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NaNoWriMo: diário de escrita

O diário de escrita é uma valiosa ferramenta motivacional durante o National Novel Writing Month (NaNoWriMo), evento que te desafia a escrever um livro em um único mês. Ao registrar suas impressões, o participante pode reaver o foco perdido, identificar dificuldades e conhecer melhor os próprios hábitos como escritor.

O diário foi fundamental para meu sucesso no desafio. É interessante revê-lo agora, quase um ano depois da minha participação, e relembrar aquela insana e tão gratificante maratona. Decidi compartilhá-lo aqui no blog, mas antes quero aproveitar para dar mais algumas dicas ao futuro participante.

Mais coisa para escrever?!

É certo que 1.667 palavras diárias já são intimidadoras o suficiente, mas manter um diário de escrita não exige esforços adicionais; pelo contrário, a experiência é como uma terapia. A ideia é registrar, da maneira mais simples possível, o progresso, as dificuldades, os pensamentos, as sensações, os hábitos.

O diário é uma forma de escape; deve-se despejar ali tudo o que vier à cabeça naturalmente: alegrias, frustrações, uma palavra de incentivo (própria ou de outros escritores), xingamentos. Ele também pode ser usado para anotar as metas para os próximos dias, mas somente se isto servir como motivação.

Algumas perguntas-chave para responder ao fim de cada dia podem servir como guia: “como me senti?”; “houve dificuldades? Quais?”; “a meta diária foi atingida?”; “quantas pessoas tive vontade de matar hoje?”. O importante é entender que o diário é sobre o escritor, portanto, nada de escrever sobre o livro ali – reserve um caderno próprio para isso.

Tinta e papel é tudo o que é preciso.

Físico ou virtual?

Há quem crie blogs para registrar seu cotidiano no NaNoWriMo. Alguns utilizam redes sociais como Facebook e Twitter. Estes meios são excelentes para desperdiçar o tempo. Além disso, a exposição que proporcionam pode induzir o participante a se dedicar em excesso ao diário. A praticidade é o ideal: um moleskine ou um bloco de notas já dão conta do recado.

É importante ter em mente que a função do diário é motivar, não distrair, por isso o segredo é não complicar. A seguir compartilho meu minidiário de bordo. Revendo-o agora percebo os principais desafios que enfrentei naqueles não tão distantes 30 dias, o quanto meu processo foi aprimorado desde então e como manter tal registro fez toda a diferença para meu sucesso.

Meu diário de bordo

DIA 1: ontem, 31 de outubro, dormi à meia-noite. Dormi mal, talvez devido à ansiedade pelo início do NaNoWriMo. Acordei às 5:30h, sentei-me para escrever às 6:10h. Escrevi até às 8h. A escrita fluiu bem. O planejamento do primeiro conto ajudou muito a começar. Editei algumas vezes; preciso desapegar do lado editor. Foram 1.689 palavras. Bom começo.

DICA: quando topar com algo na história que careça de pesquisa (cruzamentos entre ruas, por exemplo), escreva em MAIÚSCULA e valide durante a revisão nos meses seguintes.

“Ieeei! Cumpri a meta do dia! Será moleza!”

DIA 2: não escrevi. Tudo bem. Retomo amanhã, sem falta. Não é o fim do mundo.

DIA 3: comecei o dia com as 1.689 palavras do primeiro dia. Fiz uma única sessão de 1:30h, mas não rendeu tanto: apenas 618 palavras. Muitas interrupções neste sábado.

DIAS 4 e 5: não escrevi. Muitos compromissos sociais, familiares e profissionais. Vejo nuvens negras no horizonte…

DIA 6: uma sessão de 1:30h para um total de 1.047 palavras. Nesse ritmo terminarei só em 21 de Dezembro. Tentei tirar o atraso com uma sessão extra após o trabalho, mas a mente estava esgotada.

DIA 7: três sessões de 1h cada e 1.800 palavras escritas. Bom? Nada. Os atrasos renderam uma cota de 1.950 palavras para amanhã. Tudo bem, eu posso atingir o mínimo. Concluí o primeiro conto.

DIAS 8, 9 e 10: não escrevi. Muitas exigências no trabalho e compromissos pessoais inadiáveis. A planilha diz que nesse ritmo eu nunca terminarei meu livro. Inspirador. A cota para o dia 11 disparou para 2.242 palavras. Que diabos eu estava pensando ao entrar nessa?

“Nesse ritmo só terminarei em outra vida.”

DIA 11: uma mísera sessão de 1h e cinco interrupções resultaram em parcas 204 palavras. Tá complicado escrever no fim de semana. Tudo bem, pelo menos assim eu termino até Junho de 2013.

DIA 12: duas sessões, 4h totais, 1.045 palavras, conclusão na véspera de natal. Papai Noel, este ano eu quero tempo para escrever, pode ser?

DIA 13: não escrevi mesmo, e daí? Tá tenso. Mas as férias estão chegando, então vamos ter fé, certo, Brasil?

DIA 14: uma sessão, 3h diretas e míseras 1.219 palavras, mas pelo menos concluí outro conto. Quase metade da maratona e ainda faltam seis para escrever. Ou melhor, quatro, afinal, você ainda tem de planejar os dois últimos, lembra? 🙁

DIA 15: 1.365 palavras no dia, total de 8.987 escritas. Restam 41.013 e apenas quinze dias para o fim. A cota para amanhã é de 2.734 palavras. Mas alegre-se, semana que vem começam suas férias! Ah, quer saber, não se preocupe com o número de palavras. Senta a bunda na cadeira, escreva e entrega pros Céus.

“Valei-me meu São Francisco de Sales!”

DIA 16: uma sessão de 3h. Dei uma arrancada razoável, mas o ânimo foi diminuindo – sempre que escrevo sabendo que terei algum compromisso para logo mais isso acontece. Aprenda de uma vez: você escreve muito melhor quando não tem compromisso com o tempo.

DIA 17: finalmente um sábado produtivo! Concluí o terceiro conto. Comecei por voltas das 08h e parei às 11h, com um intervalo de 15 minutos. Empolgado, quebrei minha regra e tentei começar outro conto por volta das 13h. Não deu certo. Escrevi palavras a esmo; metade deve ser descartada. Foram 3.425 palavras, meu primeiro recorde! Neste ritmo, termino no dia 29.

