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Sobre o autor: Philip K. Dick

Escrevi este artigo como complemento à resenha do livro O Caçador de Androides, do aclamado escritor americano Philip K. Dick. Acabei me deixando levar por sua interessante biografia e o texto ficou maior do que o esperado, então achei melhor criar outro post.Confiram maiores informações sobre a vida e os filmes inspirados nas obras deste fantástico autor de ficção científica.

Philip K. Dick foi um escritor prolífico, tendo escrito 36 romances e 5 coleções de contos entre 1952 e 1982, quando faleceu aos 56 anos. O misto de visões futuristas e de experiências pessoais é característico de suas obras. O romance O Homem Duplo, por exemplo, foi dedicado aos amigos que morreram ou, assim como próprio Dick, sofreram devido ao uso de drogas.

Descrente de qualquer forma de governo ou autoridade, o escritor teve uma vida atribulada e marcada por eventos que provocaram nele os mais diversos estados mentais: a morte da irmã gêmea, Jane, 14 dias após o nascimento; a separação dos pais ainda na infância; 5 casamentos fracassados; os tratamentos de vícios.

Os anos mais criativos do autor foram aqueles das décadas de 50 e 60, período no qual firmou-se no mundo da ficção científica e teve sua contribuição reconhecida – o primeiro romance foi Solar Lottery, de 54; em 62, foi premiado com o Hugo por O Homem do Castelo Alto. Há quem defenda, porém, que os melhores trabalhos dele foram publicados na década de 70, como O Caçador de Androides e Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial (prometido para o final de 2012, mas ainda não publicado pela Editora Aleph).

Os últimos anos da vida de Dick foram marcados por uma experiência religiosa que este teria tido em 1974, quando, segundo ele, recebeu uma visita de Deus ou do que seria, no mínimo, uma entidade divina. Ele escreveria sobre isso até sua morte, ora tratando o evento como uma espécie de revelação celestial, ora como um sinal claro de comportamento esquizofrênico.

Embora tenha tido obras premiadas e aclamadas pela comunidade de ficção científica, Dick jamais fez fortuna como escritor, recebendo pouco mais que o adiantamento financeiro cedido por seus editores – dos royalties ele mal tinha notícia. Talvez isso explique porque o autor era tão prolixo. Sua situação financeira era razoável em 1982, quando recebeu uma boa quantia pelos direitos da adaptação cinematográfica de O Caçador de Androides; infelizmente, ele faleceu antes da estreia do filme nos cinemas.

Philip K. Dick no Cinema

Sem dúvida Dick deve figurar no rol dos escritores com mais obras adaptadas ao cinema. A maioria dos fãs dos filmes sequer deve desconfiar, mas são inspirados em trabalhos do escritor, além de Blade Runner – O Caçador de Androides:

    • O Vingador do Futuro, 1990, de Paul Verhoeven, estrelando Arnold Schwarzenegger; e também o remake de 2012, com Colin Farrell; inspirado no conto Lembramos para você a preço de atacado.
    • Confissões de um Louco, 1992; inspirado no romance Confessions of Crap Artist.
    • Screamers: Assassinos Cibernéticos, 1995, com Peter Weller (o eterno Murphy de Robocop); inspirado no conto A segunda variedade.
    • O Impostor, 2002, inspirado no conto homônimo.
    • Minority Report – A Nova Lei, 2002, de Steven Spielberg, estrelando Tom Cruise; inspirado no conto O relatório minoritário.

  • O Pagamento, 2003, de John Woo, estrelando Ben Affleck; inspirado no conto homônimo.
  • O Homem Duplo, 2006, estrelando Keanu Reeves; inspirado no romance homônimo.
  • O Vidente, 2007, estrelando Nicolas Cage; inspirado no conto O Homem Dourado.
  • Radio Free Albemuth, 2010, estelando Alanis Morissette; inspirado no romance homônimo.
  • Os Agentes do Destino, 2011, estrelando Matt Damon; inspirado no conto A equipe de ajuste.

A maioria destes contos está disponível no recente lançamento da Editora Aleph, Realidades Adaptadas. A Aleph tem (re)publicado vários trabalhos de Dick nos últimos meses (confira o link abaixo).

Para saber mais:

  1. O Caçador de Andróides: minha resenha sobre o livro de Dick que inspirou o filme Blade Runner.
  2. Biografia: mais informações sobre Philip K. Dick. Recomendo consultar as demais seções deste site produzido por fãs das obras do escritor (em inglês).
  3. A Experiência Religiosa de Philip K. Dick: história em quadrinhos publicada na revista Weirdo em 1986 sobre a experiência mística do autor em 74; traduzida para português pelo site Ovelha Elétrica.
  4. Realidades Adaptadas: artigo da Revista Trip sobre o lançamento da Editora Aleph que reune sete contos de Dick que inspiraram adaptações cinematográficas.
  5. O filósofo da ficção científica: interessante série em 3 partes publicada no site do The New York Times sobre o autor (em inglês).

Resenha: Fahrenheit 451

PenaPenaPena

Saiba antes de ler: não sou crítico literário nem detentor da verdade absoluta. O texto abaixo relata as impressões que tive após a leitura deste livro e não traz quaisquer revelações quanto ao enredo.

Fahrenheit 451 é aclamado mundialmente como um clássico da literatura de ficção científica. Obra prima do autor americano Ray Douglas Bradbury e publicado originalmente na década de 50, este premiado romance aborda temas desconcertantemente familiares e atualíssimos.

