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NaNoWriMo: guia de sobrevivência

Esta semana começa a 15ª edição do National Novel Writing Month (NaNoWriMo), o evento cultural que desafia escritores de todo o mundo a escrever um livro em 30 dias. Para ajudar os bravos que participarão desta insana maratona literária, preparei um guia com dicas práticas e motivacionais.

Estes tópicos são frutos de empirismo, intuição e das recomendações de participantes muito mais experientes. Espero que este último artigo da série seja tão útil para outros novatos quanto foi para mim em 2012. Agora, vamos à obra porque em novembro tempo é palavra.

Organize-se

Converse com familiares e amigos: seu estado emocional terá enorme influência na história que escreverá, por isso assegure-se de que novembro seja um mês de serenidade. Explique a todos a sua volta que pelos próximos dias seu foco será o NaNoWriMo e que por esta razão você estará mais antissocial. Prepare-se: todos te acharão esquisito, poucos entenderão.

Controle seu progresso: anote seus totais diários de palavras, seja num bloco de notas, no site do evento ou em uma planilha. Estes dois últimos têm a vantagem de criar gráficos de previsão mais agradáveis e precisos. Nos links mais abaixo disponibilizo uma planilha (NaNoReportCard) criada por um americano que permite acompanhar níveis de moral, número de sessões de escrita e muito mais.

Tenha um caderno sempre à mão: ou um smartphone, tablet, netbook. Sempre tenha algo em que possa anotar ideias inesperadas para uma nova cena, personagem, evento na história. Não apenas isto: aproveite para aumentar o número de palavras enquanto espera na fila do ônibus ou do médico. Tanto melhor se for um caderno eletrônico, pois não terá que redigitar depois.

Não importa se físico ou virtual, o importante é ter um caderno à mão.

Esteja on-line: complementando a dica anterior, utilize ferramentas que te permitam trabalhar pela Internet. Com o Dropbox ou Google Drive pode-se acessar e manipular arquivos de vários tipos; o Evernote é um excelente acervo para notas e imagens rápidas; o Google Docs possibilita a edição de textos e planilhas.

Evite Internet e TV: séries e filmes, redes sociais, blogs, desligue tudo quando sentar-se para escrever. O ideal é evitar as duas vilãs ao menos até que sua meta diária seja atingida. Se tiver disciplina para voltar ao trabalho depois, acesse-as nos intervalos das sessões de escrita. Se estiver trabalhando on-line com as ferramentas acima, será preciso atenção redobrada.

Escreva

Defina metas e sessões: 1.667 palavras por dia é um mínimo aceitável, mas parece muito quando se tenta escrevê-las de uma só vez. Divida esta ou qualquer outra meta – escolha a que lhe for mais adequada, mas seja realista – em dois ou mais períodos de horas ao longo do dia. Evite obrigar-se a escrever tanto em uma única sessão, pois a ansiedade pode te bloquear.

“Ah, por hoje chega.”

Deixe um pouco para depois: aproveite os momentos de inspiração para ultrapassar sua meta diária, mas não esgote sua mente. Pare de escrever enquanto ainda tiver vontade de continuar ou correrá o risco de não aguentar sequer encarar a página no dia seguinte. Lembre-se: são 30 dias de abandono literário. Sempre se poupe para o amanhã.

Esqueça a linearidade: quando sua história parecer empacada, experimente saltar para algum momento futuro. Faça uma anotação sobre o que considera importante na cena problemática e a esqueça por um tempo. Lembre-se de que você pode retornar a ela nos dias seguintes ou até mesmo depois de concluído o NaNoWriMo, quando começam as fases de revisão do livro.

Não se prenda a um personagem: se a história é narrada por vários protagonistas, a exemplo dos livros da série Crônicas de Gelo e Fogo, do tio George R. R. Martin, alterne entre eles ao escrever, seja por não saber como prosseguir ou por estar cansando-se de um deles. Como a dica anterior, porém, isso funciona bem melhor quando se tem a trama toda planejada.

Foque nos diálogos e deixe os detalhes da cena para depois.

Faça os personagens falarem: sentiu que a narrativa está maçante ou o excesso de descrições o está incomodando? Coloque travessões (ou aspas, o que preferir) e faça seus personagens conversarem. Se eles trocarão amenidades ou revelarão segredos da trama depende do ponto em que a história se encontra. Foque no diálogo, deixe as descrições para mais tarde.

Inspire-se

Abra seus olhos: jamais subestime o poder das imagens. deviantART e InspireFirst são dois exemplos de redes sociais repletas de artes inspiradoras para escritores. O Pinterest também é uma ótima ferramenta: cadastre-se, crie quadros para projetos de livros específicos e adicione imagens que remetam a cenários, a personagens e a outros detalhes da história que escreverá.

Encha seus ouvidos: não é qualquer um que consegue escrever escutando música, mas se você é um destes poucos privilegiados, a seleção correta pode ajudar a entrar no clima de uma cena de suspense, terror, ação, aventura. Vale tudo, desde trilhas de jogos, séries e filmes ao repertório de bandas (famosas ou obscuras) de gêneros diversos.

Inspire-se com o trabalho de outros escritores.

Leia o que puder: livros, revistas, quadrinhos podem ser ótimas fontes de inspiração. Por outro lado, corre-se o risco de que os elementos das histórias dos outros autores se tornem muito evidentes na sua. Além disso, caso suas metas estejam atrasadas, talvez o melhor seja dedicar mais de seu tempo livre à escrita.

