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Livros não se escrevem sozinhos

Há escritores divididos que não sabem se querem ser autores, críticos literários, blogueiros. A polêmica frase foi parafraseada de um comentário do escritor Raphael Draccon durante uma entrevista concedida ao podcast Ghost Writer em 2012.

À época, vi-me refletindo, não pela primeira vez, sobre meu papel neste cantinho virtual. Atualmente, tais palavras são como uma bussola. Mas é preciso interpretá-las com cuidado, sob o risco de ferirem-se egos sensíveis.

A crítica do autor não trata de classificações, estereótipos, de quem pode ou não considerar-se um escritor. Está bem claro que a mensagem é outra, direcionada especificamente àqueles que abraçaram o desejo de ter trabalhos publicados: o foco é fundamental, afinal, livros não se escrevem sozinhos. Em outras palavras, pare de reclamar da falta de tempo, corte as horas desperdiçadas em baboseiras no mundo virtual ou real, e dedique-se à produção de seu livro.

Draccon não é só conversa, mas um exemplo a ser seguido. Adorado pelos leitores, o escritor mantém um blog pessoal e um site dedicado à trilogia Dragões de Éter. Contudo, é fácil notar que sua presença nestes espaços é ocasional. Não é comum vê-lo publicar posts e mais posts e depois reclamar da falta de tempo para concluir aquele texto em que está trabalhando.

Autores como Eduardo Spohr (A Batalha do Apocalipse) e André Vianco (Os Sete) também se tornam menos acessíveis quando dedicados a um novo projeto – os dois possuem blogs. Por outro lado, há inúmeros casos de escritores que não passam um único dia sem postar algo em seu site, sem acompanhar discussões acaloradas em grupos e redes sociais, disseminar memes bobinhos e polêmicas vazias. São os mesmos que se queixam da correria do dia-a-dia e choram por viver às turras para concluir aquele(s) livro(s) que há anos estão tentando escrever.

O que eles têm que eu não tenho?

Draccon, Spohr, Vianco e outros autores não são seres com poderes paranormais. O dia deles tem vinte e quatro horas como o de todos os demais mortais, e, como estes, eles também tem de lidar com o cotidiano vertiginoso, com responsabilidades de toda ordem, muitas nem um pouco relacionadas à carreira literária. O segredo de seu sucesso é óbvio: eles levam a coisa a sério. Em outras palavras, são escritores profissionais.

Pare de perder tempo e reclamar da vida. Mãos à obra!

Não existe falta, mas si o mau uso do tempo. Alguém que passa horas navegando em sites na Internet, assistindo a filmes repetidos na TV, jogando videogame, e batendo pelada diária com os amigos não poderá reclamar de não ter tempo para escrever. Quando algo é importante de verdade, encontra-se uma forma de dedicar tempo a isto, nem que apenas por alguns minutos ao dia.

Nada disso significa que seja preciso abandonar um blog definitivamente ou nunca mais dar as caras no Facebook ou no Twitter. Pelo contrário, a Internet ainda é o melhor meio de entrar em contato com seu público, divulgar sua obra e angariar novos leitores. Mas se o objetivo é ser um escritor com livros publicados, então às vezes será preciso isolar-se do mundo para se dedicar totalmente à escrita.

Escritor ermitão?

Todos sabem que o oficio de escritor é bem solitário, mas somente quem se pretende a sério como tal abraça este fato. É preciso estar preparado para passar horas diante de uma folha em branco (real ou virtual), tendo como companhia apenas os pensamentos e o desejo de criar.

Não é qualquer um que está disposto a abrir mão de um cineminha ou um dia na piscina do clube só para ficar enfurnado num quarto digitando palavras que talvez ninguém sequer venha a ler um dia. Mas é isso que fazem os escritores profissionais que tem obras publicadas.

O ideal é organizar-se, estabelecer períodos de dedicação exclusiva a este ou aquele projeto. Decida, por exemplo, que pelos próximos dois meses você se dedicará apenas a materializar em livro aquela ideia brilhante que há meses te atormenta.

