiro: conheça e participe de diversos movimentos literários mineiros.
  6. Serviço: Oficinas Literárias: conheça algumas das oficinas literárias mais badaladas do Brasil.
  7. Jovens Escribas: site oficial da editora que publicou os últimos três livros de Sérgio Fantini.
  8. Sérgio Fantini fala sobre o novo livro Novella: entrevista com o escritor no Café Literário que também contém boas dicas para quem pensa em se tornar um escritor.

Contos, revisões e leitura crítica – Entrevista com Sérgio Fantini

Escritor Sérgio Fantini - Caricatura de Giovanni BarbosaQuem melhor para dar dicas de escrita do que um escritor profissional com mais de 30 anos de estrada? Confira o que mais o Mestre Fantini tem a ensinar nestes trechos inéditos da entrevista concedida à coluna Café Literário, do portal Café com Notícias.

O quê? Não leu a primeira parte da entrevista do escritor Sérgio Fantini? E o que está esperando?

Em tempo: no próximo dia 17, segunda-feira, Sérgio Fantini iniciará, em Belo Horizonte, mais uma edição da oficina de contos “Para gostar de escrever” no espaço Letras e Ponto. Recomendadíssimo

6. Você escreve, principalmente, contos. Já escreveu uma novela, como disse, mas nunca um romance. Por que essa predileção pelas narrativas curtas? Produzir um romance é difícil?

Não é questão de ser mais fácil ou mais difícil. Eu gosto do conto porque é um espaço curto, de experimentação, onde não é preciso contar, necessariamente, uma história. Eu gosto de contar e ouvir histórias também. Mas acho que eu não tenho ainda o fôlego para passar dias, semanas, meses elaborando; é preciso uma dedicação que não casa com minha característica psicológica. Até tentei, duas vezes, mas vi que não ia dar em lugar nenhum, que estava muito ruim, daí parei.

7. Talvez uma boa característica do conto seja essa de permitir escrever histórias distintas em, relativamente, pouco tempo. No caso do romance você fica muito tempo preso a uma mesma narrativa, tema, personagens, época. Não que isso seja algo ruim, mas, às vezes, o escritor que experimentar coisas novas com uma regularidade maior.

  É preciso mais tempo para dedicar a um romance; deve-se cuidar da sequencia lógica e dos personagens para evitar incoerências. É bem isso mesmo, você tem que ficar muito tempo concentrado, dedicado a uma única história. Acho que ainda não chegou minha hora pra isso.

Escrever um romance requer planejamento.

Planejar e escrever um romance é um verdadeiro desafio. Que tal começar com contos curtos?

8. Sabe-se que um bom escritor é, antes de tudo, um bom leitor. Há escritores que afirmam ler livros do gênero no qual estão trabalhando no momento para ver o que já foi feito e o que eles podem acrescentar. Você faz o mesmo ou lê coisas diferentes para desligar-se da produção e estabelecer um novo paralelo criativo?

  Eu leio normalmente, não mudo nada. Até porque talvez o conto não demande tanto.

9. Após finalizada uma obra, qual é o seu processo de revisão? Você contrata um revisor ou leitor crítico?

  Eu mesmo reviso, exaustivamente, até achar que posso mostrar pra alguém. Às vezes posso até ficar muito tempo, mas não é um tempo continuo: fiz hoje, não estou satisfeito; leio amanhã e decido mudar algo. Vou lendo e mudando, a cada leitura posso mexer, isso durante muito tempo. Tenho dois, três amigos que sempre fazem uma leitura crítica. Costumo brincar que eles devem ler com um machado na mão. Dependo do retorno, eu mexo mais ou menos no texto.

10. Até que ponto essas opiniões influenciam as mudanças no texto, ou o processo criativo?

  Eu estou 100% aberto às críticas embasadas; não é só dizer “o final” tá ruim e ponto. Existe coisa melhor que um retorno crítico de um escritor tão ou mais experiente que você? É ótimo para o processo criativo no sentido de você não repetir erros que já foram apontados, a gente vai se aprimorando de acordo com as críticas e sugestões que recebe. Claro que pode acontecer de eu discordar de algo, talvez por querer que algo fique mesmo de certo jeito, meu jeito; eu tenho clareza quanto a essa opção.