Pergunte ao Google: novembro é mês de produzir, não pesquisar. Às vezes, porém, pode ser interessante recorrer ao Senhor dos Sortilégios Digitais para sanar dúvidas breves ou buscar inspirações – por exemplo, para nomes de personagens (o 20.000 Names e o Behind the Name são boas sugestões). Mas se a busca exceder 30 minutos, então desista e siga em frente.

Motive-se

Escreva um diário: útil para ajudar a manter o foco, identificar dificuldades e conhecer melhor os próprios hábitos como escritor. Registre seu progresso, seus problemas, seus pensamentos, suas sensações. Despeje o que vier à cabeça naturalmente, mas seja objetivo. Anote também suas metas para os próximos dias, se isso te servir como motivação.

Escrever um diário durante o NaNoWriMo é como uma boa terapia.

Mime-se: recompense-se sempre que conseguir atingir ou superar a meta diária. Compre um chocolate, assista ao novo episódio de sua série favorita, beba uma taça de vinho, acesse suas redes sociais, vá à praia. Não se puna quando ficar abaixo do esperado ou deixar de escrever (sua consciência culpada já será castigo suficiente), mas lembre-se do que tal deslize te custou.

Acompanhe os colegas: fique de olho no progresso de outros participantes do NaNoWriMo, principalmente dos que já foram vencedores de edições passadas. Notar que mesmo eles, com seus anos de experiências, ainda enfrentam (e superam) dificuldades para escrever seus livros afasta qualquer desculpa esfarrapada para desistir.

Mantenha a bunda na cadeira: antes de sentar-se para escrever, vá ao banheiro, encha uma garrafinha de água, alongue-se, coloque o aviso de não perturbe na porta, desligue a Internet e o celular. Quando iniciar a sessão de escrita, fique ali até que o tempo preestabelecido desta se esgote. Não pense em mais nada além do texto. Deixe todo o resto pra depois.

Prepare tudo o que for precisar e evite tirar a bunda da cadeira.

Fique acordado: o maior desafio de escrever à noite é suportar o sono. Chocolates, xícaras de café ou outras bebidas energéticas (naturais ou não) sempre ajudam. Um ar condicionado ou banho mais frio também mantêm o corpo alerta. Quando o sono atacar no meio da sessão, experimente alongar ou mexer o corpo, escovar os dentes, enxaguar o rosto.

Eis as principais lições tiradas de minha participação no ano passado. Estas dicas são para se aplicar durante o mês de novembro. Nos demais artigos já publicados da série eu falei sobre a preparação nos meses que antecedem (e sucedem) o evento e também detalhei melhor alguns tópicos listados neste artigo.

Espero que meus textos tenham sido de alguma valia para o leitor e que o tenha inspirado. A todos os bravos que aceitaram o desafio eu desejo um ótimo NaNoWriMo 2013. E, por favor, não deixem de compartilhar por aqui como foi.

Para saber mais:

  1. NaNoWriMo: 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série sobre o evento.
  2. NaNoWriMo: as críticas e o valor do desafio – saiba porque o evento é visto com desconfiança por escritores e demais profissionais do mercado editorial.
  3. NaNoWriMo: como escrevi um livro em 30 dias – onde detalho minha participação no evento em 2012.
  4. NaNoWriMo: diário de escrita – onde falo sobre valor de se manter um diário e compartilho o meu próprio.
  5. NaNoReportCard2010: planilha de controle em duas versões do Microsoft Office Excel para uso no NaNoWriMo; infelizmente, perdi a referência da fonte (em inglês).
  6. Escriba no Pinterest: exemplo de como imagens podem ajudar a desenvolver novas ideias para suas histórias.
  7. National Novel Writing Month: página oficial do evento. Acesse, informe-se e participe do desafio!
  8. Especial NaNoWriMo: o blog Novas Memórias de Ivan Bittencourt também está com uma série de posts sobre o evento. Confiram.

NaNoWriMo: diário de escrita

O diário de escrita é uma valiosa ferramenta motivacional durante o National Novel Writing Month (NaNoWriMo), evento que te desafia a escrever um livro em um único mês. Ao registrar suas impressões, o participante pode reaver o foco perdido, identificar dificuldades e conhecer melhor os próprios hábitos como escritor.

O diário foi fundamental para meu sucesso no desafio. É interessante revê-lo agora, quase um ano depois da minha participação, e relembrar aquela insana e tão gratificante maratona. Decidi compartilhá-lo aqui no blog, mas antes quero aproveitar para dar mais algumas dicas ao futuro participante.

Mais coisa para escrever?!

É certo que 1.667 palavras diárias já são intimidadoras o suficiente, mas manter um diário de escrita não exige esforços adicionais; pelo contrário, a experiência é como uma terapia. A ideia é registrar, da maneira mais simples possível, o progresso, as dificuldades, os pensamentos, as sensações, os hábitos.

O diário é uma forma de escape; deve-se despejar ali tudo o que vier à cabeça naturalmente: alegrias, frustrações, uma palavra de incentivo (própria ou de outros escritores), xingamentos. Ele também pode ser usado para anotar as metas para os próximos dias, mas somente se isto servir como motivação.