Foque-se na escrita, custe o que custar: afaste-se das redes sociais, evite peladas e baladas, deixe o blog às moscas.

Uma dica: experimente preparar textos com antecedência, agendando publicações automáticas para seu o período de isolamento; acredite, funciona que é uma beleza.

Para saber mais:

  1. Ghost Writer 6 – Entrevista com Raphael Draccon: escute as sábias palavras do escritor neste episódio do podcast.
  2. Como permanecer focado durante a escrita: um breve artigo com dicas interessantes (em inglês).
  3. Raphael Draccon: blog pessoal do escritor.
  4. Dragões de Éter: site oficial da trilogia de livros de Draccon.
  5. André Vianco: site pessoal do escritor.
  6. Eduardo Spohr: blog pessoal do escritor.

Libere a criatividade com propostas de escrita

Encontrar tempo e um refúgio para dedicar-se à escrita é um desafio. Por isto, é frustrante ver-se diante da página em branco e perceber que não tem sobre o que escrever. Mas há algo ainda pior: passar a semana inteira com uma ideia na cabeça e vê-la tomar chá de sumiço no momento de desenvolvê-la.

Felizmente, isto é mais comum do que parece – que escritor nunca passou por isto? Algumas atitudes simples ajudam a superar este bloqueio: passear, exercitar-se, ler, assistir um filme, encontrar amigos. Particularmente, porém, vejo um problema aí: tais atividades podem ocupar um tempo que deveria ser destinado à escrita, e nada mais.

Uma caminhada na vizinhança pode renovar o espírito e a criatividade, mas de que adiantará se não houver ocasião para escrever no mesmo dia? Nada garante que o bloqueio não voltará amanhã também. O que fazer, então? Não despregar da cadeira até reencontrar aquela ideia perdida? Vasculhar a Internet por um assunto da moda?

Tudo isto é contraproducente (principalmente a Internet): o tempo voará e a angústia apenas aumentará. Há maneiras mais eficientes de superar tal barreira. Pode-se, por exemplo, manter listas de assuntos de interesse e ideias – tratarei disto em outra oportunidade – ou utilizar uma proposta de escrita.

Escreva! Eu o desafio!

Na aula de redação, o professor pede aos alunos que escrevam um texto sobre a preservação ambiental. Na embalagem do achocolatado, a chamada do concurso promete prêmios para o relato de férias mais criativo. Numa brincadeira, amigos desafiam uns aos outros a criar frases contendo determinadas palavras.

Não é preciso ser um escritor profissional para perceber que há propostas de escrita por toda parte. Trata-se, simplesmente, de um tema sugerido sobre o qual se desenvolverão ideias. Este pode se apresentar como combinações de palavras, uma frase, parágrafo, imagens, manchetes de jornal, perguntas, hipóteses, etc.

Uma proposta de escrita é como um gatilho que, disparado, desbloqueia a mente, estimula a criatividade e impulsiona a escrita. O resultado pode ser uma coleção de notas desencontradas e cruas, uma simples descrição, um conto, ou até mesmo um romance. No entanto, isto pouco importa. O objetivo é fornecer um foco e um ponto de partida ao escritor, que pode ater-se à proposta ou extrapolá-la por completo.

Trata-se de um recurso útil que permite escrever sem medo nem inibições. Assim, é estranho que este não seja, aparentemente, tão utilizado por aqui quanto nos países de língua inglesa. E basta uma busca pelas palavras writing prompts para ser direcionado a inúmeras propostas de escrita, em seus diversos formatos. Mas talvez eu apenas não tenha sido feliz na escolha dos termos equivalentes em português.

Atualização (25/03/14): uma tradução mais adequada para writing prompt seria provocação, termo utilizado em algumas oficinas de escrita literária.

Quatro benefícios e um apelo

Em DailyWritingTips, Simon Kewin aponta quatro razões para se utilizar propostas de escrita.