Odeio quando alguém me pede pra ler e depois fica resistente. Como também ofereço serviços de leitura crítica, eu já aviso antes, coloco lá no contrato as condições, para deixar tudo claro.

Confira a última parte da entrevista com Sérgio Fantini.

Para saber mais:

  1. Sérgio Fantini – 7 coisas que aprendi: confira a contribuição do mestre Fantini para a série.
  2. 5 dicas para escrever contos: confira 5 conselhos do renomado escritor de fantasia norte-americano Philip Athans.
  3. 5 livros que ensinam a escrever: uma recomendação de lista de livros sobre escrita disponíveis em português.
  4. Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existencial.
  5. Serviço: Circuito Literário Mineiro: conheça e participe de diversos movimentos literários mineiros.
  6. Serviço: Oficinas Literárias: conheça algumas das oficinas literárias mais badaladas do Brasil.
  7. Sérgio Fantini fala sobre o novo livro Novella: entrevista com o escritor no Café Literário que também contém boas dicas para quem pensa em se tornar um escritor.

Processo de escrita, poesia e prosa – Entrevista com Sérgio Fantini

Escritor Sérgio FantiniAno passado eu entrevistei um cara fantástico chamado Sérgio Fantini. Com mais de 30 anos dedicados à escrita, ele produziu e publicou inúmeros poemas e contos (e uma novela) em coletâneas e em nove livros próprios, a maioria de forma independente.

O bate-papo foi longo e rendeu muitos conselhos valiosos, mas muita coisa (mesmo) acabou ficando de fora da versão final da entrevista publicada na coluna Café Literário, do portal Café com Notícias. Decidi, então, publicar aqui (em três partes) as respostas inéditas do Sérgio, que, como mestre do ofício e mediador de literatura, tem muito a dizer aos aprendizes de escritor.

Quem é Sérgio Fantini?

Sérgio Fantini nasceu em Belo Horizonte, onde reside. Começou a vida literária aos 11 anos e cresceu enfurnado na “biblioteca” da família (um quartinho repleto de livros). A partir de 1976, publicou zines e livros de poemas, além de haver realizado shows, exposições, recitais e performances. Teve textos selecionados para diversas antologias no Brasil e exterior.

Mediador em uma oficina literária de contos, Sérgio não tem o hábito de escrever todos os dias nem por muitas horas e por isso produz muito devagar, mas carrega a escrita na mente e busca estar sempre imerso em literatura. Entre seus trabalhos mais recentes destacam-se Silas (Jovens Escribas, 2008) e Novella (Jovens Escribas, 2013), duas coletâneas de contos – a segunda edição de outra coletânea, A Ponto de Explodir (Jovens Escribas) está prevista para este ano.

Livros do escritor Sérgio Fantini

Em tempo: no próximo dia 17, segunda-feira, Sérgio Fantini iniciará, em Belo Horizonte, mais uma edição da oficina de contos “Para gostar de escrever” no espaço Letras e Ponto. Recomendadíssimo

1. Você não costuma passar muitas horas escrevendo. Já vi escritores comentando que o ideal é parar enquanto ainda há vontade de continuar, para guardar energia e motivação para o dia seguinte.

Ernest Hemingway afirmava que parava enquanto ainda sabia o que escreveria no dia seguinte. Ele dizia até o número de lápis que gastava por dia; acho que seis ou sete. Mas cada um tem seu jeito. No meu caso, eu nunca tive necessidade de passar muito tempo produzindo, talvez por me dedicar a contos. Aliás, eu nunca começo a escrever se houver limite de tempo: se tenho de estar no centro às 9 horas, pegar o ônibus às 08:30 h, tomar banho às 7:30 h, não faz sentindo começar a escrever às 6 horas.

2. Eu sei que bem que o tempo é uma preocupação constante de escritores, ao menos no sentido de tentar encontrar nele um espaço para a escrita.