DIA 18: não tive saco para escrever, mas me forcei a trabalhar. Gastei muito cartucho ontem. Apesar disso, para um Domingo, até que o dia foi produtivo: 1.358 palavras. Cota para amanhã é de 2.873 palavras. Me ajuda aí!? Isso tá pior que preço de gasolina!

DIA 19: primeiro dia de férias e novo recorde: 4.541 palavras. Três sessões, 4h totais. Mas foi cansativo. Não estou tão empolgado com o quarto conto quanto eu esperava. Escrevi durante alguns minutos no celular, na praça. Perfeito para soltar palavras na tela, sem me preocupar com meu lado editor.

“Escreva bêbado, edite sóbrio”, já dizia Hemingway.

DIA 20: duas sessões. Esgotado depois de ontem, desperdicei a manhã e só comecei a escrever por volta de 13:30h. Finalizei o quarto conto, o maior até agora, com cerca de 10 mil palavras. É também aquele que mais precisará de revisão e cortes mais à frente.

DIA 21: comecei a escrever bem cedo um conto de fantasia, um dos meus gêneros favoritos. Embora já planejado, tive algumas ideias complementares para a história e anotei-as à parte (essas não entrarão na contagem, claro). Problemas pessoais tiraram o ânimo no meio do dia. À noite, após uma cerveja, tentei voltar a escrever, mas nada. Álcool pra mim não funciona.

DIA 22: novos recordes: 5.488 palavras e um conto, o quinto, concluído em apenas dois dias. A história de fantasia rendeu ainda mais ideias promissoras; talvez até dê para aproveitá-las num futuro romance. Nesse ritmo, eu termino em 26 de novembro, mas não tenho ilusões quanto a escrever 5 mil palavras todos os dias.

DIA 23: 2.556 palavras, duas sessões, 3h totais. Agora eu terminarei no dia 30 de novembro. 😛

DIA 24: sexto conto concluído em dois dias. Nada mal. 36.549 palavras escritas, 13.451 para a meta. Os próximos dias serão tensos: é hora de escrever os dois contos que não tive tempo de planejar. Vamos ver no que vai dar escrever sem saber para onde a coisa vai; pior: em cenários que requerem um mínimo de pesquisa decente.

“Vejo nuvens sombrias no horizonte.”

DIAS 25 e 26: a produtividade despencou; 1.847 e 2.883 palavras, respectivamente. Péssimo. Perdi tempo pesquisando, planejando rumos para as histórias, desenvolvendo os personagens; o tempo e o esforço gastos na preparação foi desanimador. Escrevi feito um louco, mas o que vale para a contagem é apenas a história contada. Sétimo conto iniciado e editado inúmeras vezes.

DIA 27: um inesperado recorde de 7.503 palavras. Estava tendo dificuldades para descrever o ambiente do sétimo conto, que se desenrola na época da Segunda Guerra Mundial. Optei por deixá-los de lado e me concentrar na história; detalhes como armamentos, veículos, situação política foram relegados a uma pesquisa posterior. Restam 3 dias e um único conto para o fim.

DIAS 28, 29 e 30: o oitavo e último conto rendeu estresse na reta final pelas mesmas razões do conto anterior: a ambientação, desta vez o Brasil Colônia. Adotei a mesma estratégia aqui. Mas confesso que não curti tanto as ideias para essa história; a proximidade do fim e as 50.423 palavras atingidas ainda no dia 29 também me fizeram desacelerar o ritmo.

Semana que vem, no último artigo da série, compartilharei inúmeras dicas práticas e motivacionais. Até. 😉

Para saber mais:

  1. NaNoWriMo: 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série que estou escrevendo.
  2. NaNoWriMo: as críticas e o valor do desafio – saiba porque o evento é visto com desconfiança por escritores e demais profissionais do mercado editorial.
  3. NaNoWriMo: como escrevi um livro em 30 dias – onde detalho minha participação no evento em 2012.
  4. National Novel Writing Month: página oficial do evento. Acesse, informe-se e participe do desafio!
  5. Diário de Bordo da Sara Farinha: o dia a dia da escritora lisboeta durante a edição de 2012.
  6. Como consegui escrever um livro em 4 semanas: relato e diário de bordo de Diego Schutt, autor do Ficção em Tópicos e participante da edição de 2010 do NaNoWriMo.
  7. Especial NaNoWriMo: o blog Novas Memórias de Ivan Bittencourt também está com uma série de posts sobre o evento. Confiram.

NaNoWriMo: como escrevi um livro em 30 dias

Em 2010, eu conheci o National Novel Writing Month (NaNoWriMo), o evento internacional que propõe escrever um livro em 30 dias. Na esperança de me preparar melhor, adiei minha participação para 2011. Não aconteceu: ano de formatura em faculdade é ano agitado.

Finalmente, em 2012, topei o desafio. Mas ao invés de mergulhar de cabeça, entrei na ponta dos pés para conquistar a vitória. Valeu a pena. A experiência contribuiu muito para meu amadurecimento como escritor.

Planejamento é fundamental

O NaNoWriMo ocorre só em novembro. Todos os meses anteriores podem ser aproveitados para a preparação do livro – de fato, esta recomendação é unânime entre os participantes de edições anteriores. Por já estar com a agenda repleta de projetos paralelos, decidi me preparar apenas um mês e meio antes.

A duas semanas do início do evento me arrependi: o parco material que havia reunido não sustentaria um romance de 50 mil palavras. Nada disposto a desistir, mas temendo perder o fôlego no meio do caminho, eu adotei outra estratégia: ao invés de uma única história longa, eu escreveria várias curtas.

Optar por uma coletânea de contos foi excelente. Havia inúmeras historietas rascunhadas em arquivos no meu computador e nos cadernos da faculdade – ei, quem nunca rabiscou ideias durante as aulas? Escolhi as 8 (oito) mais promissoras para trabalhar melhor diversos aspectos, como ambientação, tom, estrutura.

Planejamento é o segredo do sucesso no NaNoWriMo.

Conto x Romance

Há quem prefira não escrever contos no NaNoWriMo por ter dificuldade em desvencilhar-se destes: personagens, cenas, situações repetem-se ou confundem-se entre as diversas histórias. O escritor tem uma incomoda sensação de déjà vu. Isso não aconteceu comigo e a razão talvez seja o método de trabalho que adotei.