  1. Permitem que a criatividade flua livremente: quando intimidado por uma página em branco, experimente escrever sobre qualquer outro assunto por 10 minutos. Depois retorne ao seu trabalho principal e veja como as palavras surgem naturalmente.

  2. Fornecem material valioso: palavras e ideias podem ser utilizadas num futuro projeto de escrita ou aproveitadas num atual. Não se preocupe se algo parecer cru demais, já que tudo sempre pode ser trabalhado posteriormente.

  3. Desenvolvem o hábito da escrita: encaradas como verdadeiros exercícios, evitam que o escritor seja completamente improdutivo quanto a inspiração faltar.

  4. Promovem a interação em comunidades de escritores: através do compartilhamento das propostas e dos textos resultantes é possível obter avaliações, encorajamento e dicas.

Kewin está absolutamente certo em suas colocações. Tenho comprovado isto no dia-a-dia. As propostas de escrita são um modo eficiente de livrar-se dos bloqueios e devem ser utilizadas. Alguns dos textos que compartilho neste blog nasceram delas, ainda que um ou outro tenha se desviado muito da proposta inicial. Mas o que realmente importa é que desfrutei do tempo reservado à escrita para fazer o que um escritor deve fazer: escrever.

Assim, deixo aqui um apelo aos colegas escritores, aprendizes ou profissionais: façamos mais uso das propostas de escrita. Estimulemos mais nossas mentes com palavras, imagens, música. Vamos desafiar mais uns aos outros, compartilhar e avaliar os resultados, percorrer juntos esta estrada eterna de aprendizado.

E, então, amigo escritor? Topa o desafio de compartilhar suas próprias propostas de escrita?

Para saber mais:

  1. Exercícios de Criação: o site Gambiarra Literária é o que mais se aproxima de um acervo de propostas de escrita em português. Vale a pena conferir.
  2. Duelo de Escritores: a cada 15 dias um tema é proposto aos duelistas, que escrevem e disponibilizam seus textos. O escritor mais bem votado pelo público propõe, então, um novo tema.
  3. Writers Digest, Prompts: propostas de escrita disponibilizadas por uma das revistas sobre escrita mais conceituadas do mundo (em inglês).
  4. Propostas Visuais: propostas acompanhadas de imagens. Site muito bom (em inglês).
  5. Creative Writing Prompts: grande acervo de propostas de escrita (em inglês).
  6. Sobre Propostas de Escrita: artigo de Simon Kewin no site Daily Writing Prompts (em inglês).
  7. Pequenas propostas: o site One Writer Minute disponibiliza propostas para textos rápidos, ideais para o escritor com problemas de agenda (em inglês).
  8. Propostas no Twitter: uma busca por #writingprompt pode trazer centenas de propostas (em inglês).

O pesadelo das revisões constantes

Tornar-se um escritor não é trivial. Escrever e ler com regularidade é essencial, obviamente, mas não é o bastante. Para que o aprendizado seja menos árduo, é preciso saber identificar os obstáculos ao longo do caminho e as maneiras de superá-los.

Ainda que este seja um desafio pessoal, certas dificuldades – algumas maiores que outras – parecem ser universais: bloqueios inesperados, falta de inspiração, indisponibilidade de tempo, o abismo entre uma boa ideia e uma boa história, etc. Particularmente, eu luto para derrotar dois destes monstros: as revisões constantes e o medo de ser medíocre.

A revisão é imprescindível. Entre outros benefícios, ela permite identificar e corrigir falhas técnicas. Contudo, antes de revisar um texto, este deve estar completo, nem que seja na forma de um primeiro rascunho. Quando a revisão é feita de outra forma, isto é, sobre um texto inacabado (engavetado ou esquecido), pode ocorrer do autor focar a técnica em detrimento da mensagem ou desviar-se completamente da ideia original. Muito vago? Deixe-me tentar exemplificar.

Eu tive uma ideia para um conto e escrevi o primeiro rascunho por completo. Com a revisão, eu identifico erros ortográficos e gramaticais, trechos mal escritos, orações longas demais, etc. Além disso, surgem novas ideias para aprimorar a própria história – em outras palavras, durante a revisão eu acrescento, modifico ou excluo trechos do texto.

