O primeiro esboço de qualquer coisa é uma merda, disse Ernest Hemingway. Poucos adágios são tão reconfortantes para um escritor; sem a obrigação de acertar de prima, este se vê livre dos grilhões do bloqueio criativo. Ele transpõe seus pensamentos para a folha em branco sem ressalvas nem receios.
Escreva bêbado, edite sóbrio é outra pérola do autor de tantos clássicos da literatura norte-americana. Eis aí o melhor modo de produzir: mantenha o editor psicótico que existe em você em uma jaula até que tenha concluído a primeira versão de seu conto, romance, artigo.
Nada disso deveria ser novidade para nós, aprendizes dedicados, certo? Às vezes, porém, nos perdemos na confusão que é o rascunho de um texto. Não há o que temer. Só é preciso saber identificar e lidar com certos fatos relacionados à escrita de primeiras versões.
1 – Primeiras versões não saem como planejado.
Você escreve, escreve, escreve e, ao terminar, percebe que o resultado pouco ou em nada se parece com o que esperava daquela ideia original. O herói se revela um vilão, uma reviravolta invalida acontecimentos anteriores, um conto se transforma numa novela – ou pior, num livro! Isso não é necessariamente ruim. Aceite as mudanças, elas podem resultar em algo melhor.
“Você acredita que eu só queria escrever um conto?”
2 – A tentação de editar uma primeira versão está sempre presente.
Lembre-se das palavras de Hemingway e resista à vontade de combinar edição e escrita. Faça uma coisa de cada vez, sem pressa. Foque no que interessa e faça seu cérebro entender que o texto poderá ser lapidado mais tarde, com toda a atenção e o carinho que ele merece. E não se esqueça de que é impossível editar uma página em branco.
“Você só vai tocar neste texto quando eu terminá-lo!” – Fotografia por Luca (deviantArt)
3 – Primeiras versões fluem melhor se houver um roteiro.
Ainda mais se você estiver preparando a primeira versão de um romance. O roteiro é como um guia breve dos principais personagens, acontecimentos e reviravoltas. Com ele será mais fácil trazer a história de volta aos eixos sempre que esta se desviar de suas intenções originais. Você ainda pode tê-lo como referência ao espalhar dicas aos leitores sobre o que a história lhes reserva.
Elaborar um roteiro é uma boa forma de evitar o bloqueio criativo.
4 – Você odiará suas primeiras versões.
Atire a primeira bolinha de papel quem nunca encarou um esboço tempos depois e se negou a acreditar que o tivesse escrito. Pensando ser o pior escritor do mundo, você tem vontade de jogar tudo para o alto e estudar para concursos públicos – ou jogar videogame. Não faça nada disso. Lembra-se do editor psicótico? É hora de libertá-lo e vê-lo fatiar versões ao bel prazer.
Ao editar seu texto, seja como a Michonne: corte sem dó!
5 – Agora é o melhor momento para escrever uma primeira versão.
Há escritores que preferem dedicar algum tempo à maturação de uma ideia antes de colocá-la no papel. Se você pertence ao time dos preparadores, atenção: preparação demais pode ser uma desculpa para procrastinar. Mesmo que você não se sinta pronto nem motivado, alguma hora terá de pôr a mão à obra ou jamais a escreverá. Então, por que não agora?
Não há momento ideal. Comece a escrever agora!
O mais importante ao escrever primeiras versões é sentir a liberdade que elas proporcionam. Não há nada como preencher o branco com ideias, temas, personagens e histórias emergentes das mais puras fontes do inconsciente. Na verdade, há sim: saber que esses diamantes brutos jamais serão submetidos ao crivo dos leitores. E isso é, realmente, reconfortante.
E você, colega escritor, o que sente ao escrever suas primeiras versões?
Para saber mais:
Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
O diário de escrita é uma valiosa ferramenta motivacional durante o National Novel Writing Month (NaNoWriMo), evento que te desafia a escrever um livro em um único mês. Ao registrar suas impressões, o participante pode reaver o foco perdido, identificar dificuldades e conhecer melhor os próprios hábitos como escritor.
O diário foi fundamental para meu sucesso no desafio. É interessante revê-lo agora, quase um ano depois da minha participação, e relembrar aquela insana e tão gratificante maratona. Decidi compartilhá-lo aqui no blog, mas antes quero aproveitar para dar mais algumas dicas ao futuro participante.
Mais coisa para escrever?!
É certo que 1.667 palavras diárias já são intimidadoras o suficiente, mas manter um diário de escrita não exige esforços adicionais; pelo contrário, a experiência é como uma terapia. A ideia é registrar, da maneira mais simples possível, o progresso, as dificuldades, os pensamentos, as sensações, os hábitos.