Defini que, uma vez iniciado, um conto deveria ser escrito até o fim, ou seja, nada de alternar entre as oito histórias ao longo do mês. Foi um ótimo modo de treinar a disciplina. Eu também nunca começava a escrever um conto no mesmo dia em que concluía outro.

O primeiro dia de novembro chegou e eu ainda tinha 2 (dois) rascunhos de conto inalterados: algumas linhas sobre o enredo e o protagonista era o que havia. Antecipando o trabalho que teria para escrevê-los, eu os deixei de lado por um tempo e procurei entre os outros 6 (seis) os que mais me empolgavam. Alternando-os numa lista numerada, lancei-me ao desafio.

Como será que o tio Martin se sairia no NaNoWriMo?

Produtividade à prova

Cerca de 1.670 palavras por dia rendem um livro de 50 mil palavras ao final de um mês. Linda teoria, mas a prática é bem diferente. Em toda a primeira quinzena de novembro, apenas num mísero dia (o primeiro) atingi essa cota. Na verdade, todo o período foi pouquíssimo produtivo e cheguei a ficar 7 (sete) dias sem escrever uma vírgula sequer.

Registrando meu progresso em uma planilha, aterrorizei-me ao perceber que, naquele ritmo, eu só atingiria a meta em dezembro. Para piorar, a quantidade de palavras diárias necessárias para cumprir o prazo tinha subido para 2.700. Tudo teria ido pelos ares não fossem as férias do trabalho agendadas para os quinze dias seguintes.

Pelo que restava do mês, eu consegui manter um ritmo constante escrevendo todos os dias e ficando, na maioria deles, acima da cota diária (recalculada automaticamente segundo minha produtividade) – de sete dias pouco inspirados, três foram os últimos do NaNoWriMo, nos quais trabalhei um dos dois contos que não havia planejado.

O NaNoWriMo te desafia a ser mais produtivo.

Manter uma planilha de controle durante o evento é excelente. Com ela é possível replanejar os dias à frente, empenhando-se mais em alguns, tirando folga em outros. Escrever todo dia não é tão fácil quanto pode parecer, mesmo quando não é preciso conciliar família, profissão e estudos. A vida proporciona inúmeras situações que não podem esperar o fim de novembro.

Perdendo o rumo

A seis dias do fim do NaNoWriMo, eu comecei a trabalhar aquelas ideias mal rascunhadas de contos que não tive tempo de planejar melhor. Foi um verdadeiro martírio transformar poucas linhas vagas em duas histórias coerentes e interessantes. Passei horas tateando na escuridão, à procura dos rumos e conflitos do enredo, da essência e motivações dos personagens.

Enquanto escrevia, vários caminhos alternativos se desdobravam, personagens surgiam e desapareciam a todo instante, situações se arrastavam sem propósito algum, finais diversos se insinuavam. Puro caos. Muitas palavras foram lançadas ao papel até que o caminho adequado fosse encontrado.

“Nada disso importa, Jack. Tudo ficará bem.”

Pode-se dizer que passei os últimos dias do evento não apenas escrevendo, mas planejando essas histórias. Obviamente, muito do que escrevi não foi considerado na contagem. Há quem diga que tudo que é escrito em novembro vale, mas discordo e, por isso, apenas as primeiras versões “definitivas”, com finais definitivos (sem aspas) dos dois contos compuseram o total.

As pedras no caminho

Escrever sem planejamento prévio, sem ao menos uma noção do rumo da história, foi difícil, mas houve outros desafios naquele novembro insano. Lidar com interrupções constantes, por exemplo, rendeu algum estresse. Durante as férias eu era solicitado com frequência por minha família por estar “à toa”, enfurnado no quarto.

Essas intervenções aconteciam sempre no pior momento possível – quase sempre durante a rara visita da musa, que fugia sem hesitar ao mero ranger da porta. Quando expliquei a razão de meu isolamento social, a maçaneta passou a sacudir menos. Contudo, feriados e finais de semana continuaram sendo um pesadelo; simplesmente os piores dias para escrever.

Na segunda quinzena do NaNoWriMo me vi obrigado a escrever por longas horas todo santo dia até o limite da exaustão. Péssimo. Exceder-se para aproveitar uma súbita onda inspiradora pode parecer uma boa estratégia, mas trará consequências terríveis no(s) dia(s) seguinte(s). O ideal é parar enquanto ainda se quer continuar, poupando esta motivação para o amanhã.

“Chega de escrever por hoje. Que tal prendermos uns bandidos?”

Houve dias em que eu estava sem paciência de sentar-me diante do computador, ainda que apenas por algumas horas. Queria escrever, mas estava enjoado da ferramenta, do ambiente. Tampouco queria usar papel e caneta – não tenho hábito de utilizar cadernos físicos, mas falo sobre isso em outra oportunidade.

A solução para mim foi utilizar um smartphone. De posse do meu bom e saudoso Nokia E71, eu sentava-me na varanda de casa, numa lanchonete, num banco de praça e ali, imerso noutro ambiente, dava continuidade aos contos. Claro, um notebook também daria conta do recado, mas um celular traz muito menos distrações.

Controlar o uso da Internet também foi complicado. Em quase todos os dias, escrevi com ela ligada, o que me prejudicou em, digamos, 60% das vezes. Às vezes, durante as pausas entre as sessões de escrita ou quando eu travava em algum ponto de uma história eu aproveitava para fuçar no Facebook, conferir e-mails, ler alguns blogs. Difícil era me forçar a voltar ao trabalho.

Atualização de status: “Eu deveria estar escrevendo”.

O maior problema foi quando utilizei a Internet como fonte de pesquisa para os dois últimos contos, um ambientado no Brasil Colônia, o outro após a Segunda Guerra Mundial. Perdi muito tempo, pois não sabia exatamente do que eu estava precisando, já que nem mesmo a história estava definida. Há material bastante ali para ocupar um pesquisador por um longo tempo.

A TV também foi um vilão no mês de novembro. É incrível o seu poder de enfeitiçar: bastava uma ida ao banheiro ou à cozinha para que o olhar de esguelha fosse capturado pelo programa superinteressante só podia estar passando naquela hora em que eu estava escrevendo. Mas se houver disciplina, ela pode ser uma aliada na busca por inspirações para uma história.