Algumas perguntas-chave para responder ao fim de cada dia podem servir como guia: “como me senti?”; “houve dificuldades? Quais?”; “a meta diária foi atingida?”; “quantas pessoas tive vontade de matar hoje?”. O importante é entender que o diário é sobre o escritor, portanto, nada de escrever sobre o livro ali – reserve um caderno próprio para isso.

Tinta e papel é tudo o que é preciso.

Físico ou virtual?

Há quem crie blogs para registrar seu cotidiano no NaNoWriMo. Alguns utilizam redes sociais como Facebook e Twitter. Estes meios são excelentes para desperdiçar o tempo. Além disso, a exposição que proporcionam pode induzir o participante a se dedicar em excesso ao diário. A praticidade é o ideal: um moleskine ou um bloco de notas já dão conta do recado.

É importante ter em mente que a função do diário é motivar, não distrair, por isso o segredo é não complicar. A seguir compartilho meu minidiário de bordo. Revendo-o agora percebo os principais desafios que enfrentei naqueles não tão distantes 30 dias, o quanto meu processo foi aprimorado desde então e como manter tal registro fez toda a diferença para meu sucesso.

Meu diário de bordo

DIA 1: ontem, 31 de outubro, dormi à meia-noite. Dormi mal, talvez devido à ansiedade pelo início do NaNoWriMo. Acordei às 5:30h, sentei-me para escrever às 6:10h. Escrevi até às 8h. A escrita fluiu bem. O planejamento do primeiro conto ajudou muito a começar. Editei algumas vezes; preciso desapegar do lado editor. Foram 1.689 palavras. Bom começo.

DICA: quando topar com algo na história que careça de pesquisa (cruzamentos entre ruas, por exemplo), escreva em MAIÚSCULA e valide durante a revisão nos meses seguintes.

“Ieeei! Cumpri a meta do dia! Será moleza!”

DIA 2: não escrevi. Tudo bem. Retomo amanhã, sem falta. Não é o fim do mundo.

DIA 3: comecei o dia com as 1.689 palavras do primeiro dia. Fiz uma única sessão de 1:30h, mas não rendeu tanto: apenas 618 palavras. Muitas interrupções neste sábado.

DIAS 4 e 5: não escrevi. Muitos compromissos sociais, familiares e profissionais. Vejo nuvens negras no horizonte…

DIA 6: uma sessão de 1:30h para um total de 1.047 palavras. Nesse ritmo terminarei só em 21 de Dezembro. Tentei tirar o atraso com uma sessão extra após o trabalho, mas a mente estava esgotada.

DIA 7: três sessões de 1h cada e 1.800 palavras escritas. Bom? Nada. Os atrasos renderam uma cota de 1.950 palavras para amanhã. Tudo bem, eu posso atingir o mínimo. Concluí o primeiro conto.

DIAS 8, 9 e 10: não escrevi. Muitas exigências no trabalho e compromissos pessoais inadiáveis. A planilha diz que nesse ritmo eu nunca terminarei meu livro. Inspirador. A cota para o dia 11 disparou para 2.242 palavras. Que diabos eu estava pensando ao entrar nessa?

“Nesse ritmo só terminarei em outra vida.”

DIA 11: uma mísera sessão de 1h e cinco interrupções resultaram em parcas 204 palavras. Tá complicado escrever no fim de semana. Tudo bem, pelo menos assim eu termino até Junho de 2013.

DIA 12: duas sessões, 4h totais, 1.045 palavras, conclusão na véspera de natal. Papai Noel, este ano eu quero tempo para escrever, pode ser?

DIA 13: não escrevi mesmo, e daí? Tá tenso. Mas as férias estão chegando, então vamos ter fé, certo, Brasil?

DIA 14: uma sessão, 3h diretas e míseras 1.219 palavras, mas pelo menos concluí outro conto. Quase metade da maratona e ainda faltam seis para escrever. Ou melhor, quatro, afinal, você ainda tem de planejar os dois últimos, lembra? 🙁

DIA 15: 1.365 palavras no dia, total de 8.987 escritas. Restam 41.013 e apenas quinze dias para o fim. A cota para amanhã é de 2.734 palavras. Mas alegre-se, semana que vem começam suas férias! Ah, quer saber, não se preocupe com o número de palavras. Senta a bunda na cadeira, escreva e entrega pros Céus.

“Valei-me meu São Francisco de Sales!”

DIA 16: uma sessão de 3h. Dei uma arrancada razoável, mas o ânimo foi diminuindo – sempre que escrevo sabendo que terei algum compromisso para logo mais isso acontece. Aprenda de uma vez: você escreve muito melhor quando não tem compromisso com o tempo.

DIA 17: finalmente um sábado produtivo! Concluí o terceiro conto. Comecei por voltas das 08h e parei às 11h, com um intervalo de 15 minutos. Empolgado, quebrei minha regra e tentei começar outro conto por volta das 13h. Não deu certo. Escrevi palavras a esmo; metade deve ser descartada. Foram 3.425 palavras, meu primeiro recorde! Neste ritmo, termino no dia 29.

DIA 18: não tive saco para escrever, mas me forcei a trabalhar. Gastei muito cartucho ontem. Apesar disso, para um Domingo, até que o dia foi produtivo: 1.358 palavras. Cota para amanhã é de 2.873 palavras. Me ajuda aí!? Isso tá pior que preço de gasolina!

