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1. A Busca – Reinos de Aventuras

Três figuras encapuzadas atravessavam a passos largos as terras do interior ocidental dos Reinos Fronteiriços. O véu da noite era a única proteção contra a atenção indesejada naquele mar de colinas desabrigadas. Poucos enxergariam o misterioso trio ali; as nuvens, arautos das tempestades elétricas tão comuns naqueles ermos, intensificavam a escuridão. Não havia qualquer alma viva num raio de muitos quilômetros em todas as direções.

Um dia inteiro havia passado desde o início da marcha ininterrupta; seu propósito impelia os três a prosseguir obstinadamente. Dispunham de um bolsão com suprimentos suficientes para saciar a sede e a fome por alguns dias, mas outra de suas necessidades não seria facilmente atenuada em terras tão despovoadas: combate. Privar-se de uma boa e sangrenta peleja, porém, não era tão desalentador quanto enfrentar o vento gélido e cortante e o ribombar ensurdecedor dos trovões.

Desconfiado de que seus comandados estivessem tão incomodados quanto ele com a exposição ao mal tempo, Rarnar se convenceu a continuar com a busca. O mapa esfarrapado que trazia junto ao peito indicava que logo chegariam ao outeiro. Os rabiscos no pergaminho de pele de ovelha eram claros: um dia de jornada a partir do acampamento dos salteadores com os quais “negociaram” sua aquisição. Daí ter-se decidido por seguir ininterruptamente; isto, e também a declaração de um dos salteadores de que o mapa conduziria a uma tumba repleta de tesouros. O nome mencionado pelo moribundo ainda ressoava na mente de Rarnar: Torre Alta. Era como o xamã lhe havia revelado.

Um repentino clarão azul-esbranquiçado desafiou a escuridão. Raios iniciavam sua dança caótica por entre as nuvens, iluminando brevemente as colinas. Os primeiros pingos de chuva caíram e o vento pareceu esfriar ainda mais. A tempestade piorava. Rarnar lançou um olhar temeroso para o céu e depois para os dois subalternos. Exceto pelas armas, nenhum deles carregava outro metal que pudesse servir de alvo para um raio fortuito, mas isto não garantia a segurança naquele descampado.

Rarnar deslizou a mão por baixo do manto e do corselete de couro batido a procura do mapa. Analisando novamente os rabiscos, ele imaginou se os humanos fedorentos não tinham mentido para salvar a própria pele pálida e despelada. Por um instante, desejou ser capaz de ressuscitar os mortos apenas para ter o prazer de matar e devorar novamente as vísceras daqueles ladrões de estrada falsos. Teria sido a história um embuste? Preferia acreditar que não. Até onde sabia a Torre Alta não era um local famoso entre as outras raças. Mesmo entre os de seu povo havia muitas tribos que sequer ouviram falar daquele lugar sagrado. Não podia ser uma trapaça…

– Rarnar! Vê! Na frente!

Os berros o despertaram de seu devaneio, chamando sua atenção para o horizonte adiante. De início, não viu nada além de uma mancha negra extensa e impenetrável. Contudo, não demorou até que um raio cruzasse o céu e afastasse a escuridão, permitindo que os contornos cinzentos de um outeiro se tornassem visíveis para seus olhos apertados; sobre este parecia haver as ruínas de uma pequena torre.

Rarnar enrolou o mapa manchado com sangue, guardando-o sob o corselete. Esboçando um sorriso tortuoso com os lábios grossos e a boca repleta de presas afiadas, ele disse com voz gutural:

– Passo firme, rapazes! Achamos!

As três figuras monstruosas urraram num misto de satisfação e alívio. Rarnar os conduziu em ritmo acelerado na direção do outeiro, pensando em como aquele achado iria lhe proporcionar uma posição confortável em sua tribo. Ele até podia imaginar a satisfação no rosto do Honorável Chefe quando lhe anunciasse pessoalmente que a Torre Alta havia sido encontrada.

Continua…

Uma palavra sobre a ambientação desta série: as histórias ocorrem no mundo fantástico de Faerûn, descrito no cenário de campanha de RPG Forgotten Realms (Reinos Esquecidos). Elas também foram inspiradas em diversos módulos de aventuras criados para o jogo Dungeons & Dragons (Masmorras e Dragões). Todos os direitos sobre estas marcas pertencem à editora Wizards of the Coast, não sendo minha intenção violá-los. Estes textos são uma ficção de fã (do inglês, fan fiction ou FanFic) e não objetivam qualquer lucro.