Nos próximos artigos da série eu compartilharei meu diário de bordo e dicas motivacionais. 😉

Para saber mais:

  1. NaNoWriMo: 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série que estou escrevendo.
  2. NaNoWriMo: as críticas e o valor do desafio – saiba porque o evento é visto com desconfiança por escritores e demais profissionais do mercado editorial.
  3. National Novel Writing Month: página oficial do evento. Acesse, informe-se e participe do desafio!
  4. Especial NaNoWriMo: o blog Novas Memórias de Ivan Bittencourt também está com uma série de posts sobre o evento. Confiram.
  5. Como consegui escrever um livro em 4 semanas: relato de Diego Schutt, autor do Ficção em Tópicos e participante da edição de 2010 do NaNoWriMo.
  6. 13 verdades terríveis sobre o NaNoWriMo: o outro lado da moeda por um participante do evento (em inglês).

NaNoWriMo: as críticas e o valor do desafio

Escrever um livro de 50 mil palavras em 30 dias é uma proposta audaz. É natural, portanto, que o National Novel Writing Month (NaNoWriMo) seja visto com desconfiança ou até mesmo descaso, principalmente por escritores e demais profissionais do mercado editorial.

As principais causas para a aversão dos detratores do NaNoWriMo são a má interpretação da essência do evento e a crença preconceituosa de que este não produz boas obras. Ainda que a tais críticas não sejam injustificadas, é inegável que o evento tem sim seus méritos.

Críticas recorrentes

O NaNoWriMo não é sobre qualidade, mas quantidade; é uma competição, nada mais.

Essa visão equivocada é reforçada não só por muitos participantes como pelo próprio site do evento. Embora encorajem as revisões, os organizadores do NaNoWriMo não alardeiam todo o trabalho que aguarda os escritores após o fim de novembro.

Por isso, é comum ver trabalhos disponibilizados na íntegra na Internet poucos dias depois de concluídos, sem que tenham passado sequer por uma fundamental correção ortográfica e gramatical.

O objetivo não é produzir um livro de 50 mil palavras para ser exibido como um troféu nem para abarrotar a caixa postal de editoras na esperança de ser publicado. O escritor consciente compreende isso, aceita que é difícil escrever algo de qualidade em 30 dias e dedica os dias, meses, anos seguintes revisando e aprimorando seu trabalho.

“Eu odeio o NaNoWriMo.”

O NaNoWriMo não encoraja a boa escrita e muito menos sua melhor prática.

Ninguém define melhor seu processo de trabalho do que o próprio escritor. Não existe um só meio de se produzir um romance. Alguns passam anos sobre um original, outros concluem em meses, dias ou até mesmo horas.

Sir Arthur Conan Doyle escreveu o livro de estreia do detetive Sherlock Holmes, Um Estudo em Vermelho, em 3 semanas. John Boyne escreveu O Menino do Pijama Listrado em apenas dois dias e meio. O brasileiro Ryoki Inoue venceu o desafio de um americano ao escrever um livro em algumas horas.

O prazo curtíssimo do NaNoWriMo é apontado como o vilão da boa escrita: pressionado pela meta “absurda”, o participante poderia se valer de artifícios como abusar do uso de adjetivos e advérbios, por exemplo. Desnecessário dizer que isso é trapaça, não é? Tais atitudes apenas reforçam, erroneamente, o clima de competição do evento.

O escritor mais produtivo do mundo segundo o Livro dos Recordes.

No NaNoWriMo a pressão não forma diamantes, apenas pó.

A criação literária é caracterizada pela moldagem parcimoniosa da obra: é preciso trabalhar as ideias na mente por um tempo, deixá-las amadurecer e só então transpô-las para o papel. Essa é uma noção comum entre escritores e com a qual concordo. Mas o NaNoWriMo não vai contra isso.

As “regras” do evento ditam que trabalhos anteriores não podem ser aproveitados, isto é, o livro deve ser escrito do zero. Isso não significa, porém, que o participante seja proibido de dedicar-se nos meses anteriores à maturação das ideias do romance que pretende escrever.

Também não impede que, nos meses seguintes, o texto seja revisado e aprimorado. A grande maioria dos livros produzidos durante o evento não está pronta para ser mostrada ao mundo. Um Estudo em Vermelho e O Menino do Pijama Listrado com certeza não foram publicados sem uma criteriosa revisão.

Todo grande romance passa por rigorosas etapas de revisão.

O NaNoWriMO não incentiva a mentalidade certa para ser criativo.

Atentar para o total diário de palavras pode minar a criatividade do participante e tirar o seu foco da história, que é o que realmente importa. Sim, é bem possível. Acontece que novembro não é um mês para ser criativo, mas sim produtivo.

Certa vez, escutei um escritor descrever seu processo de trabalho. Havia uma longa fase de criação, dedicada apenas à maturação de ideias, pesquisas, mapas mentais. A fase seguinte era a de produção, na qual ele escrevia a história efetivamente, utilizando como referência todo o material obtido na fase de criação.

Em outras palavras, somente quando este escritor sentia ter esgotado todas as possibilidades de criação que lhe agradavam é que ele começava a escrever, mecanicamente, o livro de fato.

Alguns escritores separam a fase de criação da fase de produção.

O NaNoWriMo esgota a mente de seus participantes a troco de nada.

Sim, o evento é uma maratona verdadeiramente extenuante. Haverá momentos em que o participante se sentirá frustrado, desesperado, tentado a desistir. Isso acontecerá ainda com maior frequência se tiver de conciliá-lo com trabalho ou estudos.

Para os vitoriosos, o fim de novembro poderia reservar uma aversão passageira pela escrita, não fosse pela satisfação de concluir a primeira versão de um romance. Finalmente aquela história que antes existia apenas em na mente está ali, diante dos olhos, palpável. Está pronta, é impecável? Claro que não. Mas ela existe!

Aqueles que não conseguiram atingir as metas do NaNoWriMo não têm razão para se abater e devem aproveitar a experiência para refletir, aprender e evoluir como escritores.

Um provável vencedor do NaNoWriMo.

A natureza do NaNoWriMo

Escrever, escrever, escrever. Essa máxima repetida pela maioria dos escritores se aplica bem ao evento. Quanto mais se escreve, mais se aprende a escrever. Quando o participante voltar ao texto original algum tempo depois, aprenderá ainda mais ao reescrever aquele rascunho tosco.

NaNoWriMo é isso. É o empurrão para tirar o escritor da inércia, é a pressão na forma de prazo, é a adrenalina do desafio, é o incentivo para se escrever a primeira versão daquela história que há muito tempo só existe fragmentada em pensamentos.