O diário é uma forma de escape; deve-se despejar ali tudo o que vier à cabeça naturalmente: alegrias, frustrações, uma palavra de incentivo (própria ou de outros escritores), xingamentos. Ele também pode ser usado para anotar as metas para os próximos dias, mas somente se isto servir como motivação.
Algumas perguntas-chave para responder ao fim de cada dia podem servir como guia: “como me senti?”; “houve dificuldades? Quais?”; “a meta diária foi atingida?”; “quantas pessoas tive vontade de matar hoje?”. O importante é entender que o diário é sobre o escritor, portanto, nada de escrever sobre o livro ali – reserve um caderno próprio para isso.
Tinta e papel é tudo o que é preciso.
Físico ou virtual?
Há quem crie blogs para registrar seu cotidiano no NaNoWriMo. Alguns utilizam redes sociais como Facebook e Twitter. Estes meios são excelentes para desperdiçar o tempo. Além disso, a exposição que proporcionam pode induzir o participante a se dedicar em excesso ao diário. A praticidade é o ideal: um moleskine ou um bloco de notas já dão conta do recado.
É importante ter em mente que a função do diário é motivar, não distrair, por isso o segredo é não complicar. A seguir compartilho meu minidiário de bordo. Revendo-o agora percebo os principais desafios que enfrentei naqueles não tão distantes 30 dias, o quanto meu processo foi aprimorado desde então e como manter tal registro fez toda a diferença para meu sucesso.
Meu diário de bordo
DIA 1: ontem, 31 de outubro, dormi à meia-noite. Dormi mal, talvez devido à ansiedade pelo início do NaNoWriMo. Acordei às 5:30h, sentei-me para escrever às 6:10h. Escrevi até às 8h. A escrita fluiu bem. O planejamento do primeiro conto ajudou muito a começar. Editei algumas vezes; preciso desapegar do lado editor. Foram 1.689 palavras. Bom começo.
DICA: quando topar com algo na história que careça de pesquisa (cruzamentos entre ruas, por exemplo), escreva em MAIÚSCULA e valide durante a revisão nos meses seguintes.
“Ieeei! Cumpri a meta do dia! Será moleza!”
DIA 2: não escrevi. Tudo bem. Retomo amanhã, sem falta. Não é o fim do mundo.
DIA 3: comecei o dia com as 1.689 palavras do primeiro dia. Fiz uma única sessão de 1:30h, mas não rendeu tanto: apenas 618 palavras. Muitas interrupções neste sábado.
DIAS 4 e 5: não escrevi. Muitos compromissos sociais, familiares e profissionais. Vejo nuvens negras no horizonte…
DIA 6: uma sessão de 1:30h para um total de 1.047 palavras. Nesse ritmo terminarei só em 21 de Dezembro. Tentei tirar o atraso com uma sessão extra após o trabalho, mas a mente estava esgotada.
DIA 7: três sessões de 1h cada e 1.800 palavras escritas. Bom? Nada. Os atrasos renderam uma cota de 1.950 palavras para amanhã. Tudo bem, eu posso atingir o mínimo. Concluí o primeiro conto.
DIAS 8, 9 e 10: não escrevi. Muitas exigências no trabalho e compromissos pessoais inadiáveis. A planilha diz que nesse ritmo eu nunca terminarei meu livro. Inspirador. A cota para o dia 11 disparou para 2.242 palavras. Que diabos eu estava pensando ao entrar nessa?
“Nesse ritmo só terminarei em outra vida.”
DIA 11: uma mísera sessão de 1h e cinco interrupções resultaram em parcas 204 palavras. Tá complicado escrever no fim de semana. Tudo bem, pelo menos assim eu termino até Junho de 2013.
DIA 12: duas sessões, 4h totais, 1.045 palavras, conclusão na véspera de natal. Papai Noel, este ano eu quero tempo para escrever, pode ser?
DIA 13: não escrevi mesmo, e daí? Tá tenso. Mas as férias estão chegando, então vamos ter fé, certo, Brasil?
DIA 14: uma sessão, 3h diretas e míseras 1.219 palavras, mas pelo menos concluí outro conto. Quase metade da maratona e ainda faltam seis para escrever. Ou melhor, quatro, afinal, você ainda tem de planejar os dois últimos, lembra? 🙁
DIA 15: 1.365 palavras no dia, total de 8.987 escritas. Restam 41.013 e apenas quinze dias para o fim. A cota para amanhã é de 2.734 palavras. Mas alegre-se, semana que vem começam suas férias! Ah, quer saber, não se preocupe com o número de palavras. Senta a bunda na cadeira, escreva e entrega pros Céus.