DIA 19: primeiro dia de férias e novo recorde: 4.541 palavras. Três sessões, 4h totais. Mas foi cansativo. Não estou tão empolgado com o quarto conto quanto eu esperava. Escrevi durante alguns minutos no celular, na praça. Perfeito para soltar palavras na tela, sem me preocupar com meu lado editor.

“Escreva bêbado, edite sóbrio”, já dizia Hemingway.

DIA 20: duas sessões. Esgotado depois de ontem, desperdicei a manhã e só comecei a escrever por volta de 13:30h. Finalizei o quarto conto, o maior até agora, com cerca de 10 mil palavras. É também aquele que mais precisará de revisão e cortes mais à frente.

DIA 21: comecei a escrever bem cedo um conto de fantasia, um dos meus gêneros favoritos. Embora já planejado, tive algumas ideias complementares para a história e anotei-as à parte (essas não entrarão na contagem, claro). Problemas pessoais tiraram o ânimo no meio do dia. À noite, após uma cerveja, tentei voltar a escrever, mas nada. Álcool pra mim não funciona.

DIA 22: novos recordes: 5.488 palavras e um conto, o quinto, concluído em apenas dois dias. A história de fantasia rendeu ainda mais ideias promissoras; talvez até dê para aproveitá-las num futuro romance. Nesse ritmo, eu termino em 26 de novembro, mas não tenho ilusões quanto a escrever 5 mil palavras todos os dias.

DIA 23: 2.556 palavras, duas sessões, 3h totais. Agora eu terminarei no dia 30 de novembro. 😛

DIA 24: sexto conto concluído em dois dias. Nada mal. 36.549 palavras escritas, 13.451 para a meta. Os próximos dias serão tensos: é hora de escrever os dois contos que não tive tempo de planejar. Vamos ver no que vai dar escrever sem saber para onde a coisa vai; pior: em cenários que requerem um mínimo de pesquisa decente.

“Vejo nuvens sombrias no horizonte.”

DIAS 25 e 26: a produtividade despencou; 1.847 e 2.883 palavras, respectivamente. Péssimo. Perdi tempo pesquisando, planejando rumos para as histórias, desenvolvendo os personagens; o tempo e o esforço gastos na preparação foi desanimador. Escrevi feito um louco, mas o que vale para a contagem é apenas a história contada. Sétimo conto iniciado e editado inúmeras vezes.

DIA 27: um inesperado recorde de 7.503 palavras. Estava tendo dificuldades para descrever o ambiente do sétimo conto, que se desenrola na época da Segunda Guerra Mundial. Optei por deixá-los de lado e me concentrar na história; detalhes como armamentos, veículos, situação política foram relegados a uma pesquisa posterior. Restam 3 dias e um único conto para o fim.

DIAS 28, 29 e 30: o oitavo e último conto rendeu estresse na reta final pelas mesmas razões do conto anterior: a ambientação, desta vez o Brasil Colônia. Adotei a mesma estratégia aqui. Mas confesso que não curti tanto as ideias para essa história; a proximidade do fim e as 50.423 palavras atingidas ainda no dia 29 também me fizeram desacelerar o ritmo.

Semana que vem, no último artigo da série, compartilharei inúmeras dicas práticas e motivacionais. Até. 😉

Para saber mais:

  1. NaNoWriMo: 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série que estou escrevendo.
  2. NaNoWriMo: as críticas e o valor do desafio – saiba porque o evento é visto com desconfiança por escritores e demais profissionais do mercado editorial.
  3. NaNoWriMo: como escrevi um livro em 30 dias – onde detalho minha participação no evento em 2012.
  4. National Novel Writing Month: página oficial do evento. Acesse, informe-se e participe do desafio!
  5. Diário de Bordo da Sara Farinha: o dia a dia da escritora lisboeta durante a edição de 2012.
  6. Como consegui escrever um livro em 4 semanas: relato e diário de bordo de Diego Schutt, autor do Ficção em Tópicos e participante da edição de 2010 do NaNoWriMo.
  7. Especial NaNoWriMo: o blog Novas Memórias de Ivan Bittencourt também está com uma série de posts sobre o evento. Confiram.

NaNoWriMo: como escrevi um livro em 30 dias

Em 2010, eu conheci o National Novel Writing Month (NaNoWriMo), o evento internacional que propõe escrever um livro em 30 dias. Na esperança de me preparar melhor, adiei minha participação para 2011. Não aconteceu: ano de formatura em faculdade é ano agitado.

Finalmente, em 2012, topei o desafio. Mas ao invés de mergulhar de cabeça, entrei na ponta dos pés para conquistar a vitória. Valeu a pena. A experiência contribuiu muito para meu amadurecimento como escritor.

Planejamento é fundamental

O NaNoWriMo ocorre só em novembro. Todos os meses anteriores podem ser aproveitados para a preparação do livro – de fato, esta recomendação é unânime entre os participantes de edições anteriores. Por já estar com a agenda repleta de projetos paralelos, decidi me preparar apenas um mês e meio antes.

A duas semanas do início do evento me arrependi: o parco material que havia reunido não sustentaria um romance de 50 mil palavras. Nada disposto a desistir, mas temendo perder o fôlego no meio do caminho, eu adotei outra estratégia: ao invés de uma única história longa, eu escreveria várias curtas.