Dizer que o evento não produz bons livros é bobagem. Se fosse verdade, livros como O Circo da Noite, de Erin Morgenstern, e Água para Elefantes, de Sara Gruen, jamais teriam sido publicados nem se tornado sucesso de vendas.

Quem disse que o NaNoWriMo não produz bons livros?

Perdoem-me os detratores, mas o NaNoWriMo tem sim seu valor. Não fosse assim, o evento não contaria com o apoio de escritores do calibre de James Patterson, Neil Gaiman, Garth Nix, Philip Pullman, John Green e Meg Cabot, não é mesmo?

Para saber mais:

  1. NaNoWriMo: 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série que estou escrevendo.
  2. National Novel Writing Month PEP Talks: palavras de incentivo de escritores renomados na página oficial do evento (em inglês).
  3. 5 livros publicados que nasceram no NaNoWriMo: um TOP 5 no blog For books’ sake (em inglês).
  4. 13 verdades terríveis sobre o NaNoWriMo: o outro lado da moeda por um participante do evento (em inglês).
  5. Como escrever um livro em 30 dias: um guia elaborado pelo jornal The Guardian (em inglês).

NaNoWriMo: 30 dias para escrever um livro

Ano passado, eu abandonei o blog por um mês inteiro para escrever um livro. Unindo-me a outros loucos de todo o mundo, topei o desafio proposto pelo National Novel Writing Month ou NaNoWriMo (Mês Nacional de Escrita de Romances, em tradução livre).

Com a proximidade de mais uma edição, decidi elaborar uma breve série de artigos para compartilhar um pouco dessa inesquecível e enriquecedora experiência.

Iniciado nos Estados Unidos, o NaNoWriMo completa 15 anos em 2013 com mais de 300 mil (número da última edição) inscritos de diversos países, incluindo o Brasil – já passou da hora dos organizadores reverem o nome do evento, não? A participação é livre e não há restrições quanto a gênero, tema, idioma ou estrutura da obra.

Em contrapartida, espera-se que algumas diretrizes sejam seguidas pelos participantes. Mas as únicas regras verdadeiras são essas: o livro deve ser escrito num mês (Novembro) e ter, no mínimo, 50 mil palavras.

Trinta dias de abandono literário

Para alcançar uma meta tão assustadora, é preciso escrever algo em torno de 1.667 palavras por dia. Difícil? Pode apostar que sim. Mas não é impossível, como comprovam os milhares de vencedores das edições passadas.

A chave para a conquista é ter consciência de que o livro não estará pronto para publicação ao final do desafio. Os próprios idealizadores alertam que tal chance é ínfima: o mais provável é que o resultado será horrível. Tudo bem, afinal, o objetivo aqui é outro.

“A primeira versão de qualquer coisa é uma merda.”

O NaNoWriMo é o necessário chute nos fundilhos daqueles que querem ser escritores, mas se deixam desanimar pelo perfeccionismo, pela inércia, e por outras tantas desculpas fajutas. Trata-se de um incentivo à produção de algo concreto, nem que seja um rascunho tosco.

Ao encarar o desafio, é preciso desligar o crítico interno. As revisões, adaptações e reescritas serão necessárias, mas somente mais adiante. Novembro é o mês para transpor ao papel uma história que se deseja contar ou pensamentos que se queira expressar. A única preocupação deve ser escrever, escrever, escrever.

Começando do zero (mas nem tanto)

Pelas diretrizes, trabalhos anteriores não podem ser aproveitados, ou seja, é preciso escrever um livro a partir do nada. Nada impede, porém, que o participante rascunhe um planejamento com certa antecedência. Na verdade, um guia é mais do que aconselhável, é essencial para a vitória.

O NaNoWriMo é uma maratona; é preciso produzir muito no menor tempo possível – e ainda conciliar a escrita com as demandas naturais do dia a dia. Por isso, o ideal é ter claro desde o começo o livro que se pretende escrever para evitar desperdiçar horas tentando encontrar o rumo perdido.

“É tudo parte do plano.”

O planejamento é ainda mais útil ao se produzir uma coletânea de contos, já que esta trará diferentes narrativas, com personagens e situações diversas. Planejar evita bloqueios e ajuda a focar apenas na escrita durante os 30 dias.

Para aprender com os colegas

Para promover a interação entre os participantes, o site do NaNoWriMo dá suporte a vários fóruns. Divididos por regiões, esses pontos de encontro virtuais são moderados por municipal liaisons (algo como referências municipais): a eles cabem, entre outras, a função de divulgar o evento em sua comunidade.

Até 2012 os fóruns brasileiros eram gerenciados pelo paulista Fernando Aires e pela porto-alegrense Luiza Monteiro, ambos participantes (e vencedores) de várias edições anteriores – é preciso ter vencido o NaNoWriMo para se tornar um municipal liaison.

Os encontros presenciais, chamados write ins ou parties (saraus), também são comuns. Neles os participantes confraternizam, celebram o começo ou o fim do evento e, é claro, escrevem – mas nem todos, já que é possível encontrar quem participe apenas como observadores desse grande laboratório.

Uma brincadeira séria

Ao contrário do que parece, o NaNoWriMo não é uma competição. De fato, não há nada de espetacular na premiação reservada àqueles que alcançarem a meta de 50 mil palavras: um certificado, um emblema, artes para camisetas, alguns descontos em programas de parceiros e só.

Recompense-se com um delicioso cappuccino.

O valor do evento está na motivação proporcionada por sua meta e prazo, na chance de ter ao menos uma primeira versão completa do livro tão sonhado, na oportunidade de interagir e aprender com uma comunidade que reúne escritores amadores e profissionais.

Interessado? A próxima edição do NaNoWriMo está chegando. Ainda há tempo para se preparar, então que tal já ir tacando no papel algumas ideias para sua obra? Produza um guia caprichado e vá se aquecendo para um mês inteiro de abandono literário.

As “Regras” do NaNoWriMo

O evento garante liberdade de criação aos participantes, mas estabelece certas orientações para definir quem pode se considerar um vencedor do desafio.

Note-se que nada disso impede a participação, já que a única validação no site do NaNoWriMo se dá sobre a quantidade de palavras; cabe a cada um manter-se em paz com sua consciência.