Tais alterações não seriam um problema, pois, por mais que as fizesse, eu já teria os principais pontos do conto em mãos e saberia aonde este deveria chegar. Contudo, ao revisar um texto inacabado corre-se o risco, por exemplo, de uma história ser modificada infinitamente; assim, uma miríade de universos alternativos nasceria e morreria prematuramente sem que o autor jamais concluísse seu trabalho.

“Estamos reunidos aqui hoje para revisar de uma vez por todas essa História Sem Fim!”

Ainda muito confuso? Eis outro exemplo, mais simples: eu tenho alguns contos inacabados separados em arquivos digitais onde coexistem diversas cópias pós-revisões; ao ler as versões 1 e 10 de, digamos, A Loura do Pontilhão, o leitor jamais imaginará que a última é fruto de 9 revisões anteriores de um rascunho inacabado – e que assim permanece até hoje.

Ao jamais revisar um texto antes de concluir um rascunho completo, como supracitado, eu superei esta barreira. Este hábito funciona bem ao escrever textos pequenos, como contos e artigos para o blog. Mas e quem está escrevendo um livro? Ainda não me atrevi a tanto, então eu não posso dizer com segurança. Contudo, imagino que uma boa prática seria:

  1. Traçar um rascunho geral e pouco detalhado de todo o livro, dividindo em partes.
  2. Dedicar-se ao desenvolvimento do rascunho de toda uma parte.
  3. Tendo concluído aquela parte, revisá-la algumas vezes antes de seguir em frente.
  4. Repetir os passos 2 e 3 até que todo o livro tenha sido escrito e revisado.
  5. Com o livro concluído, partir para uma revisão geral.

Talvez não seja o método ideal para desenvolver um livro completo, mas é o que eu adotaria se fosse louco o bastante para fazê-lo neste momento. Eu recomendo que os aprendizes busquem conselhos de autores conceituados ou de escritores mais experientes.

Tenham em mente que aqui sou tão aprendiz quanto qualquer um. Ao compartilhar minhas dificuldades e o modo como lido com estas, eu espero auxiliar outros aprendizes de escritor (ou aspirante a autor, como ouvi outro dia num podcast). Espero, ainda, que outros compartilhem suas dificuldades de modo que possamos todos aprender um com os outros.

E como este texto já está relativamente grande, eu falarei sobre o medo de ser medíocre em outra oportunidade.

Para saber mais:

  1. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  2. Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
  3. Pare o mundo que eu quero escrever!: texto sobre minha labuta contra as distrações do cotidiano.
  4. Reconheça e enfrente os medos que impedem você de escrever: artigo curto, mas muito útil que compõe uma série excelente de dicas para escritores. Do excelente site Ficção em Tópicos. Recomendadíssimo!
  5. Escrever um livro – Cinco obstáculos a eliminar: tradução de um artigo em francês excelente; trata da inércia, do medo, da falta de tempo, da motivação vacilante e do comprometimento impreciso.

Pare o mundo que eu quero escrever!

Um dos maiores desafios deste aprendiz de escritor é lidar com distrações. Chamem-me de paranoico, mas sempre que decido escrever um novo texto é como se o mundo inteiro conspirasse contra mim.

A televisão exibe aquele filme favorito, um rádio qualquer toca músicas no último volume, o e-mail indica uma oferta relâmpago e/ou atualizações no site favorito, o cachorro começa a latir, familiares e amigos buscam um pouco de atenção. Tudo e todos parecem batalhar por minha atenção!

Concentração é primordial para o escritor, mas como este se concentra é algo muito pessoal. Há quem consiga fazê-lo ao som de uma música suave ou do canto dos pássaros ou mesmo com o televisor ligado ao fundo.

Definitivamente, não é o meu caso. Meu ambiente ideal é aquele onde coexistem o silêncio, as palavras e eu, nada mais. Não há frustração maior do que ver uma repentina inspiração literária ser afugentada por entidades alienígenas.