Optar por uma coletânea de contos foi excelente. Havia inúmeras historietas rascunhadas em arquivos no meu computador e nos cadernos da faculdade – ei, quem nunca rabiscou ideias durante as aulas? Escolhi as 8 (oito) mais promissoras para trabalhar melhor diversos aspectos, como ambientação, tom, estrutura.

Planejamento é o segredo do sucesso no NaNoWriMo.

Conto x Romance

Há quem prefira não escrever contos no NaNoWriMo por ter dificuldade em desvencilhar-se destes: personagens, cenas, situações repetem-se ou confundem-se entre as diversas histórias. O escritor tem uma incomoda sensação de déjà vu. Isso não aconteceu comigo e a razão talvez seja o método de trabalho que adotei.

Defini que, uma vez iniciado, um conto deveria ser escrito até o fim, ou seja, nada de alternar entre as oito histórias ao longo do mês. Foi um ótimo modo de treinar a disciplina. Eu também nunca começava a escrever um conto no mesmo dia em que concluía outro.

O primeiro dia de novembro chegou e eu ainda tinha 2 (dois) rascunhos de conto inalterados: algumas linhas sobre o enredo e o protagonista era o que havia. Antecipando o trabalho que teria para escrevê-los, eu os deixei de lado por um tempo e procurei entre os outros 6 (seis) os que mais me empolgavam. Alternando-os numa lista numerada, lancei-me ao desafio.

Como será que o tio Martin se sairia no NaNoWriMo?

Produtividade à prova

Cerca de 1.670 palavras por dia rendem um livro de 50 mil palavras ao final de um mês. Linda teoria, mas a prática é bem diferente. Em toda a primeira quinzena de novembro, apenas num mísero dia (o primeiro) atingi essa cota. Na verdade, todo o período foi pouquíssimo produtivo e cheguei a ficar 7 (sete) dias sem escrever uma vírgula sequer.

Registrando meu progresso em uma planilha, aterrorizei-me ao perceber que, naquele ritmo, eu só atingiria a meta em dezembro. Para piorar, a quantidade de palavras diárias necessárias para cumprir o prazo tinha subido para 2.700. Tudo teria ido pelos ares não fossem as férias do trabalho agendadas para os quinze dias seguintes.

Pelo que restava do mês, eu consegui manter um ritmo constante escrevendo todos os dias e ficando, na maioria deles, acima da cota diária (recalculada automaticamente segundo minha produtividade) – de sete dias pouco inspirados, três foram os últimos do NaNoWriMo, nos quais trabalhei um dos dois contos que não havia planejado.

O NaNoWriMo te desafia a ser mais produtivo.

Manter uma planilha de controle durante o evento é excelente. Com ela é possível replanejar os dias à frente, empenhando-se mais em alguns, tirando folga em outros. Escrever todo dia não é tão fácil quanto pode parecer, mesmo quando não é preciso conciliar família, profissão e estudos. A vida proporciona inúmeras situações que não podem esperar o fim de novembro.

Perdendo o rumo

A seis dias do fim do NaNoWriMo, eu comecei a trabalhar aquelas ideias mal rascunhadas de contos que não tive tempo de planejar melhor. Foi um verdadeiro martírio transformar poucas linhas vagas em duas histórias coerentes e interessantes. Passei horas tateando na escuridão, à procura dos rumos e conflitos do enredo, da essência e motivações dos personagens.

Enquanto escrevia, vários caminhos alternativos se desdobravam, personagens surgiam e desapareciam a todo instante, situações se arrastavam sem propósito algum, finais diversos se insinuavam. Puro caos. Muitas palavras foram lançadas ao papel até que o caminho adequado fosse encontrado.

“Nada disso importa, Jack. Tudo ficará bem.”

Pode-se dizer que passei os últimos dias do evento não apenas escrevendo, mas planejando essas histórias. Obviamente, muito do que escrevi não foi considerado na contagem. Há quem diga que tudo que é escrito em novembro vale, mas discordo e, por isso, apenas as primeiras versões “definitivas”, com finais definitivos (sem aspas) dos dois contos compuseram o total.

As pedras no caminho

Escrever sem planejamento prévio, sem ao menos uma noção do rumo da história, foi difícil, mas houve outros desafios naquele novembro insano. Lidar com interrupções constantes, por exemplo, rendeu algum estresse. Durante as férias eu era solicitado com frequência por minha família por estar “à toa”, enfurnado no quarto.

Essas intervenções aconteciam sempre no pior momento possível – quase sempre durante a rara visita da musa, que fugia sem hesitar ao mero ranger da porta. Quando expliquei a razão de meu isolamento social, a maçaneta passou a sacudir menos. Contudo, feriados e finais de semana continuaram sendo um pesadelo; simplesmente os piores dias para escrever.

Na segunda quinzena do NaNoWriMo me vi obrigado a escrever por longas horas todo santo dia até o limite da exaustão. Péssimo. Exceder-se para aproveitar uma súbita onda inspiradora pode parecer uma boa estratégia, mas trará consequências terríveis no(s) dia(s) seguinte(s). O ideal é parar enquanto ainda se quer continuar, poupando esta motivação para o amanhã.

“Chega de escrever por hoje. Que tal prendermos uns bandidos?”

Houve dias em que eu estava sem paciência de sentar-me diante do computador, ainda que apenas por algumas horas. Queria escrever, mas estava enjoado da ferramenta, do ambiente. Tampouco queria usar papel e caneta – não tenho hábito de utilizar cadernos físicos, mas falo sobre isso em outra oportunidade.