“Valei-me meu São Francisco de Sales!”
DIA 16: uma sessão de 3h. Dei uma arrancada razoável, mas o ânimo foi diminuindo – sempre que escrevo sabendo que terei algum compromisso para logo mais isso acontece. Aprenda de uma vez: você escreve muito melhor quando não tem compromisso com o tempo.
DIA 17: finalmente um sábado produtivo! Concluí o terceiro conto. Comecei por voltas das 08h e parei às 11h, com um intervalo de 15 minutos. Empolgado, quebrei minha regra e tentei começar outro conto por volta das 13h. Não deu certo. Escrevi palavras a esmo; metade deve ser descartada. Foram 3.425 palavras, meu primeiro recorde! Neste ritmo, termino no dia 29.
DIA 18: não tive saco para escrever, mas me forcei a trabalhar. Gastei muito cartucho ontem. Apesar disso, para um Domingo, até que o dia foi produtivo: 1.358 palavras. Cota para amanhã é de 2.873 palavras. Me ajuda aí!? Isso tá pior que preço de gasolina!
DIA 19: primeiro dia de férias e novo recorde: 4.541 palavras. Três sessões, 4h totais. Mas foi cansativo. Não estou tão empolgado com o quarto conto quanto eu esperava. Escrevi durante alguns minutos no celular, na praça. Perfeito para soltar palavras na tela, sem me preocupar com meu lado editor.
“Escreva bêbado, edite sóbrio”, já dizia Hemingway.
DIA 20: duas sessões. Esgotado depois de ontem, desperdicei a manhã e só comecei a escrever por volta de 13:30h. Finalizei o quarto conto, o maior até agora, com cerca de 10 mil palavras. É também aquele que mais precisará de revisão e cortes mais à frente.
DIA 21: comecei a escrever bem cedo um conto de fantasia, um dos meus gêneros favoritos. Embora já planejado, tive algumas ideias complementares para a história e anotei-as à parte (essas não entrarão na contagem, claro). Problemas pessoais tiraram o ânimo no meio do dia. À noite, após uma cerveja, tentei voltar a escrever, mas nada. Álcool pra mim não funciona.
DIA 22: novos recordes: 5.488 palavras e um conto, o quinto, concluído em apenas dois dias. A história de fantasia rendeu ainda mais ideias promissoras; talvez até dê para aproveitá-las num futuro romance. Nesse ritmo, eu termino em 26 de novembro, mas não tenho ilusões quanto a escrever 5 mil palavras todos os dias.
DIA 23: 2.556 palavras, duas sessões, 3h totais. Agora eu terminarei no dia 30 de novembro. 😛
DIA 24: sexto conto concluído em dois dias. Nada mal. 36.549 palavras escritas, 13.451 para a meta. Os próximos dias serão tensos: é hora de escrever os dois contos que não tive tempo de planejar. Vamos ver no que vai dar escrever sem saber para onde a coisa vai; pior: em cenários que requerem um mínimo de pesquisa decente.
“Vejo nuvens sombrias no horizonte.”
DIAS 25 e 26: a produtividade despencou; 1.847 e 2.883 palavras, respectivamente. Péssimo. Perdi tempo pesquisando, planejando rumos para as histórias, desenvolvendo os personagens; o tempo e o esforço gastos na preparação foi desanimador. Escrevi feito um louco, mas o que vale para a contagem é apenas a história contada. Sétimo conto iniciado e editado inúmeras vezes.
DIA 27: um inesperado recorde de 7.503 palavras. Estava tendo dificuldades para descrever o ambiente do sétimo conto, que se desenrola na época da Segunda Guerra Mundial. Optei por deixá-los de lado e me concentrar na história; detalhes como armamentos, veículos, situação política foram relegados a uma pesquisa posterior. Restam 3 dias e um único conto para o fim.
DIAS 28, 29 e 30: o oitavo e último conto rendeu estresse na reta final pelas mesmas razões do conto anterior: a ambientação, desta vez o Brasil Colônia. Adotei a mesma estratégia aqui. Mas confesso que não curti tanto as ideias para essa história; a proximidade do fim e as 50.423 palavras atingidas ainda no dia 29 também me fizeram desacelerar o ritmo.
Semana que vem, no último artigo da série, compartilharei inúmeras dicas práticas e motivacionais. Até. 😉
Ano passado, eu abandonei o blog por um mês inteiro para escrever um livro. Unindo-me a outros loucos de todo o mundo, topei o desafio proposto pelo National Novel Writing Month ou NaNoWriMo (Mês Nacional de Escrita de Romances, em tradução livre).