Para saber mais:

  1. Reinos de Aventuras, histórias de fantasia: onde explico o modo como pretendo publicar esta série no blog.

Reinos de Aventuras: histórias de fantasia!

Estava aqui escrevendo mais um conto quando atentei para o fato de que não costumo mostrar meu trabalho para outras pessoas. Ora, qual é o propósito de escrever histórias se não há ninguém para lê-las e opinar a respeito?

Decidi postar algumas histórias despretensiosas aqui no blog e optei por começar com algumas histórias de fantasia que tenho escrito já há algum tempo por puro prazer (e como um modo de aperfeiçoar meu estilo de escrita).

Reinos de Aventuras é inspirada em obras fantásticas como “O Senhor dos Anéis” (J.R.R. Tolkien), “As Crônicas de Gelo e Fogo” (George R. R. Martin), “As Crônicas de Dragonlance” (Margaret Weis; Tracy Hickman), etc. Quem já leu algum destes autores já está familiarizado com certos aspectos da literatura fantástica, como a existência de elfos, anões, magia e monstros.

De início, eu publicaria várias histórias completas, interligando-as para formar uma história maior, mas considerei que ler vários capítulos de uma vez no computador seria bem incômodo. Assim, optei por utilizar a estrutura dos seriados de TV.

Esta série está organizada da seguinte forma: há as partes, que seriam como os episódios de um seriado. Cada parte é dividida em capítulos, que seriam como as cenas de um único episódio. As partes reunidas constituem um arco, que seria a temporada do seriado.

Neste momento, a série está em seu primeiro arco/temporada (sem título definido), na primeira parte/episódio (Uma noite sombria) e no primeiro capítulo/cena (A Busca). Esta divisão fica mais clara na página de Histórias e só existe para permitir-me postar as histórias aos poucos.

O primeiro capítulo será postado amanhã! Fiquem ligados.

Uma palavrinha sobre a ambientação: as histórias ocorrem no mundo fantástico de Faerûn, descrito no cenário de campanha de RPG Forgotten Realms (Reinos Esquecidos). Elas também foram inspiradas em diversos módulos de aventuras criados para o jogo Dungeons & Dragons (Masmorras e Dragões). Todos os direitos sobre estas marcas pertencem à editora Wizards of the Coast, não sendo minha intenção violá-los. Estes textos são uma ficção de fã (do inglês, fan fiction ou FanFic) e não objetivam qualquer lucro.

Para saber mais:

  1. O que é Fan Fiction ou FanFic: artigo da Wikipédia; lista vários tipos de ficção de fã.
  2. Nyah! Fanfiction: site nacional criado para hospedar várias ficções de fãs; fornece pequenas aulas de português e dicas de escrita.
  3. Fan Fiction.net: o maior portal de ficções de fã que já conheci; está on-line há anos (em inglês, mas contém histórias em português).
  4. O que é RPG: artigo da Wikipédia; explica os principais conceitos por trás do famoso Role-Playing Game (Jogo de Interpretação de Papéis).
  5. Wizards of the Coast: editora que detém os direitos de publicação de Forgotten Realms e Dungeons & Dragons, marcas famosas entre os praticantes do hobby, isto é, RPG (em inglês).
  6. Valinor: completo site nacional sobre a obra de J.R.R. Tolkien, autor de “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit”. Recomendadíssimo!
  7. As Crônicas de Gelo e Fogo: breves informações sobre esta famosa série no site Sobre Livros; inclui links para compra das edições em português e resenha do primeiro livro.

Resenha: Swords of Eveningstar

PenaPenaPena

 

Saiba antes de ler: não sou crítico literário nem detentor da verdade absoluta. O texto abaixo relata as impressões que tive após a leitura deste livro e não traz quaisquer revelações quanto ao enredo.

Eu não recomendaria este livro para qualquer um e isto por 3 razões. Primeiro, o enredo se desenvolve num mundo criado para jogos de RPG; como tal, o autor Ed Greenwood (que também é o criador do cenário de campanha Forgotten Realms ou Reinos Esquecidos) assume que o leitor esteja familiarizado com muitos aspectos deste mundo e com muitas de suas personalidades.

Segundo, a estrutura da narrativa é fragmentada e, por vezes, confusa demais – num mesmo capítulo acompanhamos as peripécias dos protagonistas numa masmorra, uma conversa entre magos espiões, as maquinações de um boticário, a vigilância de um ser misterioso, etc. É preciso ter paciência e muitas vezes reler alguns capítulos para não perder o fio da meada.