A solução para mim foi utilizar um smartphone. De posse do meu bom e saudoso Nokia E71, eu sentava-me na varanda de casa, numa lanchonete, num banco de praça e ali, imerso noutro ambiente, dava continuidade aos contos. Claro, um notebook também daria conta do recado, mas um celular traz muito menos distrações.

Controlar o uso da Internet também foi complicado. Em quase todos os dias, escrevi com ela ligada, o que me prejudicou em, digamos, 60% das vezes. Às vezes, durante as pausas entre as sessões de escrita ou quando eu travava em algum ponto de uma história eu aproveitava para fuçar no Facebook, conferir e-mails, ler alguns blogs. Difícil era me forçar a voltar ao trabalho.

Atualização de status: “Eu deveria estar escrevendo”.

O maior problema foi quando utilizei a Internet como fonte de pesquisa para os dois últimos contos, um ambientado no Brasil Colônia, o outro após a Segunda Guerra Mundial. Perdi muito tempo, pois não sabia exatamente do que eu estava precisando, já que nem mesmo a história estava definida. Há material bastante ali para ocupar um pesquisador por um longo tempo.

A TV também foi um vilão no mês de novembro. É incrível o seu poder de enfeitiçar: bastava uma ida ao banheiro ou à cozinha para que o olhar de esguelha fosse capturado pelo programa superinteressante só podia estar passando naquela hora em que eu estava escrevendo. Mas se houver disciplina, ela pode ser uma aliada na busca por inspirações para uma história.

Nos próximos artigos da série eu compartilharei meu diário de bordo e dicas motivacionais. 😉

Para saber mais:

  1. NaNoWriMo: 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série que estou escrevendo.
  2. NaNoWriMo: as críticas e o valor do desafio – saiba porque o evento é visto com desconfiança por escritores e demais profissionais do mercado editorial.
  3. National Novel Writing Month: página oficial do evento. Acesse, informe-se e participe do desafio!
  4. Especial NaNoWriMo: o blog Novas Memórias de Ivan Bittencourt também está com uma série de posts sobre o evento. Confiram.
  5. Como consegui escrever um livro em 4 semanas: relato de Diego Schutt, autor do Ficção em Tópicos e participante da edição de 2010 do NaNoWriMo.
  6. 13 verdades terríveis sobre o NaNoWriMo: o outro lado da moeda por um participante do evento (em inglês).

NaNoWriMo: as críticas e o valor do desafio

Escrever um livro de 50 mil palavras em 30 dias é uma proposta audaz. É natural, portanto, que o National Novel Writing Month (NaNoWriMo) seja visto com desconfiança ou até mesmo descaso, principalmente por escritores e demais profissionais do mercado editorial.

As principais causas para a aversão dos detratores do NaNoWriMo são a má interpretação da essência do evento e a crença preconceituosa de que este não produz boas obras. Ainda que a tais críticas não sejam injustificadas, é inegável que o evento tem sim seus méritos.

Críticas recorrentes

O NaNoWriMo não é sobre qualidade, mas quantidade; é uma competição, nada mais.

Essa visão equivocada é reforçada não só por muitos participantes como pelo próprio site do evento. Embora encorajem as revisões, os organizadores do NaNoWriMo não alardeiam todo o trabalho que aguarda os escritores após o fim de novembro.

Por isso, é comum ver trabalhos disponibilizados na íntegra na Internet poucos dias depois de concluídos, sem que tenham passado sequer por uma fundamental correção ortográfica e gramatical.

O objetivo não é produzir um livro de 50 mil palavras para ser exibido como um troféu nem para abarrotar a caixa postal de editoras na esperança de ser publicado. O escritor consciente compreende isso, aceita que é difícil escrever algo de qualidade em 30 dias e dedica os dias, meses, anos seguintes revisando e aprimorando seu trabalho.

“Eu odeio o NaNoWriMo.”

O NaNoWriMo não encoraja a boa escrita e muito menos sua melhor prática.

Ninguém define melhor seu processo de trabalho do que o próprio escritor. Não existe um só meio de se produzir um romance. Alguns passam anos sobre um original, outros concluem em meses, dias ou até mesmo horas.

Sir Arthur Conan Doyle escreveu o livro de estreia do detetive Sherlock Holmes, Um Estudo em Vermelho, em 3 semanas. John Boyne escreveu O Menino do Pijama Listrado em apenas dois dias e meio. O brasileiro Ryoki Inoue venceu o desafio de um americano ao escrever um livro em algumas horas.

O prazo curtíssimo do NaNoWriMo é apontado como o vilão da boa escrita: pressionado pela meta “absurda”, o participante poderia se valer de artifícios como abusar do uso de adjetivos e advérbios, por exemplo. Desnecessário dizer que isso é trapaça, não é? Tais atitudes apenas reforçam, erroneamente, o clima de competição do evento.

O escritor mais produtivo do mundo segundo o Livro dos Recordes.

No NaNoWriMo a pressão não forma diamantes, apenas pó.

A criação literária é caracterizada pela moldagem parcimoniosa da obra: é preciso trabalhar as ideias na mente por um tempo, deixá-las amadurecer e só então transpô-las para o papel. Essa é uma noção comum entre escritores e com a qual concordo. Mas o NaNoWriMo não vai contra isso.

