Adiante estava a deusa de meus delírios mais pervertidos. O corpo voluptuoso fulgurava como que envolto em chamas, o vestido a cair sobre sandálias que deixavam entrever pés delicados de unhas tingidas em sangue. Um rasgo generoso subia ao baixo ventre, revelando uma coxa farta e torneada, envolta numa segunda pele igualmente flamejante.
Adereços discretos de linhas intrincadas partiam da cintura e traçavam um caminho de curvas acentuadas que conduziam os homens à loucura. A perdição derradeira, porém, estava pouco acima, no decote farto. Além de onde se escondia, maliciosamente, o próprio mistério divino, revelava-se um único ombro desnudo. Preso por uma alça, o vestido era como uma zombaria: parecia querer romper-se e deslizar pela pele suave para desvelar a beleza absoluta.
Sob cílios longos e sombreados, olhos ávidos me desafiavam. Dentes alvos se faziam notar na boca entreaberta, os lábios como morangos maduros. Cabelos negros selvagens emolduravam a face sedutora. Com o intuito de tirar-me da inércia contemplativa, ela caminhou em minha direção, movendo os quadris numa dança suave e hipnótica.
Um aroma inebriante emanou de seu corpo e, súbito, vi-me perdido em pensamentos de pura luxúria. O perfume era um afrodisíaco: entorpecia os sentidos, afugentava a razão, lançava-me às raias da devassidão. De tão intoxicado, mal notei quando suas mãos tocaram as minhas, fazendo-as deslizar suavemente por seu corpo. O vestido era tão fino que me sentia a acariciar a própria pele nua.
Meus dedos viajavam por estradas curvilíneas. Seus lábios quentes iam por caminhos próprios e deliciosos em volta de meu pescoço. Fechando os olhos, entreguei-me ao pecado, à tentação em forma de mulher, saboreando cada sensação provocada pela colisão dos corpos ardentes. Mesmo nos momentos em que me percebia imerso numa escuridão extasiante, eu a podia ver, reluzindo à meia luz das velas, incandescente com as próprias chamas que nos cercavam.
Para saber mais:
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