Terceiro, o leitor é massacrado por uma miríade de personagens de nomes esdrúxulos e cenas paralelas que nada acrescentam à trama principal; este excesso acaba por tornar a leitura chata em diversos pontos. Além disso, muitas personalidades dos Reinos Esquecidos parecem estar lá apenas como figurantes de luxo.

O livro se propõe a narrar as primeiras aventuras dos Cavaleiros de Myth Drannor, um grupo de heróis de renome do cenário. Aqueles que jogaram alguma partida de RPG em Forgotten Realms já devem ter trombado com estas figuras e se interessado por suas origens. Tal história, porém, não é das melhores.

Os protagonistas, os tais Espadas de Estrela Vespertina (Swords of Eveningstar), parecem perambular por aí aguardando que os acontecimentos os encontrem. Eles não passam de joguetes nas mãos da nobreza e dos vilões, o que poderia até ser interessante, desde que houvesse uma boa razão para tamanho interesse neles, o que não notei em momento algum. Ora, as motivações dos próprios vilões nunca ficam realmente claras.

edGreenWood

O autor é uma figura curiosa.

A primeira parte do livro é excessivamente focada nos personagens Florin e Narantha, que passam páginas e páginas vagando por uma floresta – até a cento e pouco, se não me engano; isso num livro de 400 páginas!

Quando surgem os outros protagonistas, o livro se torna mais interessante: Seemor Wolftooth tem as melhores tiradas, ao passo que Doust Soulwood está totalmente apagado; a ladra Penae tem uma participação maior até o final, enquanto Florin, pretenso líder do grupo, praticamente desaparece – o que achei interessante, visto que Penae parece ter bem mais experiência que o rapaz. Jessail Silvertree é razoavelmente interessante, mas Islif Lurelake e os outros apenas estão lá.

Os vilões são indivíduos tão misteriosos que nunca fica claro o que eles realmente querem, exceto, talvez, por Horaundoon, um dos primeiros a dar a cara e o que mais me despertou a atenção – infelizmente, ele também praticamente desaparece do meio para o final. Feiticeiros e os Zhentarim, um bando criminoso infiltrado por toda parte, dominam a cena, mas também não despertam qualquer interesse – ou revelam sua intenções.

Só comecei a me interessar mesmo pela história lá pela página 300 e tanto. Contudo, quando eu esperava que a trama engrenasse, ele acabou abruptamente. A conclusão me pareceu forçada; no fim os protagonistas fizeram um bom trabalho, é verdade, mais achei sua recompensa exagerada. Também pouco me importei com o trágico destino de um personagem – que, acredito, poderia ter sido facilmente remediado com uso da magia.

E por falar em magia, aqui ela é escancarada. Todo jogador de RPG sabe que Forgotten Realms é um mundo de alta magia, isto é, ela faz parte do cotidiano das pessoas. Contudo, eu nunca havia compreendido tal afirmação até ler este livro – todo mundo parece ter no mínimo um item de grande poder, especialmente os nobres. Curiosamente, os heróis não possuem um item sequer, o que é interessante – começo mais humilde é impossível.

Aqueles que estão familiarizados com jogos de RPG verão no livro um relato de campanha e nada mais; ele não se sustenta como um bom romance, a exemplo de títulos como O Inimigo do Mundo (baseado no cenário de RPG Tormenta), de Leonel Caldela. Partindo desta visão e considerando minha estima pelo cenário, além do fato de que os protagonistas foram bem caracterizados, eu concedo 3 penas-tinteiro (ou estrelas) para Swords of Eveningstar.

E esta é a humilde opinião de um escriba.

Nota: eu já tenho os outros dois títulos da série, mas não me sinto tão empolgado para lê-los após minha experiência com o primeiro livro.

Para saber mais:

  1. The Twelve Days of Ed Greenwood: uma interessante entrevista com o autor conduzida pelo editor, amigo e também escritor J. Robert King (em inglês).
  2. ISFDB – Bibliografia de Ed Greenwood: listagem de livros e histórias publicadas pelo autor (em inglês).
  3. Ed Greenwood on Facebook: curiososo sobre o que o autor anda aprontando? Acesse o perfil dele (em inglês)!
  4. d3Store – Compre a trilogia Knights of Myth Drannor: este ótimo e confiável site de compras tem a trilogia completa por um precinho bem camarada.
  5. Os Cavaleiros de Myth Drannor – UDG: saiba mais sobre este grupo de aventureiros neste site nacional especializado em RPG e no cenário de Forgotten Realms (contém spoilers).
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