Quando eu estava escrevendo uma novela, essa do personagem Silas, eu morava com minha família. Dividia um quarto com meu irmão, e tinha uma máquina de escrever eletrônica comprada à meia. Na época alguém me cobrou a novela, eu falei que estava sem tempo para terminar e levei uma traulitada: “se você quisesse ter tempo, você arrumava tempo”. A pessoa tinha razão.

Daí que comecei a acordar de madrugada para escrever na máquina, que era bem silenciosa, ali no quarto mesmo, na cama, com uma luminária para não incomodar meu irmão. Desde então, quando eu quero ou preciso escrever o melhor que eu faço é acordar cedo. Daí rende, é superprodutivo, mais do que eu parar no meio da tarde para produzir. Não tem muito mistério.

3. Você começou escrevendo poesia, depois passou para a prosa, mas não houve uma mudança radical; nota-se que a maioria dos seus textos traz muitos elementos poéticos. Pode-se dizer que você incorporou a poesia à prosa?

  Exatamente. Há esses elementos que, ao invés de serem transformados num poema, ou resultam num conto novo ou são incorporados a outro, ou ficam acumulados. O escritor é um acumulador, costumo dizer em minhas oficinas.

Eu vou acumulando coisas, visualmente, auditivamente, olfativamente, coisas inúteis, talvez. Pode ser que eu esqueça algo que ocorreu dois minutos atrás ou pode ser que eu me lembro disso daqui a 10 anos. O importante é você estar aberto para observar e tirar o melhor até de aborrecimentos.

4. E você tem o hábito de manter também anotações físicas, em cadernos? Refiro-me às ideias para trabalhos futuros que surgem inesperadamente, por exemplo.

Caderno de Escritor

Nunca se sabe quando uma boa ideia pode pipocar.

  Anoto, às vezes, até mais de uma vez, porque a minha memória é um estrago. Agora, nem sempre eu uso o que anotei. Mas é bom anotar porque todo esse material guardado já é combustível para tocar novas coisas. Daí pode ser que daqui a 10 anos eu veja aquilo e pense, “ei que negócio é esse?”.

5. Concordo. Há quem diga que se uma ideia é boa ela acaba voltando no momento certo. Mas se eu for contar com minha memória…

  Nossa, senhora, estou perdido, não vai acontecer nada.

Confira a segunda parte da entrevista com Sérgio Fantini.

Para saber mais:

  1. Sérgio Fantini – 7 coisas que aprendi: confira a contribuição do mestre Fantini para a série.
  2. 5 dicas para escrever contos: confira 5 conselhos do renomado escritor de fantasia norte-americano Philip Athans.
  3. 5 livros que ensinam a escrever: uma recomendação de lista de livros sobre escrita disponíveis em português.
  4. Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existencial.
  5. Serviço: Circuito Literário Mineiro: conheça e participe de diversos movimentos literários mineiros.
  6. Serviço: Oficinas Literárias: conheça algumas das oficinas literárias mais badaladas do Brasil.
  7. Sérgio Fantini fala sobre o novo livro Novella: entrevista com o escritor no Café Literário que também contém boas dicas para quem pensa em se tornar um escritor.

Interpretações da Leitura Crítica

Escritores João Guimares Rosa e Machado de AssisSe estivessem vivos hoje, o que pensariam os grandes escritores do passado sobre os inúmeros estudos de seus trabalhos?

Guimarães Rosa questionaria as intrincadas interpretações acadêmicas ou se ocultaria por trás de um sorriso enigmático? Machado de Assis concordaria com essas visões alheias ou arquearia uma sobrancelha furtiva?

E quanto a Franz Kafka, James Joyce, Fiodor Dostoiévski e outros autores renomados? Iriam todos silenciar? Temeriam, talvez, revelar a verdade plausível (e inconveniente?) de que os aspectos tão idolatrados de suas obras surgiram de modo totalmente inconsciente? Que nem mesmo eles atentaram para aquilo até um leitor fortuito os indicar?

Ninguém pode saber ao certo, não é mesmo? Mas se tivesse que arriscar um palpite, eu diria que não, nenhum deles contradiria tais interpretações, por mais descabidas que fossem. Mas suas razões, provavelmente, seriam bem diferentes das minhas.