Utilizo um computador para escrever a maioria de meus textos. Sim, eu faço anotações breves no celular, caderno, bloquinho de post-it e folhas de rascunho quando tenho ideia para um novo texto, frases de efeito ou nomes para personagens. Mas quando se trata de escrever realmente, mesmo que apenas um rascunho inicial, eu recorro ao computador.

Esta ferramenta que tanto flexibiliza a produção de textos, porém, costuma ser também minha maior perdição; é um verdadeiro paraíso de distrações, com ícones aparentemente infinitos de músicas, vídeos, jogos e tantos outros arquivos tentando tirar meu foco do texto – acrescente a isto conexão à Internet e tudo está perdido! Belo paradoxo, não?

“Concentrar você deve!”

Quando penso na quantidade de distrações circulando por aí, eu respiro profunda e pacientemente, e tento convencer-me de que não é o fim do mundo. Distrações fazem parte da vida, logo é preciso saber lidar com estas. Algumas se evita mais facilmente, outras requerem um pouco mais de autodisciplina, estratagemas, conversações.

A Internet, por exemplo, não costuma ser um grande problema para mim: tudo o que tenho a fazer é desconectar o modem, trancá-lo em outra sala e voilá! Liberdade! Permitam-me compartilhar outro exemplo.

Há muito tempo que escrevo meus textos no Word, o velho editor da Microsoft, e percebi que a vasta lista de recursos destes pode ser uma fonte de distração – obviamente que as opções de formatação e revisão são importantes, mas apenas para textos próximos de sua conclusão; de que valem para alguém que se propõe a escrever somente um rascunho, por exemplo? Pode-se contornar tal situação, porém, com alguns ajustes simples nas configurações, ocultando os menus e ícones de modo a manter a tela mais limpa.

Alguns podem questionar por que não utilizo logo o bloco de notas. Explico: por pura aversão; sinto-me estranhamente incomodado ao usá-lo, é algo inexplicável. E como todo incômodo gera distração, eu tratei de afastar-me desta. A propósito, é importante sentir-se o mais confortável possível ao escrever; um ambiente bem organizado e iluminado e uma poltrona aconchegante, por exemplo, beneficiam a produtividade e a saúde.

Cabe aqui uma importante questão: o conforto dos olhos. Visualizar a tela branca do Word por horas a fio pode ser extramente exaustivo, monótono e pouco inspirador, especialmente para quem usa óculos. Para atenuar o cansaço das vistas, eu costumava ajustar as configurações de vídeo do computador, mas logo percebi que era irritante ter que reajustá-las posteriormente para ver um filme ou jogar.

Assim, eu encontrei uma alternativa menos trabalhosa: reduzir o tamanho da janela do Word de modo que eu pudesse visualizar um pouco a área de trabalho por trás. Para evitar distrações, instalei também um programa que oculta os ícones da área de trabalho; e se o papel de parede é muito colorido ou chamativo, altero-o para um fundo preto. Pode parecer bobagem, mas percebi que o desconforto visual tarda muito mais a surgir quando trabalho nestas condições.

Vale tudo para livrar-se das distrações e aumentar a produtividade. Há muitas ferramentas disponíveis para auxiliar o escritor em seu trabalho, mas, às vezes, a solução mais simples é a ideal. É importante contar com o apoio de tais programas, mas deve-se ter em mente que o essencial para se tornar um escritor é escrever, seja no bloco de notas, no Word, num post-it ou num guardanapo.

O mais difícil é convencer o mundo a esquecer-se de você por algumas horas.

Para saber mais:

  1. Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
  2. Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
  3. Dicas de editores de texto: este artigo lista quatro programas que ajudam a concentrar-se na escrita; publicado no portal IDGNow em maio de 2011.
  4. Dicas para concentrar-se na escrita: este artigo postado no blog Escrevemos.com apresenta 6 boas dicas para manter a concentração ao escrever um texto.
  5. Concentração e Distração: artigo sobre o modo como a Internet prejudica a concentração; publicado em 2010 no portal AdNews.
  6. Concentração e Distração: artigo publicado no site do Estadão em 2010.