Com a proximidade de mais uma edição, decidi elaborar uma breve série de artigos para compartilhar um pouco dessa inesquecível e enriquecedora experiência.
Iniciado nos Estados Unidos, o NaNoWriMo completa 15 anos em 2013 com mais de 300 mil (número da última edição) inscritos de diversos países, incluindo o Brasil – já passou da hora dos organizadores reverem o nome do evento, não? A participação é livre e não há restrições quanto a gênero, tema, idioma ou estrutura da obra.
Em contrapartida, espera-se que algumas diretrizes sejam seguidas pelos participantes. Mas as únicas regras verdadeiras são essas: o livro deve ser escrito num mês (Novembro) e ter, no mínimo, 50 mil palavras.
Trinta dias de abandono literário
Para alcançar uma meta tão assustadora, é preciso escrever algo em torno de 1.667 palavras por dia. Difícil? Pode apostar que sim. Mas não é impossível, como comprovam os milhares de vencedores das edições passadas.
A chave para a conquista é ter consciência de que o livro não estará pronto para publicação ao final do desafio. Os próprios idealizadores alertam que tal chance é ínfima: o mais provável é que o resultado será horrível. Tudo bem, afinal, o objetivo aqui é outro.
“A primeira versão de qualquer coisa é uma merda.”
O NaNoWriMo é o necessário chute nos fundilhos daqueles que querem ser escritores, mas se deixam desanimar pelo perfeccionismo, pela inércia, e por outras tantas desculpas fajutas. Trata-se de um incentivo à produção de algo concreto, nem que seja um rascunho tosco.
Ao encarar o desafio, é preciso desligar o crítico interno. As revisões, adaptações e reescritas serão necessárias, mas somente mais adiante. Novembro é o mês para transpor ao papel uma história que se deseja contar ou pensamentos que se queira expressar. A única preocupação deve ser escrever, escrever, escrever.
Começando do zero (mas nem tanto)
Pelas diretrizes, trabalhos anteriores não podem ser aproveitados, ou seja, é preciso escrever um livro a partir do nada. Nada impede, porém, que o participante rascunhe um planejamento com certa antecedência. Na verdade, um guia é mais do que aconselhável, é essencial para a vitória.
O NaNoWriMo é uma maratona; é preciso produzir muito no menor tempo possível – e ainda conciliar a escrita com as demandas naturais do dia a dia. Por isso, o ideal é ter claro desde o começo o livro que se pretende escrever para evitar desperdiçar horas tentando encontrar o rumo perdido.
“É tudo parte do plano.”
O planejamento é ainda mais útil ao se produzir uma coletânea de contos, já que esta trará diferentes narrativas, com personagens e situações diversas. Planejar evita bloqueios e ajuda a focar apenas na escrita durante os 30 dias.
Para aprender com os colegas
Para promover a interação entre os participantes, o site do NaNoWriMo dá suporte a vários fóruns. Divididos por regiões, esses pontos de encontro virtuais são moderados por municipal liaisons (algo como referências municipais): a eles cabem, entre outras, a função de divulgar o evento em sua comunidade.
Até 2012 os fóruns brasileiros eram gerenciados pelo paulista Fernando Aires e pela porto-alegrense Luiza Monteiro, ambos participantes (e vencedores) de várias edições anteriores – é preciso ter vencido o NaNoWriMo para se tornar um municipal liaison.
Os encontros presenciais, chamados write ins ou parties (saraus), também são comuns. Neles os participantes confraternizam, celebram o começo ou o fim do evento e, é claro, escrevem – mas nem todos, já que é possível encontrar quem participe apenas como observadores desse grande laboratório.
Uma brincadeira séria
Ao contrário do que parece, o NaNoWriMo não é uma competição. De fato, não há nada de espetacular na premiação reservada àqueles que alcançarem a meta de 50 mil palavras: um certificado, um emblema, artes para camisetas, alguns descontos em programas de parceiros e só.
Recompense-se com um delicioso cappuccino.
O valor do evento está na motivação proporcionada por sua meta e prazo, na chance de ter ao menos uma primeira versão completa do livro tão sonhado, na oportunidade de interagir e aprender com uma comunidade que reúne escritores amadores e profissionais.
Interessado? A próxima edição do NaNoWriMo está chegando. Ainda há tempo para se preparar, então que tal já ir tacando no papel algumas ideias para sua obra? Produza um guia caprichado e vá se aquecendo para um mês inteiro de abandono literário.
