Um dos maiores desafios deste aprendiz de escritor é lidar com distrações. Chamem-me de paranoico, mas sempre que decido escrever um novo texto é como se o mundo inteiro conspirasse contra mim.
A televisão exibe aquele filme favorito, um rádio qualquer toca músicas no último volume, o e-mail indica uma oferta relâmpago e/ou atualizações no site favorito, o cachorro começa a latir, familiares e amigos buscam um pouco de atenção. Tudo e todos parecem batalhar por minha atenção!
Concentração é primordial para o escritor, mas como este se concentra é algo muito pessoal. Há quem consiga fazê-lo ao som de uma música suave ou do canto dos pássaros ou mesmo com o televisor ligado ao fundo.
Definitivamente, não é o meu caso. Meu ambiente ideal é aquele onde coexistem o silêncio, as palavras e eu, nada mais. Não há frustração maior do que ver uma repentina inspiração literária ser afugentada por entidades alienígenas.
Utilizo um computador para escrever a maioria de meus textos. Sim, eu faço anotações breves no celular, caderno, bloquinho de post-it e folhas de rascunho quando tenho ideia para um novo texto, frases de efeito ou nomes para personagens. Mas quando se trata de escrever realmente, mesmo que apenas um rascunho inicial, eu recorro ao computador.
Esta ferramenta que tanto flexibiliza a produção de textos, porém, costuma ser também minha maior perdição; é um verdadeiro paraíso de distrações, com ícones aparentemente infinitos de músicas, vídeos, jogos e tantos outros arquivos tentando tirar meu foco do texto – acrescente a isto conexão à Internet e tudo está perdido! Belo paradoxo, não?
Quando penso na quantidade de distrações circulando por aí, eu respiro profunda e pacientemente, e tento convencer-me de que não é o fim do mundo. Distrações fazem parte da vida, logo é preciso saber lidar com estas. Algumas se evita mais facilmente, outras requerem um pouco mais de autodisciplina, estratagemas, conversações.
A Internet, por exemplo, não costuma ser um grande problema para mim: tudo o que tenho a fazer é desconectar o modem, trancá-lo em outra sala e voilá! Liberdade! Permitam-me compartilhar outro exemplo.
Há muito tempo que escrevo meus textos no Word, o velho editor da Microsoft, e percebi que a vasta lista de recursos destes pode ser uma fonte de distração – obviamente que as opções de formatação e revisão são importantes, mas apenas para textos próximos de sua conclusão; de que valem para alguém que se propõe a escrever somente um rascunho, por exemplo? Pode-se contornar tal situação, porém, com alguns ajustes simples nas configurações, ocultando os menus e ícones de modo a manter a tela mais limpa.
Alguns podem questionar por que não utilizo logo o bloco de notas. Explico: por pura aversão; sinto-me estranhamente incomodado ao usá-lo, é algo inexplicável. E como todo incômodo gera distração, eu tratei de afastar-me desta. A propósito, é importante sentir-se o mais confortável possível ao escrever; um ambiente bem organizado e iluminado e uma poltrona aconchegante, por exemplo, beneficiam a produtividade e a saúde.
Cabe aqui uma importante questão: o conforto dos olhos. Visualizar a tela branca do Word por horas a fio pode ser extramente exaustivo, monótono e pouco inspirador, especialmente para quem usa óculos. Para atenuar o cansaço das vistas, eu costumava ajustar as configurações de vídeo do computador, mas logo percebi que era irritante ter que reajustá-las posteriormente para ver um filme ou jogar.
Assim, eu encontrei uma alternativa menos trabalhosa: reduzir o tamanho da janela do Word de modo que eu pudesse visualizar um pouco a área de trabalho por trás. Para evitar distrações, instalei também um programa que oculta os ícones da área de trabalho; e se o papel de parede é muito colorido ou chamativo, altero-o para um fundo preto. Pode parecer bobagem, mas percebi que o desconforto visual tarda muito mais a surgir quando trabalho nestas condições.
Vale tudo para livrar-se das distrações e aumentar a produtividade. Há muitas ferramentas disponíveis para auxiliar o escritor em seu trabalho, mas, às vezes, a solução mais simples é a ideal. É importante contar com o apoio de tais programas, mas deve-se ter em mente que o essencial para se tornar um escritor é escrever, seja no bloco de notas, no Word, num post-it ou num guardanapo.
O mais difícil é convencer o mundo a esquecer-se de você por algumas horas.
Para saber mais:
- Metodologia 5+10: 5 regras e 10 orientações flexíveis que busco seguir em meu caminho para tornar-me um escritor.
- Os primeiros passos da jornada: onde devaneio sobre o tempo, o desejo de escrever e dicas de escrita.
- Dicas de editores de texto: este artigo lista quatro programas que ajudam a concentrar-se na escrita; publicado no portal IDGNow em maio de 2011.
- Dicas para concentrar-se na escrita: este artigo postado no blog Escrevemos.com apresenta 6 boas dicas para manter a concentração ao escrever um texto.
- Concentração e Distração: artigo sobre o modo como a Internet prejudica a concentração; publicado em 2010 no portal AdNews.
- Concentração e Distração: artigo publicado no site do Estadão em 2010.