  1. Escrever um romance de 50.000 mil palavras ou mais durante o mês de novembro.
  2. Começar do zero. Nada impede o participante de fazer planejamentos, pesquisas, rascunhos, mas nenhum material escrito previamente pode ser utilizado na contagem final do desafio. Não é permitido dar continuidade a um trabalho pré-existente.
  3. Aceita-se somente romances. É considerado um romance todo trabalho longo de ficção, incluindo ficções de fãs (FanFics) e coletâneas de contos, desde que tenham um tema em comum. Música, poesias, roteiros, quadrinhos, e obras de não ficção (biografias, memórias, autoajuda) não são romances.
  4. Autoria única. Não são permitidos livros escritos em parceria. Espera-se que o participante escreva mais do que uma única palavra repetida 50 mil vezes.
  5. Enviar o livro ao site para validação de palavras nos últimos dias de novembro.

Para saber mais:

  1. National Novel Writing Month: página oficial do evento. Acesse, informe-se e participe do desafio!
  2. Como consegui escrever um livro em 4 semanas: relato de Diego Schutt, autor do Ficção em Tópicos e participante da edição de 2010 do NaNoWriMo.
  3. NaNoWriMo: O que eu aprendi sobre ser escritor? relato de Bruno Cobbi, autor do Aprendiz de Escritor e editor na Terracota Editora.
  4. NaNoWriMo por Sara Farinha: a escritora lisboeta tem grande experiência e já escreveu vários posts sobre o evento. Confira suas dicas preciosas.

5 dicas para escrever contos

Há pouco tempo o escritor americano Philip Athans publicou em seu blog algumas dicas sobre como produzir um conto completo numa única sessão de escrita.

Imaginem quantas histórias uma pessoa que escreve regularmente poderia produzir assim? Bom demais para ser verdade? Talvez, mas é possível. E nem é preciso ser um best-seller como Athans.

5 atitudes ao escrever contos
  1. “Tenha a história quase pronta em sua imaginação antes de começar.”

    Não é preciso montar um roteiro completo, mas imaginar uma parte do todo ajuda bastante. Particularmente, procuro visualizar primeiro personagens (não muitos; de dois a três, às vezes só um) com características e históricos inusitados – costumo ser detalhista neste ponto, o que não é o ideal para narrativas curtas (tenho trabalhado esta questão, mas falo disso outro dia).

    O próximo passo é imaginar o conflito do conto, algo que os personagens queiram e que os coloque em atrito um com os outros ou consigo mesmos. A seguir, eu imagino o momento ou a cena em que o conflito eclodirá (o clímax), explicitamente ou não. Às vezes tento antecipar também o final, mas se não o encontro me contento com o que já tenho.

  2. “Não ligue o computador até que saiba qual será a sua primeira frase.”

    Acrescento: e até que saiba como o conto começará. A página em branco intimida, confunde. Ela tenta te convencer de que sua ideia não é tão boa quanto parece e, por isso, não merece ser escrita. Como ela ousa?! Felizmente, a página em branco tem ponto fraco: uma vez preenchida (quanto mais palavras, melhor), ela perde seu poder. Arme-se antes de desafiá-la.

    Travou? Dê um tempo e tente novamente.

  3. “Não se preocupe com os detalhes. Deixe-os para depois.”

    Não se trata de escrever algo superficial. Detalhes são importantes, dão cor e vida próprias ao texto. Mas a preocupação agora é tirar aqueles fragmentos de informação da cabeça e uni-los para contar uma história. Neste momento não importa o tipo de tecido do vestido daquela mulher sedutora nem o nome do drinque que o psicopata lhe paga.

    Quando não consigo evitar a necessidade de ser específico, faço uma consulta rápida a um dicionário, a uma enciclopédia, a um conhecido ou mesmo ao Google – ainda não consegui me convencer a não escrever com Internet ligada –, mas, se não encontro o que procuro, escrevo algo genérico, destacado em negrito e caixa-alta, e sigo em frente.

  4. “Continue escrevendo, o mais rápido que puder, não importa como.”

    Não pense, apenas escreva. Não se preocupe com os erros de ortografia e gramática, ignore as frases mal construídas e os diálogos patéticos, deixe passar as falhas de continuidade. Não releia o texto, coloque palavra atrás de palavra e prossiga. Escreva, escreva, escreva. E então…

    Entregue-se à escrita.

  5. “Quando achar que chegou a um ponto onde a história deve acabar, pare.”

    Normalmente ele está em algum lugar logo após o clímax do conflito. É mais fácil identificar esse ponto, obviamente, quando se conhece de antemão o desfecho do conto. Por outro lado, também é possível que o final se forme na mente durante a escrita. Mas se nenhum dos dois casos se aplicarem, o melhor é seguir a intuição. De qualquer modo, uma vez exposto o conflito, é importante não se alongar e concluir o conto o quanto antes.

“E atenção: se liga aí que é hora da revisão.”

Com um pouco de prática, é perfeitamente possível escrever um conto numa única sentada, parafraseando Athans. A satisfação de ver sua história narrada do inicio ao fim bem ali, diante de seus olhos, é única – igualável apenas, talvez, pela satisfação de concluir um romance.

Mas calma lá!

O texto está terminado, mas não está pronto para ser apresentado ao mundo, pelo contrário. Esta é apenas a primeira versão e é bem provável que seja horrível – não se podem esquecer os problemas ignorados lá atrás, correto? Antes de enviá-lo para os amigos ou postá-lo no blog será preciso lapidar (e muito) esse diamante bruto.

Deixe isso para outra oportunidade. Por ora, encoste o texto e esqueça-se dele por uns dias. Fique feliz por ter escrito um conto completo de uma só vez e vá pegar aquele agradinho que prometeu a si mesmo caso conseguisse cumprir mais este desafio.

Aproveite um repouso merecido.

E vocês, leitores? Como costumam escrever seus contos?

Para saber mais:

  1. Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existêncial. :)
  2. O pesadelo das revisões constantes: um desabafo sobre essa dificuldade que, felizmente, tenho conseguido superar.
  3. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  4. Estrutura dramática de um conto: ótimo artigo escrito pela escritora parceira Sara Farinha.
  5. The one-sitting short story: onde Philip Athans fala sobre como escreveu um conto de 6.000 palavras numa única noite. Visite outras seções do blog para saber mais sobre o escritor (em inglês).