Em tempo: um artigo publicado no site Literatortura trata justamente das respostas de alguns escritores renomados sobre os aspectos simbólicos de suas obras. O link está mais abaixo.

“Tudo faz parte do plano”.
Sherlock Holmes BBC

Deus me livre ser avaliado por alguém como ele!

Aconteceu há pouco tempo: ofereci para leitura um conto (inédito); aguardei pela avaliação. Eu estava preparado para quaisquer críticas ao texto, exceto para a visão que meu leitor crítico teve da história: esta não tinha nada a ver com o que eu pensara ao escrevê-la. Minha reação? Lábios cerrados num sorriso tortuoso, um menear de cabeça que dizia “sim, é exatamente isso”. Só que não era!

Na hora não fui capaz de admitir que aquela interpretação sequer passara pela minha mente, que não fora friamente calculada, que era um mero acidente de percurso. Confesso que ainda hoje eu não sei como me sentir – envergonhado? Decepcionado? Uma fraude? – quanto a isso, principalmente em vista da superioridade daquela análise ante a proposta que me levara a escrever o conto em primeiro lugar.

Eu sou uma fraude?!

Meu texto não comunicou ao leitor exatamente o que eu havia planejado, ele passou uma mensagem muito melhor que sequer havia me ocorrido. “Ora, mas isso é bom”, o leitor talvez pense. Será mesmo? Qual é o mérito desse resultado, já que não foi a minha intenção, mas a interpretação do leitor que me revelou uma reflexão superior? Percebe?

Pode isso significar que não me comuniquei bem com as palavras, que não me fiz entender? Talvez eu esteja exagerando, sendo dramático. Afinal, até que ponto isso deve ser considerado uma falha, já que a leitura provocou uma visão que satisfez o leitor? Não dizem que o ideal é deixar lacunas a ser preenchidas por cada leitor com suas próprias experiências e impressões?

Cena do Filme "As Palavras"

“Como eu gostaria de ter pensando nisso antes!”

O que você acha sobre isso, colega leitor e escritor? Algo assim já aconteceu com você?

Para saber mais:

  1. Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existencial.
  2. 5 dicas para escrever contos: confira 5 conselhos do renomado escritor de fantasia norte-americano Philip Athans.
  3. Série 7 coisas que aprendi: página principal do projeto que convida escritores em diversas fases da carreira a compartilharem suas experiências.
  4. Escritores renomados sobre simbolismo em suas obras: artigo publicado no site Literatortura. Recomendo a leitura.

Oficina literária, Daniel Galera e dicas de Gabriel García Márquez

Estas são as Notas Literárias, sua dose semanal de literatura. Originalmente publicadas na coluna Café Literário, do portal Café com Notícias, elas agora marcam presença no Escriba Encapuzado. Toda quinta-feira o leitor confere por aqui um universo de novidades, curiosidades e inspiração. Caso queira sugerir pautas para este espaço, basta entrar em contato.

Salve amigo leitor, salve amigo aprendiz. Esta semana as Notas Literárias apresentam uma interessante coleção de contos digitais, adaptações para palcos e telonas das obras do escritor Daniel Galera, uma oficina de escrita em Belo Horizonte e muito mais. Confira.

Galáxia de Contos
Ebooks do Selo Formas Breves da e-Galáxia

Espaço cultural especializado na preparação de e-books, o e-Galáxia tem promovido um novo selo digital dedicado ao gênero conto. A proposta do Formas Breves é oferecer, pelo módico valor de R$1,99, trabalhos de qualidade, tantos de clássicos universais quanto da nova geração de autores em língua portuguesa.

Quatro contos já estão disponíveis para compra na Amazon, Google Play e em outras redes. Averrós, de José Luiz Passos foi vencedor do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2013; Penélope, de André de Leones trata de um impasse entre uma atriz pornô e seu diretor; Lígia, de Victor Heringer trata de memória, morte e televisão; Uma no mercado, de Sérgio Fantini, explora um encontro de ex-namorados repleto de emoções num ônibus circular.