Metodologia 5+10

O Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa define metodologia como sendo “o conjunto de métodos, regras e postulados utilizados em determinada disciplina e sua aplicação”.

“Regras” soou restritivo demais para mim, por isso, durante a elaboração da minha metodologia, cuidei para que houvesse somente 5 regras verdadeiras e 10 orientações flexíveis.

Embora a metodologia esteja adequada ao meu perfil, eu espero, sinceramente, que outros escritores iniciantes possam tirar algo de proveitoso dela.

Inspirado pelas dicas de autores famosos publicadas pelo jornal on-line Guardian, eu comecei a planejar uma metodologia de escrita que se adaptasse ao meu atual estilo de vida. Depois de ler e reler o artigo duplo do jornal, eu tinha em mãos 86 dicas (não regras, note-se) com as quais havia me identificado – algumas interessantes, outras inusitadas (veja o quadro no final do post).

Uma lista com 86 itens pode ser um pouco assustadora (ou mesmo desmotivadora), por isso decidir reduzi-la a dez tópicos que cobrissem o fundamental para o escritor iniciante. Logo percebi que estes itens poderiam definir bem minha metodologia, mas não ter qualquer valia para outros aprendizes. Assim, eu adicionei cinco regras de ouro que considero ser o fundamental do fundamental para qualquer pretenso escritor.

Apresento-lhes a Metodologia 5+10.

5 Regras de Ouro

Quanto mais cedo você começar a ler, melhor.

  1. Quer escrever? Então leia: todo escritor é, antes de tudo, um leitor. Ler te ajuda a ampliar ovocabulário, abrir a mente para outrosestilos e formas de narrativa, e a se divertir com outras histórias e mundos. Mas seja criterioso com o que lê, pois, segundo P.D. James (Children of Men), “a má escrita é contagiosa”.
  2. Quer escrever? Então escreva: não fique só na vontade. Escreva sobre o mundo ao seu redor, sobre os seus desejos, opiniões, fantasias, enfim, sobre o que quiser ou sentir necessidade de escrever! “Continue despejando palavras na página”, aconselhou Anne Enright (O Encontro).
  3. Escrever é reescrever: não tenha dó de cortar as palavras que pouco acrescentarem, os trechos com má sonoridade (ver regra 4), enfim, tudo o que lhe parecer ruim. É recomendado deixar o texto descansar por um tempo antes de reescrevê-lo.
  4. Ouça seu texto: ler o que você escreveu em voz alta ajuda a perceber os problemas no ritmo da narrativa.
  5. Tenha disciplina: não fique à mercê da inspiração e sempre termine o que começar, mesmo que o resultado final não seja bom. Defina uma metodologia e a siga. Pretende escrever diariamente? Estabeleça uma meta: escreva uma página ou 500 palavras por dia, por exemplo. Jeanette Winterson (A Guardiã do Farol) afirma que a “disciplina permite a liberdade criativa”.

10 Orientações

  1. Escolha seu espaço e tempo:estabeleça um local e um horário ideais para escrever e não deixe ninguém mais interferir. Tranque a porta, desligue o celular, feche as janelas ecortinas se for preciso (não se esqueça de ligar o ventilador ou ar-condicionado). E desligue a Internet: a grande rede é a pior inimiga da concentração necessária a um escritor.

    Onde George Lucas escreveu a nova trilogia de Star Wars.

  2. Faça uma tempestade de idéias: tente ter uma visão geral, um esboço da história que pretende contar. Leonel Caldela (Trilogia Tormenta) afirmou, recentemente, num podcast que costuma ter toda a trama delineada na cabeça ou em anotações; tendo isso como base, ele esmiúça os acontecimentos em tópicos e detalha a história durante a escrita.