As “Regras” do NaNoWriMo
O evento garante liberdade de criação aos participantes, mas estabelece certas orientações para definir quem pode se considerar um vencedor do desafio.
Note-se que nada disso impede a participação, já que a única validação no site do NaNoWriMo se dá sobre a quantidade de palavras; cabe a cada um manter-se em paz com sua consciência.
Escrever um romance de 50.000 mil palavras ou mais durante o mês de novembro.
Começar do zero. Nada impede o participante de fazer planejamentos, pesquisas, rascunhos, mas nenhum material escrito previamente pode ser utilizado na contagem final do desafio. Não é permitido dar continuidade a um trabalho pré-existente.
Aceita-se somente romances. É considerado um romance todo trabalho longo de ficção, incluindo ficções de fãs (FanFics) e coletâneas de contos, desde que tenham um tema em comum. Música, poesias, roteiros, quadrinhos, e obras de não ficção (biografias, memórias, autoajuda) não são romances.
Autoria única. Não são permitidos livros escritos em parceria. Espera-se que o participante escreva mais do que uma única palavra repetida 50 mil vezes.
Enviar o livro ao site para validação de palavras nos últimos dias de novembro.
Imagine contar uma história em um único parágrafo. Este é um desafio ao qual se lançam os escritores de microcontos, gênero pouco difundido fora do universo digital da Internet.
Topei com a primeira referência a esses há mais de um ano: em entrevista a um jornal, o escritor pernambucano Marcelino Freire almejava publicar mil contos no Twitter – cada um deles com não mais do que os 140 caracteres permitidos.
Um microconto é uma narrativa curta, mas sua essência não é a extensão, é a concisão: deve-se transmitir uma mensagem clara utilizando poucos recursos. A ideia é fascinante, mas não é novidade. O hondurenho Augusto Monterros (1921-2003) escreveu O Dinossauro com apenas sete palavras: “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”. O escritor americano Ernest Hemingway (1889-1961) elaborou uma história em seis palavras: “Vendo: sapatos de bebê, nunca usados” – curiosamente, ele dizia ser esta a sua melhor obra.
Em 2006, a revista Wired homenageou Hemingway com a publicação de várias historietas de seis palavras escritas por personalidades das artes como Alan Moore, Frank Miller, Kevin Smith, William Shatner, Stan Lee. Já no Brasil, Marcelino organizou, em 2004, uma coletânea intitulada Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século, com textos de Millôr Fernandes, Dalton Trevisan – dito precursor do formato no país –, e outros.
Embora desconheça publicações semelhantes, encontrei diversos sites e perfis no Twitter dedicados à escrita de microcontos, o que demonstra que este gênero tem atraído cada vez mais adeptos. Decidi participar da “brincadeira” e publiquei treze microcontos em meu perfil – aproveitando todos os 140 caracteres, obviamente.
Como isto faz tempo, eu os disponibilizarei no blog para a apreciação dos que não tiveram a chance de lê-los. Espero que gostem. A propósito: não tenho ideia se Marcelino alcançou sua meta, mas quem estiver disposto a garimpar suas historietas deve conferir o link de sua conta abaixo.
Microamostras
7 microcontos publicados pela Wired. Leia mais no site da revista.
“Tempo. Inesperadamente, inventei uma máquina do”.
Alan Moore
“Tipo sanguíneo do bebê? Humano, principalmente”.
Orson Scott Card
“Kirby nunca tinha comido dedões antes”.
Kevin Smith
“Bombas-H lançadas; todos nós morremos”.
Howard Waldrop
“Dorothy: – Dane-se, ficarei por aqui.”
Steven Meretzky
“Clones exigem direitos: segunda Proclamação Libertária”.
Paul Di Filippo
“Com mãos sangrentas, eu dou adeus”.
Frank Miller
Para saber mais:
Microcontos na era do Twitter: artigo publicado pela revista Carta Capital. Recomendadíssimo, principalmente por abordar as características do gênero.
Histórias muito curtas: artigo da revista Wired que reúne histórias de seis palavras escritas por diversas personalidades em homenagem a Ernest Hemingway (em inglês).
As coisas que me acontecem, enternecem meu pobre coração.
Muito obrigado.
Nos anos 8O, eu ganhava prêmio na BIENAL DO LIVRO DE BELO HORIZONTE (que não sei se mudou de nome,…
Disse um dia aqui que escrevi livrinhos bens ruinzinhos, estava elogiando a LIGA. Não sei se graças a isso, tive…
Ei, Rosângela. Sim, o narrador é uma das vítimas. :) Abraço e obrigado pela leitura.