Metodologia na prática: escrevendo uma monografia

Quem se lembra da Metodologia 5+10? Inspirada em dicas profissionais, esta coletânea de 5 regras e 10 orientações fundamentais para escritores iniciantes foi organizada e publicada aqui há cerca de… três anos!?

Mesmo após tanto tempo, ainda a tenho como um guia indispensável – e, até agora, imutável. Deixem-me explicar o porquê com um exemplo prático.

Minha jornada de escritor teve início em 2010. Na época, eu tencionava usar a metodologia 5+10 para escrever contos, mas, por estar graduando, tive de me dedicar exclusivamente a outro tipo de texto: monografia.

Sem dúvida, o tal trabalho de conclusão de curso, como também é conhecido, é um desafio torturante. Contudo, surpreendentemente, a metodologia facilitou bastante todo o processo.

“Quer escrever? Então leia.”

A definição do tema era a dificuldade mais recorrente entre meus colegas. Para mim isso não foi problema e creio que o motivo seja só este: antes eu li muita coisa relacionada à área – não somente livros, mas revistas, jornais e artigos de sites confiáveis. Com um conhecimento geral de assuntos diversos, eu só precisei escolher aquele com o qual mais me identifiquei.

“Faça uma tempestade de ideias.”

Meu tema era muito abrangente e eu nunca seria capaz de esgotá-lo num único trabalho. Assim, dentre as abordagens possíveis, optei por duas ou três mais intrigantes; refleti sobre os aspectos principais, a satisfação em explorá-los, os resultados que renderiam, e coloquei tudo no papel. Esses rascunhos tornaram proveitosos os encontros com minha orientadora: nossos debates indicavam pontos positivos, negativos e suscitavam novas ideias.

“Pesquisar é preciso.”

Definido o escopo, era hora de elaborar a bibliografia e pesquisar livros e artigos científicos. Reservei um bom tempo para esta fase, e fui muito criterioso na validação das informações, das biografias dos autores. Busquei não só textos de qualidade, mas que agregassem valor. Para não surtar com a oferta vasta (ler tudo era impraticável) eu fiz uma triagem inicial através de leituras superficiais ou resumidas.

Não tente abraçar o mundo durante a pesquisa.

“Tenha um caderninho sempre à mão.”

Quando já contava com um acervo bibliográfico considerável, reli os textos selecionados com atenção. De certo modo, eu ainda estava pesquisando, porém, mais profundamente. As fontes que se confirmavam valiosas eram registradas em cadernos (físicos e virtuais) para facilitar consultas futuras – bem como citações e parágrafos que se destacaram durante a leitura.

“Quer escrever? Então escreva.”

Vale ressaltar que mesmo durante a pesquisa eu já colocava em prática outra regra de ouro: escrever. As leituras constituem a fundamentação da monografia, mas ela deve conter o toque pessoal do graduando, suas impressões. Em outras palavras, é com base nos textos lidos que o autor escreve suas considerações sobre o tema.

A melhor maneira de fazer isso, para mim, foi resenhando tudo o que lia. Contendo informações sobre a fonte (autor) do texto, as principais ideais abordadas e minha opinião fundamentada, as resenhas permitiram uma abordagem por tópicos que, futuramente, foram relacionados e reescritos nas versões finais.

Resenhar os textos lidos ajuda a preparar o marco teórico.

“Não olhe para trás.”

Todo o marco teórico estava praticamente finalizado em minhas resenhas. Deixei-as de lado por um tempo para focar na estruturação da monografia segundo as normas de apresentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Findo esse trabalho mecânico, elaborei os aspectos metodológicos: forma de coleta de dados, execução de testes, e tudo mais que fosse ao encontro ou não do resultado proposto. Aqui a metodologia 5+10 foi de pouca valia. Na verdade, esta foi a etapa em que mais penei durante a produção da monografia.

“Escrever é reescrever.”

Concluídas as atividades mais práticas, era o momento de discorrer sobre seus resultados à luz do que foi descrito nos textos que elaborei. Novamente, não tive qualquer problema aqui: de posse das resenhas, só precisei relê-las e reescrevê-las.

Reordenei, adaptei, intercalei, eliminei trechos e inclui interpretações suscitadas pela releitura até finalmente obter um texto consistente. Foi a etapa mais agradável de todo o processo.

“Tenho um semestre inteiro pra fazer o TCC.”

“Tenha disciplina.”

A disciplina foi fundamental em todo o processo. Estabelecidos os momentos para pesquisa, leitura e escrita, com tempo e espaço reservados para cada, foi preciso um tremendo esforço para executar tudo o que havia sido exaustivamente planejado.

Na maior parte do tempo, a Internet e outras distrações cruéis (nada de videogames e filmes) foram mantidas à distância – estar off-line é uma das melhores recomendações aos escritores de nosso tempo.

“Encare o bloqueio.”

Obviamente, nem tudo foram flores. Houve momentos em que me vi às caras com o terrível bloqueio. Às vezes tentei driblá-lo escrevendo o que viesse à mente, sem preocupar-me com a qualidade, mas eu quase sempre desistia após alguns minutos – ou por não indisposto, ou por não conseguir fazer vista grossa às atrocidades que escrevia.

Ainda assim, quando retornava ao texto horas (dias) depois, o fato de ver algo escrito ali era muito mais estimulante do que encontrar uma página em branco.

Ei, tá faltando coisa aí…

Nem todas as orientações da metodologia 5+10 foram postas em prática, afinal, como dito, o foco dela é a produção de ficção. Contudo, muitas foram fundamentais para que eu concluísse minha monografia sem grandes sustos. Eu não poderia esperar menos do que isso de dicas dadas por escritores profissionais.

E você? Já experimentou a metodologia 5+10? Conhece outros processos de escrita? Que tal compartilhar um exemplo prático nos comentários?

Para saber mais:

  1. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  2. Não perca a motivação – 10 dicas para escritores: minha tábua de mandamentos pessoais para os momentos de crise existêncial. 🙂
  3. Pare o mundo que eu quero escrever! – texto sobre minha labuta contra as distrações do cotidiano.
  4. O pesadelo das revisões constantes: um desabafo sobre essa dificuldade que, felizmente, tenho conseguido superar.

Não perca a motivação: 10 dicas para escritores

Quero crer que todo escritor profissional, em algum momento da vida, sente-se angustiado e abatido, quiçá certo de que jamais escreverá algo digno de ser lido. Tal pensamento conforta este pobre e extremamente exigente aprendiz.