Nesta distopia futura, a sociedade foi subjugada por um governo totalitário onde autoridades invisíveis, mas sempre presentes, criminalizaram a leitura, promovendo uma verdadeira caça às bruxas. Atuando como força repressora, os bombeiros (firemen, no original) são incumbidos de localizar e, ironicamente, incendiar livros.

A mídia televisiva destaca-se ainda mais como o principal meio de alienação e dominação das massas, restringindo-se a apresentar em sua grade programas de entretenimento e simulacros de realidade interativos – a audiência ludibriada mal e mal tem conhecimento dos eventos que ocorrem além de suas salas repletas de telas imensas.

Completamente alheio, a princípio, à extinção gradual da manifestação do pensamento livre, promotor e difusor do conhecimento, vive Guy Montag, um bombeiro a serviço do sistema. Ao conhecer a adolescente Clarisse McClellan, Guy começa a questionar a sociedade em que vive e logo embarca numa cruzada pessoal contra a política estabelecida.

A trama é interessante, ainda que simples; o ritmo da leitura é lento. Há instantes de tensão e ação, mas as reflexões do protagonista dominam a narrativa. Particularmente, muitos destes trechos foram confusos o bastante para me forçar a relê-los duas ou três vezes na tentativa de compreender a mensagem que estava sendo passada.

Bradbury pontua alguns eventos paralelos à trajetória de Montag que reforçam os perigos da alienação e permitem antecipar o final trágico e inevitável – confesso, porém, que duvidei até o último instante que o autor concluiria a obra de forma tão emblemática. Contudo, o melhor momento do livro é aquele no qual o protagonista finalmente percebe ter seguido por um caminho sem volta e, literalmente, incinera o seu passado.

Esta não é uma leitura fácil, mas, por instigar o leitor a pensar sobre os perigos da supressão do conhecimento e de se resignar numa sociedade alienada e consumista, Fahrenheit 451é mais do que recomendado e recebe 3 penas-tinteiro (estrelas).

E esta é a humilde opinião de um escriba.

Em tempo: o título do livro alude à temperatura na qual o papel queima, o que equivale a 233º na escala Celsius. Fahrenheit 451 foi adaptado para o cinema por François Truffaut e lançado em 1966.

Mais sobre o autor:

Há tantas curiosidades sobre Ray Bradbury que é impossível deixar de compartilhá-las. Americano, Bradbury completou o ensino médio durante a Grande Depressão e, não podendo custear a faculdade, trabalhou como jornaleiro.

Cresceu enfurnado em bibliotecas e suas principais influências literárias foram Edgar Allan Poe (Os Assassinatos da Rua Morgue, O Corvo), H.G. Wells (A Guerra dos Mundos), Júlio Verne (Vinte Mil Léguas Submarinas) e Edgar Rice Burroughs (Tarzan, o filho das selvas).

O primeiro conto, Hollerbochen’s Dilemma, foi publicado no fanzine de ficção científica Imagination e suas obras mais celebradas, as Crônicas Marcianas e o próprio Fahrenheit 451 lhe garantiram lugar entre os principais autores do gênero.

Contudo, Bradbury afirmou certa vez não escrever ficção científica e sim fantasia – Fahrenheit 451 é a única exceção, segundo o próprio, mas mesmo este se baseou na realidade.

Tendo publicado algo em torno de 600 contos, 30 livros e inúmeros poemas, ensaios e roteiros para TV, não é surpresa que tenha recebido diversas homenagens e prêmios:

  • Foi premiado com o Hugo (tradicional premiação literária norte-americana) em 1954 na categoria melhor romance por Fahrenheit 451, tendo concorrido com ninguém menos que Arthur C. Clarke e Isaac Asimov;
  • Teve o nome atribuído a um asteroide (9766 Bradbury) e a uma categoria de premiação do Nebula Awards (outra tradicional premiação);
  • Uma de suas obras (Dandelion Wine; A Cidade Fantástica no Brasil) inspirou o nome de uma cratera lunar;
  • Ganhou sua própria estrela na Calçada da Fama em Hollywood.
  • No ano passado foi prestigiado pela cantora e comediante Rachel Bloom com o videoclipe intitulado “F— me, Ray Bradbury” (nem preciso traduzir, certo?), que recebeu, vejam só, uma indicação ao Hugo.
  • Suposto descendente direto de Mary Bradbury, julgada, condenada e sentenciada à forca por bruxaria em Salem, Bradbury viveu até os 91 anos – o escritor faleceu esta semana, dia 5 de junho de 2012.

Para saber mais:

  1. Ray Bradbury: site oficial do autor (em inglês).
  2. Ray Bradbury, The Art of Fiction No. 203: entrevista com o autor no Paris Review (em inglês).
  3. Open Library: Ray Bradbury: coletânea dos livros de Ray Bradbury (em inglês).
  4. Biografia: Ray Bradbury: traduzido do site oficial e publicado no InfoEscola.
  5. Top 100 Science-Fiction, Fantasy Books: Fahrenheit 451 foi considerado o 7º romance de ficção científica mais popular entre 100 outras obras (em inglês).
  6. Crítica – Fahrenheit 451 (1966): Rubens Ewald Filho avalia o filme de 1966 baseado na obra de Bradbury.
  7. Fahrenheit 451: Sobre uma distopia incandescente: considerações sobre a obra por Alfredo Suppia, na coluna de Roberto de Souza Causo no Terra Magazine.
  8. Fahrenheit 451: A temperatura de uma adaptação: Alfredo Suppia fala sobre a adptação para o cinema; publicado na coluna de Roberto de Souza Causo no Terra Magazine.

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