As “regras” do evento ditam que trabalhos anteriores não podem ser aproveitados, isto é, o livro deve ser escrito do zero. Isso não significa, porém, que o participante seja proibido de dedicar-se nos meses anteriores à maturação das ideias do romance que pretende escrever.

Também não impede que, nos meses seguintes, o texto seja revisado e aprimorado. A grande maioria dos livros produzidos durante o evento não está pronta para ser mostrada ao mundo. Um Estudo em Vermelho e O Menino do Pijama Listrado com certeza não foram publicados sem uma criteriosa revisão.

Todo grande romance passa por rigorosas etapas de revisão.

O NaNoWriMO não incentiva a mentalidade certa para ser criativo.

Atentar para o total diário de palavras pode minar a criatividade do participante e tirar o seu foco da história, que é o que realmente importa. Sim, é bem possível. Acontece que novembro não é um mês para ser criativo, mas sim produtivo.

Certa vez, escutei um escritor descrever seu processo de trabalho. Havia uma longa fase de criação, dedicada apenas à maturação de ideias, pesquisas, mapas mentais. A fase seguinte era a de produção, na qual ele escrevia a história efetivamente, utilizando como referência todo o material obtido na fase de criação.

Em outras palavras, somente quando este escritor sentia ter esgotado todas as possibilidades de criação que lhe agradavam é que ele começava a escrever, mecanicamente, o livro de fato.

Alguns escritores separam a fase de criação da fase de produção.

O NaNoWriMo esgota a mente de seus participantes a troco de nada.

Sim, o evento é uma maratona verdadeiramente extenuante. Haverá momentos em que o participante se sentirá frustrado, desesperado, tentado a desistir. Isso acontecerá ainda com maior frequência se tiver de conciliá-lo com trabalho ou estudos.

Para os vitoriosos, o fim de novembro poderia reservar uma aversão passageira pela escrita, não fosse pela satisfação de concluir a primeira versão de um romance. Finalmente aquela história que antes existia apenas em na mente está ali, diante dos olhos, palpável. Está pronta, é impecável? Claro que não. Mas ela existe!

Aqueles que não conseguiram atingir as metas do NaNoWriMo não têm razão para se abater e devem aproveitar a experiência para refletir, aprender e evoluir como escritores.

Um provável vencedor do NaNoWriMo.

A natureza do NaNoWriMo

Escrever, escrever, escrever. Essa máxima repetida pela maioria dos escritores se aplica bem ao evento. Quanto mais se escreve, mais se aprende a escrever. Quando o participante voltar ao texto original algum tempo depois, aprenderá ainda mais ao reescrever aquele rascunho tosco.

NaNoWriMo é isso. É o empurrão para tirar o escritor da inércia, é a pressão na forma de prazo, é a adrenalina do desafio, é o incentivo para se escrever a primeira versão daquela história que há muito tempo só existe fragmentada em pensamentos.

Dizer que o evento não produz bons livros é bobagem. Se fosse verdade, livros como O Circo da Noite, de Erin Morgenstern, e Água para Elefantes, de Sara Gruen, jamais teriam sido publicados nem se tornado sucesso de vendas.

Quem disse que o NaNoWriMo não produz bons livros?

Perdoem-me os detratores, mas o NaNoWriMo tem sim seu valor. Não fosse assim, o evento não contaria com o apoio de escritores do calibre de James Patterson, Neil Gaiman, Garth Nix, Philip Pullman, John Green e Meg Cabot, não é mesmo?

Para saber mais:

  1. NaNoWriMo: 30 dias para escrever um livro – saiba mais sobre o evento no primeiro artigo da série que estou escrevendo.
  2. National Novel Writing Month PEP Talks: palavras de incentivo de escritores renomados na página oficial do evento (em inglês).
  3. 5 livros publicados que nasceram no NaNoWriMo: um TOP 5 no blog For books’ sake (em inglês).
  4. 13 verdades terríveis sobre o NaNoWriMo: o outro lado da moeda por um participante do evento (em inglês).
  5. Como escrever um livro em 30 dias: um guia elaborado pelo jornal The Guardian (em inglês).

NaNoWriMo: 30 dias para escrever um livro

Ano passado, eu abandonei o blog por um mês inteiro para escrever um livro. Unindo-me a outros loucos de todo o mundo, topei o desafio proposto pelo National Novel Writing Month ou NaNoWriMo (Mês Nacional de Escrita de Romances, em tradução livre).

Com a proximidade de mais uma edição, decidi elaborar uma breve série de artigos para compartilhar um pouco dessa inesquecível e enriquecedora experiência.

Iniciado nos Estados Unidos, o NaNoWriMo completa 15 anos em 2013 com mais de 300 mil (número da última edição) inscritos de diversos países, incluindo o Brasil – já passou da hora dos organizadores reverem o nome do evento, não? A participação é livre e não há restrições quanto a gênero, tema, idioma ou estrutura da obra.

Em contrapartida, espera-se que algumas diretrizes sejam seguidas pelos participantes. Mas as únicas regras verdadeiras são essas: o livro deve ser escrito num mês (Novembro) e ter, no mínimo, 50 mil palavras.

Trinta dias de abandono literário

Para alcançar uma meta tão assustadora, é preciso escrever algo em torno de 1.667 palavras por dia. Difícil? Pode apostar que sim. Mas não é impossível, como comprovam os milhares de vencedores das edições passadas.