    Sugerida por Michael Moorcok (Elric of Melniboné Saga), a divisão em três partes – a introdução dos personagens e da trama, desenvolvimento dos mesmos, e conclusão, onde os pontos são amarrados e os mistérios resolvidos – talvez seja um facilitador para este processo.

  3. Tenha um caderninho sempre à mão: ou guardanapo, smartphone, netbook, celular, enfim, qualquer coisa que lhe permita fazer anotações rápidas. Nunca se sabe quando uma boa idéia irá surgir e é sempre bom “manter o poço de idéias cheio”, disse Michael Morpurgo (Eu Acredito em Unicórnio).
  4. Pesquisar é preciso: a menos que você domine completamente o assunto sobre o qual escreverá, reserve alguns dias para pesquisar sobre o mesmo. Tome cuidado com suas fontes, especialmente quando utilizar a Internet e nunca, jamais, pesquise enquanto estiver escrevendo.
  5. Encare o bloqueio: sentir-se travado na hora de escrever é comum, mas nem pense em dar uma volta; sente-se, respire fundo e reveja o que escreveu, refazendo todos os passos a fim de descobrir o que deu errado. Se você ainda não escreveu nada, vá escrever outra coisa. Lembre-se sempre das regras de ouro 2 e 3: despeje palavras na página, depois reescreva tudo. Lembre também da regra de ouro 5: disciplina sempre.
  6. Não sobrecarregue a escrita: evite parágrafos longos demais, frases redundantes, adjetivos e advérbios desnecessários. Evite palavras difíceis quando as simples bastam.
  7. Cuidado com as descrições: elas são difíceis e refletem uma opinião sobre as coisas. A descrição do ponto de vista implícito do personagem é sempre mais rica que a do “olho de deus”, como alega Hilary Mantel (Além da Escuridão). Não exagere nas descrições: deixe espaço para o leitor imaginar os personagens, lugares, clima. Muita descrição quebra o ritmo da leitura.
  8. Não olhe para trás: retome a escrita sempre do ponto onde parou e siga em frente. Quando tiver terminado, afaste-se do texto por algum tempo e, somente então, volte ao início e avalie a necessidade de reescrever.
  9. Faça um Test-Read: quando acreditar que seu texto está pronto, peça a duas ou três pessoas para lê-lo. Não escolha parentes nem amigos, a menos que estes tenham senso crítico. Outra alternativa é criar um blog na Internet e disponibilizar seus textos, mas saiba discernir as críticas pertinentes – Neil Gaiman (Sandman) diz que quando as pessoas dizem que “algo está errado ou não funciona para elas, estas estão quase sempre certas.

    Quando te dizem exatamente o que acham que está errado e como consertar, elas estão quase sempre erradas”. Algo importante: antes de disponibilizar trabalhos originais para avaliação alheia, é bom sempre ter o cuidado de protegê-los, registrando-os.

  10. Confie no leitor: não caia na armadilha de tentar esmiuçar tudo. Como Stephen King (Duma Key, série A Torre Negra) recomenda, não enrole o leitor e “vá direto ao ponto ou tente chegar logo ao ponto”. Não gaste tempo demais explicando o pano de fundo da história ou do mundo.

    Sobre isso, Hilary Mantel aconselha a concentrar-se no ponto de mudança da narrativa, já que “as pessoas não reparam no ambiente em que vivem e na sua rotina diária” – quando os personagens vão para outros lugares ou as coisas mudam ao seu redor é que o escritor deve preencher os detalhes do mundo ao redor deles.

Antes de encerrar é importante dizer o seguinte: a metodologia não deve ser algo rígido, ela deve se adequar ao seu perfil. Caso algo não funcione para você, simplesmente mude por algo que funcione!