Oficina Literária em Belo Horizonte
Escritor Sergio Fantini

Fica aqui uma recomendação preciosa para aprendizes de escritor da capital mineira. Dia 17 de março, na segunda-feira pós-carnaval, o escritor Sérgio Fantini (sim, o mesmo do conto Uma no mercado da nota anterior) inicia mais uma edição da sua tradicional oficina de contos no espaço Letras e Ponto.

Ao todo serão dez encontros até 26 de maio, sempre às segundas-feiras, das 19:30 às 21:30 horas. Participei da oficina do mestre Fantini em 2013 e recomendo a todos que queiram pôr seus escritos à prova, bem como aprender e discutir os aspectos da criação literária.

Daniel Galera adaptado

As obras de um dos escritores brasileiros contemporâneos mais aclamados estão na mira de dramaturgos e cineastas. Dentes Guardados (Livros do Mal, 2001), primeiro livro (de contos) de Galera, ganha uma nova montagem pelas mãos do diretor Mário Bortolotto e estará em cartaz até Abril no Teatro Cemitério de Automóveis, em São Paulo, capital.

Atores interpretam contos de Daniel Galera

Atores interpretam contos de Daniel Galera – Lucas Mayor/Divulgação

Escritor Daniel GaleraEm 2007, Até o Dia em que o Cão Morreu (Companhia das Letras, 2007) virou o filme Cão Sem Dono, do diretor Beto Brant. Duas outras obras estão previstas para chegar aos cinemas em 2016: Barba Ensopada de Sangue (Companhia das Letras, 2012), livro premiado com o 3º lugar na categoria romance do Prêmio Jabuti, pelas mãos do diretor Aly Muritiba; e Cordilheira (Companhia das Letras, 2008), sob a direção de Carolina Jabor.

Este ano, a adaptação de Mãos de Cavalo (Companhia das Letras, 2006) começa a ser filmado em abril pelo cineasta Roberto Gervitz e conta com as atrizes Mariana Ximenes e Maria Flor no elenco. Sobre as adaptações de suas obras, Galera disse: “Nunca escrevo tendo adaptações em mente e considero cada uma delas uma obra independente, que tem a interpretação e a visão autoral de outra pessoa”.

Holocausto na TV

Escrito pela jornalista mineira Daniela Arbex, vencedora do Prêmio Esso 2005, Holocausto Brasileiro (Geração Editorial, 2013) será adaptado para a televisão. O livro-reportagem expõe os crimes hediondos ocorridos no hospital psiquiátrico Colônia contra os internos, dos quais cerca de 70% sequer tinham alguma doença mental.

O inicio das filmagens está previsto para maio e a direção ficará a cargo de Helvécio Ratton, o mesmo diretor responsável pelo documentário Em Nome da Razão, o qual expôs o caso em 1979 e também foi uma das fontes de Arbex na produção do livro. Maiores detalhes sobre o projeto ainda são desconhecidos.

Ano passado publiquei uma entrevista com Daneial Arbex durante o lançamento de seu livro em Belo Horizonte.

Daniela Arbex em foto do lançamento de seu livro em Belo Horizonte.

Na foto, repare numa figura bem ao fundo, oculta nas sombras, com o livro em mãos.

Conselhos de Márquez
Gabriel Garcia Márquez porToscano

Autor de Cem anos de solidão (Record, 2010) e Crônica de uma morte anunciada (Record, 2013),  e verdadeira lenda viva da literatura latino-americana, Gabriel García Márquez escreveu 12 valiosas dicas de escrita, devidamente traduzidas e publicadas no site Homoliteratus.

A dica que mais despertou minha atenção é aquela em que o colombiano confessa ter superado a síndrome da página em branco graças a um famoso conselho do escritor Ernest Hemingway: o importante é começar a escrever e continuar escrevendo até que as coisas comecem fluir sozinhas, como se ditadas por outra pessoa.

Rapidinhas

« Posts Antigos Posts Recentes »

© 2024 Escriba :

Tema por Anders NorenUp ↑