A chave para a conquista é ter consciência de que o livro não estará pronto para publicação ao final do desafio. Os próprios idealizadores alertam que tal chance é ínfima: o mais provável é que o resultado será horrível. Tudo bem, afinal, o objetivo aqui é outro.

“A primeira versão de qualquer coisa é uma merda.”

O NaNoWriMo é o necessário chute nos fundilhos daqueles que querem ser escritores, mas se deixam desanimar pelo perfeccionismo, pela inércia, e por outras tantas desculpas fajutas. Trata-se de um incentivo à produção de algo concreto, nem que seja um rascunho tosco.

Ao encarar o desafio, é preciso desligar o crítico interno. As revisões, adaptações e reescritas serão necessárias, mas somente mais adiante. Novembro é o mês para transpor ao papel uma história que se deseja contar ou pensamentos que se queira expressar. A única preocupação deve ser escrever, escrever, escrever.

Começando do zero (mas nem tanto)

Pelas diretrizes, trabalhos anteriores não podem ser aproveitados, ou seja, é preciso escrever um livro a partir do nada. Nada impede, porém, que o participante rascunhe um planejamento com certa antecedência. Na verdade, um guia é mais do que aconselhável, é essencial para a vitória.

O NaNoWriMo é uma maratona; é preciso produzir muito no menor tempo possível – e ainda conciliar a escrita com as demandas naturais do dia a dia. Por isso, o ideal é ter claro desde o começo o livro que se pretende escrever para evitar desperdiçar horas tentando encontrar o rumo perdido.

“É tudo parte do plano.”

O planejamento é ainda mais útil ao se produzir uma coletânea de contos, já que esta trará diferentes narrativas, com personagens e situações diversas. Planejar evita bloqueios e ajuda a focar apenas na escrita durante os 30 dias.

Para aprender com os colegas

Para promover a interação entre os participantes, o site do NaNoWriMo dá suporte a vários fóruns. Divididos por regiões, esses pontos de encontro virtuais são moderados por municipal liaisons (algo como referências municipais): a eles cabem, entre outras, a função de divulgar o evento em sua comunidade.

Até 2012 os fóruns brasileiros eram gerenciados pelo paulista Fernando Aires e pela porto-alegrense Luiza Monteiro, ambos participantes (e vencedores) de várias edições anteriores – é preciso ter vencido o NaNoWriMo para se tornar um municipal liaison.

Os encontros presenciais, chamados write ins ou parties (saraus), também são comuns. Neles os participantes confraternizam, celebram o começo ou o fim do evento e, é claro, escrevem – mas nem todos, já que é possível encontrar quem participe apenas como observadores desse grande laboratório.

Uma brincadeira séria

Ao contrário do que parece, o NaNoWriMo não é uma competição. De fato, não há nada de espetacular na premiação reservada àqueles que alcançarem a meta de 50 mil palavras: um certificado, um emblema, artes para camisetas, alguns descontos em programas de parceiros e só.

Recompense-se com um delicioso cappuccino.

O valor do evento está na motivação proporcionada por sua meta e prazo, na chance de ter ao menos uma primeira versão completa do livro tão sonhado, na oportunidade de interagir e aprender com uma comunidade que reúne escritores amadores e profissionais.

Interessado? A próxima edição do NaNoWriMo está chegando. Ainda há tempo para se preparar, então que tal já ir tacando no papel algumas ideias para sua obra? Produza um guia caprichado e vá se aquecendo para um mês inteiro de abandono literário.

As “Regras” do NaNoWriMo

O evento garante liberdade de criação aos participantes, mas estabelece certas orientações para definir quem pode se considerar um vencedor do desafio.

Note-se que nada disso impede a participação, já que a única validação no site do NaNoWriMo se dá sobre a quantidade de palavras; cabe a cada um manter-se em paz com sua consciência.

  1. Escrever um romance de 50.000 mil palavras ou mais durante o mês de novembro.
  2. Começar do zero. Nada impede o participante de fazer planejamentos, pesquisas, rascunhos, mas nenhum material escrito previamente pode ser utilizado na contagem final do desafio. Não é permitido dar continuidade a um trabalho pré-existente.
  3. Aceita-se somente romances. É considerado um romance todo trabalho longo de ficção, incluindo ficções de fãs (FanFics) e coletâneas de contos, desde que tenham um tema em comum. Música, poesias, roteiros, quadrinhos, e obras de não ficção (biografias, memórias, autoajuda) não são romances.
  4. Autoria única. Não são permitidos livros escritos em parceria. Espera-se que o participante escreva mais do que uma única palavra repetida 50 mil vezes.
  5. Enviar o livro ao site para validação de palavras nos últimos dias de novembro.

Para saber mais:

  1. National Novel Writing Month: página oficial do evento. Acesse, informe-se e participe do desafio!
  2. Como consegui escrever um livro em 4 semanas: relato de Diego Schutt, autor do Ficção em Tópicos e participante da edição de 2010 do NaNoWriMo.
  3. NaNoWriMo: O que eu aprendi sobre ser escritor? relato de Bruno Cobbi, autor do Aprendiz de Escritor e editor na Terracota Editora.
  4. NaNoWriMo por Sara Farinha: a escritora lisboeta tem grande experiência e já escreveu vários posts sobre o evento. Confira suas dicas preciosas.

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