Além disso, recorro sempre a uma listinha com 10 breves dicas motivacionais que elaborei para essas ocasiões não tão raras. Se o capuz também lhe serviu, querido leitor, reserve uns minutinhos para lê-las e, talvez, pregá-las num lugar bem visível.

10 dicas para não perder a motivação
  1. Pare de sentir pena de si mesmo: e de lamuriar por não nunca ter tempo para escrever, por ser sempre importunado nas raríssimas vezes em que consegue fazê-lo, por ninguém ler os seus textos, por terem “roubado” aquela sua ideia brilhante e única para um livro, por não ser tão reconhecido quanto Cicrano ou Beltrano. Essa atitude não fará de você um escritor – muito pelo contrário.
  2. Identifique e supere suas limitações: aceite cada dificuldade como um desafio a ser vencido, não como uma barreira intransponível. Avalie os problemas que se apresentam e a si mesmo. Faça o que for possível dentro das atuais condições, sem condicionar-se a atitudes de terceiros ou situações de um futuro muito distante. Se algo não está funcionando, tente fazer de outro modo.
  3. Seja humilde: não inicie uma luta solitária contra o mundo; peça ajuda quando não for capaz de lidar com suas limitações por conta própria. Ouça o que colegas escritores mais experientes têm a dizer e aprenda com eles. Não amaldiçoe os que te ignorarem, pois isso não os torna maus, apenas pessoas com vidas tão ou mais atribuladas quanto a sua. Saiba aceitar críticas: se construtivas, seja grato e procure melhorar; se não, ignore-as – todos têm direito à opinião.
  4. Pegue leve consigo: exija de si a disciplina de dedicar ao menos alguns minutos de seu dia à escrita, mas não se frustre se seu texto não apresentar a quantidade ou a qualidade esperada. Encare cada linha, parágrafo, página como uma vitória e alegre-se. Um espaço preenchido com palavras é sempre uma visão mais estimulante do que um em branco – e não se preocupe se elas não forem exatamente as que você procura; lembre-se que escrever é reescrever.

  5. Confie em sua criatividade: não desista de um projeto somente por ter descoberto que algo semelhante já foi escrito. Acredite em sua capacidade de adicionar aquele toque pessoal a um tema recorrente, enriquecendo-o com novas interpretações, pontos de vista, e situações não imaginadas. Se tal pensamento derrotista imperasse, talvez Drácula de Bram Stoker – ou outro texto ainda mais antigo – fosse até hoje a única história de vampiro conhecida.
  6. Escreva com convicção: acredite naquilo que escreve e escreva aquilo em que acredita. Não se deixe intimidar pelo medo de expor o que pensa ou pelo que pensarão de você. Atente para o que os outros gostariam de ler, mas na medida certa: não se anule para agradar seu público-alvo. Seja polêmico, filosofe, explore o controverso, instigue à reflexão. Mas sempre respeite as crenças e opiniões alheias, ainda que discordantes. Deste modo, outros também respeitarão suas ideias – pelo menos a maioria civilizada o fará.
  7. Não seja (muito) ansioso: é natural que escritores iniciantes queiram ter seus textos lidos, comentados, compartilhados e, principalmente, publicados o quanto antes. Não se culpe por desejar reconhecimento imediato, mas procure dominar a ansiedade. Aceite que será preciso escrever, reescrever, revisar, e avaliar seus trabalhos antes de soltá-los no mundo. O resultado pode até não agradar a todos – quem é capaz disso? –, mas ao menos você estará certo de ter se dedicado para oferecer o melhor aos leitores.

  8. Teime, teime, teime: não duvide de que haverá momentos em que a vida parecerá conspirar para afastá-lo da escrita: agendas estudantis e profissionais, questões financeiras, familiares. Como se não bastasse, você achará sua escrita patética e se questionará se não deveria se ater às listas de compras. Quando isso ocorrer, respire bem fundo, lembre-se de que está nessa por amor às palavras – ninguém está te obrigando a escrever – e persevere. Logo tudo melhorará.
  9. Nunca pare de aprender: o caminho do escritor tem diversos destinos, mas não é finito. Não pense que sua jornada terá chegado ao fim somente por ter dominado técnicas, encontrado a própria voz, ter obras publicadas, reconhecidas. Quando se sentir confortável demais, desafie-se: experimente um novo gênero, brinque com as estruturas literárias, deturpe as regras que tanto se esforçou para conhecer. Sempre há algo novo a aprender, explorar e experimentar.
  10. Divirta-se: aprecie cada momento dedicado à escrita. Se a experiência estiver sendo penosa, considere afastar-se por um tempo: leia um livro, assista a um filme, encontre uns amigos. Mas se acaso nunca experimentou a satisfação de ver ideias transmutando-se em palavras nem se alegrou com um texto que saiu melhor do que o previsto, então talvez esta jornada não seja pra você.
Eis minhas dicas motivacionais. E vocês, leitores? Como costumam se motivar?

Dica Bônus

Faça exercícios físicos: alguns escritores podem ser criaturas muito sedentárias, ainda mais aqueles nascidos em certo estado do Nordeste – sou baiano, note-se. 😉 Além de prejudicial à saúde, obviamente, tal estilo de vida não é exatamente uma fonte de inspiração e criatividade. Além disso, as dores resultantes da inatividade excessiva comprometem os momentos de escrita. Como escritores ficam sentados na maior parte do tempo – alguém escreve de pé ou andando? – é importante alongar-se, praticar esportes, enfim, exercitar-se com regularidade.

Para saber mais:
  1. How to Find Your Daily Writing Motivation: este artigo sobre motivação para escritores apresenta dicas utéis e as interessantes regras de recompensa. Vale uma conferida; (em inglês).
  2. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  3. Pare o mundo que eu quero escrever: onde desabafo sobre meu desafio de lidar com as distrações do cotidiano.
  4. O pesadelo das revisões constantes: algumas palavras sobre como identificar e superar este terrível obstáculo.

O escritor Alexandre Lobão escreveu textos interessantes sobre motivação para escritores no Vida de Escritor. Confira-os a seguir.

  1. Como vencer sua inércia
  2. Tudo o que você queria saber sobre motivação para escritores e não tinha pra quem perguntar…
  3. Por que continuar escrevendo?
  4. Persistência, Motivação e Foco
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