Menções Honrosas

Algumas dicas publicadas no Guardian são bem inusitadas. Ei-las:

  • “Não beba e escreva ao mesmo tempo.” (Richard Ford)
  • “Nada de álcool, sexo ou drogas enquanto estiver trabalhando.” (Colm Tóibín)
  • “Seja seu próprio editor/crítico. Simpático, mas impiedoso!” (Joyce Carol Oates)
  • “Se tudo mais falhar, há (…) São Francisco de Sales, o santo patrono dos escritores (…)” (Sarah Waters)

Para saber mais:

  1. Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
  2. Laboratório do Dr. Careca: ouça o podcast com dicas para escritores com J.M. Trevisan e Leonel Caldela.
  3. Guardian.co.uk: veja a primeira parte do artigo contendo dicas de autores conceituados (em inglês).

Os primeiros passos da jornada…

Há muitas pessoas que querem ser escritores, mas não sabem por onde começar. Por algum tempo, este humilde escriba foi uma delas.

Motivado por textos, conversas e até mesmo um podcast, eu decidi dar início a uma longa jornada de aprendizado.

Embora aparentemente árduo, o caminho não é impossível de ser trilhado, especialmente se contarmos com os conselhos de alguns autores conceituados.

Eu tenho uma relação conturbada com o tempo: nunca consigo conciliar sua passagem com algumas atividades que gostaria de realizar. Trabalho, estudo, família, lazer, estas coisas sempre encontram um lugar em minha agenda, mas por que é difícil encaixar aquelas paixões às quais eu desejo dedicar-me?

Pensei (e li) muito sobre isso nas últimas semanas e conclui: falta-me organização e planejamento.Sempre amei escrever. Impelido por este sentimento, criei este blog com o objetivo de divulgar meus textos, desenvolver meu estilo, aprender com as críticas, mas, acima de tudo, organizar-me.

Caneca motivacional: nada como café para as madrugadas insones.

Não é algo fácil – desviei-me da proposta original diversas vezes –, mas aprendi o bastante para tentar novamente. Na verdade, recentemente, duas coisas motivaram-me a isso: um podcast de uma entidade careca e um artigo do blog literário do jornal Guardian.

No Laboratório do Dr. Careca, o autor J.M. Trevisan disponibilizou um podcast especial onde ele e o escritor Leonel Caldela (Trilogia Tormenta) discorrem sobre escritores, editores e outros tópicos voltados à produção de livros.

Embora um pouco longo demais, o papo entre ambos foi esclarecedor, especialmente o tópico sobre a metodologia empregada por Caldela na produção de seus romances (assunto abordado por volta dos 10 minutos de reprodução).

O artigo do Guardian foi publicado em duas partes e contém uma seleção de dicas de escrita propostas por autores bem conceituados, entre eles Neil Gaiman (Sandman, Stardust) e Michael Moorcock (Elric of Melniboné Saga). Identifiquei-me com muitas sugestões dadas ali, mas uma (das mais freqüentes ao longo do texto) atingiu-me em cheio: se você quer escrever, então escreva, não fique só na vontade.

Conclusão: elaborei uma coletânea com 86 dicas que pretendo utilizar como base para criar uma metodologia própria – este ainda é um número alto e tentarei filtrar o que é realmente essencial desta lista.

Escrevendo Ficção – Guia para Patetas: o caminho das pedras… sem as pedras!

Ademais, estou organizando melhor minha agenda, reservando espaço para esta minha paixão e planejando a semana antecipadamente – algo que aprendi num blog voltado para quem quer organizar bem o tempo de que dispõe (talvez eu fale mais a respeito disso no futuro).

No próximo post, eu disponibilizarei a primeira versão de minha metodologia. Se o leitor também é um aprendiz de escritor ou se as idéias deste texto despertaram seu interesse, eu sugiro escutar o podcast do Dr. Careca e ler o artigo do Guardian (em inglês; veja os links abaixo).

E fica aqui a sugestão aos autores espalhados por toda a grande rede mundial: que tal compartilhar a metodologia de vocês? Quais são as suas dicas de escrita?

Para saber mais:

  1. Laboratório do Dr. Careca: ouça o podcast com dicas para escritores com J.M. Trevisan e Leonel Caldela.
  2. Guardian.co.uk: veja a primeira parte do artigo contendo dicas de autores conceituados (em inglês).
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